Reginaldo, um cara comum e sem expectativas com as mulheres, se depara com uma verdadeira "ninfa" num trólebus da Linha 20, em Santos-SP. Sem coragem, ele a vê ir embora e lamenta sua falta de ação. Depois, ao ler um livro, é estimulado a buscar uma alternativa para sua solidão. Num encontro improvável, ele conhecerá Elizabeth e verá que, a partir daí, coincidências não existem. Uma paixão intensa que vira amor, promete um final feliz, porém, existe algo que quer separá-los. Ao mesmo tempo, a Grande Roda da Vida, que o move em sua nova realidade, providenciará uma salvação. Daí, sua vida em "exílio" daquele amor, dará uma guinada completa e com um final extremamente emocionante. Final? Não necessariamente, mas isso é outra história…
Ler maisPensei: “quem será uma hora dessas”? O relógio marcava 20h50 e percebi que não dei conta da hora, notando que Elizabeth ainda não ligara. O que teria acontecido? Ela não demorava tanto assim. E o portão?Em minha cabeça surgiram dois assuntos que eu precisava resolver logo. Um deles era mais urgente: o portão. Enquanto ia pelo pequeno corredor, comecei a tentar resolver esse primeiro assunto.Elizabeth? Sim, sem dúvidas, seria maravilhoso. Amanda? O que ela iria querer falar uma hora dessas? Certamente ainda estaria grudada ao Erick. Então parei a marcha e questionei novamente: se não for nenhuma das duas ou talvez a dona Letícia, então só pode ser Sofia... Ela tem o meu endereço.Continuei, mas me preparando para o pior e, ao abrir o portão, me deparo com meu irmão Rogério e sua esposa Kátia. Mais alto que eu, devia estar com 1,83 m. Ele tinha pele mais clara que a minha. Careca, usava geralmente um cavanhaque, tipo “sedutor”. Diferente de mim, Rogério tinha os olhos bem claros, como
Desci e fui para meu trabalho, mas pensando no que estaria acontecendo com Amanda. Por que mudara de atitude para comigo? Teria sido porque eu a ajudara na calçada? Isso teria ativado uma trégua em sua mente?Eram muitas questões e nenhuma resposta plausível, mas detive mais reflexões, pois, precisava voltar ao ritmo. Mal sabia eu que aquele dia seria mais sinistro...Na hora do almoço, decidi dar uma esticada até uma loja de departamentos que fica na Praça Mauá. Fui com meu colega Samir, que trabalha comigo no escritório. Baixinho, tinha 23 anos e estava há um ano na empresa.Cabelos ondulados pretos, pele branca, sobrancelhas grossas e com nariz adunco, Samir era de origem libanesa.Decidi ir até lá comprar um CD e dar de presente a Elizabeth. Sabia que não a veria naquela quinta e, talvez, nem sexta ou sábado. Contudo, eu estava tão determinado a encontrar uma brecha nessa agenda, que pensei em deixar algo mais com ela. Então, fomos ao departamento onde ficam os discos.Samir não er
Acordei cedo, como de costume. Olhei pela janela e o tempo continuava tão feio quanto no dia anterior. Antes de começar o dia, refiz meu pensamento e disse a mim mesmo: “tenha calma, será um dia sem ela”.Lembrei-me da camisola e achei-a debaixo do meu edredom. Ainda sentia o perfume de jasmim e o doce cheiro de Elizabeth. Apesar de sua ausência momentânea, eu estava alegre. Tomei um bom banho, me agasalhei bem e fui para o ponto de ônibus. Ao sair, olhei para meu Fusca com ar saudoso...— Ah! Quantas aventuras, não é mesmo, meu companheiro?Disse isso para eu mesmo ouvir, sob o guarda-chuva preto. Rumei para o ponto, que não era longe, apenas um quarteirão de casa. Chovia sem parar, mas essa quinta-feira prometia e eu ainda nem sabia disso...Ao chegar, tinha seis pessoas sob a cobertura, que não era muito grande. Devia ter uns dois metros de comprimento por um de largura. Assim, tive que ficar sob a minha própria proteção.Enquanto aguardava, abaixei-me para olhar as calças e notar q
No relógio digital, sobre um criado-mudo entre a cama branca e a parede igualmente alva, o dígito vermelho indicava 7h e apitou. Abri os olhos de sobressalto, mas eles se ofuscaram com a claridade que atravessava as cortinas brancas, sendo que a janela estava fechada apenas no vidro.Lá fora, o dia parecia mais escuro. Pensei: “meu Deus, hoje tem trampo!” Olhei para o dispositivo que apitava e o desliguei bruscamente. “Como esses aparelhos sofrem”, pensei.Eu nem percebera, mas já estava quase caindo da cama, vazia... Elizabeth? Onde ela foi? Fiz tais questionamentos em minha mente ainda trôpega por acordar tão repentinamente. Passei a mão pelo rosto e olhei em volta, mas nem sinal dela.Comecei então a reparar no quarto branco da minha amada e percebi ser um lugar realmente calmo, de reflexão e paz. Levantei-me e fui ao banheiro onde, ao “consultar” o vaso, não pude evitar olhar para aquela banheira...Sonhei? Foi mesmo real? Produto da minha imaginação? Esfreguei minhas têmporas e me
Ao chegarmos ao quarto, mandou que eu sentasse na poltroninha.— Quer ver TV?Respondi que não, apenas ficaria esperando por ela, que sorriu e beijou-me enquanto ainda estava sentado.— Volto já! — disse ela, se encaminhando para o banheiro.Eu não sabia, mas aquela noite minha fé seria testada em níveis que um homem comum não resistiria à tentação. Ouvi o barulho de água na banheira e enchi o pulmão, observando o teto branco com um belo lustre de três lâmpadas.Começara então o filme “A Última Tentação de Regi”. Analogia idiota, eu sei, mas na minha situação, estava duplamente ruim.Não podia avançar o sinal e, se pudesse, poderia não ser como ela desejara. Fazia um bom tempo que eu não tinha relação sexual. Na verdade, até ali, aos 25 anos, somente em uma ocasião acontecera e fora com aquela “ficante”.Passei a mão pelo meu rosto liso, já que na época não estava de cavanhaque, algo que geralmente eu usava, porém, já fazia um ano que resolvera mudar de visual, ficar mais leve.Então,
Retornamos para o castelo inglês e, ao parar à frente do portão, Elizabeth saiu e abriu-o para que eu pudesse entrar. Eu ia parar o Fusca bem no começo, próximo da entrada, mas fiquei imaginando os vizinhos vendo aquele estranho carro alemão na terra dos Chevrolet´s.Então fui com ele até perto da garagem ao fundo. Elizabeth ficou curiosa e, em vez de ir abrir a porta, veio atrás de mim. Ao sair, eu disse a ela que não achava legal deixá-lo bem na frente, devido aos vizinhos...— Não se preocupe. Aqui ninguém fala com ninguém.Concordei sorrindo, já que imaginara isso mesmo. Então, aproveitei o gancho:— Não sabia que você dirigia.Beth sorriu e respondeu:— Desde os 18 anos, logo que voltei da Inglaterra e entrei na maioridade – essa palavra me fez lembrar-se de Dom Pedro II... – mas nunca quis ter um carro meu.Questionei:— Por quê? Aqui o que mais tem é espaço para carros.Um pouco mais séria, ela me fez uma revelação, outra das que eu tomaria conhecimento naquela noite...— Eu já
Antes de sairmos, ela começou:— Você conversou com a Kelly, não é mesmo?Já acelerando, respondi que sim.— Ela te interrogou?Balancei a cabeça negativamente e respondi:— Tivemos uma boa conversa. Kelly é realmente muito legal e mostrou ser uma pessoa em quem posso confiar.Beth abriu um largo sorriso, demonstrando alívio porque o mal-estar da hora do almoço passara.— Que bom que vocês se entenderam...Então continuei:— Ela sabe...Ela me olhou curiosa e perguntou do que se travava. Respondi que, assim como Ana Maria havia contado sobre mim, também fez o mesmo com Kelly. Elizabeth ficou perplexa.— Eu não disse nada para ela!Resignada, continuou dizendo:— Mas, também não disse para minha mãe comentar qualquer coisa sobre aquela noite, ela estava livre para falar...Contente, falei:— Sei sobre o anjo...Ela denunciou que já sabia apenas em seu olhar preocupado. Afinal, era um elogio da mãe para mim, mesmo que obtido estranhamente, que ela ignorou naquela recepção de hospital. Vi
Rumei para o mesmo supermercado na Zona Noroeste e, no caminho, fiquei pensando como seria aquela noite. Certamente voltaria ao hospital para ficar só um pouquinho com ela, no intervalo, visto que Ana Maria, sedada, já ouvia mais que muita gente. Ri.Lembrei também de Amanda e teria que ir até sua casa para ver como estava. Claro, não era uma prioridade, afinal, ela nunca gostara de mim mesmo... Entretanto, eu gostava da mãe dela e era recíproco, então, devia dar satisfação.Após as compras, fui com as sacolas até o Fusca. Para quem não conhece o popular Volkswagen, porta-malas nunca fora seu forte. Então, coloquei minhas compras no assoalho do lado do passageiro.Meu Deus, por que Ferdinand Porsche não projetara o Fusca com um porta-malas decente? Sem perceber os detalhes, botei-as sobre aquele espaço para as pernas. Então, o que mais poderia dar errado? Bom, lembra-se do lamento dito mais acima? Foi verdadeiro em gênero, número e grau.Parando em casa, desci do carro e peguei minhas
Retornei à “Benê”, porém, no caminho, o celular tocou. Beth perguntara se eu já estava voltando e adicionou:— Então vem logo, pois tenho novidades...Ela parecia contente com algo e uma das novidades me chamaria atenção. Chegando à Sociedade Portuguesa de Beneficência – esse é o “nome completo” do hospital – Beth apareceu na recepção.Abraçamo-nos e pude sentir novamente aquele cheiro inesquecível. Ao beijar-me, seus olhos brilharam e veio a primeira boa notícia:— Minha mãe deve sair amanhã – disse ela, que continuou:— Conversei com os médicos. Eles disseram que ela está bem estável e vão apenas verificar os exames extras que fizeram, pois, os primeiros foram satisfatórios.Sorri de felicidade e agradeci a Deus.— Que ótimo meu amor.Com um largo sorriso, Beth me abraçou novamente e falou que avisara seu pai da novidade e que sua mãe estava conversando com Kelly. Nisso, perguntei rapidamente assustado:— Ela não vai falar de mim?Com ar tranquilo, Beth disse que instruíra Kelly a nã