Quando George e eu descemos do carro, Benedita estava sentada na cadeira de balanço no quintal, lendo um livro. O vento balançava a barra do seu vestido, criando uma cena tão delicada que parecia até um quadro, algo quase irreal. Ela estava tão absorta na leitura que nem percebeu quando o carro parou na entrada. Só levantou os olhos quando Kiko gritou: — Benê, olha quem chegou! — Kiko, seu carro faz mais barulho que um trator. Não preciso nem olhar pra saber que é você. — A resposta de Benedita me fez soltar uma risada. Kiko ficou visivelmente sem jeito, coçando a cabeça. — Não é só eu, não. Tem mais gente. — Ele tentou justificar. Benedita, no entanto, virou a página do livro com calma, sem dar muita atenção, como se ele nem estivesse ali. Kiko abriu a boca para insistir, mas eu balancei a cabeça, pedindo para ele deixar pra lá. Então, fui até ela. Parei atrás de Benedita e olhei para o livro que ela estava lendo. Sorri. — Esse livro você já leu, não leu? Na última
— O quê? — Perguntei, sorrindo. Benedita apertou os lábios antes de falar: — Carolina, essa cirurgia vai custar muito caro, não vai? Ao ouvir isso, meu coração deu um salto. Temi que ela mudasse de ideia por causa do dinheiro. — Não, não é muito caro. E você não precisa se preocupar com isso. Seu irmão acabou de conseguir um novo emprego como engenheiro técnico. Ele está ganhando super bem agora. Benedita ficou em silêncio. Me aproximei um pouco mais dela. Existia algo que a psicologia chamava de efeito da proximidade: às vezes, a confiança entre as pessoas não era construída com palavras, mas com pequenos gestos, como simplesmente dar um passo na direção dela. Levantei a mão e acariciei os cabelos longos e sedosos dela. — O médico que vai fazer sua cirurgia é um dos melhores. Ele é colega de faculdade de uma amiga minha. Você não precisa pensar em mais nada. Só foca em ficar bem, porque depois da cirurgia, você vai estar saudável e vai poder aproveitar a vida de verdade.
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre
Minha mão estava doendo de tanto que ele apertava, claramente estava bravo.Isso era ciúmes?Mal surgiu esse pensamento, Sebastião soltou minha mão, com o olhar frio:— Carolina, só porque eu disse aquilo, você vai se vingar assim?Fiquei surpresa; não esperava que ele pensasse assim.— Eu não fiz isso, eu... — Comecei a explicar, mas fui interrompida.— Você tocou onde nele? Você realmente tocou naquela parte? — O maxilar de Sebastião estava tenso, seus olhos estavam ameaçadores.Ele raramente ficava assim, claramente estava com ciúmes.Naquele momento, minha frustração diminuiu consideravelmente, ele ainda se importava comigo. Se ele apenas me visse como uma irmã ou amiga, não se importaria se eu tocasse em outro homem.— Não. — Neguei novamente.Então, Augusto saiu de dentro e assobiou para mim:— Pervertida, como assim está flertando com meu cunhado de novo?A expressão "Da boca de um cachorro não sai uma palavra boa" se encaixava perfeitamente.Olhando para Augusto com aquele jeit
Lídia saiu ilesa e o bebê esteve salvo, ela voltou para o quarto.Seu rosto estava pálido, seus olhos vermelhos; com sua aparência delicada, parecia ainda mais frágil e adorável.— Não se preocupe, o bebê está bem. — Sebastião a confortou.— Sebastião, estou com tanto medo. — Lídia começou a chorar.Sebastião pegou um lenço e entregou a ela. Lídia aceitou o lenço e, ao mesmo tempo, agarrou a mão dele, pressionando seu rosto cheio de lágrimas contra o dorso da mão de Sebastião.Embora ela estivesse em uma situação difícil, será que isso justificava tratar o noivo de outra como se fosse seu próprio homem?Eu me aproximei.— Lídia, o médico disse que as emoções da gestante podem afetar o bebê. Você lutou tanto para salvar esse bebê; se continuar a chorar e algo acontecer novamente, será problemático.Eu estendi minha mão para apoiá-la e a puxei levemente, a afastando delicadamente.Ao olhar para as lágrimas que ainda estavam na mão de Sebastião, me senti desconfortável, como se algo meu t