Quatro irmãs e uma casa de porte médio. Dessa forma, não sobrava muito espaço para privacidade. Ir ao banheiro com tranquilidade ou até mesmo individualidade era algo digno de ser descrito numa ata de reunião de diretoria.
No entanto, ao longo dos anos de convivência imposta, alguns macetes foram se enquadrando na rotina das meninas Kim Lopez. Assim como a união dos sobrenomes dos pais, elas aprenderam que a individualidade de roupas, acessórios, maquiagens ou qualquer outro item de uso pessoal não combinaria com aquela dinâmica. Claro que cada uma possuía seu gosto, e somente esse detalhe lhes dava algum tipo de egoísmo em seus pertences
— Você sabe onde estão aqueles tênis vinho com listras brancas? — a irmã três anos mais velha que Daisy e dois anos mais nova que a primogênita perguntou enquanto vasculhava o guarda-roupa.
— Está tudo bem? — A respiração elevada e a falta de resposta deixaram Daisy apreensiva. — Ei, você está bem? Consegue estender sua mão? Assim posso ir até você. — Aproximou-se com cautela, procurando a dona daquela agitação até encontrar mãos frias e úmidas.— Desculpe. — Escorada num dos cantos do elevador, a aflita funcionária tentava manter a calma. A voz saía pausadamente, como se o simples fato de falar requeresse mais do que a sua vontade. — Tenho fobia de lugares fechados.De repente, as luzes voltaram a iluminar o local. Daisy pôde ver com bastante clareza como a moça, que parecia uma menina ainda no auge da sua adolescência, estava muito pior do que ela imaginara.— Não é melhor você se sentar um pouco? — A funcionária de cabelo claro negou com a cabe&c
Então o cara do suco se chama Saulo, Daisy pensou, enquanto Camila discorria sua rotina como assistente. De acordo com sua mais nova amiga, naquele andar trabalhavam os dois diretores recém-contratados. Como tudo ainda estava no clima de “lua de mel”, informações pessoais ou até mesmo detalhes mais objetivos sobre eles ou, mais especificamente, sobre o Saulo ainda eram desconhecidos.— Dizem que ele foi “roubado” — as aspas no ar e a voz sussurrada para enfatizar a palavra, mesmo que estivessem sozinhas na escada, deram um ar de cumplicidade entre as duas — de outro streaming.— Uau. Então ele dever ser muito bom mesmo.— Acredito que sim, mas, como faz pouco tempo que ele chegou, não posso confirmar.— Vamos torcer para ele ser um ótimo chefe. — Deu um tapinha na mão da assistente, um gesto adquirido de sua m&
Seria lindo e até um tanto romântico o resultado daquele esbarrão, se Camila não tivesse irrompido no encontro de Daisy e Saulo, exibindo toda a sua preocupação com o futuro dela, da pesquisadora e da camisa.Talvez, se estivessem sozinhos, eles teriam se assustado – como aconteceu –, depois tentariam se ajudar para limpar a bagunça e, quando a filha de Jina revelasse que também fora alvo daquele bendito suco de laranja, ambos gargalhariam da situação enquanto seus olhos se fixavam um no outro.Contudo, nada de romantismo os embalou, uma vez que Saulo proferiu seu descontentamento através de palavras impronunciáveis para aquele horário e local e correu para o banheiro.— Acho melhor você também limpar sua calça — Camila comentou antes de se dirigir até sua mesa e solicitar um funcionário da limpeza para cuidar
— Espera. Fiquei um pouco confuso. Você sujou a roupa do cara do suco, depois mentiu para ele, e ainda marcaram de se comer? — Giovani pegou os pedidos prontos feitos para a atendente da cafeteria localizada no térreo da empresa. Entregou o de Daisy, e caminharam juntos de volta para seu andar, pelas escadas.— Ninguém vai comer ninguém, seu pervertido. — Daisy já estava acostumada com os comentários um tanto singulares do amigo, mesmo assim olhou ao redor buscando curiosos. — Nós iremos comer juntos.— Mas você disse que a expressão no rosto dele, que eu não sei exatamente qual seria essa, provavelmente combina com o meu comentário. — Parou um pouco, segurando o braço da amiga, a confusão estampada na face bem-barbeada. Giovani era um homem lindo, carismático, mas, infelizmente, nem uma chama sequer, a menor possível, despert
Daisy parou por uns instantes, tentando assimilar aquele ambiente.Quando aceitara o convite para jantar, impôs algumas regras a si mesma como uma maneira de se prevenir das especulações, como Gio havia mencionado. Ela iria ao local por conta própria, não poderia retornar tarde para casa, pois também, na volta, utilizaria o serviço de aplicativo.— E ele aceitou, Cinderela? — o programador fez questão de lhe questionar em tom de sarcasmo.Saulo havia concordado sem pestanejar, um detalhe que a pesquisadora acreditou acontecer pelo mesmo motivo que o dela: fofoca.No entanto, assim que adentrou no endereço enviado por mensagem de texto, nada a havia preparado para aquela disparidade de emoções. Imaginou-se compartilhando uma refeição em um restaurante com ares de requinte, mesas bem elaboradas, com garçons de uniformes engomados e cardápio em
Relembrando os acontecimentos, Saulo percebeu que estava completamente encantado com a pesquisadora. Um arrebatamento que nem ele sabia como expressar de maneira clara. A combinação de duas descendências a transformava numa pessoa singular. Os olhos asiáticos em tom de mel davam-lhe um charme diferencial.É lógico que as características físicas o seduziram. No entanto, a espontaneidade e a alegria que Daisy emanava mantiveram a atenção do diretor durante todo o jantar na noite anterior.— Chega! Estou exausta. — Ela sorveu um copo de água quase por completo, um cuidado que o diretor providenciara enquanto ela dançava. — Preciso parar um pouco. — Sentou-se em sua cadeira sem quaisquer boas maneiras, os pés gritando por aquela pausa.Saulo a encarou, notando as bochechas vermelhas e os olhos brilhantes. O cabelo, antes liso, agora exibiam um leve bagun
— Pelo jeito é a sua primeira vez? — Daisy perguntou ao diretor enquanto apontava na direção da mesa que havia reservado para o almoço de ambos.— Sim. Ouvi comentários de amigos bem próximos, mas nada que tenha despertado o meu interesse em experimentar.Ela sorriu diante da sua ideia brilhante. Na verdade, sorrir foi somente possível após várias horas perdidas pensando nas opções que possuía. Causar boa impressão estava em jogo, principalmente após a noite inesquecível que Saulo lhe proporcionara. E, quando a busca já estava lhe dando dores de cabeça e acelerando sua respiração, Giovani veio com a salvação.— Por que você não leva o seu ... — ameaçou perturbar ainda mais a amiga, mas, às vezes, ele exercia seu lado caridoso — chefe para conhecer um pouco
Talvez, com o tempo, Daisy conseguisse assimilar o que havia acontecido no final daquele encontro. Um almoço que começara de maneira quase furtiva e que se transformara numa tremenda bagunça.Como sempre, a visão a pegou desprevenida, mas o que mais a deixou em profundo estado de estupefação foi deparar-se com uma situação nova.— Está tudo bem? — Saulo colocou a mão sobre o braço da funcionária. Notou a pele fria e os olhos ligeiramente desatentos.Daisy sentiu o toque quente em sua pele, notando as imagens se dissiparem como uma nuvem de gelo seco. Chacoalhou a cabeça e, um tanto hesitante, encarou o diretor. Como imaginara, a curiosidade marcava cada traço do seu belo rosto bem barbeado.— Sim, sim. — Mergulhada em sua vergonha costumeira e com toda a delicadeza que conseguiu, desvencilhou-se do gesto complacente dele e aprumou o co