ESTER
Seis anos depois...
Enquanto esperava Caetano na frente da escolinha, aproveitei para abrir meu e-mail pelo celular só para dar uma última conferida no dia e quase desmaiei quando vi o convite para participar Pixel Show, um festival internacional da criatividade, pois uma das minhas animações tinha sido escolhida como a melhor do ano.
Agora vinha a pior parte, porque eu precisaria desesperadamente arrumar alguém que pudesse ficar com meu pequeno no final de semana para que eu pudesse fazer a viagem tranquila para São Paulo. Sem pensar duas vezes, disquei para minha mãe, mas a resposta que recebi foi desanimadora, ela tinha um retiro da igreja. Tentei minha irmã, mas ela tinha uma viagem marcada com o namorado.
— Meu jesus amado! O que eu vou fazer agora?
Tentei não me desesperar, eu encontraria uma solução. Quando desci do carro e me juntei as outras mães, encontrei Nádia, mãe do melhor amiguinho do meu filho e que também tinha se tornado minha amiga.
— Ester, como você está?
— Estou a ponta de ficar louca.
— Foi alguma coisa com o Caetano?
— Não! Ele está ótimo e bagunceiro como sempre, o problema é comigo mesmo.
— Se for algo que eu possa ajudar.
Pensei em perguntar se ela se poderia deixar meu pequeno na casa dela durante o final de semana, mas acabei chegando a conclusão de que não era uma boa ideia, já que ela estava com um bebê novo em casa e dois pestinhas de seis anos seria demais.
— Estou procurando uma babá para ficar com ele durante o final de semana porque tenho uma viagem de trabalho, começando na sexta a noite.
— Isso aí é fácil de resolver.
— Sério? Você tem alguém para indicar?
— Conheço uma empresa especializada só de pessoas que prestam serviço de babá.
— E sabe me dizer se é confiável?
— Altamente confiável, só uso o serviço de babá deles quando preciso que tomem conta do Miguel.
Tivemos que interromper nossa conversa a porta da escola foi aberta e nossos pequenos príncipes vieram correndo em nossa direção.
— Mamãe! — Caetano se jogou em meus braços. — Olha, fiz um desenho para você.
Meu filho me estendeu um papel amassado e cheio de rabiscos, que, segundo ele, era ele e eu. Eu vinha notando que ele estava "desenhando" mais, talvez fosse porque ele sempre me via fazendo os rascunhos para as novas animações e estava tentando me imitar.
— Que desenho mais lindo, meu filho.
— Mãe, o Miguel pode ir lá em casa brincar comigo hoje?
— Hoje não vai dar, meu amorzinho. — Depositei um beijo no topo de sua cabeça e baguncei sua cabeleira loira.
— Ahh mamãe, deixa. Por favorzinho!
— A gente combina outro dia, pode ser?
— Tá bom — respondeu tristinho.
Quando voltei a ficar de pé, ajeitei a roupa e aproveitei que Nádia ainda estava por ali com o filho para voltar ao assunto da babá.
— Nádia, quando puder me passe o nome e o telefone da empresa de babás.
— Ah claro! Só um minuto.
Ela começou a procurar algo dentro da bolsa e rapidamente me entregou um cartão. My Nany era o nome da empresa de babás. Agradeci pela ajuda e segui com Caetano para o carro. Depois de prendê-lo na cadeirinha, voltei às ruas, nos levando para casa.
— Mamãe?
— Sim, meu amor.
— Por que eu vou precisar de uma babá?
— A mamãe vai precisar fazer uma viagem de trabalho.
— Eu não posso ir?
— É uma viagem de gente grande.
— A gente pode comer pizza de calabresa? — Ele pareceu aceitar minha resposta e mudou de assunto de repente.
— Só se você se comportar e for direto tomar seu banho sem reclamar.
— Eu vou, mamãe.
— Então vou pedir a pizza.
— Só se for de frango com catupiry.
— Tá bom.
Foi só estacionar o carro na garagem e tirar meu pequeno da cadeirinha que ele saiu correndo para dentro de casa, deixando a mochila para que eu levasse. Aproveitando que ele estava no banho, procurei meu celular dentro da bolsa e acabei encontrando o cartão que Nádia tinha me dado e decidi que ligaria pela manhã. Eu preferiria que ele comesse algo um pouco mais saudável, mas como era quinta-feira e eu estava tão enrolada que fiz o pedido da pizza sem pensar duas vezes.
Quando Caetano terminou o banho, deixei que ele vestisse um short e a sua camiseta favorita do Buzz Lightyear, logo depois nos sentamos à mesa da sala para fazer a lição de casa e já estávamos terminando a tarefa de português quando a campainha soou ele saiu correndo.
— A pizza chegou, mamãe. — Ele gritou da porta.
Pegando o dinheiro na carteira, fui até a porta para pegar a pizza e pagar o entregador.
— Vamos comer? — perguntei quando voltei à sala e meu filho saiu correndo em direção à cozinha.
— Uhul! Vamos comer pizza! — respondeu animado.
Logo que terminamos de comer, deixei que ele assistisse um pouco de televisão enquanto eu lavava a louça. Por volta das nove e meia, Caetano já tinha escovado os dentes e vestido o pijama. Quando fui ao seu encontro, ele já estava deitado, me esperando para lermos o livro escolhido da noite: O menino e o foguete do autor Marcelo Rubens Paiva.
Antes que eu chegasse à metade do livrinho, meu pequeno pestinha já tinha pegado no sono. Depois de depositar um beijo carinhoso em sua testa, puxei a coberta até seu peito, fiquei deitada um pouco ao lado dele e fiquei olhando-o dormir tranquilamente o sono dos anjos. Eu poderia ficar velando seu sono durante a noite toda. Caetano era mistura perfeita dos traços dos pai com os meus. Os olhos acinzentados
Depois de deixá-lo dormindo, fui até o escritório e aproveitando que estava inspirada, resolvi rascunhar alguns desenhos e, fiquei tão distraída que nem percebi que já tinha passado da meia-noite. Quando me deitei a preocupação apareceu e levou embora o meu sono. Eu precisava, desesperadamente arrumar alguém que tivesse pulso firme, mas que também fosse carinhosa e tivesse muita paciência. Caetano tinha sido a minha melhor escolha da minha vida e eu jamais me perdoaria se algo acontecesse.
Pela manhã, enquanto tomava café da manhã e preparava a lancheira do meu filho, peguei o meu celular em cima da mesa de jantar juntamente com o cartão de visita da empresa de babás e liguei. Uma senhora muito simpática me atendeu e quando expliquei a ela a minha situação, ela disse que já tinha a pessoa perfeita para me ajudar e que estaria enviando a minha solicitação e os meus dados para a tal pessoa.
Eu estava um pouco receosa de deixar o meu pequeno com alguém estranho, mesmo que fosse por poucos dias. Sentia o meu coração apertado por toda essa situação, levar o meu filho comigo seria uma alternativa, mas infelizmente eu não teria como participar e tomar conta dele. Ainda estava imersa em meus próprios pensamentos quando fui interrompida pelo toque do meu celular. Tomei um susto e quando olhei a tela e vi que era minha mãe.
— Oi, mãe!
— Filha, como está?
— Estou bem.
— Conseguiu resolver o seu problema?
— Graças a Deus consegui uma pessoa para ficar com o Caetano, mas gostaria de pedir que a senhora desse uma passada por aqui enquanto eu estiver fora, só para fiscalizar.
