Antes de sairmos, ela começou:— Você conversou com a Kelly, não é mesmo?Já acelerando, respondi que sim.— Ela te interrogou?Balancei a cabeça negativamente e respondi:— Tivemos uma boa conversa. Kelly é realmente muito legal e mostrou ser uma pessoa em quem posso confiar.Beth abriu um largo sorriso, demonstrando alívio porque o mal-estar da hora do almoço passara.— Que bom que vocês se entenderam...Então continuei:— Ela sabe...Ela me olhou curiosa e perguntou do que se travava. Respondi que, assim como Ana Maria havia contado sobre mim, também fez o mesmo com Kelly. Elizabeth ficou perplexa.— Eu não disse nada para ela!Resignada, continuou dizendo:— Mas, também não disse para minha mãe comentar qualquer coisa sobre aquela noite, ela estava livre para falar...Contente, falei:— Sei sobre o anjo...Ela denunciou que já sabia apenas em seu olhar preocupado. Afinal, era um elogio da mãe para mim, mesmo que obtido estranhamente, que ela ignorou naquela recepção de hospital. Vi
Retornamos para o castelo inglês e, ao parar à frente do portão, Elizabeth saiu e abriu-o para que eu pudesse entrar. Eu ia parar o Fusca bem no começo, próximo da entrada, mas fiquei imaginando os vizinhos vendo aquele estranho carro alemão na terra dos Chevrolet´s.Então fui com ele até perto da garagem ao fundo. Elizabeth ficou curiosa e, em vez de ir abrir a porta, veio atrás de mim. Ao sair, eu disse a ela que não achava legal deixá-lo bem na frente, devido aos vizinhos...— Não se preocupe. Aqui ninguém fala com ninguém.Concordei sorrindo, já que imaginara isso mesmo. Então, aproveitei o gancho:— Não sabia que você dirigia.Beth sorriu e respondeu:— Desde os 18 anos, logo que voltei da Inglaterra e entrei na maioridade – essa palavra me fez lembrar-se de Dom Pedro II... – mas nunca quis ter um carro meu.Questionei:— Por quê? Aqui o que mais tem é espaço para carros.Um pouco mais séria, ela me fez uma revelação, outra das que eu tomaria conhecimento naquela noite...— Eu já
Ao chegarmos ao quarto, mandou que eu sentasse na poltroninha.— Quer ver TV?Respondi que não, apenas ficaria esperando por ela, que sorriu e beijou-me enquanto ainda estava sentado.— Volto já! — disse ela, se encaminhando para o banheiro.Eu não sabia, mas aquela noite minha fé seria testada em níveis que um homem comum não resistiria à tentação. Ouvi o barulho de água na banheira e enchi o pulmão, observando o teto branco com um belo lustre de três lâmpadas.Começara então o filme “A Última Tentação de Regi”. Analogia idiota, eu sei, mas na minha situação, estava duplamente ruim.Não podia avançar o sinal e, se pudesse, poderia não ser como ela desejara. Fazia um bom tempo que eu não tinha relação sexual. Na verdade, até ali, aos 25 anos, somente em uma ocasião acontecera e fora com aquela “ficante”.Passei a mão pelo meu rosto liso, já que na época não estava de cavanhaque, algo que geralmente eu usava, porém, já fazia um ano que resolvera mudar de visual, ficar mais leve.Então,
No relógio digital, sobre um criado-mudo entre a cama branca e a parede igualmente alva, o dígito vermelho indicava 7h e apitou. Abri os olhos de sobressalto, mas eles se ofuscaram com a claridade que atravessava as cortinas brancas, sendo que a janela estava fechada apenas no vidro.Lá fora, o dia parecia mais escuro. Pensei: “meu Deus, hoje tem trampo!” Olhei para o dispositivo que apitava e o desliguei bruscamente. “Como esses aparelhos sofrem”, pensei.Eu nem percebera, mas já estava quase caindo da cama, vazia... Elizabeth? Onde ela foi? Fiz tais questionamentos em minha mente ainda trôpega por acordar tão repentinamente. Passei a mão pelo rosto e olhei em volta, mas nem sinal dela.Comecei então a reparar no quarto branco da minha amada e percebi ser um lugar realmente calmo, de reflexão e paz. Levantei-me e fui ao banheiro onde, ao “consultar” o vaso, não pude evitar olhar para aquela banheira...Sonhei? Foi mesmo real? Produto da minha imaginação? Esfreguei minhas têmporas e me
