— Aqui é o saguão do aeroporto, tem gente passando por todos os lados... E até crianças. — Avisei, tentando fazer George desistir da ideia. Ele soltou um breve “hum” e respondeu com calma: — Eu sei. — E mesmo assim você quer... — Senti minhas bochechas começarem a queimar. — Quero! — Ele afirmou com tanta convicção que fiquei sem palavras. Na hora, minha primeira reação foi pensar que George também tinha visto Sebastião. Talvez estivesse com ciúmes... Quem sabe ele quisesse apenas afirmar algo, deixar claro para Sebastião que eu não era mais parte do passado dele. Com esse pensamento na cabeça, fechei os olhos, decidida. Meu coração disparou enquanto eu me preparava para um beijo repentino, ali mesmo, no meio daquele aeroporto cheio de gente. Mas... O beijo nunca veio. Em vez disso, senti algo pesado na minha mão. Abri os olhos, surpresa, e olhei para George, sem entender. Ele apenas indicou com um movimento de cabeça que eu olhasse o que ele tinha me dado. Curiosa, a
— Isso é mesmo uma pergunta? Ninguém gosta de ser enganado! — Respondi, sem hesitar. Olhei para ele, desconfiada, e perguntei de forma direta: — Por quê? Está pensando em me enganar no futuro ou já escondeu alguma coisa de mim? George ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder: — Não. A resposta parecia sincera, mas não pude deixar de reforçar minha posição: — George, eu não tolero mentiras. Ele engoliu em seco, e seu pomo de adão subiu e desceu lentamente antes de dizer: — Eu sei. Era bom que soubesse. Eu acreditava firmemente que as coisas precisam ser claras desde o início. Se um dia ele decidisse me enganar, não poderia me culpar por reagir. O som do alto-falante do aeroporto anunciou o embarque de um voo internacional. Automaticamente, minha mente foi até Sebastião. Olhei de relance e, como esperado, lá estava ele, empurrando uma mala em direção à área de inspeção de segurança. Para onde ele estava indo? Negócios? Ou... — Carina, está na hora
Ele estava mesmo flertando comigo de forma séria? George, tão sério e reto, agora me soltava uma dessas? Por um instante, achei que era eu que estava interpretando mal as coisas, que o problema estava na minha cabeça. — Não acredita? Então tenta. — O olhar intenso dele fez meu rosto esquentar ainda mais. Dei um beliscão de leve no braço dele, fingindo estar brava: — Você quer ouvir ou não? Se não quiser, eu não falo mais. — Quero ouvir! — Respondeu, com um sorriso no rosto. Virei o olhar para a janela, tentando me recompor. Depois de um breve momento de silêncio, comecei a contar o que Miguel tinha me dito no outro dia. George me escutou com atenção, e, quando terminei, perguntou com calma: — Você está preocupada? — Estou, mas não com o Sebastião. O que me preocupa é a empresa. — Corrigi rapidamente, antes que ele tirasse conclusões erradas. — Eu sei. — Ele passou a mão de leve no topo da minha cabeça. — Você acha que essa história é mais complicada do que parece, né
Quando o avião pousou, já era fim de tarde. O reflexo dourado do pôr do sol tingia o céu como se fosse um derramamento de sangue, tão intenso e bonito que fazia o coração acelerar. — George, esse é o pôr do sol mais lindo que eu já vi! — Exclamei, sem conseguir conter a admiração. — Também acho. — Ele respondeu de forma tão natural que eu nem dei muita atenção. George costumava concordar com tudo que eu dizia, então já não me surpreendia. Só que, quando entrei no carro e abri o Instagram dele, lá estava uma foto do pôr do sol que acabáramos de ver. A legenda dizia: “Porque você está ao meu lado.” De início, achei que a frase não combinava muito com a imagem. Mas, ao lembrar do que eu tinha dito no avião, tudo fez sentido: Esse é o pôr do sol mais lindo que já vi, porque você está ao meu lado. Ah, tá bom! Se alguém dissesse que George não sabia como ser romântico, eu seria a primeira a discordar. Ele era bom nisso, muito bom. — George, você voltou pra cá dessa vez pra casar,
