Quem não tem cão, caça com suco!

Quem não tem cão, caça com suco!PT

Romance
Cristina Valori  concluído
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Resumo
Índice

“O que você faria se pusse ver o seu futuro imediato?” Seu pai chamava dom, seu amigo, sorte, suas irmãs, “aceita que dói menos”, mas, para Daisy, enxergar o seu futuro não passava uma dádiva que só trouxera infortúnios durante toda a sua vida. Até que, m belo dia, esse mesmo dom que ela teimava em smerecer lhe mostrou que, “para um bom entendor, meia palavra basta”.

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Prólogo
E o início foi assim... Existe uma maneira de, talvez, quebrar a corrente que sustenta esse dom. Não sei ao certo como fazer, mas, de acordo com os escritos encontrados ao longo dos anos, podemos reverter a sua origem. Não tenho provas, além de algumas páginas amareladas de um diário surrado. Ninguém até hoje acreditou naqueles dizeres, mas sou uma pessoa mais confiante. Não. Otimista seria a palavra correta. Naquelas linhas quase apagadas pelo tempo, uma lenda foi contada de maneira bem romantizada. Pergunto-me se esse desejo não passava dos anseios de alguma menina sonhadora. No entanto, não posso perder as esperanças, ou sofrerei nessa busca, assim como os destinatários dessa dádiva. De acordo com a lenda, um dom especial e ao mesmo tempo desconfortável foi um castigo dado por um senhor de cabelo ralo e dentes falhos. Esse mesmo homem, desprovido de quaisquer condições financeiras ou higiênicas, um dia estava sen
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Capítulo 1
Parecia fácil concluir a tarefa, quase como uma brincadeira de criança. E, na verdade, quantas vezes Daisy praticara aquela cena? Inúmeras. Às vezes, sozinha; outras, na presença das amigas, irmãs ou bonecas como parceiras.Bastava dar um passo por vez, manter os pés firmes, as mãos ao lado do corpo acompanhando o ritmo do caminhar determinado. Deixar ombros eretos, quadris encaixados, semblante neutro, olhar enigmático e respiração controlada. Um conjunto de detalhes que utilizava quando se imaginava desfilando numa passarela longa, sob os holofotes e os flashs das máquinas fotográficas criando pontos brilhantes como estrelas. Dessa forma, ou melhor, usufruindo da sua experiência infantil como modelo, bastava somente seguir o protocolo e dominar os palcos.O seu objetivo se encontrava no final daquele corredor, cercado por vozes afoitas, olhares assombrados e uma pressa im
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Capítulo 2
— E aí? Está muito ruim? — Giovani puxou uma cadeira próxima e sentou-se ao lado da amiga, colocando sobre a mesa a bebida preferida dela: café com calda de chocolate e leite, quanto mais espumoso melhor.— O que você acha? — Daisy tinha os olhos fixos na tela do computador, tentando exibir uma postura indiferente, quando, na realidade, a vergonha havia se instalado por todos os lados desde o incidente. Sentiu o aroma do seu vício e aceitou desviar um pouco sua atenção.— Não acho que...— Giovani — ela interpelou o comentário sem sentido, afinal poderia fingir desinteresse, mas estava longe de ser uma pessoa surda. Os buchichos flutuavam ao redor dela.— Certo. Desculpe. — Ambos saborearam suas bebidas, Giovani com seu café bem forte e amargo.— Dois dias já se passaram, e ainda sou o assunto do momento.Ler mais
Capítulo 3
Daisy não era tão irresponsável quanto sua irmã mais velha costumava afirmar. Tudo bem que às vezes falhas aconteciam, mas, em sua defesa, chegar atrasada ao trabalho fazia parte da sua função dentro da empresa. É lógico que seu cargo se restringia à realização de serviços de pesquisa por e-mail, telefone e elaboração de planilhas e gráficos. Trocar o sono por horas e horas assistindo à sua série favorita não condizia com suas obrigações. No entanto, antes de ser funcionária, ela também era cliente. Então...— Outra vez, Daisy? — A chefe tentou soar como uma general repreendendo seu soldado. Tudo um fingimento, é claro. Lígia era uma pessoa que exibia uma postura rígida, mas tinha um coração tão caloroso quanto um dia de verão.— Desculpe
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Capítulo 4
Novamente, o final daquela visão foi constrangedor, uma mistura de vergonha alheia com lágrimas e risadas em excesso. No entanto, havia uma diferença quase palpável e satisfatória que deixou Daisy com o coração acelerado.Na verdade, bastou somente a união de algumas palavras – “previsão”, “futuro”, “lenda” e “dom” – para que a irmã nem mais nova ou a mais velha permitisse que a esperança dominasse suas emoções— Gio... — A voz soou num sussurro crescente.— O que foi dessa vez? — Segurou a amiga pelos ombros, virando-a em sua direção.— Gio...! — O som era cada vez mais alto e ambicioso.— Desembucha, garota!— Um cara falando ao telefone sobre lenda, dom, futuro.... — O discurso desarranjado e esperançoso saía