Acordei cedo, como de costume. Olhei pela janela e o tempo continuava tão feio quanto no dia anterior. Antes de começar o dia, refiz meu pensamento e disse a mim mesmo: “tenha calma, será um dia sem ela”.Lembrei-me da camisola e achei-a debaixo do meu edredom. Ainda sentia o perfume de jasmim e o doce cheiro de Elizabeth. Apesar de sua ausência momentânea, eu estava alegre. Tomei um bom banho, me agasalhei bem e fui para o ponto de ônibus. Ao sair, olhei para meu Fusca com ar saudoso...— Ah! Quantas aventuras, não é mesmo, meu companheiro?Disse isso para eu mesmo ouvir, sob o guarda-chuva preto. Rumei para o ponto, que não era longe, apenas um quarteirão de casa. Chovia sem parar, mas essa quinta-feira prometia e eu ainda nem sabia disso...Ao chegar, tinha seis pessoas sob a cobertura, que não era muito grande. Devia ter uns dois metros de comprimento por um de largura. Assim, tive que ficar sob a minha própria proteção.Enquanto aguardava, abaixei-me para olhar as calças e notar q
Desci e fui para meu trabalho, mas pensando no que estaria acontecendo com Amanda. Por que mudara de atitude para comigo? Teria sido porque eu a ajudara na calçada? Isso teria ativado uma trégua em sua mente?Eram muitas questões e nenhuma resposta plausível, mas detive mais reflexões, pois, precisava voltar ao ritmo. Mal sabia eu que aquele dia seria mais sinistro...Na hora do almoço, decidi dar uma esticada até uma loja de departamentos que fica na Praça Mauá. Fui com meu colega Samir, que trabalha comigo no escritório. Baixinho, tinha 23 anos e estava há um ano na empresa.Cabelos ondulados pretos, pele branca, sobrancelhas grossas e com nariz adunco, Samir era de origem libanesa.Decidi ir até lá comprar um CD e dar de presente a Elizabeth. Sabia que não a veria naquela quinta e, talvez, nem sexta ou sábado. Contudo, eu estava tão determinado a encontrar uma brecha nessa agenda, que pensei em deixar algo mais com ela. Então, fomos ao departamento onde ficam os discos.Samir não er
Pensei: “quem será uma hora dessas”? O relógio marcava 20h50 e percebi que não dei conta da hora, notando que Elizabeth ainda não ligara. O que teria acontecido? Ela não demorava tanto assim. E o portão?Em minha cabeça surgiram dois assuntos que eu precisava resolver logo. Um deles era mais urgente: o portão. Enquanto ia pelo pequeno corredor, comecei a tentar resolver esse primeiro assunto.Elizabeth? Sim, sem dúvidas, seria maravilhoso. Amanda? O que ela iria querer falar uma hora dessas? Certamente ainda estaria grudada ao Erick. Então parei a marcha e questionei novamente: se não for nenhuma das duas ou talvez a dona Letícia, então só pode ser Sofia... Ela tem o meu endereço.Continuei, mas me preparando para o pior e, ao abrir o portão, me deparo com meu irmão Rogério e sua esposa Kátia. Mais alto que eu, devia estar com 1,83 m. Ele tinha pele mais clara que a minha. Careca, usava geralmente um cavanhaque, tipo “sedutor”. Diferente de mim, Rogério tinha os olhos bem claros, como
Será possível que duas pessoas desconhecidas se encontrem duas vezes no mesmo dia, mas em situações diferentes? Até pode, desde que estejam fisicamente ali. Contudo, nessa história, ambientada em 2003, algo que parece improvável e, dependendo do ponto de vista, até impossível, aconteceu. Mas isso não é o ponto em questão. Com tantas “coincidências” que surgem após o insólito encontro, Reginaldo e Elizabeth acreditam mesmo que estão destinados a ficar juntos. Será? Que “força” é essa, narrada por ele, que manipula para que tudo gire em torno deles? Será amor ou outra coisa? Como ele mesmo diz: “Não existe coincidência”. Sim, há algo no ar e não é o acaso. Existe, mas ele não compreende. Coisas do passado que manipulam o futuro. Futuro? Haverá algum? Reginaldo, sem sorte com as mulheres, se deparara com uma verdadeira “ninfa”, que lhe apareceu de uma forma pouco ortodoxa. Ele se pergunta: “O que ela viu em mim?”. Elizabeth, que já