— Você acabou de me contar toda essa história maluca. Por que me parece tão angustiada? Mais até do que eu que acabei de ouvir toda essa loucura?
Anália estava sentada ao meu lado no sofá do Simas. Havíamos fugido da festa assim que começaram a se aproximar de mim fazendo perguntas a respeito de minha adoção. Sim, fugi. Mas eu sabia que não poderia fugir pra sempre. Nem de dizer que eu jamais quis Simas como pai, no passado, e nem quando a “verdade” viesse à tona á respeito daquela bomba. De repente, em uma noite feliz, tudo parecia ruir.
Sem contar que eu tinha dividido tudo com Anália e ela dividia da mesma opinião comigo.
— Inácio foi levar os dois embora, ele tinha dito que iria o quanto antes, eu só não esperava que o chamasse para levá-los. Se ele abrir a boca...
— Não vai, não pense assim. Provavelmente vão apenas conversar, bater boca, discutir... não acredito que ele volte com a palavra dele, esses caras são machos com ‘M’ maiúsculo, se ele te
Pela primeira vez em toda a minha vida achava que todo aquele paraíso, aquelas cores, o verde contrastando com o marrom, o azul-celeste com o anil e o amarelo... tudo aquilo era inútil naquele momento. Antigamente me ajudava a distrair, a ver beleza nos meus dias mais sombrios, mas agora ficar aqui, do jeito que estava, sentado na areia e deixando o balanço das ondas me hipnotizar, ou pelo menos tentar, não estava ajudando. Não estava dando certo, eu não estava esvaziando minha mente. Eu só pensava nela. Nela e no que eu fiz. Seu atentado contra mim pouco significava naquele momento, pelo menos ao descobrir recentemente que eu estava “deixando de ser pai” antes de saber que havia me tornado um. Nada parecia fazer sentido. Sua chegada, ou melhor, retorno, a paternidade de Simas, nosso envolvimento rápido demais... nada fazia sentido se no fim perderíamos nosso bebê. O bebê que tanto pedi a Deus. — Oi. — Mirna se aproxima silenciosa e se senta do meu la
UM ANO DEPOIS“... eita, homem, tu precisa reagir! O caos dela era teu cais. Aconteceu, vocês não puderam prever. Se martirizar não vai adiantar. Vá atrás dela ou esqueça que ela existe, faça alguma coisa, mas levante desse sofá...”— Nácio... Sou eu, Mirna! (...) Nácio, por favor... abra a porta. Eu trouxe uma marmita! É o sururu da vó! Já tem tanto tempo... por favor, Nácio... é a Mirna! Se lembra? Sua amiga... A menina chorosa mia, ouço-a depositando a marmita no chão, e quando sai, eu coloco os papéis que ela me enviou alguns dias após sua partida no sofá, ao meu lado. O documento de exame de DNA que comprovava ser a Ari, uns papéis do processo que abriu contra os caras que se fizeram passar por ela que de acordo com Mirna, estava escrito que ela havia ganho a causa e os caras foram presos, o documento da ilha registrado em cartório comprovando o fato de que havia devolvido o terreno pro meu nome, e o divórcio pra eu assinar. Divórcio esse que eu ja
— Jú... — Laís entra após bater e eu me apresso em secar o rosto. — Laís, só entre se eu autorizar, por favor. — Desculpe, isso não vai mais acontecer. É que você tem uma visita!— Quem?— Celina. — Laís diz seu nome como se tivesse medo de pronunciar e eu não posso conter o rosnado grosseiro na garganta. — O que essa ordinária quer aqui? — Disse que vai esperar o tempo que for necessário e que o assunto é particular. — Mande-a entrar. Não entre atrás nem se escutar gritos, não deixe ninguém nos interromper. Se ela sair daqui se arrastando você não viu nada! — Está bem, com licença. — ela murmura impactada e eu arrumo minha postura. Quando a vaca entra carregando consigo apenas uma bolsa e nada de bom senso, consigo sorrir. Aparentava estar mais arruinada do que sempre foi. — Boa tarde, Júlia. — ela parece tristonha, mas ignoro o fato. — Diga de uma vez. — Posso? — ela apont
