Quando o avião pousou, já era fim de tarde. O reflexo dourado do pôr do sol tingia o céu como se fosse um derramamento de sangue, tão intenso e bonito que fazia o coração acelerar. — George, esse é o pôr do sol mais lindo que eu já vi! — Exclamei, sem conseguir conter a admiração. — Também acho. — Ele respondeu de forma tão natural que eu nem dei muita atenção. George costumava concordar com tudo que eu dizia, então já não me surpreendia. Só que, quando entrei no carro e abri o Instagram dele, lá estava uma foto do pôr do sol que acabáramos de ver. A legenda dizia: “Porque você está ao meu lado.” De início, achei que a frase não combinava muito com a imagem. Mas, ao lembrar do que eu tinha dito no avião, tudo fez sentido: Esse é o pôr do sol mais lindo que já vi, porque você está ao meu lado. Ah, tá bom! Se alguém dissesse que George não sabia como ser romântico, eu seria a primeira a discordar. Ele era bom nisso, muito bom. — George, você voltou pra cá dessa vez pra casar,
Quando George e eu descemos do carro, Benedita estava sentada na cadeira de balanço no quintal, lendo um livro. O vento balançava a barra do seu vestido, criando uma cena tão delicada que parecia até um quadro, algo quase irreal. Ela estava tão absorta na leitura que nem percebeu quando o carro parou na entrada. Só levantou os olhos quando Kiko gritou: — Benê, olha quem chegou! — Kiko, seu carro faz mais barulho que um trator. Não preciso nem olhar pra saber que é você. — A resposta de Benedita me fez soltar uma risada. Kiko ficou visivelmente sem jeito, coçando a cabeça. — Não é só eu, não. Tem mais gente. — Ele tentou justificar. Benedita, no entanto, virou a página do livro com calma, sem dar muita atenção, como se ele nem estivesse ali. Kiko abriu a boca para insistir, mas eu balancei a cabeça, pedindo para ele deixar pra lá. Então, fui até ela. Parei atrás de Benedita e olhei para o livro que ela estava lendo. Sorri. — Esse livro você já leu, não leu? Na última
— O quê? — Perguntei, sorrindo. Benedita apertou os lábios antes de falar: — Carolina, essa cirurgia vai custar muito caro, não vai? Ao ouvir isso, meu coração deu um salto. Temi que ela mudasse de ideia por causa do dinheiro. — Não, não é muito caro. E você não precisa se preocupar com isso. Seu irmão acabou de conseguir um novo emprego como engenheiro técnico. Ele está ganhando super bem agora. Benedita ficou em silêncio. Me aproximei um pouco mais dela. Existia algo que a psicologia chamava de efeito da proximidade: às vezes, a confiança entre as pessoas não era construída com palavras, mas com pequenos gestos, como simplesmente dar um passo na direção dela. Levantei a mão e acariciei os cabelos longos e sedosos dela. — O médico que vai fazer sua cirurgia é um dos melhores. Ele é colega de faculdade de uma amiga minha. Você não precisa pensar em mais nada. Só foca em ficar bem, porque depois da cirurgia, você vai estar saudável e vai poder aproveitar a vida de verdade.