ESTER A noite de sexta-feira chegou mais rápido do que esperava. Já estava próximo do horário de sair para o aeroporto quando ouvi a campainha tocar e, instintivamente, corri para abrir a porta, mesmo estando descalça. Sabia que devia ser a babá, mas para minha surpresa, dei de cara com um homem, muito bonito por sinal.— Senhora Ester? — Sim, sou eu. — Estranhei ele saber meu nome e estar na minha porta. — Quem é você? — Meu nome é Bruno. Fui enviado pelo My nany para ficar com o seu filho durante o final de semana. — Deve haver algum engano, pois eu solicitei uma babá. — Não há engano algum, senhora. Eu sou o babá que vai ficar com o seu filho. — Mas você... Você é um homem. — Isso é um problema para a senhora? — Não. Quero dizer, sim, porque não tenho certeza se conseguirá lidar com um garotinho de 6 anos. — Não tem motivo para se preocupar porque eu fui muito bem treinado para ficar com crianças de qualquer idade, senhora. — Como poderei ter certeza disso? — perguntei de
BRUNO Eu só comecei a trabalhar de babá no My Nany porque uma amiga me indicou a empresa e eu precisava de um emprego que pudesse me ajudar a terminar de pagar a minha faculdade. O que eu não esperava era que fosse ter tantos clientes fiéis. Eu estava fazendo minha corrida matinal na beira da praia quando meu celular começou a tocar. Parei e desconectei os fones de ouvido e levei o aparelho ao ouvido. — Bom dia, Bruno. — A voz da velha recrutadora soou do outro lado da linha. — Bom dia, Paulina. — Você está disposto a trabalhar no final de semana? — Ela foi direto ao assunto. — Sim. — Então eu tenho o trabalho perfeito para você. O menino tem seis anos e a mãe precisa de alguém que possa cuidar dele durante o final de semana porque ela tem uma viagem de trabalho. — Mas e o pai? — Ao que tudo indica não existe ou simplesmente não faz parte da vida do garoto. — Posso te passar as informações por e-mail? — Fico no aguardo! Depois que encerrei a ligação, reconectei os fones e
ESTER Se eu tinha achado estranho um homem como babá? Achei muito estranho, mas não tinha nada que eu pudesse fazer e meu pequeno parecia estar gostando de ter um homem como babá. Pensando pelo lado do meu filho, era mais fácil se identificar com um homem do que com uma babá. Depois que consegui descansar um pouco, comecei a me arrumar para ir até o evento, queria dar uma volta, por lá, conhecer o ambiente e até fazer networking com outras pessoas do ramo de animações, era a oportunidade perfeita para divulgar a minha empresa e recrutar novos talentos. Estava andando em meio a multidão quando senti meu celular vibrar no bolso de trás da calça e quando o peguei, vi que tinha recebido uma mensagem de Bruno, rapidamente abri porque sabia que eram notícias do meu pestinha. Quando deslizei o dedo pela tela, uma foto abriu, Caetano estava brincando com Heitor, filho da vizinha, e um sorriso surgiu em meu rosto. — Desculpa interromper, mas você é Ester Aguilar? — Alguém perguntou atrás d
ESTER Eu tinha passado o restante do dia sem notícias do meu filho, por estar tão ocupada e envolvida com o evento, acabei nem tendo tempo de ligar para Bruno. Só quando voltei para o hotel foi que consegui ligar o babá, mas para minha infelicidade, ele não atendeu. Tentei de novo por mais umas quatro vezes, mas sem sucesso e isso me fez começar a pensar que algo de ruim tinha acontecido. Quando tentei mais uma vez, ele atendeu, eu estava pronta para soltar os cachorros em cima dele, mas a voz do outro lado da linha soou tão calma que entendi que estava tudo bem e a única pessoa neurótica ali, era eu. — Bruno, aconteceu alguma coisa com o Caetano? — Foi a primeira coisa que saiu da minh boca. — Não, ele está muito bem. — E por que não atendeu as minhas ligações? — Eu estava ocupado e não tinha escutado o celular tocar. — Posso falar com o meu filho? — Claro, só um instante que vou entregar o celular a ele. Deu para ouvir quando ele afastou o celular do rosto porque o som da s
