Ao deparar-se com Daisy, o diretor sentiu-se como se estivesse prestes a ser derrubado por algo grandioso, sem meios de se defender. Uma onda de sentimentos desconcertantes o deixou atordoado. O corpo inerte parecia uma resposta aos pés colados ao chão.
Os funcionários se dirigiam à saída, mas Saulo manteve-se no lugar. Ao lado, vozes chegavam aos seus ouvidos com perguntas e informações que em nada faziam sentido, a mente desconectada do mundo, mas interligada aos movimentos da pesquisadora.
Como uma cena de filme de ação, o diretor enxergou-a caminhando em sua direção. A pesquisadora lutava para transitar na direção oposta à dos funcionários. Na mão direta, a lanterna do celular mostrava seu ponto final.
Seguindo o exemplo, ele deu o primeiro passo. Desceu do palco, esquecendo-se da escada lateral e ergueu o próprio telefone, simbolizando um f
Os almoços e jantares não se concretizaram. O acúmulo de trabalho sobre a mesa de ambos impedia a organização adequada para os eventos. Entretanto, fugas aconteceram com mais frequência do que imaginavam. Talvez os minutos passados dentro da sala escura – que não era realmente escura quando havia energia – tenham atrapalhado o bom andamento das obrigações e, com isso, dificultado as saídas mais elaboradas. Não obstante, nenhum dos dois ousou mudar a dinâmica do processo.— Você nunca me falou sobre a sua família. — Saulo remexeu-se, e ela logo percebeu que a sua intromissão não era bem-vinda. — Desculpe se estou sendo enxerida.— Não tem problema. Esta sala foi feita para a nossa fuga, certo? Então podemos falar sobre tudo. Quando estivermos juntos aqui, serei apenas o Saulo e não o diretor que fica no s&e
Mais tarde, naquela noite, guiada por seus sentimentos e alimentada por uma canção presa ao repeat, Daisy escreveria em seu diário exatamente como tudo aconteceu.Todavia, até que o fim daquele dia chegasse, ela viajaria pelas imagens presenciadas por móveis empoeirados, paredes lascadas, um copo de café e um pequeno sofá amarelo.Sua visão fora muito clara, na verdade, bastante explícita. Saulo não a ajudaria a mudar o final, pelo contrário, ele buscaria cada gemido e carícia que conquistaria somente com uma das mãos.Enquanto os olhos de Daisy mantiveram-se fixos no rosto do diretor, uma urgência em beijá-la o possuiu. De fato, desconhecia o motivo para que a pesquisadora o encarasse daquela maneira. Contudo, ele era um homem atraído por uma mulher linda, sorridente e cheia de vivacidade.No tempo de dois ou três segundos contado
— Então realmente vocês se comeram? — Daisy e Giovani compartilhavam uma refeição à moda fast-food no horário do almoço.— Tem como falar mais baixo? — Ela olhou ao redor, buscando curiosos de plantão. A lanchonete perto do trabalho não era o melhor local para se conversar com alguém tão explícito quanto Gio. — Além disso, precisa ser tão direto?— Odeio rodeios, Daisy. E, como alguém que nem precisa de um dom para prever o futuro, eu sabia que isso aconteceria. O cara é bonito, gostoso... — Ela franziu as sobrancelhas. — Palavras suas, amiga, não minhas. É lógico que rolaria. E não vem dizer que foi por causa da visão.— Eu sei. — Ela deu um gole volumoso no refrigerante, procurando as palavras corretas. — Gio, pela primeira vez fiquei feliz em ter esse
Saulo chegou à casa da mãe um tanto perturbado consigo mesmo.Primeiro, pelo comportamento descabido ao abordar Daisy na porta da sala. A ânsia em tê-la em seus braços era algo terrivelmente novo para o diretor. É lógico que existiram outras mulheres, até mesmo amores sinceros, mas nada comparado ao fervor que queimava em seu peito e, é claro, em outras partes de seu corpo. Sem perceber, ele regredira algumas casas num jogo de tabuleiro, principalmente na parte escrita “agora você é um adolescente cheio de tesão”.Segundo, diante da conversa que teria com a matriarca da família Medeiros. Talvez houvesse justificativa para tanta apreensão, afinal a senhora esbelta, de cabelo curto e grisalho, sempre criara os filhos com muita determinação, rigidez e senso de justiça. Muito provavelmente, a necessidade de Saulo em definir seus passos e buscar a
— Olha só quem apareceu?— Não entendi o comentário, Danbi. — Daisy encarou a irmã pelo reflexo do espelho enquanto essa delineava os olhos, provavelmente com a maquiagem da própria Daisy. — Por que eu não apareceria?Jogou a bolsa e a si mesma sobre a cama, olhando ao redor. Seu quarto estava completamente remexido, roupas, sapatos e acessórios espalhados sem dó nem piedade. Era sempre assim, pensou. Por mais que possuíssem gostos diferentes, na hora do aperto, os armários alheios serviam ao propósito.— Não sei. Talvez porque trabalhar ultimamente tenha ficado mais... interessante. — Danbi conferiu a maquiagem improvisada. Não era muito seu forte nem do seu feitio arrumar-se com todo capricho, mas a ocasião pedia.— Continuo perdida na conversa. Meu emprego sempre foi interessante. — Daisy pediu ajuda para a i
Não estava completo, ela percebeu. A história possuía falhas, assim como páginas desaparecidas. O tempo havia feito um estrago bem esmagador naquele diário. Daisy concluiu se tratar de uma resenha pessoal, não por ser expert no assunto, mas sim pela emoção que as palavras ainda visíveis conseguiam passar.Ninguém até hoje acreditou naqueles dizeres, mas sou uma pessoa mais confiante. Não. Otimista seria a palavra correta. — Todos serão obrigados a pagar pelo seu erro. Não há como escapar. O futuro não pertence a ninguém além dele próprio. A cada trecho incompleto, o coração de Daisy afundava em um mundo de descrença e ignorância, afinal, pelo pouco que conseguia ler, o seu dom era um caminho sem volta. E, infelizmente, o ceticismo a levava direto até o
— Talvez não tenha sido uma boa ideia trocar nossa sala por este lugar — Saulo comentou enquanto apreciava o perfil pensativo da pesquisadora.Quando sugeriu aquela alteração num primeiro momento, seu egoísmo falara mais alto. Ele necessitava de uma mudança de ares para organizar melhor suas ideias. No entanto, assim que se deparara com o semblante entristecido de Daisy, algo dentro dele se remexeu. Longe de ser um lance digno de fantasia, como larvas ou um ser alienígena, veio-lhe a percepção de que trazer leveza ao dia dela parecia ser sua nova meta.— Desculpe. Acho que, se estivéssemos na sala, também não conseguiria me concentrar. Aqui pelo menos tenho essa vista para me distrair. — Daisy respirou fundo, indicando com uma das mãos a paisagem dos campos à frente ao entardecer.— Mas lá você só teria olhos para mim. &mda
Saulo ainda se lembrava da sensação dos lábios de Daisy mordiscando os seus num beijo que teve início em meio às risadas e só chegou ao término quando “estou melhor!” chegou aos ouvidos do casal apaixonado.— Então é assim que tudo acontece?Dentro do carro, já na volta para casa, eles mantinham o rádio no volume baixo. A música lenta aquecia os corações preenchidos de euforia.— Basicamente. Às vezes sofro sozinha, em outras estou em companhia de alguém, como agora há pouco. Já tentei mudar o final, mas nunca consegui. De um jeito ou de outro, as visões sempre se concretizam. Salvo uma única vez, mas acredito que você tenha feito essa mudança.— Eu? — Apontou para o próprio peito. Olhou para o aplicativo no celular, desejando um acesso de escape por perto para e