PRESO EM SUA REDE
PRESO EM SUA REDE
Por: Marjory Lincoln
Prefácio

Santa Clara é um pequeno ‘paraíso secreto’ localizado na região de São Miguel dos Milagres, em Alagoas, Maceió. Reduto de uma dúzia de famílias de pescadores tradicionais é uma ilha adornada de águas cristalinas e de um azul celeste pouco explorado, apesar de seus moradores terem o ofício que têm.

Durante o dia, os barulhos dos pássaros, o vai-e-volta das lanchas e barcos, e os caldeirões com os pescados do dia nos fogões á lenha, remetem a um tempo longínquo, acolhedor e familiar, assim como a noite na vila de Santa Clara. Quando a noite cai só se podem ouvir os pios das Corujas-Pretas bem comuns na região, a cantoria típica, e os estalos das fogueiras que eles acendem para os jantares da tradicional congregação há muito tempo celebrados. Antes de irem para as redes descansar para estarem de pé às cinco da manhã, todos os pescadores e seus familiares dançam, cantam, conversam, contam histórias e se divertem ao redor da fogueira convidativa.

 Só quem entra e sai da ilha são seus moradores, mas o empíreo nem sempre fora assim tão excluso. Inácio Amorim se lembrava muito bem da época em que empresários da capital tentaram colocar as mãos sujas em suas terras, e ao pensar nisso podia sentir o gosto do asco na boca. De temporada em temporada Maceió tentava se aproximar e lucrar com a ilha como havia feito com a — agora famosa. — praia do Patacho.

A pesca completamente artesanal de manjubas e sardinhas é o seu ganha-pão e seus inimigos são, além da degradação do meio-ambiente que cada vez mais o assustava, era também a especulação imobiliária. Todavia, assim como suas próprias mãos, Inácio era um homem calejado por inteiro. Era esperto, conhecia o mar como a palma de sua mão e o tempo perfeito para navegar, um ótimo líder na comunidade, trabalhador, o melhor pescador da vila, o mais experiente apesar de não ser o mais velho, — quem disse que trinta e três é grande coisa?! — forte como um touro em todos os aspectos de sua vida, ‘ogro ou ignorante’ para quem merecia, e apesar de não saber ler muito bem, — tirando claro, as notas fiscais improvisadas que emitia para os mercadores em Maceió. — ele sabia ler como ninguém a fisionomia das pessoas. Se tinha uma coisa no mundo que ele sabia como ninguém, era ler as pessoas e usava esse seu dom para decidir em quem confiar, em quem podia dar seus tapinhas de camaradagem nas costas, para quem ele podia ou não sorrir, e principalmente, para quem ele podia virar as costas sem correr o risco de ter um facão fincado nelas. Mas falando nisso... ele não fora dessa forma sempre, não foi à toa que ficara calejado. Inácio já confiou demais em quem não devia e uma dessas pessoas é Lora, sua ex-companheira, e hoje, “cunhada”.

Agora... Júlia Monteiro era completamente o oposto. Dona de uma das maiores redes de Resorts do país, é extremamente ambiciosa e não mede esforços para conseguir o que deseja, principalmente no mundo dos negócios; ela gosta de dinheiro e assume o fato. Mata um leão por dia e precisa lidar com todo o tipo de pessoa que você possa imaginar. Nascida e criada em uma região de classe média alta de São Paulo, nunca teve nada de mais quando menina, e conseguiu tudo o que tinha na base da raça. Mesmo teus pais tendo toda a fortuna que tinham. Júlia fora preparada para enfrentar o mundo.

Dotada de um belo corpo, cabelos negros, sex appeal de sobra e bom gosto, tinha um charme genuíno, títulos, diplomas, posses, e uma mania “irritante” de nunca confiar de graça, mas conquistar a confiança de qualquer um para ter o que quisesse.

Ao contrário de Inácio, seu “ganha-pão” era fiscalizar seus mais de dez mil funcionários direto de sua sala presidencial no último andar da sede paulistana Mermaidy Resorts. Mesmo amante do mar e da natureza, seu ‘point’ era o asfalto, os melhores restaurantes de São Paulo, e os eventos mais seletivos da Terra da Garoa.

Tinha em seu nome uma sede em cada estado do país... menos Alagoas. E como sendo sua “última conquista” ao realizar o sonho de levar a Mermaidy para o Brasil inteiro, — sempre fora metódica. Antes de levar a companhia pra fora, ela estava decidida a conquistar o país por completo. — o lugar tinha que ser O lugar. Seu checkmate não podia ser a capital alagoana, Maceió era repleta de resorts para tudo quanto é gosto e bolso. Sendo assim, com tantas opções em uma região nordestina maravilhosa como tal, aquele investimento seria com certeza a verdadeira definição de ‘dinheiro indo pro ralo’ mais por causa da concorrência... Júlia queria mais, queria o exótico, queria algo que as pessoas só encontrassem no Mermaidy... ela queria um paraíso, e mais, um paraíso com um significado um tanto familiar pra ela. E ela conseguiria, ou seu nome nunca fora Júlia Monteiro.

Um pescador completamente coração que protege seu lar com a sua vida, e se sente satisfeito com um belo pôr-do-sol no fim do dia, e uma ambiciosa CEO decidida á conquistar um paraíso que nunca teve um preço. Duas almas completamente diferentes. Um romance que têm tudo para dar errado. E vai dar... se o amor não vier á nado, e a sereia não ficar presa em sua rede.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo