BRUNO
Depois que pegamos Miguel na casa da Nádia, o menino veio correndo em minha direção, passando os braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo na minha bochecha. Era tão bom poder revê-lo depois de tanto tempo.
— Você conhece o tio Bruno? — ouvi Caetano perguntar para o amiguinho enquanto voltava para o banco do motorista.
— Claro, né.
— Legal!
— Por que você não disse que conhecia o Miguel, tio Bruno?
— Queria fazer surpresa para você.
— Você me enganou. — Ele fingiu estar irritado e cruzou os braços na frente do corpo.
— Preparados para aprender a soltar pipa?
— Sim! — Eles disseram em uníssono.
— Que cor você vai querer a sua pipa, Miguelito? — chamei-o pelo apelido carinhoso que tinha lhe dado no primeiro dia que tinha ficado com ele.
— Vermelho.
— Eu sabia!
Levar os meninos para brincar fora de casa foi a melhor coisa que já fiz. Conhecendo Miguel, sabia que ele tinha muita energia acumulada para gastar, com Caetano não era diferente e os dois juntos era impensável. Depois de comprar os materiais, passamos na casa de Nádia para pegar o segundo pestinha e ela deu para ver o quanto ela tinha ficado grata por poder tirar essa responsabilidade dela, mesmo que por pouco tempo.
Quando chegamos ao clube, deixei os materiais sobre uma mesa debaixo de um guarda-sol e comecei a usar minhas antigas habilidades de fazer pipa para montar uma para cada um. Eles estavam curiosos para ver como eu faria as pipas e a todo momento pediam para ajudar.
Fiquei surpreso com a rapidez com que eles aprenderam e logo estavam correndo pelo gramado sorrindo, vendo as pipas voando alto no céu, aproveitei para tirar uma foto para enviar para Ester. Assim que se cansaram, nos jogamos na grama e tirei mais uma foto.
— Tio Bruno, eu estou com fome.
— Eu também! — Miguel afirmou.
— O que vocês querem comer?
— Hambúrguer!
— Mas a sua mãe não gosta que você coma essas coisas, Caetano.
— Ela não precisa saber, tio.
— Você sabe que mentir é feio, ainda mais se for para a sua mãe.
— Eu sei. — Ele pareceu arrependido por ter dado a ideia.
— Vamos para casa e vou fazer uma comida bem gostosa para nós três.
— Tá bom. O Miguel pode ir lá para casa?
— Mas é claro que ele vai com a gente.
Enquanto eles corriam mais um pouco, aproveitei para juntar as coisas que tínhamos trazido e fomos caminhando até o estacionamento, onde tínhamos deixado o carro. A volta para casa, foi mais sienciosa já que ambos estavam cansados de tanto fazer bagunça.
Assim que chegamos na casa de Ester, tratei de começar a fazer o almoço enquanto eles foram tomar banho para trocar a roupa suada por uma limpa. Enquanto temperava a carne, olhei pela janela da cozinha e vi que o tempo estava ficando muito nublado, nuvens escuras começavam a preencher o que ainda restava do azul.
— Tio Bruno! — Ouvi a voz de Caetano vindo do quarto.
— O que foi, pequeno?
— A gente pode jogar video-game?
Pensei em dizer que não, mas com a tempestade que estava se formando, não teria como eles brincarem do lado de fora e para que não colocassem a casa impecável de Ester abaixo, acabei cedendo.
— Só até o almoço ficar pronto. Pode ser?
— Tá bom.
Macarrão com almôndegas. A comida que marcou a minha infância e tinha certeza de que os dois pestinhas também iam adorar. Dito e feito, eles comeram como se fosse a melhor comida da face da Terra e ainda pediram para comer de novo.
Pouco tempo depois, a chuva que tinha se formado, resolveu desabar. Forte, com ventania e raios. Um verdadeiro pesadelo para qualquer um. Para completar a confusão, a luz ainda tinha acabado, fazendo com que os meninos ficassem indignados por ter interrompido a partida que eles estavam jogando.
Sem ter mais nada para fazer, eles vieram me ajudar a lavar a louça e depois fomos nos sentar no tapete da sala e comecei a contar histórias para entretê-los. Graças a Deus a luz voltou rápido e a chuva tinha ficado mais branda, sem raios e vento, acabei deixando que eles fossem brincar na chuva. Eles podiam reviver o que eu adorava fazer quando era criança. Deixar eles serem crianças de verdade e não miniaturas de suas mães.
