—... não. Minha ida até lá não foi de todo ruim não. Consegui mapear bem a área, e já encaminhei o projeto. A pousada ficará linda, aquele primeiro esboço com o Vargas é a opção perfeita. Assimétrica, feita em bangalôs, a mais alta... com a vista que teremos, vamos arrasar... — eu fico tagarelando enquanto fitava o projeto nas mãos e Anália me encarava com sua careta familiar pelo Skype. Dali ela podia me ver de hobby comportado e toalha na cabeça, ver a cabeceira da cama Box do hotel, e provavelmente meu semblante de poucos amigos. Eu estava puta, muito puta da vida.
Me encontrava ou talvez, havia acabado de sair de um dilema. Sabia que fazer tudo a certa distancia era melhor porque me envolver poderia fazer com que meus planos fracassassem, ficar de vez porque afinal era meu plano antes de qualquer coisa: “ter meu lugar lá dentro”, e por causa da rejeição daquele pobretão me sinto frustrada, e dar um jeito de ficar um pouco mais para tentar comprar o terreno conquistando a
— Tu reclama muito! Muito! — Pedro ri quando Tico grita e quase derruba a caixa de isopor da cabeça. — Tu não fala, mas reclama. Vou começar a contar piadas de mudinhos e sei que tu não vai gostar... Tico o faz rir ainda mais. Ambos como era frequente, se estranhavam, mas claro, nada sério, Roger ainda tentava se recuperar de uma fogueira regada á bebedeira, fogueira essa que nem participei, e Simas... bom, Simas permanecia em silêncio se recusando a interagir e principalmente falar comigo. Gostava mesmo da pirralha, sentia saudades dela. Graças a Deus sabia que sua birra não duraria muito. Eu também lamentava pela ausência daquele corpo com curvas perfeitas e aquele cheiro de rica andando pela ilha, mas eu lamentava muito mais o motivo de sua ausência. A demônia não era uma amiga, definitivamente não poderia ser uma amiga. Ela queria era ferrar comigo. Gostosa ou não, bonita demais ou não, atraente de modo quase surreal ou não, ela não era bem-vinda. Era melhor daqu
— Mas tu não brinque assim comigo não, mulher! — o pescador invocado e agora mexido me pega pelo braço e minha boceta vira uma cachoeira. O apertão foi tão gostoso que ele sentiu o choque e mesmo arfando de tão tenso, fitou meus lábios umedecendo os seus. — Se me apertar assim, eu me apaixono. — eu murmuro sem muito pensar e ele não entende. Sim, eu estava completamente descontrolada. A “confusão de sentimentos” daquele pescador estava me deixando maluca. Quer dizer, a ‘outrora falta de interesse’, porque assim que fiz meu charminho no hotel ele tomou um chá de Simancol. Ele se enrolou na sua própria rede. — Pense bem, pense se é brincadeira. Sonhei também que salvei um pescador enquanto eu ainda podia voltar para a minha forma... — minto. — sonhei com essa ilha, — eu digo a verdade. — sonhei com minha pousada aqui, sonhei que vivia nesse lugar, e morava aqui, criava meus filhos aqui!— É sério... — ele resmunga, mas seu ódio ou paixão, não sabia dizer, gritavam em se
— SEGURA CABRA RUIM!!! — Tico grita do outro lado e com o solavanco forte que a traineira dá por causa do mar hoje agitado, a corda de apoio se solta, e passa tão rápido do meu lado rente ao meu braço, que vira uma navalha. O corte superficial não me assusta, assim como o corte na palma da mão também. Era uma eventualidade.— VOLTA! VOLTA! VAMOS VOLTAR! TUDO BEM... VAMOS REFAZER!!! — eu grito, mas para facilitar faço gestos e eles entendem.Por isso os dois vão puxando a rede e manobrando a lancha lentamente já que soltá-la ao mar para que nós três ali puxássemos sozinhos era um serviço perigoso e pesado, — a rede poderia se prender em algum rochedo ou até mesmo no motor da traineira e aí seria arriscado, um trabalho de porco. — e voltamos novamente á estaca zero. Eu senti que o mar hoje ficaria agitado, mas não imaginei que seria tanto.— MAS É UM ZÉ MESMO, NÃO FORÇOU O NÓ DA TRAINA??? — Roger encara o Pedro que segurava uma porção da rede para economizarmos te
— Eu estou dizendo!!! Ela está aqui, em carne e osso!!! — converso com Anália no telefone após um papo brabo com Simas. — Desculpe, Júlia, mas não dá para acreditar, de verdade...— É, eu que o diga! Não dá mesmo! Vadia ordinária! Falsa!— O que ela está fazendo aí, caramba???— Tentando o que sempre quis, ser eu!!! Quer a minha vida, quer roubar meu lugar por direito! Sempre achei Celina estranha, agora entendo! Tem inveja de mim. — Jú, pare com isso. Pare com essa ideia de inveja... — O que? Vai falar o mesmo que ela? Que é impossível ter inveja de mim porque sou uma pessoa triste? Amarga? Ruim? Sozinha? É isso???— Não! Não! Mas eu nunca achei que ela fosse assim, ainda não acho. Pensa bem, ter desistido da ideia de te ajudar por ter gostado do lugar não a torna uma vilã na sua história, Júlia, ela não nos passou mais informações, mas também não nos delatou, não tentou prejudicar seus planos, não falou pra eles quem ela era. Ela
— Simas! Eu o abordo assim que o vejo sair da cabana era quase duas da manhã, estávamos todos conversando na mesa do pátio. — Não se aproxime de mim. Você foi longe demais. — Eu precisei fazer isso!!! — Por que? Medo do Cristiano roubá-la como fez com Lora? Não seja ridículo, Júlia chegou na ilha e já se apaixonou por você, ela te amava!!! Jamais se deixaria levar.— Eu sei disso! Eu sei! Ela não é Lora, mas é mais frágil. Cristiano já chegou de olho nela, aprontaria conosco, é doido por dinheiro e dinheiro é o que Júlia mais tem. Ele pode machucá-la, tentar algo contra ela, vai tentar nos separar plantando discórdia, jogando veneno, e eu não posso estar aqui para protegê-la o tempo todo. E você sabe muito bem, é provável mesmo que ela me ame, é sim, mas mesmo ficando comigo ela ainda não desistiu da ilha, ela quer a ilha mais do que quer qualquer coisa. — eu digo e ele nega inconformado.— E tudo acaba nessa maldita ilha. Por que não ve
— O que faz aqui??? — questiono ao entrar na cozinha seguindo o cheirinho bom de café. — Eu... tirei o dia pra ficar contigo. Pra te animar e te fazer companhia. — o velho diz sorrindo e eu fico boba. Acho uma graça. Me sento na mesa e só fico assistindo ele mexendo nas panelas. Fazia uma omelete deliciosa. — Não é o café da manhã da dona Silvéria, mas... espero que você goste, acordou tarde, será melhor que nada... — Podia ter me acordado.— Não, eu quis te deixar descansar. Quis aproveitar para te mostrar meus dotes culinários, estou esperançoso, quem sabe não fica comigo aqui pra sempre... — Você me deixaria ficar aqui contigo pra sempre? — Eu quero muito! Te peço isso desde que conheci...— Não peça muito senão eu fico mesmo. — eu sorrio e ele concorda com a cabeça se concentrando para virar a omelete. — Pode deixar que eu vou te pedir o tempo todo!— Só fico se eu puder fazer uma reforma nesse moquifo!
Jogado na areia da praia, minha atual situação representava bem o modo como aquela mulher sempre me deixava no final das contas. Repasso cada cena de seu jeito bipolar, e principalmente, o momento em que eu a expulsava de casa para mantê-la afastada do Cristiano e não consigo enxergar o que havia dito de tão pavoroso para justificar a sua recusa em voltar pra cabana comigo, e mais do que isso, repasso em minha mente cansada suas palavras duras. Eu estava com pena de mim mesmo... não chegava aos pés da filha da puta, era um nada, bem pouco, não tinha nada a oferecer, mas ainda assim, apesar dos pesares, a sereia que retornara, era minha. Só minha. Talvez nosso destino fosse esse, nos amar no caos, encontrar a felicidade nos nossos problemas, mas seria bom demais pra ser verdade se isso tudo fosse perfeito.Ficar ali embaixo daquele sol forte que queimava minha pele e me dava a impressão de que a qualquer momento eu iria desmaiar de fraqueza, também me ajudou chegar a conclusão
— Foi até ele, não foi? — Fui fazer o que mandou meu coração.— Você tem um? — Tenho e você mora nele. — ele diz sorrindo e se senta ao meu lado, mas não compartilho de seu bom humor. — Gosto quando durmo ao seu lado e acordo contigo. Mas isso raramente acontece. — Perdão, vida! Fui conversar um pouco com ele. Pode saber que não brigamos, conversamos numa boa.— Você me esperou dormir para ir lá e esse é o problema. Vocês se entenderam, pelo menos? — Não como você gostaria, mas ele se explicou pra mim, se explicou como pôde, saí de lá satisfeito, vamos ficar bem, não se preocupe com nada. — Eu sempre me preocupo com você! — Verdade? — ele crava sua mão em minha nuca e puxa um pouco. — Verdade.— Diz que me ama. — Eu te amo. — Eu te amo. Muito. — ele sobe na cama sem tirar a mão do meu cabelo, beija meu pescoço, aperta a mão, com a esquerda livre ele aperta meu seio direito e não para