Capítulo 6

BRUNO

Depois de colocar Caetano na cama novamente, tive que ler uma história e me certificar de que ele estava mesmo dormindo, saí do quarto dele e fui até a sala. Fechei o meu caderno de desenhos e o levei para o quarto onde eu ficaria. Só o quarto de hóspedes juntamente com o banheiro era maior do que o meu pequeno apartamento.

Deitado na cama, não consegui dormir quase nada, acho que estava estranhando a cama, o colchão até mesmo o ambiente. Fiquei ali, olhando para o teto enquanto esperava o sono aparecer. Peguei o meu leitor digital e continuei a leitura de um livro.

Quando acordei, apurei os ouvidos e tudo ainda estava silencioso, o que era um sinal de que o pestinha ainda estava dormindo e não tinha colocado fogo na casa. Depois de lavar o rosto no banheiro, saí do quarto e fui ao quarto de Caetano. Para minha surpresa, a cama estava vazia então fui até a sala e o encontrei vendo televisão.

— Caetano, o que você está fazendo acordado a essa hora?

— Eu estava vendo televisão.

— Por que não me acordou?

— Minha mãe sempre diz que não devo acordar os outros só porque acordei cedo.

— O que você quer comer de café da manhã?

— Por acaso sabe fazer panquecas, tio Bruno?

— Sim.

— Então vou querer e um copo de leite com chocolate também.

— Vou preparar para gente. Quer me ajudar?

— Acho que vou ficar deitado aqui vendo esse desenho.

— Não esquece de ligar para sua mãe para desejar boa sorte a ela — passei o celular para as mãos dele e fui para a cozinha.

Enquanto preparava a massa das panquecas, ouvi quando ele começou a falar com a mãe ao telefone, mas logo depois me concentrei no que estava fazendo e deixei de escutar a conversa. Em poucos minutos já tinha preparado o leite com chocolate e as minhas deliciosas panquecas para o pequeno, ainda tomei a liberdade de fazer um pouco de café para mim na cafeteira de Ester.

— O que você quer fazer hoje? — perguntei enquanto bebericava meu café.

— Eu não sei.

— O que acha de irmos ao clube?

— Não estou a fim.

— A gente pode ir soltar pipa. O que acha?

— Eu não sei fazer isso.

— Posso te ensinar.

— Mas eu nem tenho uma pipa. 

— Eu posso fazer umas bem maneiras para a gente.

— Você saber fazer?

— Mas é claro que sim.

— Então eu quero. O Miguel pode ir com a gente?

— Quem é Miguel? — perguntei curioso, porque o nome do filho da vizinha era Heitor.

— É o meu melhor amigo da escola.

— Se a mãe dele deixar, ele pode ir com a gente.

— Oba!

Caetano ficou tão animado com a ideia que foi correndo para o seu quarto para trocar o pijama por uma roupa decente e eu, lavei a louça e voltei ao quarto para arrumar a cama.

— Tio Bruno!

— Sim?

Quando me virei em direção a porta do quarto, vi Caetano parado ali, me encarando e segurando o telefone celular estendido em minha direção.

— Eu já liguei para a mãe do Miguel, fala aqui com ela.

Peguei o aparelho e levei ao ouvido, mas respirei aliviado quando reconheci a voz do outro lado da linha. Era Nádia, uma cliente já antiga que utilizava meus serviços de babá quando precisava de alguém para ficar com o filho dela.

— Oi, Nádia.

— Bruno! Que surpresa saber que é você que está cuidando do filho de Ester.

— É, fui o escolhido para ficar com o Caetano.

Conversamos um pouco e então ela tocou no assunto de levar os dois pequenos brincarem juntos. Como já era esperado, Caetano já tinha adiantado o assunto e, por me conhecer a tanto tempo, era óbvio que ela deixaria o fillho sair sob a minha supervisão.

— Passo na sua casa para buscá-lo por volta das dez horas.

— Combinado. 

— Foi um prazer falar com a senhora novamente.

Assim que encerrei a ligação, notei que Caetano estava sentado na beirada da cama e folheando o meu caderno de desenhos que tinha deixdo sobre a mesinha de cabeceira.

— Você que fez todos esses desenhos, tio Bruno?

— Sim, fiz cada um deles.

— São muito bonitos.

— Obrigado.

— Por que você não mostra para minha mãe? Ela também desenha, mas depois vira filme.

— Eu ainda não sou profissional, Caetano.

— Ela pode te ajudar e quem sabe seus desenhos não viram filme também.

— Seria muito bom se isso acontecesse, mas sua mãe já tem muito trabalho — terminei de esticar o edredom. — Por falar na sua mãe, já falou com ela?

— Aham.

— Tem certeza, mocinho?

— Sim.

— Então vai trocar de roupa porque vamos sair para comprar os materiais para fazer as pipas.

Ele saiu correndo do quarto e então troquei de roupa, escovei os dentes, peguei a carteira e fui para a sala. Procurei na internet alguma loja que pudesse ter os materiais que eu precisava. Varetas de bambu, linha sem cerol, cola, papel de seda colorido, carretel para linha, fita colorida para rabiola.

Por ser domingo, achei que não encontraria nenhuma loja aberta, mas por sorte, encontrei algumas lojas de bugigangas abertas. Quando Caetano apareceu, peguei a chave do carro do carro de Ester, que ela tinha me autorizado a usar e saímos de casa.

— Vamos buscar o Miguel primeiro e depois ir para a loja comprar os materiais. Tudo bem?

bom. Será que você pode ligar o rádio?

— E o que você gosta de ouvir?

— Rock.

— Rock? Você não é muito novo para gostar de rock?

— Não! 

— E sua mãe deixa você ouvir esse tipo de música?

— Claro! Ela até fez uma playlist e colocou no ipod para mim.

Apertei para ligar o rádio e, logo o carro foi inundado pelas músicas dos Beatles. Era de admirar que um garotinho de apenas seis anos pudesse ter um gosto musical tão peculiar, eu esperava que ele fosse pedir para ligar a música de algum filme de criança que ele gostava.

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