Inácio Amorim não sabia ler, mas não era burro. Nunca foi. O pescador era em si tão calejado quanto suas mãos, sabia que aqueles engravatados não seriam os últimos a tentarem comprar Santa Clara, seu lar, seu pequeno paraíso. E mesmo não sabendo ler, ele era capaz de ler coisas mais importantes do que documentos, ele lia pessoas. Sabia que aquela dondoca desbocada era mais um urubu rodeando seu lugar. Inácio jamais cederá sua casa, e sua família não está à venda. Júlia é empresária do ramo imobiliário, que quer algo diferente para a rede paulistana Mermaidy Resorts. Ela queria um projeto mais brando, algo com simplicidade e rústico, nada que seus resorts luxuosos ofereciam até então. Uma pousada cinco estrelas era uma boa pedida, e ela já tinha um lugar especial em mente: A ilha de Santa Clara em Alagoas, lugar que pedia exatamente algo mais simplista. Ela já tinha um plano: comprar, construir e levar a Mermaidy Resort para fora do Brasil. Júlia sempre consegue tudo o que quer. Um pescador que protege o seu lar com a sua vida, e se sente satisfeito com um belo pôr-do-sol no fim do dia. E uma ambiciosa CEO decidida à conquistar um paraíso que nunca teve preço. Duas almas completamente diferentes, mas com ligações inexplicáveis. Um romance que têm tudo para dar errado, e dessa vez vai dar... se o amor não vier a nado e a sereia não ficar presa em sua rede. PLÁGIO É CRIME - livro completo desde 2018
Ler mais— Tu se lembras da história que eu te contei sobre como nasceu, não? — Sim, papai! — meu bichinho soa desanimado. — Que a mamãe me pariu na água, quando foi tomar um banho de mar. — Pois então. Tu nasceu literalmente nadando, Bê, não precisa ter medo. Não estou dizendo que tu é obrigado a saber, que estou “te onrigando”... mas tu mora em uma ilha, pequeno, seu pai se sentirá bem mais traquilo se você souber. Estamos cercados por água, se Deus me livre tu cai de nosso barco ou qualquer coisa do tipo? Não!!! Tu tens que saber se virar, parceiro! — eu digo com paciência, mas ele mantém a cabecinha abaixada em desanimo. Tinha medo da fundura mesmo que eu tivesse garantido que ali nos pés do deck ele podia ficar tranquilamente. Ali a água quase nem balançava, era serena demais...— Só aqui? Sem ir pro fundão???— Sem ir pro fundão, só aqui! — eu garanto e o pequeno com seus sete anos recém completados afirma com a cabeça e me estende os braços. Pego-
— PLÍNIO! SEGURA! — eu grito e ele pega Cristiano praticamente pela cintura antes que o mesmo caia na rede. — EU TÔ BEM, EU TÔ BEM!!! — Cristiano grita da traineira azul e Simas ri no meu ouvido. — Esse é o irmão do pescador velho de guerra! — Não torra, tu também não nasceu sabendo! — dou risada só que por dentro e ele ri mais ainda. — Eu nasci aqui nesse marzão, dentro de uma traineira. Nasci pescando manjuba!— E de nada adiantou se aprendeu e não sabe ensinar. — Ele é aprendiz seu, não meu! — Valeime!!! — Deixem o rapaz! — Tico se diverte. — Ou ele aprende, ou vira comida de peixe. Nossa preocupação agora é se essa rede subirá pra superfície cheia. Odoiá tem que nos tirar do castigo, ainda mais agora que Simas está pagando essa promessa dele!— Ela é mãe misericordiosa! — Simas diz e como se pudesse ouvir, um estrondo no céu se faz presente. Sabíamos que ia chover, mas não sabíamos que seria tão rápido. Ali eu
O bar de seu Olivas estava lotado hoje. Entro de uma vez após fitar seu interior pela janela de vidro circular e o encontro sentado no bar. É claro que mesmo “rico” ele não sairia daquela vida dele de bebedeira e simplicidade. Só o que prendia Plínio àquela cidade portuária era que ficar ali, era o mais perto que ele podia chegar de dona Silvéria. — Boa noite! — eu falo e eu bufa. — Eu não a vejo tem mais de um ano, cabra, me deixe em paz!!! — Eu não vim pra falar de Júlia! Eu também não a vejo tem muito tempo. Só vim te entregar isso. — arrasto o convite que Anália topou fazer para o evento e ele encara o envelope verde-água. Sinalizo para seu Olivas e ele logo me oferece uma garrafa. Viro um gole grande só pra começar...— Veio até aqui para me entregar um papel? Nem navegando está, virou às costas para mãe, eu soube... — Entrei em um barco pela primeira vez hoje, para vir até aqui, então acho que você pode fazer a gen
— Jú... — Laís entra após bater e eu me apresso em secar o rosto. — Laís, só entre se eu autorizar, por favor. — Desculpe, isso não vai mais acontecer. É que você tem uma visita!— Quem?— Celina. — Laís diz seu nome como se tivesse medo de pronunciar e eu não posso conter o rosnado grosseiro na garganta. — O que essa ordinária quer aqui? — Disse que vai esperar o tempo que for necessário e que o assunto é particular. — Mande-a entrar. Não entre atrás nem se escutar gritos, não deixe ninguém nos interromper. Se ela sair daqui se arrastando você não viu nada! — Está bem, com licença. — ela murmura impactada e eu arrumo minha postura. Quando a vaca entra carregando consigo apenas uma bolsa e nada de bom senso, consigo sorrir. Aparentava estar mais arruinada do que sempre foi. — Boa tarde, Júlia. — ela parece tristonha, mas ignoro o fato. — Diga de uma vez. — Posso? — ela apont