O bar de seu Olivas estava lotado hoje. Entro de uma vez após fitar seu interior pela janela de vidro circular e o encontro sentado no bar. É claro que mesmo “rico” ele não sairia daquela vida dele de bebedeira e simplicidade. Só o que prendia Plínio àquela cidade portuária era que ficar ali, era o mais perto que ele podia chegar de dona Silvéria. — Boa noite! — eu falo e eu bufa. — Eu não a vejo tem mais de um ano, cabra, me deixe em paz!!! — Eu não vim pra falar de Júlia! Eu também não a vejo tem muito tempo. Só vim te entregar isso. — arrasto o convite que Anália topou fazer para o evento e ele encara o envelope verde-água. Sinalizo para seu Olivas e ele logo me oferece uma garrafa. Viro um gole grande só pra começar...— Veio até aqui para me entregar um papel? Nem navegando está, virou às costas para mãe, eu soube... — Entrei em um barco pela primeira vez hoje, para vir até aqui, então acho que você pode fazer a gen
— PLÍNIO! SEGURA! — eu grito e ele pega Cristiano praticamente pela cintura antes que o mesmo caia na rede. — EU TÔ BEM, EU TÔ BEM!!! — Cristiano grita da traineira azul e Simas ri no meu ouvido. — Esse é o irmão do pescador velho de guerra! — Não torra, tu também não nasceu sabendo! — dou risada só que por dentro e ele ri mais ainda. — Eu nasci aqui nesse marzão, dentro de uma traineira. Nasci pescando manjuba!— E de nada adiantou se aprendeu e não sabe ensinar. — Ele é aprendiz seu, não meu! — Valeime!!! — Deixem o rapaz! — Tico se diverte. — Ou ele aprende, ou vira comida de peixe. Nossa preocupação agora é se essa rede subirá pra superfície cheia. Odoiá tem que nos tirar do castigo, ainda mais agora que Simas está pagando essa promessa dele!— Ela é mãe misericordiosa! — Simas diz e como se pudesse ouvir, um estrondo no céu se faz presente. Sabíamos que ia chover, mas não sabíamos que seria tão rápido. Ali eu
— Tu se lembras da história que eu te contei sobre como nasceu, não? — Sim, papai! — meu bichinho soa desanimado. — Que a mamãe me pariu na água, quando foi tomar um banho de mar. — Pois então. Tu nasceu literalmente nadando, Bê, não precisa ter medo. Não estou dizendo que tu é obrigado a saber, que estou “te onrigando”... mas tu mora em uma ilha, pequeno, seu pai se sentirá bem mais traquilo se você souber. Estamos cercados por água, se Deus me livre tu cai de nosso barco ou qualquer coisa do tipo? Não!!! Tu tens que saber se virar, parceiro! — eu digo com paciência, mas ele mantém a cabecinha abaixada em desanimo. Tinha medo da fundura mesmo que eu tivesse garantido que ali nos pés do deck ele podia ficar tranquilamente. Ali a água quase nem balançava, era serena demais...— Só aqui? Sem ir pro fundão???— Sem ir pro fundão, só aqui! — eu garanto e o pequeno com seus sete anos recém completados afirma com a cabeça e me estende os braços. Pego-
Santa Clara é um pequeno ‘paraíso secreto’ localizado na região de São Miguel dos Milagres, em Alagoas, Maceió. Reduto de uma dúzia de famílias de pescadores tradicionais é uma ilha adornada de águas cristalinas e de um azul celeste pouco explorado, apesar de seus moradores terem o ofício que têm.Durante o dia, os barulhos dos pássaros, o vai-e-volta das lanchas e barcos, e os caldeirões com os pescados do dia nos fogões á lenha, remetem a um tempo longínquo, acolhedor e familiar, assim como a noite na vila de Santa Clara. Quando a noite cai só se podem ouvir os pios das Corujas-Pretas bem comuns na região, a cantoria típica, e os estalos das fogueiras que eles acendem para os jantares da tradicional congregação há muito tempo celebrados. Antes de irem para as redes descansar para estarem de p&eacut
“Você sabe o quanto o dinheiro é insignificante quando você passou por pelo menos três dessas situações: Você já teve muito e viu que a felicidade não bateu na sua porta como você esperava ou imaginava. Você mesmo com tanto dinheiro não conseguiu ajudar ou salvar a vida de quem você amava. Você notou que quanto mais trabalhava e mais ganhava, menos vivia. Você ganhava tão rápido quanto perdia. Você destruiu algo ou alguém por causa dele. Você empacou quando a montanha de grana se tornou barreiras no meio do caminho e com isso você se perdeu. Você viu pessoas que te odiavam dizerem te amar quando você sabia que não era verdade... Ou simplesmente percebeu que não importava o quanto tivesse aquela pessoa não te queria em sua vida com ou sem ele. Pobre ou rico, você era você sem tirar nem pôr.&rdqu