Ele estava mesmo flertando comigo de forma séria? George, tão sério e reto, agora me soltava uma dessas? Por um instante, achei que era eu que estava interpretando mal as coisas, que o problema estava na minha cabeça. — Não acredita? Então tenta. — O olhar intenso dele fez meu rosto esquentar ainda mais. Dei um beliscão de leve no braço dele, fingindo estar brava: — Você quer ouvir ou não? Se não quiser, eu não falo mais. — Quero ouvir! — Respondeu, com um sorriso no rosto. Virei o olhar para a janela, tentando me recompor. Depois de um breve momento de silêncio, comecei a contar o que Miguel tinha me dito no outro dia. George me escutou com atenção, e, quando terminei, perguntou com calma: — Você está preocupada? — Estou, mas não com o Sebastião. O que me preocupa é a empresa. — Corrigi rapidamente, antes que ele tirasse conclusões erradas. — Eu sei. — Ele passou a mão de leve no topo da minha cabeça. — Você acha que essa história é mais complicada do que parece, né
Quando o avião pousou, já era fim de tarde. O reflexo dourado do pôr do sol tingia o céu como se fosse um derramamento de sangue, tão intenso e bonito que fazia o coração acelerar. — George, esse é o pôr do sol mais lindo que eu já vi! — Exclamei, sem conseguir conter a admiração. — Também acho. — Ele respondeu de forma tão natural que eu nem dei muita atenção. George costumava concordar com tudo que eu dizia, então já não me surpreendia. Só que, quando entrei no carro e abri o Instagram dele, lá estava uma foto do pôr do sol que acabáramos de ver. A legenda dizia: “Porque você está ao meu lado.” De início, achei que a frase não combinava muito com a imagem. Mas, ao lembrar do que eu tinha dito no avião, tudo fez sentido: Esse é o pôr do sol mais lindo que já vi, porque você está ao meu lado. Ah, tá bom! Se alguém dissesse que George não sabia como ser romântico, eu seria a primeira a discordar. Ele era bom nisso, muito bom. — George, você voltou pra cá dessa vez pra casar,
Quando George e eu descemos do carro, Benedita estava sentada na cadeira de balanço no quintal, lendo um livro. O vento balançava a barra do seu vestido, criando uma cena tão delicada que parecia até um quadro, algo quase irreal. Ela estava tão absorta na leitura que nem percebeu quando o carro parou na entrada. Só levantou os olhos quando Kiko gritou: — Benê, olha quem chegou! — Kiko, seu carro faz mais barulho que um trator. Não preciso nem olhar pra saber que é você. — A resposta de Benedita me fez soltar uma risada. Kiko ficou visivelmente sem jeito, coçando a cabeça. — Não é só eu, não. Tem mais gente. — Ele tentou justificar. Benedita, no entanto, virou a página do livro com calma, sem dar muita atenção, como se ele nem estivesse ali. Kiko abriu a boca para insistir, mas eu balancei a cabeça, pedindo para ele deixar pra lá. Então, fui até ela. Parei atrás de Benedita e olhei para o livro que ela estava lendo. Sorri. — Esse livro você já leu, não leu? Na última
— O quê? — Perguntei, sorrindo. Benedita apertou os lábios antes de falar: — Carolina, essa cirurgia vai custar muito caro, não vai? Ao ouvir isso, meu coração deu um salto. Temi que ela mudasse de ideia por causa do dinheiro. — Não, não é muito caro. E você não precisa se preocupar com isso. Seu irmão acabou de conseguir um novo emprego como engenheiro técnico. Ele está ganhando super bem agora. Benedita ficou em silêncio. Me aproximei um pouco mais dela. Existia algo que a psicologia chamava de efeito da proximidade: às vezes, a confiança entre as pessoas não era construída com palavras, mas com pequenos gestos, como simplesmente dar um passo na direção dela. Levantei a mão e acariciei os cabelos longos e sedosos dela. — O médico que vai fazer sua cirurgia é um dos melhores. Ele é colega de faculdade de uma amiga minha. Você não precisa pensar em mais nada. Só foca em ficar bem, porque depois da cirurgia, você vai estar saudável e vai poder aproveitar a vida de verdade.
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre