Daisy parou por uns instantes, tentando assimilar aquele ambiente.
Quando aceitara o convite para jantar, impôs algumas regras a si mesma como uma maneira de se prevenir das especulações, como Gio havia mencionado. Ela iria ao local por conta própria, não poderia retornar tarde para casa, pois também, na volta, utilizaria o serviço de aplicativo.
— E ele aceitou, Cinderela? — o programador fez questão de lhe questionar em tom de sarcasmo.
Saulo havia concordado sem pestanejar, um detalhe que a pesquisadora acreditou acontecer pelo mesmo motivo que o dela: fofoca.
No entanto, assim que adentrou no endereço enviado por mensagem de texto, nada a havia preparado para aquela disparidade de emoções. Imaginou-se compartilhando uma refeição em um restaurante com ares de requinte, mesas bem elaboradas, com garçons de uniformes engomados e cardápio em
Relembrando os acontecimentos, Saulo percebeu que estava completamente encantado com a pesquisadora. Um arrebatamento que nem ele sabia como expressar de maneira clara. A combinação de duas descendências a transformava numa pessoa singular. Os olhos asiáticos em tom de mel davam-lhe um charme diferencial.É lógico que as características físicas o seduziram. No entanto, a espontaneidade e a alegria que Daisy emanava mantiveram a atenção do diretor durante todo o jantar na noite anterior.— Chega! Estou exausta. — Ela sorveu um copo de água quase por completo, um cuidado que o diretor providenciara enquanto ela dançava. — Preciso parar um pouco. — Sentou-se em sua cadeira sem quaisquer boas maneiras, os pés gritando por aquela pausa.Saulo a encarou, notando as bochechas vermelhas e os olhos brilhantes. O cabelo, antes liso, agora exibiam um leve bagun
— Pelo jeito é a sua primeira vez? — Daisy perguntou ao diretor enquanto apontava na direção da mesa que havia reservado para o almoço de ambos.— Sim. Ouvi comentários de amigos bem próximos, mas nada que tenha despertado o meu interesse em experimentar.Ela sorriu diante da sua ideia brilhante. Na verdade, sorrir foi somente possível após várias horas perdidas pensando nas opções que possuía. Causar boa impressão estava em jogo, principalmente após a noite inesquecível que Saulo lhe proporcionara. E, quando a busca já estava lhe dando dores de cabeça e acelerando sua respiração, Giovani veio com a salvação.— Por que você não leva o seu ... — ameaçou perturbar ainda mais a amiga, mas, às vezes, ele exercia seu lado caridoso — chefe para conhecer um pouco
Talvez, com o tempo, Daisy conseguisse assimilar o que havia acontecido no final daquele encontro. Um almoço que começara de maneira quase furtiva e que se transformara numa tremenda bagunça.Como sempre, a visão a pegou desprevenida, mas o que mais a deixou em profundo estado de estupefação foi deparar-se com uma situação nova.— Está tudo bem? — Saulo colocou a mão sobre o braço da funcionária. Notou a pele fria e os olhos ligeiramente desatentos.Daisy sentiu o toque quente em sua pele, notando as imagens se dissiparem como uma nuvem de gelo seco. Chacoalhou a cabeça e, um tanto hesitante, encarou o diretor. Como imaginara, a curiosidade marcava cada traço do seu belo rosto bem barbeado.— Sim, sim. — Mergulhada em sua vergonha costumeira e com toda a delicadeza que conseguiu, desvencilhou-se do gesto complacente dele e aprumou o co
Um golpe de pura sorte, Saulo concluiu, ao relembrar o término do almoço com Daisy. Se não tivesse se levantado com o intuito de liberar a mesa para os próximos clientes e caminhado até a porta do restaurante num gesto impensado, ele não teria visto os colegas de trabalho se aproximando.Não precisava ser muito atento para perceber que a pesquisadora se esquivava das interações entre os dois na empresa. Um cuidado exagerado, assim ele pensava. Afinal ninguém ali possuía o direito de cutucar sua vida, que dirá a existência dela ao seu lado.No entanto, essa era uma opinião compartilhada somente com a sua experiência de vida e não com as risadas de uma moça ainda na faixa dos seus vinte anos e se consolidando no emprego. Por esses motivos, providenciou a fuga deles ao estilo cena de filme.Sorriu como um perfeito sonhador quando a imagem perplexa da
— Que cara é essa? — Gio olhou para a amiga. Estranhou o vinco entre as sobrancelhas, os lábios selados numa linha fina e as bochechas vermelhas. Lembrou-se do vídeo que circulava alegremente pela internet e imaginou o pior. — Não me diga... número 2? Gases?— Quieto! Estou me concentrando — Daisy sussurrou enquanto mantinha seus olhos fixos num ponto bem importante à frente.O auditório da empresa estava quase completo por todos os funcionários. Uma vez a cada três meses, os donos das salas do sétimo andar tinham como hábito dar um panorama sobre os novos projetos e aqueles que sairiam do catálogo.— Mas a reunião ainda nem começou. — Gio seguiu a linha de visão da amiga. No palco não tão distante, Saulo ocupava uma cadeira quase no centro do espaço. — Ah. Já sei.— N&ati
Ao deparar-se com Daisy, o diretor sentiu-se como se estivesse prestes a ser derrubado por algo grandioso, sem meios de se defender. Uma onda de sentimentos desconcertantes o deixou atordoado. O corpo inerte parecia uma resposta aos pés colados ao chão.Os funcionários se dirigiam à saída, mas Saulo manteve-se no lugar. Ao lado, vozes chegavam aos seus ouvidos com perguntas e informações que em nada faziam sentido, a mente desconectada do mundo, mas interligada aos movimentos da pesquisadora.Como uma cena de filme de ação, o diretor enxergou-a caminhando em sua direção. A pesquisadora lutava para transitar na direção oposta à dos funcionários. Na mão direta, a lanterna do celular mostrava seu ponto final.Seguindo o exemplo, ele deu o primeiro passo. Desceu do palco, esquecendo-se da escada lateral e ergueu o próprio telefone, simbolizando um f
Os almoços e jantares não se concretizaram. O acúmulo de trabalho sobre a mesa de ambos impedia a organização adequada para os eventos. Entretanto, fugas aconteceram com mais frequência do que imaginavam. Talvez os minutos passados dentro da sala escura – que não era realmente escura quando havia energia – tenham atrapalhado o bom andamento das obrigações e, com isso, dificultado as saídas mais elaboradas. Não obstante, nenhum dos dois ousou mudar a dinâmica do processo.— Você nunca me falou sobre a sua família. — Saulo remexeu-se, e ela logo percebeu que a sua intromissão não era bem-vinda. — Desculpe se estou sendo enxerida.— Não tem problema. Esta sala foi feita para a nossa fuga, certo? Então podemos falar sobre tudo. Quando estivermos juntos aqui, serei apenas o Saulo e não o diretor que fica no s&e
Mais tarde, naquela noite, guiada por seus sentimentos e alimentada por uma canção presa ao repeat, Daisy escreveria em seu diário exatamente como tudo aconteceu.Todavia, até que o fim daquele dia chegasse, ela viajaria pelas imagens presenciadas por móveis empoeirados, paredes lascadas, um copo de café e um pequeno sofá amarelo.Sua visão fora muito clara, na verdade, bastante explícita. Saulo não a ajudaria a mudar o final, pelo contrário, ele buscaria cada gemido e carícia que conquistaria somente com uma das mãos.Enquanto os olhos de Daisy mantiveram-se fixos no rosto do diretor, uma urgência em beijá-la o possuiu. De fato, desconhecia o motivo para que a pesquisadora o encarasse daquela maneira. Contudo, ele era um homem atraído por uma mulher linda, sorridente e cheia de vivacidade.No tempo de dois ou três segundos contado