Quando George e eu descemos do carro, Benedita estava sentada na cadeira de balanço no quintal, lendo um livro. O vento balançava a barra do seu vestido, criando uma cena tão delicada que parecia até um quadro, algo quase irreal. Ela estava tão absorta na leitura que nem percebeu quando o carro parou na entrada. Só levantou os olhos quando Kiko gritou: — Benê, olha quem chegou! — Kiko, seu carro faz mais barulho que um trator. Não preciso nem olhar pra saber que é você. — A resposta de Benedita me fez soltar uma risada. Kiko ficou visivelmente sem jeito, coçando a cabeça. — Não é só eu, não. Tem mais gente. — Ele tentou justificar. Benedita, no entanto, virou a página do livro com calma, sem dar muita atenção, como se ele nem estivesse ali. Kiko abriu a boca para insistir, mas eu balancei a cabeça, pedindo para ele deixar pra lá. Então, fui até ela. Parei atrás de Benedita e olhei para o livro que ela estava lendo. Sorri. — Esse livro você já leu, não leu? Na última
— O quê? — Perguntei, sorrindo. Benedita apertou os lábios antes de falar: — Carolina, essa cirurgia vai custar muito caro, não vai? Ao ouvir isso, meu coração deu um salto. Temi que ela mudasse de ideia por causa do dinheiro. — Não, não é muito caro. E você não precisa se preocupar com isso. Seu irmão acabou de conseguir um novo emprego como engenheiro técnico. Ele está ganhando super bem agora. Benedita ficou em silêncio. Me aproximei um pouco mais dela. Existia algo que a psicologia chamava de efeito da proximidade: às vezes, a confiança entre as pessoas não era construída com palavras, mas com pequenos gestos, como simplesmente dar um passo na direção dela. Levantei a mão e acariciei os cabelos longos e sedosos dela. — O médico que vai fazer sua cirurgia é um dos melhores. Ele é colega de faculdade de uma amiga minha. Você não precisa pensar em mais nada. Só foca em ficar bem, porque depois da cirurgia, você vai estar saudável e vai poder aproveitar a vida de verdade.
Eu e ele ficamos ali, lado a lado, em silêncio, ouvindo o som do vento balançando a superfície do lago. Porém, depois de um tempo, comecei a me sentir desconfortável. Meu corpo não estava aguentando muito bem ficar de pé. — O que foi? — George perguntou, percebendo meu desconforto. — Quero sentar. Ficar de pé está me deixando com as pernas cansadas. — Respondi sinceramente. George olhou ao redor e, antes que eu pudesse reagir, senti meu corpo ser erguido do chão. Ele me pegou pela cintura e começou a caminhar em direção a uma pedra grande, um pouco mais adiante. Embora já estivesse acostumada com o jeito dele, sempre me carregando como se eu fosse um travesseiro, não deixei de fingir uma certa timidez: — Eu consigo andar sozinha! — Você não acabou de dizer que estava com as pernas cansadas? Como vai andar assim? — Ele rebateu sem nem olhar pra mim. Mostrei a língua para ele e fiquei em silêncio. George me colocou no chão ao lado da pedra, mas, antes que eu pudesse me aj
Os olhos de George se estreitaram de repente, e eu, instintivamente, apertei os braços ao redor dele. — É isso? — Perguntei, quase sem fôlego. — Por que você acha isso? — Ele rebateu, em vez de responder. Eu estava prestes a dizer que foi Cátia quem mencionou algo do tipo, mas, antes que pudesse abrir a boca, ouvi a voz de Benedita chamando à distância: — Carolina, seu telefone está tocando sem parar! Ela vinha correndo em nossa direção, o que me deixou imediatamente preocupada. Benedita não podia correr por causa do coração. — Tudo bem, já vou! — Respondi, me levantando apressada do colo de George e correndo até ela. O telefone era de Cátia, que tinha ligado várias vezes. Algo urgente devia ter acontecido. — Alô, tia. — Atendi rapidamente. — Carol, por que você não atende? Aconteceu alguma coisa? — Cátia perguntou com a voz carregada de nervosismo. — Não, eu só não estava com o celular perto de mim. Ela suspirou aliviada do outro lado da linha. — Você me deixou