— Jú... — Laís entra após bater e eu me apresso em secar o rosto.
— Laís, só entre se eu autorizar, por favor.
— Desculpe, isso não vai mais acontecer. É que você tem uma visita!
— Quem?
— Celina. — Laís diz seu nome como se tivesse medo de pronunciar e eu não posso conter o rosnado grosseiro na garganta.
— O que essa ordinária quer aqui?
— Disse que vai esperar o tempo que for necessário e que o assunto é particular.
— Mande-a entrar. Não entre atrás nem se escutar gritos, não deixe ninguém nos interromper. Se ela sair daqui se arrastando você não viu nada!
— Está bem, com licença. — ela murmura impactada e eu arrumo minha postura.
Quando a vaca entra carregando consigo apenas uma bolsa e nada de bom senso, consigo sorrir. Aparentava estar mais arruinada do que sempre foi.
— Boa tarde, Júlia. — ela parece tristonha, mas ignoro o fato.
— Diga de uma vez.
— Posso? — ela apont
O bar de seu Olivas estava lotado hoje. Entro de uma vez após fitar seu interior pela janela de vidro circular e o encontro sentado no bar. É claro que mesmo “rico” ele não sairia daquela vida dele de bebedeira e simplicidade. Só o que prendia Plínio àquela cidade portuária era que ficar ali, era o mais perto que ele podia chegar de dona Silvéria. — Boa noite! — eu falo e eu bufa. — Eu não a vejo tem mais de um ano, cabra, me deixe em paz!!! — Eu não vim pra falar de Júlia! Eu também não a vejo tem muito tempo. Só vim te entregar isso. — arrasto o convite que Anália topou fazer para o evento e ele encara o envelope verde-água. Sinalizo para seu Olivas e ele logo me oferece uma garrafa. Viro um gole grande só pra começar...— Veio até aqui para me entregar um papel? Nem navegando está, virou às costas para mãe, eu soube... — Entrei em um barco pela primeira vez hoje, para vir até aqui, então acho que você pode fazer a gen
— PLÍNIO! SEGURA! — eu grito e ele pega Cristiano praticamente pela cintura antes que o mesmo caia na rede. — EU TÔ BEM, EU TÔ BEM!!! — Cristiano grita da traineira azul e Simas ri no meu ouvido. — Esse é o irmão do pescador velho de guerra! — Não torra, tu também não nasceu sabendo! — dou risada só que por dentro e ele ri mais ainda. — Eu nasci aqui nesse marzão, dentro de uma traineira. Nasci pescando manjuba!— E de nada adiantou se aprendeu e não sabe ensinar. — Ele é aprendiz seu, não meu! — Valeime!!! — Deixem o rapaz! — Tico se diverte. — Ou ele aprende, ou vira comida de peixe. Nossa preocupação agora é se essa rede subirá pra superfície cheia. Odoiá tem que nos tirar do castigo, ainda mais agora que Simas está pagando essa promessa dele!— Ela é mãe misericordiosa! — Simas diz e como se pudesse ouvir, um estrondo no céu se faz presente. Sabíamos que ia chover, mas não sabíamos que seria tão rápido. Ali eu
— Tu se lembras da história que eu te contei sobre como nasceu, não? — Sim, papai! — meu bichinho soa desanimado. — Que a mamãe me pariu na água, quando foi tomar um banho de mar. — Pois então. Tu nasceu literalmente nadando, Bê, não precisa ter medo. Não estou dizendo que tu é obrigado a saber, que estou “te onrigando”... mas tu mora em uma ilha, pequeno, seu pai se sentirá bem mais traquilo se você souber. Estamos cercados por água, se Deus me livre tu cai de nosso barco ou qualquer coisa do tipo? Não!!! Tu tens que saber se virar, parceiro! — eu digo com paciência, mas ele mantém a cabecinha abaixada em desanimo. Tinha medo da fundura mesmo que eu tivesse garantido que ali nos pés do deck ele podia ficar tranquilamente. Ali a água quase nem balançava, era serena demais...— Só aqui? Sem ir pro fundão???— Sem ir pro fundão, só aqui! — eu garanto e o pequeno com seus sete anos recém completados afirma com a cabeça e me estende os braços. Pego-
Santa Clara é um pequeno ‘paraíso secreto’ localizado na região de São Miguel dos Milagres, em Alagoas, Maceió. Reduto de uma dúzia de famílias de pescadores tradicionais é uma ilha adornada de águas cristalinas e de um azul celeste pouco explorado, apesar de seus moradores terem o ofício que têm.Durante o dia, os barulhos dos pássaros, o vai-e-volta das lanchas e barcos, e os caldeirões com os pescados do dia nos fogões á lenha, remetem a um tempo longínquo, acolhedor e familiar, assim como a noite na vila de Santa Clara. Quando a noite cai só se podem ouvir os pios das Corujas-Pretas bem comuns na região, a cantoria típica, e os estalos das fogueiras que eles acendem para os jantares da tradicional congregação há muito tempo celebrados. Antes de irem para as redes descansar para estarem de p&eacut
“Você sabe o quanto o dinheiro é insignificante quando você passou por pelo menos três dessas situações: Você já teve muito e viu que a felicidade não bateu na sua porta como você esperava ou imaginava. Você mesmo com tanto dinheiro não conseguiu ajudar ou salvar a vida de quem você amava. Você notou que quanto mais trabalhava e mais ganhava, menos vivia. Você ganhava tão rápido quanto perdia. Você destruiu algo ou alguém por causa dele. Você empacou quando a montanha de grana se tornou barreiras no meio do caminho e com isso você se perdeu. Você viu pessoas que te odiavam dizerem te amar quando você sabia que não era verdade... Ou simplesmente percebeu que não importava o quanto tivesse aquela pessoa não te queria em sua vida com ou sem ele. Pobre ou rico, você era você sem tirar nem pôr.&rdqu
— Como é que é? — baixo o tom de voz fazendo minha cadeira girar para ter uma “aparente” privacidade, e Anália continua tagarelando exasperada. — Foi o que eu disse: sem chance, Júlia! Aquele cara não nos deixará nem chegar perto daquela ilha. — Você nem foi até lá???— Como eu poderia!? Não está me ouvindo? Ele nem me deixou falar, não quis trocar uma palavra. Só o que ele falava era que sua resposta era ‘não’, e nem meu nome ele conseguiu decorar, é um ignorante. Ele é mal educado, grosso, estúpido, e burro! Não hesitou nem quando eu disse que ele podia ficar rico. Depois que ele sumiu com o barco vieram uns trinta pescadores me abordar para perguntar a respeito da tal proposta de ficar rico...— Espere, se interessaram, é!? — Sim, oras, mas o que adianta? Precisamos é que o responsável pela ilha aceite, não os outros mortos de fome. — Bom, mas alguém que possa nos ajudar você deve ter encontrado!— E cadê a Celina??? Nada de no
— Autorizou a professora trazer a menina dela, é!? — Lora murmura enquanto parecia procurar alguma coisa na mesa do escritório. Eu estava jogado no sofá esperando o Simas e o Pedro para fazer as compras do mês para a dona Silvéria lá no mercadão. O sábado estava delicioso, eram oito horas da manhã então depois que eu voltasse de lá pretendia passar o dia tomando banho de mar, a tarde na rede, me deliciar com a comida boa de dona Silvéria, um amansa-corno fresquinho, — uma cachaça —, e após isso... dormir como um bebê para acordar cedo no domingo. Tirávamos a sexta-feira para aumentar um pouco a pesca devido ao fato de que o mercadão sempre lotava nos finais de semana, e com isso, eu dava o sábado para os parceiros — e eu, claro. — descansarmos... mesmo que às vezes não fazíamos isso e trabalhávamos normalmente no sábado. Dependia muito de nossa exaustão durante a semana. Achava mais saudável desse modo. A época em que nós nos matávamos de trabalhar er
UM DIA ANTES.— Plínio da Cunha? — eu murmuro no velho deck em frente aquele oceano azul que já havia ganhado o título de um dos lugares mais lindos do mundo e quase suspiro me perdendo.Me lembro de minha primeira visita, o passeio de catamarã com minha amiga, ou melhor, ex-amiga Celina, a visita às nove ilhas... Maceió era no geral: incrível.O rapaz barbudo e forte segurava uma lata de cerveja na mão e parecia distante demais. Havia dito que estaria com uma camiseta branca, mas coitado... aquilo era tudo, menos branco. Um encardido!— O próprio, dona.— Júlia Monteiro. — ofereço a mão em nome de minha educação, e ao invés de apertar e balançar, ele a beija jogando charme. Era bem gostoso, mas não prestava, e além de tudo não fazia meu tipo nem