BRUNO
Depois de colocar Caetano na cama novamente, tive que ler uma história e me certificar de que ele estava mesmo dormindo, saí do quarto dele e fui até a sala. Fechei o meu caderno de desenhos e o levei para o quarto onde eu ficaria. Só o quarto de hóspedes juntamente com o banheiro era maior do que o meu pequeno apartamento.Deitado na cama, não consegui dormir quase nada, acho que estava estranhando a cama, o colchão até mesmo o ambiente. Fiquei ali, olhando para o teto enquanto esperava o sono aparecer. Peguei o meu leitor digital e continuei a leitura de um livro.Quando acordei, apurei os ouvidos e tudo ainda estava silencioso, o que era um sinal de que o pestinha ainda estava dormindo e não tinha colocado fogo na casa. Depois de lavar o rosto no banheiro, saí do quarto e fui ao quarto de Caetano. Para minha surpresa, a cama estava vazia então fui até a sala e o encontrei vendo televisão.— Caetano, o que você está fazendo acordado a essa hora?
— Eu estava vendo televisão.
— Por que não me acordou?
— Minha mãe sempre diz que não devo acordar os outros só porque acordei cedo.
— O que você quer comer de café da manhã?
— Por acaso sabe fazer panquecas, tio Bruno?
— Sim.
— Então vou querer e um copo de leite com chocolate também.
— Vou preparar para gente. Quer me ajudar?
— Acho que vou ficar deitado aqui vendo esse desenho.
— Não esquece de ligar para sua mãe para desejar boa sorte a ela — passei o celular para as mãos dele e fui para a cozinha.
Enquanto preparava a massa das panquecas, ouvi quando ele começou a falar com a mãe ao telefone, mas logo depois me concentrei no que estava fazendo e deixei de escutar a conversa. Em poucos minutos já tinha preparado o leite com chocolate e as minhas deliciosas panquecas para o pequeno, ainda tomei a liberdade de fazer um pouco de café para mim na cafeteira de Ester.
— O que você quer fazer hoje? — perguntei enquanto bebericava meu café.
— Eu não sei.
— O que acha de irmos ao clube?
— Não estou a fim.
— A gente pode ir soltar pipa. O que acha?
— Eu não sei fazer isso.
— Posso te ensinar.
— Mas eu nem tenho uma pipa.
— Eu posso fazer umas bem maneiras para a gente.
— Você saber fazer?
— Mas é claro que sim.
— Então eu quero. O Miguel pode ir com a gente?
— Quem é Miguel? — perguntei curioso, porque o nome do filho da vizinha era Heitor.
— É o meu melhor amigo da escola.
— Se a mãe dele deixar, ele pode ir com a gente.
— Oba!
Caetano ficou tão animado com a ideia que foi correndo para o seu quarto para trocar o pijama por uma roupa decente e eu, lavei a louça e voltei ao quarto para arrumar a cama.
— Tio Bruno!
— Sim?
Quando me virei em direção a porta do quarto, vi Caetano parado ali, me encarando e segurando o telefone celular estendido em minha direção.
— Eu já liguei para a mãe do Miguel, fala aqui com ela.
Peguei o aparelho e levei ao ouvido, mas respirei aliviado quando reconheci a voz do outro lado da linha. Era Nádia, uma cliente já antiga que utilizava meus serviços de babá quando precisava de alguém para ficar com o filho dela.
— Oi, Nádia.
— Bruno! Que surpresa saber que é você que está cuidando do filho de Ester.
— É, fui o escolhido para ficar com o Caetano.
Conversamos um pouco e então ela tocou no assunto de levar os dois pequenos brincarem juntos. Como já era esperado, Caetano já tinha adiantado o assunto e, por me conhecer a tanto tempo, era óbvio que ela deixaria o fillho sair sob a minha supervisão.
— Passo na sua casa para buscá-lo por volta das dez horas.
— Combinado.
— Foi um prazer falar com a senhora novamente.
Assim que encerrei a ligação, notei que Caetano estava sentado na beirada da cama e folheando o meu caderno de desenhos que tinha deixdo sobre a mesinha de cabeceira.
— Você que fez todos esses desenhos, tio Bruno?
— Sim, fiz cada um deles.
— São muito bonitos.
— Obrigado.
— Por que você não mostra para minha mãe? Ela também desenha, mas depois vira filme.
— Eu ainda não sou profissional, Caetano.
— Ela pode te ajudar e quem sabe seus desenhos não viram filme também.
— Seria muito bom se isso acontecesse, mas sua mãe já tem muito trabalho — terminei de esticar o edredom. — Por falar na sua mãe, já falou com ela?
— Aham.
— Tem certeza, mocinho?
— Sim.
— Então vai trocar de roupa porque vamos sair para comprar os materiais para fazer as pipas.