Enquanto eles brincavam na chuva, fiquei abrigado na cadeira da varanda e aproveitei dar uma adiantada no meu desenho. Pretendia fazer uma animação sobre dois amigos que vivem muitas aventuras juntos ao redor do mundo, tinha tudo para ser um sucesso se eu conseguisse alguém que acreditasse no meu potencial e me desse uma chance. Cheguei a pensar em pedir para Ester, mas desisti porque achei que seria inapropriado e muito incoveniente, até porque a gente nem se conhecia direito.
Meu celular começou a tocar dentro da casa e corri para pegar o aparelho, vi que era uma ligação de Nádia então tratei de atender. Ela pediu que levasse Miguel para casa porque eles tinham que ir para o aniversário da sogra dela, avisei que o levaria imediatamente e encerrei a ligação.
— Miguel! Caetano! Venham se secar e trocar de roupa.
— Deixa a gente brincar só mais um pouquinho?
— A mãe do Miguel disse que ele precisa ir embora.
— Mas por quê? — Foi a vez de Miguel parecer contrariado.
— Ela disse que você tem que ir no aniversário da sua avó.
— Que chato. Eu tenho mesmo que ir?
— Sim, mocinho.
Coloquei os dois para dentro de casa e tratei de secá-los com toalhas secas e limpas. Miguel vestiu a roupa seca e sacudiu a cabeça, fazendo com que seus cachinhos arremessassem gotinhas de água por todo o banheiro.
Depois de deixar Miguel em casa, peguei o caminho de volta com Caetano. O pestinha estava muito silencioso e quando olhei pelo retrovisor, vi que ele tinha adormecido sentado na cadeirinha, provavelmente estava muito cansado. Isso era o resultado das atividades feitas ao ar livre.
ESTERPegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.— Que susto, Bruno.— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.— A senhora tem certeza?— Sim!— Obrigado.Deixei a mala ao lado do sofá e
BRUNO Depois de um jantar mais leve, Caetano foi jogar um pouco de videogame e aproveitei para arrumar minhas coisas na mochila, eu esperaria Ester chegar para poder ir embora, até porque não era certo que eu ficasse depois que ela já estivesse em casa. Assim que fui avisar ao pequeno pestinha que estava na hora de desligar o aparelho e ir dormir, ele prontamente desligou, trocou de roupa e se deitou. Quando fui vê-lo, me surpreendi por ele ter pedido que lesse um livrinho para ele e, claro que aceitei. O livro escolhido por ele foi Os Três Mosqueteiros, mas uma versão mais resumida para crianças. Quando ele finalmente dormiu, peguei meu computador e levei para a sala, coloquei-o sobre a mesa de jantar para adiantar a minha animação. Fiquei tão distraído que nem percebi que a hora tinha passado e acabei me assustando quando a porta foi aberta. — Que susto, Bruno. — Ester! — Fiquei de pé rapidamente. — Não esperava te encontrar acordado a essa hora. — Estava esperando a senhora c
ESTERDepois de deixar meu pequeno na escola, fui para a empresa e, mal tinha pisado na minha sala quando a minha secretária entrou, me informando que tinha alguém na minha linha querendo falar comigo. Estranhei porque não estava esperando falar com ninguém.— Sabe dizer quem é?— A pessoa não se identificou, mas a voz é masculina.— Vou atender. Obrigada.Ela se retirou e fechou a porta atrás de si, me dando privacidade. Peguei o fone do gancho e apertei o botão para aceitar a ligação. Tinha esperança de que Bruno tivesse pensado a respeito da minha proposta, mas era só um jornalista local querendo fazer uma matéria sobre o prêmio que eu tinha ganhado.A parte da manhã foi uma verdadeira loucura, tive que participar de algumas reuniões importantes que tinham sido adiadas, da uma olhada nos trabalhos que já estavam sendo desenvolvidos e ainda tinha combinado de almoçar com minha mãe. Quando saí da sala de reuniões e cheguei na minha, tomei um susto ao me deparar com uma pessoa de cost
BRUNODepois de passar a manhã quase toda com a minha mãe, decidi comer alguma coisa pela rua mesmo, pois tinha que resolver algumas coisas na rua. Estava andando pela calçada quando alguém trombou em mim, ia reclamar quando vi que era Ester.— Você está bem, Ester?— Sim, estou, sim. Só estava distraída mexendo no celular e não te vi passando.— E o Caetano?— Está na escola. Bruno, eu... queria te agradecer pela mesa de café da manhã que deixou arrumada para mim e para o Caetano.— Foi só um agrado, nada demais.— Eu preciso ir, estou atrasada. — Ela acenou para mim antes de entrar no carro.Encontrar Ester não estava nos meus planos, tinha sido estranho e totalmente por acaso. Saber que ela tiha gostado do café da manhã que eu tinha deixado preparado foi muito gratificante, porque assim eu sabia que estava mudando a opinião que ela tinha de mim.Depois de ter encontrado Ester, continuei meu caminho até o banco. Graças ao dinheiro que tinha recebido por cuidar de Caetano durante o f