Eu e ele ficamos ali, lado a lado, em silêncio, ouvindo o som do vento balançando a superfície do lago. Porém, depois de um tempo, comecei a me sentir desconfortável. Meu corpo não estava aguentando muito bem ficar de pé. — O que foi? — George perguntou, percebendo meu desconforto. — Quero sentar. Ficar de pé está me deixando com as pernas cansadas. — Respondi sinceramente. George olhou ao redor e, antes que eu pudesse reagir, senti meu corpo ser erguido do chão. Ele me pegou pela cintura e começou a caminhar em direção a uma pedra grande, um pouco mais adiante. Embora já estivesse acostumada com o jeito dele, sempre me carregando como se eu fosse um travesseiro, não deixei de fingir uma certa timidez: — Eu consigo andar sozinha! — Você não acabou de dizer que estava com as pernas cansadas? Como vai andar assim? — Ele rebateu sem nem olhar pra mim. Mostrei a língua para ele e fiquei em silêncio. George me colocou no chão ao lado da pedra, mas, antes que eu pudesse me aj
Os olhos de George se estreitaram de repente, e eu, instintivamente, apertei os braços ao redor dele. — É isso? — Perguntei, quase sem fôlego. — Por que você acha isso? — Ele rebateu, em vez de responder. Eu estava prestes a dizer que foi Cátia quem mencionou algo do tipo, mas, antes que pudesse abrir a boca, ouvi a voz de Benedita chamando à distância: — Carolina, seu telefone está tocando sem parar! Ela vinha correndo em nossa direção, o que me deixou imediatamente preocupada. Benedita não podia correr por causa do coração. — Tudo bem, já vou! — Respondi, me levantando apressada do colo de George e correndo até ela. O telefone era de Cátia, que tinha ligado várias vezes. Algo urgente devia ter acontecido. — Alô, tia. — Atendi rapidamente. — Carol, por que você não atende? Aconteceu alguma coisa? — Cátia perguntou com a voz carregada de nervosismo. — Não, eu só não estava com o celular perto de mim. Ela suspirou aliviada do outro lado da linha. — Você me deixou
— George tem sorte. Nesta vida, encontrar e casar com você é um privilégio. — Comentou Cátia. Curvei levemente os lábios em um sorriso discreto, sem responder. Na verdade, quem era verdadeiramente sortuda era eu. No momento em que Sebastião me traiu, foi George quem apareceu, me curou e me salvou. — Vocês demoram para voltar? — Cátia perguntou de repente. — Não sei ao certo. — Respondi, evitando marcar uma data. Ela suspirou audivelmente. — Carol, quando voltar, venha conversar comigo. Estou com tanta coisa entalada aqui no peito que já nem sei mais o que fazer. Pensei na confusão que teve com Sebastião, resultado, em grande parte, da atitude dela de expulsar Lídia em um gesto de solidariedade a mim. Não podia recusar. — Pode deixar, tia. Assim que eu voltar, vou te visitar e ver o tio também. — Certo. E cuida bem de você, viu? Em lugares que você não conhece, é sempre bom redobrar a atenção. — Ela recomendou com um tom maternal. — Tá bom, vou cuidar. — Prometi. — E
Meu coração deu um salto! Cátia tinha acabado de dizer que Sebastião parecia estar deixando um testamento. Agora, Lídia vinha com essa história de que ele estava "arrumando as coisas". Era impossível ignorar: o comportamento dele estava fora do normal. De repente, flashes de um sonho que eu tinha tido há algum tempo vieram à minha mente. E com eles, aquela pergunta que Sebastião me fez um dia: "Se eu morresse, o que você faria?" Eu já não nutria amor nem ódio por ele. Para mim, Sebastião era um capítulo encerrado. Mas, diante de algo tão extremo como a morte, mesmo que fosse apenas um estranho, eu jamais conseguiria ficar indiferente. Lídia chorava do outro lado da linha, em um tom lamentoso que parecia querer arrancar piedade. Mas ela estava chorando para a pessoa errada. Eu não sentia pena, e consolá-la estava fora de questão. Ainda assim, com base no que eu conhecia de Sebastião, fiz um comentário sincero: — Sebastião não é esse tipo de pessoa. Alguém que desistia da vid
Ao ouvir aquelas palavras, a imagem de Sebastião nos tempos de escola veio à minha mente. Aquele rapaz despreocupado, sempre com um sorriso travesso no rosto, como se nada no mundo pudesse abalá-lo. Naquela época, eu realmente achei que ele seria assim para sempre. Mas, em algum momento, ele mudou. E nós também mudamos, até chegar ao ponto em que tudo desmoronou. Talvez fosse por isso que disseram que o futuro era imprevisível. — Tião também pediu para eu cuidar bem dos nossos pais. E de você. — A voz de Miguel ficou mais grave, quase um sussurro. — Por último, ele disse que, se você se casar, quer saber. Ele gostaria de te dar seus parabéns pessoalmente. Meu peito apertou com aquelas palavras, e uma irritação crescente tomou conta de mim. Sebastião tinha causado tanto caos, feito todo mundo acreditar que estava à beira do abismo, mas, na verdade, tudo não passava de uma fuga. Ele só queria sumir. — Parece que ele não estava se despedindo, afinal. — Comentei, deixando o tom á