BRUNO Depois de colocar Caetano na cama novamente, tive que ler uma história e me certificar de que ele estava mesmo dormindo, saí do quarto dele e fui até a sala. Fechei o meu caderno de desenhos e o levei para o quarto onde eu ficaria. Só o quarto de hóspedes juntamente com o banheiro era maior do que o meu pequeno apartamento. Deitado na cama, não consegui dormir quase nada, acho que estava estranhando a cama, o colchão até mesmo o ambiente. Fiquei ali, olhando para o teto enquanto esperava o sono aparecer. Peguei o meu leitor digital e continuei a leitura de um livro. Quando acordei, apurei os ouvidos e tudo ainda estava silencioso, o que era um sinal de que o pestinha ainda estava dormindo e não tinha colocado fogo na casa. Depois de lavar o rosto no banheiro, saí do quarto e fui ao quarto de Caetano. Para minha surpresa, a cama estava vazia então fui até a sala e o encontrei vendo televisão. — Caetano, o que você está fazendo acordado a essa hora? — Eu estava vendo televisã
ESTER O dia tinha começado tão bem, nada era melhor do que poder dormir confortavelmente e acordar sem precisar me preocupar com horário e nem com criança. Aproveitei para descer e desfrutar do farto café da manhã oferecido pelo hotel e depois fui curtir a piscina e um pouco da sauna. Assim que voltei ao meu quarto, já comecei a me arrumar para ir ao evento, estava enrolando meu cabelo na toalha quando meu celular começou a tocar, peguei o aparelho em cima da cama e deslizei o dedo pela tela sem nem ver quem estava ligando. — Oi, mamãe. — Oi, meu amorzinho. Como você está? — Eu tô bem. — Dormiu direitinho? — Sim e nem tive pesadelo. — Mas que notícia boa. — Eu tô com saudades, mamãe. — Eu também estou, filhotinho. — Quando você vai voltar? — Amanhã quando você acordar, já vou estar aí com você. — Tá bom. Eu te amo, mãe. — Eu também te amo, filho. Assim que encerrei a ligação, voltei a me arrumar, pois sabia que um carro passaria para me buscar por volta das dez e meia.
BRUNODepois que pegamos Miguel na casa da Nádia, o menino veio correndo em minha direção, passando os braços ao redor do meu pescoço e deu um beijo na minha bochecha. Era tão bom poder revê-lo depois de tanto tempo.— Você conhece o tio Bruno? — ouvi Caetano perguntar para o amiguinho enquanto voltava para o banco do motorista.— Claro, né.— Legal!— Por que você não disse que conhecia o Miguel, tio Bruno?— Queria fazer surpresa para você.— Você me enganou. — Ele fingiu estar irritado e cruzou os braços na frente do corpo.— Preparados para aprender a soltar pipa?— Sim! — Eles disseram em uníssono.— Que cor você vai querer a sua pipa, Miguelito? — chamei-o pelo apelido carinhoso que tinha lhe dado no primeiro dia que tinha ficado com ele.— Vermelho.— Eu sabia!Levar os meninos para brincar fora de casa foi a melhor coisa que já fiz. Conhecendo Miguel, sabia que ele tinha muita energia acumulada para gastar, com Caetano não era diferente e os dois juntos era impensável. Depois
ESTERPegar o avião de volta para casa foi um pouco mais tranquilo do que a ida para São Paulo, saber que logo estaria em casa e com meu filho nos braços era mais reconfortante do que imaginei que seria. Acho que estava me tornando o que eu mais temia, uma mãe superprotetora.Quando finalmente desembarquei, entrei num táxi e passei o endereço ao motorista. Ao destrancar a porta, tentei não fazer muito barulho para evitar acordar ninguém, mas acabei me assustando ao me deparar com Bruno sentado à mesa da sala de jantar enquanto mexia no computador.— Que susto, Bruno.— Ester! — Ele ficou de pé rapidamente parecendo assustado também.— Não esperava te encontrar acordado a essa hora.— Estava esperando a senhora chegar para poder ir embora.— Mas vai sair assim no meio da noite como um ladrão?— Prefiro deixar que você tenha a sua privacidade agora que está de volta.— Pode ficar, dormir e ir pela manhã, Bruno.— A senhora tem certeza?— Sim!— Obrigado.Deixei a mala ao lado do sofá e