ESTERQuando chegamos em casa, fui dar uma olhada na agenda de Caetano e vi que tinha um bilhete sobre a apresentação de dia das mães marcada para o dia seguinte as quatro horas da tarde. Era óbvio que eu não poderia perder.— Mamãe!— Que foi, Caetano?— A gente vai poder ir na casa do Miguel?— Vou ligar para a mãe dele, tá bom?— Tá.Pegando o celular dentro da bolsa, disquei para o número de Nádia e no segundo toque, ela atendeu. Conversamos por um tempinho até que perguntei se Miguel estava bem já que ele nao tinha ido a aula e ela me tranquilizou dizendo que o filho só não tinha ido a aula porque eles voltaram tarde da casa da sogra dela.— Caetano estava querendo ir até a sua casa, mas acho melhor combinarmos no final de semana.— Por mim, está ótimo.— Vou fazer um lanche para a gente a você traz o Miguel.— Maravilha!— Amanhã tem a apresentação de dia das mães lá na escola, você vai?— Claro! Se eu não for, Miguel fica emburrado comigo.— Então nos vemos amanhã.— Ester!— S
BRUNOEu estava quase terminando a minha animação quando o meu telefone tocou, não reconheci o número, mas aida bem que atendi porque a voz feminina do outro lado da linha se identificou como sendo a secretária de Ester.— Senhor Bruno?— Sim, sou eu.— Estou te ligando para avisar que o seu horário marcado com a senhora Ester, foi remarcado para amanhã porque ela teve um compromisso e os compromissos da tarde foram cancelados.— Tudo bem. Obrigado por me avisar.Assim que encerrei a chamada, larguei o celular em cima da mesa e respirei mais aliviado por saber que teria mais tempo para terminar a minha animação e, com mais calma, tinha certeza de que sairia bem melhor e bem mais profissional.Deixando o computador em cima da mesa, fui até a cozinha preparar alguma coisa para comer já que meu estômago estava roncando. Dei uma olhada nos armários e me dei conta de que teria que ir ao supermercado para fazer compras e reabastecer meus armários e geladeira.Peguei minha carteira e as chav
ESTERDepois da apresentação de dia das mães na escola de Caetano, estávamos a caminho de casa quando meu celular começou a tocar, conectei o fone de ouvido sem fio e atendi a ligação. Era meu irmão Caio.— Ester! Está ocupada?— Estou no trânsito a caminho de casa.— Será que posso te encontrar lá?— Claro! Aconteceu alguma coisa?— Não! Está tudo bem.— Chego em cinco minutos.— Te encontro lá então.Assim que encerrei a ligação, ouvi a voz de Caetano vindo do banco de trás. Como o menino era curioso. Jesus amado.— Quem era, mamãe?— O tio Caio, querido.— Ele voltou?— Sim.— Quando eu vou poder ver ele?— Assim que a gente chegar em casa.— Oba!Mal tinha entrado com o carro na garagem quando Caio apareceu no portão, Caetano saiu correndo e abraçou as pernas do tio, de quem ele gostava muito. Meu irmão logo depois de se desvencilhar do meu pestinha, me abraçou e pude notar que ele estava preocupado, a ruga no meio de sua testa deixava evidente.— Oi, irmãzinha — falou enquanto me
BRUNODepois de colocar Miguel para dormir, fui me sentar no sofá para ver série, mas acabei pegando no sono. Acordei assustado com meu celular tocando, quando olhei a tela, descobri que era Lia, uma garota com quem eu saía as vezes.— Alô? — Minha voz saiu sonolenta.— Oi, Bruno.— Lia! Que surpresa receber uma ligação sua.— Você está em casa, bonitão?— Sim, mas...— Então abre a porta para mim.Meu Deus! Lia simplesmente resolveu aparecer na minha porta justamente quando eu estava tomando cuidando de uma criança. Como eu ia explicar para ela que eu estava trabalhando? Me levantei do sofá e fui fechar a porta do quarto para não correr o risco de Miguel acordar.Assim que abri a porta do meu apartamento, me deparei com Lia usando um vestido preto brilhoso que mal chegava até o meio de suas coxas torneadas, sandálias de salto alto, o cabelo estava solto e levemente bagunçado.— O que veio fazer aqui, Lia?— Eu estava com saudades de você. — O cheiro de bebida chegou ao meu nariz.— V