— O quê? — Perguntei, sorrindo. Benedita apertou os lábios antes de falar: — Carolina, essa cirurgia vai custar muito caro, não vai? Ao ouvir isso, meu coração deu um salto. Temi que ela mudasse de ideia por causa do dinheiro. — Não, não é muito caro. E você não precisa se preocupar com isso. Seu irmão acabou de conseguir um novo emprego como engenheiro técnico. Ele está ganhando super bem agora. Benedita ficou em silêncio. Me aproximei um pouco mais dela. Existia algo que a psicologia chamava de efeito da proximidade: às vezes, a confiança entre as pessoas não era construída com palavras, mas com pequenos gestos, como simplesmente dar um passo na direção dela. Levantei a mão e acariciei os cabelos longos e sedosos dela. — O médico que vai fazer sua cirurgia é um dos melhores. Ele é colega de faculdade de uma amiga minha. Você não precisa pensar em mais nada. Só foca em ficar bem, porque depois da cirurgia, você vai estar saudável e vai poder aproveitar a vida de verdade.
Eu e ele ficamos ali, lado a lado, em silêncio, ouvindo o som do vento balançando a superfície do lago. Porém, depois de um tempo, comecei a me sentir desconfortável. Meu corpo não estava aguentando muito bem ficar de pé. — O que foi? — George perguntou, percebendo meu desconforto. — Quero sentar. Ficar de pé está me deixando com as pernas cansadas. — Respondi sinceramente. George olhou ao redor e, antes que eu pudesse reagir, senti meu corpo ser erguido do chão. Ele me pegou pela cintura e começou a caminhar em direção a uma pedra grande, um pouco mais adiante. Embora já estivesse acostumada com o jeito dele, sempre me carregando como se eu fosse um travesseiro, não deixei de fingir uma certa timidez: — Eu consigo andar sozinha! — Você não acabou de dizer que estava com as pernas cansadas? Como vai andar assim? — Ele rebateu sem nem olhar pra mim. Mostrei a língua para ele e fiquei em silêncio. George me colocou no chão ao lado da pedra, mas, antes que eu pudesse me aj
Os olhos de George se estreitaram de repente, e eu, instintivamente, apertei os braços ao redor dele. — É isso? — Perguntei, quase sem fôlego. — Por que você acha isso? — Ele rebateu, em vez de responder. Eu estava prestes a dizer que foi Cátia quem mencionou algo do tipo, mas, antes que pudesse abrir a boca, ouvi a voz de Benedita chamando à distância: — Carolina, seu telefone está tocando sem parar! Ela vinha correndo em nossa direção, o que me deixou imediatamente preocupada. Benedita não podia correr por causa do coração. — Tudo bem, já vou! — Respondi, me levantando apressada do colo de George e correndo até ela. O telefone era de Cátia, que tinha ligado várias vezes. Algo urgente devia ter acontecido. — Alô, tia. — Atendi rapidamente. — Carol, por que você não atende? Aconteceu alguma coisa? — Cátia perguntou com a voz carregada de nervosismo. — Não, eu só não estava com o celular perto de mim. Ela suspirou aliviada do outro lado da linha. — Você me deixou
— George tem sorte. Nesta vida, encontrar e casar com você é um privilégio. — Comentou Cátia. Curvei levemente os lábios em um sorriso discreto, sem responder. Na verdade, quem era verdadeiramente sortuda era eu. No momento em que Sebastião me traiu, foi George quem apareceu, me curou e me salvou. — Vocês demoram para voltar? — Cátia perguntou de repente. — Não sei ao certo. — Respondi, evitando marcar uma data. Ela suspirou audivelmente. — Carol, quando voltar, venha conversar comigo. Estou com tanta coisa entalada aqui no peito que já nem sei mais o que fazer. Pensei na confusão que teve com Sebastião, resultado, em grande parte, da atitude dela de expulsar Lídia em um gesto de solidariedade a mim. Não podia recusar. — Pode deixar, tia. Assim que eu voltar, vou te visitar e ver o tio também. — Certo. E cuida bem de você, viu? Em lugares que você não conhece, é sempre bom redobrar a atenção. — Ela recomendou com um tom maternal. — Tá bom, vou cuidar. — Prometi. — E