Ele saiu correndo do quarto e então troquei de roupa, escovei os dentes, peguei a carteira e fui para a sala. Procurei na internet alguma loja que pudesse ter os materiais que eu precisava. Varetas de bambu, linha sem cerol, cola, papel de seda colorido, carretel para linha, fita colorida para rabiola.
Por ser domingo, achei que não encontraria nenhuma loja aberta, mas por sorte, encontrei algumas lojas de bugigangas abertas. Quando Caetano apareceu, peguei a chave do carro do carro de Ester, que ela tinha me autorizado a usar e saímos de casa.
— Vamos buscar o Miguel primeiro e depois ir para a loja comprar os materiais. Tudo bem?
— Tá bom. Será que você pode ligar o rádio?
— E o que você gosta de ouvir?
— Rock.
— Rock? Você não é muito novo para gostar de rock?
— Não!
— E sua mãe deixa você ouvir esse tipo de música?
— Claro! Ela até fez uma playlist e colocou no ipod para mim.
Apertei para ligar o rádio e, logo o carro foi inundado pelas músicas dos Beatles. Era de admirar que um garotinho de apenas seis anos pudesse ter um gosto musical tão peculiar, eu esperava que ele fosse pedir para ligar a música de algum filme de criança que ele gostava.
ESTER O dia tinha começado tão bem, nada era melhor do que poder dormir confortavelmente e acordar sem precisar me preocupar com horário e nem com criança. Aproveitei para descer e desfrutar do farto café da manhã oferecido pelo hotel e depois fui curtir a piscina e um pouco da sauna. Assim que voltei ao meu quarto, já comecei a me arrumar para ir ao evento, estava enrolando meu cabelo na toalha quando meu celular começou a tocar, peguei o aparelho em cima da cama e deslizei o dedo pela tela sem nem ver quem estava ligando. — Oi, mamãe. — Oi, meu amorzinho. Como você está? — Eu tô bem. — Dormiu direitinho? — Sim e nem tive pesadelo. — Mas que notícia boa. — Eu tô com saudades, mamãe. — Eu também estou, filhotinho. — Quando você vai voltar? — Amanhã quando você acordar, já vou estar aí com você. — Tá bom. Eu te amo, mãe. — Eu também te amo, filho. Assim que encerrei a ligação, voltei a me arrumar, pois sabia que um carro passaria para me buscar por volta das dez e meia.
BRUNODepois que pegamos Miguel na casa da Nádia, o menino veio correndo em minha direção, passando os braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo na minha bochecha. Era tão bom poder revê-lo depois de tanto tempo.— Você conhece o tio Bruno? — ouvi Caetano perguntar para o amiguinho enquanto voltava para o banco do motorista.— Claro, né.— Legal!— Por que você não disse que conhecia o Miguel, tio Bruno?— Queria fazer surpresa para você.— Você me enganou. — Ele fingiu estar irritado e cruzou os braços na frente do corpo.— Preparados para aprender a soltar pipa?— Sim! — Eles disseram em uníssono.— Que cor você vai querer a sua pipa, Miguelito? — chamei-o pelo apelido carinhoso que tinha lhe dado no primeiro dia que tinha ficado com ele.— Vermelho.— Eu sabia!Levar os meninos para brincar fora de casa foi a melhor coisa que já fiz. Conhecendo Miguel, sabia que ele tinha muita energia acumulada para gastar, com Caetano não era diferente e os dois juntos era impensável. Depois
ESTERPegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.— Que susto, Bruno.— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.— A senhora tem certeza?— Sim!— Obrigado.Deixei a mala ao lado do sofá e
BRUNO Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa. Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças. Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta. — Que susto, Bruno. — Ester! — Fiquei de pé rapidamente. — Não esperava te encontrar acordado a essa hora. — Estava esperando a senhora c
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S
BRUNOEu estava quase terminando a minha animação quando o meu telefone tocou, não reconheci o número, mas aida bem que atendi porque a voz feminina do outro lado da linha se identificou como sendo a secretária de Ester.— Senhor Bruno?— Sim, sou eu.— Estou te ligando para avisar que o seu horário marcado com a senhora Ester, foi remarcado para amanhã porque ela teve um compromisso e os compromissos da tarde foram cancelados.— Tudo bem. Obrigado por me avisar.Assim que encerrei a chamada, larguei o celular em cima da mesa e respirei mais aliviado por saber que teria mais tempo para terminar a minha animação e, com mais calma, tinha certeza de que sairia bem melhor e bem mais profissional.Deixando o computador em cima da mesa, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer já que meu estômago estava roncando. Dei uma olhada nos armários e me dei conta de que teria que ir ao supermercado para fazer compras e reabastecer meus armários e geladeira.Peguei minha carteira e as chav