UM ANO DEPOIS“... eita, homem, tu precisa reagir! O caos dela era teu cais. Aconteceu, vocês não puderam prever. Se martirizar não vai adiantar. Vá atrás dela ou esqueça que ela existe, faça alguma coisa, mas levante desse sofá...”— Nácio... Sou eu, Mirna! (...) Nácio, por favor... abra a porta. Eu trouxe uma marmita! É o sururu da vó! Já tem tanto tempo... por favor, Nácio... é a Mirna! Se lembra? Sua amiga... A menina chorosa mia, ouço-a depositando a marmita no chão, e quando sai, eu coloco os papéis que ela me enviou alguns dias após sua partida no sofá, ao meu lado. O documento de exame de DNA que comprovava ser a Ari, uns papéis do processo que abriu contra os caras que se fizeram passar por ela que de acordo com Mirna, estava escrito que ela havia ganho a causa e os caras foram presos, o documento da ilha registrado em cartório comprovando o fato de que havia devolvido o terreno pro meu nome, e o divórcio pra eu assinar. Divórcio esse que eu ja
Pela primeira vez em toda a minha vida achava que todo aquele paraíso, aquelas cores, o verde contrastando com o marrom, o azul-celeste com o anil e o amarelo... tudo aquilo era inútil naquele momento. Antigamente me ajudava a distrair, a ver beleza nos meus dias mais sombrios, mas agora ficar aqui, do jeito que estava, sentado na areia e deixando o balanço das ondas me hipnotizar, ou pelo menos tentar, não estava ajudando. Não estava dando certo, eu não estava esvaziando minha mente. Eu só pensava nela. Nela e no que eu fiz. Seu atentado contra mim pouco significava naquele momento, pelo menos ao descobrir recentemente que eu estava “deixando de ser pai” antes de saber que havia me tornado um. Nada parecia fazer sentido. Sua chegada, ou melhor, retorno, a paternidade de Simas, nosso envolvimento rápido demais... nada fazia sentido se no fim perderíamos nosso bebê. O bebê que tanto pedi a Deus. — Oi. — Mirna se aproxima silenciosa e se senta do meu la
— Você acabou de me contar toda essa história maluca. Por que me parece tão angustiada? Mais até do que eu que acabei de ouvir toda essa loucura?Anália estava sentada ao meu lado no sofá do Simas. Havíamos fugido da festa assim que começaram a se aproximar de mim fazendo perguntas a respeito de minha adoção. Sim, fugi. Mas eu sabia que não poderia fugir pra sempre. Nem de dizer que eu jamais quis Simas como pai, no passado, e nem quando a “verdade” viesse à tona á respeito daquela bomba. De repente, em uma noite feliz, tudo parecia ruir. Sem contar que eu tinha dividido tudo com Anália e ela dividia da mesma opinião comigo. — Inácio foi levar os dois embora, ele tinha dito que iria o quanto antes, eu só não esperava que o chamasse para levá-los. Se ele abrir a boca...— Não vai, não pense assim. Provavelmente vão apenas conversar, bater boca, discutir... não acredito que ele volte com a palavra dele, esses caras são machos com ‘M’ maiúsculo, se ele te
— Tu não vai lá, não vai não. — Espero que esteja me perguntando e não afirmando, Inácio. — a miudinha me olha de baixo pra cima. Estava muito triste.— Encare como um pedido. Não vá e não veja o que vai te causar dor. Esqueça-o, te avisei muitas vezes. Fique longe do Roger, procure um rapaz... mais novo, sei lá, mais... — como eu poderia falar mal de meu amigo? — Ele é desmiolado com mulher...— Não, ele só não se apaixonou ainda! E tudo bem, é sério, não se preocupem comigo. Não me verão mais arrastando as asinhas pra ele. Ficarei bem. Ele devia me respeitar, se não pode, acabou. — Tu pediu pro meu menino ir fuxicar a vida dele é?— Não! É que uma vez ele nos viu juntos, e agora como o viu com ela, fez o favor de me dizer. Até o pirralho que ainda usa fraldas e chupeta sabe que isso é errado, e o marmanjo não!— Vem cá, como é o nome do Panqueca? Nome de verdade? — a cobra nos meus braços me encara e eu não entendo. No que ela estava pen
— Foi até ele, não foi? — Fui fazer o que mandou meu coração.— Você tem um? — Tenho e você mora nele. — ele diz sorrindo e se senta ao meu lado, mas não compartilho de seu bom humor. — Gosto quando durmo ao seu lado e acordo contigo. Mas isso raramente acontece. — Perdão, vida! Fui conversar um pouco com ele. Pode saber que não brigamos, conversamos numa boa.— Você me esperou dormir para ir lá e esse é o problema. Vocês se entenderam, pelo menos? — Não como você gostaria, mas ele se explicou pra mim, se explicou como pôde, saí de lá satisfeito, vamos ficar bem, não se preocupe com nada. — Eu sempre me preocupo com você! — Verdade? — ele crava sua mão em minha nuca e puxa um pouco. — Verdade.— Diz que me ama. — Eu te amo. — Eu te amo. Muito. — ele sobe na cama sem tirar a mão do meu cabelo, beija meu pescoço, aperta a mão, com a esquerda livre ele aperta meu seio direito e não para