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Capítulo 5
Quando chegou em casa, Daisy sentia-se frustrada com o rumo dos acontecimentos. Na verdade, sendo sincera consigo mesma, sua incompetência dominava todos os seus pensamentos. Ela possuía uma missão simples e objetiva: procurar pistas. No entanto, nada além de uma possível coincidência conseguiu contar para Giovani.— Acho que foi nele que esbarrei na entrada do elevador.— E você não se lembra do rosto da pessoa? — Mesmo que estivesse do outro lado da linha, ela conseguiu detectar a incredulidade na voz do amigo.— Estava com tanta pressa que nem me importei com isso.— Então voltamos ao ponto de partida. Um homem, palavras soltas e as suas desconfianças. Talvez não lhe reste alternativa, a não ser ele aparecer novamente em suas visões.Sim, ela pensou em responder. No fundo, até verbalizou essa constataç&atil
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Capítulo 6
Quatro irmãs e uma casa de porte médio. Dessa forma, não sobrava muito espaço para privacidade. Ir ao banheiro com tranquilidade ou até mesmo individualidade era algo digno de ser descrito numa ata de reunião de diretoria.No entanto, ao longo dos anos de convivência imposta, alguns macetes foram se enquadrando na rotina das meninas Kim Lopez. Assim como a união dos sobrenomes dos pais, elas aprenderam que a individualidade de roupas, acessórios, maquiagens ou qualquer outro item de uso pessoal não combinaria com aquela dinâmica. Claro que cada uma possuía seu gosto, e somente esse detalhe lhes dava algum tipo de egoísmo em seus pertences— Você sabe onde estão aqueles tênis vinho com listras brancas? — a irmã três anos mais velha que Daisy e dois anos mais nova que a primogênita perguntou enquanto vasculhava o guarda-roupa.
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Capítulo 7
— Está tudo bem? — A respiração elevada e a falta de resposta deixaram Daisy apreensiva. — Ei, você está bem? Consegue estender sua mão? Assim posso ir até você. — Aproximou-se com cautela, procurando a dona daquela agitação até encontrar mãos frias e úmidas.— Desculpe. — Escorada num dos cantos do elevador, a aflita funcionária tentava manter a calma. A voz saía pausadamente, como se o simples fato de falar requeresse mais do que a sua vontade. — Tenho fobia de lugares fechados.De repente, as luzes voltaram a iluminar o local. Daisy pôde ver com bastante clareza como a moça, que parecia uma menina ainda no auge da sua adolescência, estava muito pior do que ela imaginara.— Não é melhor você se sentar um pouco? — A funcionária de cabelo claro negou com a cabe&c
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Capítulo 8
Então o cara do suco se chama Saulo, Daisy pensou, enquanto Camila discorria sua rotina como assistente. De acordo com sua mais nova amiga, naquele andar trabalhavam os dois diretores recém-contratados. Como tudo ainda estava no clima de “lua de mel”, informações pessoais ou até mesmo detalhes mais objetivos sobre eles ou, mais especificamente, sobre o Saulo ainda eram desconhecidos.— Dizem que ele foi “roubado” — as aspas no ar e a voz sussurrada para enfatizar a palavra, mesmo que estivessem sozinhas na escada, deram um ar de cumplicidade entre as duas — de outro streaming.— Uau. Então ele dever ser muito bom mesmo.— Acredito que sim, mas, como faz pouco tempo que ele chegou, não posso confirmar.— Vamos torcer para ele ser um ótimo chefe. — Deu um tapinha na mão da assistente, um gesto adquirido de sua m&
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Capítulo 9
Seria lindo e até um tanto romântico o resultado daquele esbarrão, se Camila não tivesse irrompido no encontro de Daisy e Saulo, exibindo toda a sua preocupação com o futuro dela, da pesquisadora e da camisa.Talvez, se estivessem sozinhos, eles teriam se assustado – como aconteceu –, depois tentariam se ajudar para limpar a bagunça e, quando a filha de Jina revelasse que também fora alvo daquele bendito suco de laranja, ambos gargalhariam da situação enquanto seus olhos se fixavam um no outro. Contudo, nada de romantismo os embalou, uma vez que Saulo proferiu seu descontentamento através de palavras impronunciáveis para aquele horário e local e correu para o banheiro.— Acho melhor você também limpar sua calça — Camila comentou antes de se dirigir até sua mesa e solicitar um funcionário da limpeza para cuidar
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