Meu coração deu um salto! Cátia tinha acabado de dizer que Sebastião parecia estar deixando um testamento. Agora, Lídia vinha com essa história de que ele estava "arrumando as coisas". Era impossível ignorar: o comportamento dele estava fora do normal. De repente, flashes de um sonho que eu tinha tido há algum tempo vieram à minha mente. E com eles, aquela pergunta que Sebastião me fez um dia: "Se eu morresse, o que você faria?" Eu já não nutria amor nem ódio por ele. Para mim, Sebastião era um capítulo encerrado. Mas, diante de algo tão extremo como a morte, mesmo que fosse apenas um estranho, eu jamais conseguiria ficar indiferente. Lídia chorava do outro lado da linha, em um tom lamentoso que parecia querer arrancar piedade. Mas ela estava chorando para a pessoa errada. Eu não sentia pena, e consolá-la estava fora de questão. Ainda assim, com base no que eu conhecia de Sebastião, fiz um comentário sincero: — Sebastião não é esse tipo de pessoa. Alguém que desistia da vid
Ao ouvir aquelas palavras, a imagem de Sebastião nos tempos de escola veio à minha mente. Aquele rapaz despreocupado, sempre com um sorriso travesso no rosto, como se nada no mundo pudesse abalá-lo. Naquela época, eu realmente achei que ele seria assim para sempre. Mas, em algum momento, ele mudou. E nós também mudamos, até chegar ao ponto em que tudo desmoronou. Talvez fosse por isso que disseram que o futuro era imprevisível. — Tião também pediu para eu cuidar bem dos nossos pais. E de você. — A voz de Miguel ficou mais grave, quase um sussurro. — Por último, ele disse que, se você se casar, quer saber. Ele gostaria de te dar seus parabéns pessoalmente. Meu peito apertou com aquelas palavras, e uma irritação crescente tomou conta de mim. Sebastião tinha causado tanto caos, feito todo mundo acreditar que estava à beira do abismo, mas, na verdade, tudo não passava de uma fuga. Ele só queria sumir. — Parece que ele não estava se despedindo, afinal. — Comentei, deixando o tom á
Meu corpo inteiro ficou tenso. Fiquei ali, imóvel, encarando George. O pai dele era motorista. Se o problema foi nos freios, então a responsabilidade recaía sobre ele. Por um instante, nenhum de nós disse nada. Ficamos apenas nos olhando, em silêncio. Depois de alguns segundos, George moveu a mão que estava sobre meu ombro e disse, com a voz firme: — Meu pai era o motorista. Se o problema foi nos freios, seja por falha humana ou por defeito no carro, a responsabilidade também era dele. Um frio percorreu meu corpo, mas não era causado pelo vento da noite. Era um frio que vinha de dentro, gerado pelas emoções conflitantes que me consumiam. Se eu e George não tivéssemos nos aproximado tanto, a responsabilidade do pai dele seria algo que eu poderia investigar de forma objetiva. Mas agora... Agora ele era a pessoa mais próxima de mim. Se realmente fosse culpa do pai dele, eu não sabia como iria lidar com isso. — Carol, você sabe que eu sempre estive investigando a morte do meu
Benedita era uma garota de coração tão puro e inocente que chegava a ser quase angelical. Mas, ao mesmo tempo, era sensível, perceptiva. Eu não podia deixar que meu estado de espírito acabasse afetando-a. Por isso, quando os dois voltaram da conversa no quintal, eu já tinha terminado minha porção de mousse de manga. E, para completar o quadro, ainda roubei uma colherada do prato de George. A cena era tão cômica que, para qualquer um, parecia mais coisa de quem estava de bom humor do que de alguém mal-humorado ou chateado. Ao ver meu ato, Benedita imediatamente assumiu que não havia problema algum entre mim e George. Os dois ficaram me olhando, surpresos, enquanto eu colocava a colherada na boca e, em um tom meio tímido, meio atrevido, disse: — Eu só queria comer mais um pouquinho. — Ah, então vou fazer outra porção agora! — Benedita exclamou, primeiro surpresa e depois meio arrependida por não ter feito mais. — Não precisa. Deixa ela terminar o meu. — Disse George, puxand