Pensei: “quem será uma hora dessas”? O relógio marcava 20h50 e percebi que não dei conta da hora, notando que Elizabeth ainda não ligara. O que teria acontecido? Ela não demorava tanto assim. E o portão?Em minha cabeça surgiram dois assuntos que eu precisava resolver logo. Um deles era mais urgente: o portão. Enquanto ia pelo pequeno corredor, comecei a tentar resolver esse primeiro assunto.Elizabeth? Sim, sem dúvidas, seria maravilhoso. Amanda? O que ela iria querer falar uma hora dessas? Certamente ainda estaria grudada ao Erick. Então parei a marcha e questionei novamente: se não for nenhuma das duas ou talvez a dona Letícia, então só pode ser Sofia... Ela tem o meu endereço.Continuei, mas me preparando para o pior e, ao abrir o portão, me deparo com meu irmão Rogério e sua esposa Kátia. Mais alto que eu, devia estar com 1,83 m. Ele tinha pele mais clara que a minha. Careca, usava geralmente um cavanhaque, tipo “sedutor”. Diferente de mim, Rogério tinha os olhos bem claros, como
Será possível que duas pessoas desconhecidas se encontrem duas vezes no mesmo dia, mas em situações diferentes? Até pode, desde que estejam fisicamente ali. Contudo, nessa história, ambientada em 2003, algo que parece improvável e, dependendo do ponto de vista, até impossível, aconteceu. Mas isso não é o ponto em questão. Com tantas “coincidências” que surgem após o insólito encontro, Reginaldo e Elizabeth acreditam mesmo que estão destinados a ficar juntos. Será? Que “força” é essa, narrada por ele, que manipula para que tudo gire em torno deles? Será amor ou outra coisa? Como ele mesmo diz: “Não existe coincidência”. Sim, há algo no ar e não é o acaso. Existe, mas ele não compreende. Coisas do passado que manipulam o futuro. Futuro? Haverá algum? Reginaldo, sem sorte com as mulheres, se deparara com uma verdadeira “ninfa”, que lhe apareceu de uma forma pouco ortodoxa. Ele se pergunta: “O que ela viu em mim?”. Elizabeth, que já
A sala era grande, coisa de casa antiga. Ao redor, móveis que pareciam ter saído de um museu. Na parede, sem janelas, havia uma lareira, contudo, não fazia tanto frio assim e muito menos nevava em Santos. “Isso é coisa de inglês”, pensei.Havia ali três sofás de couro marrom e uma mesa de centro, em mogno. Nela havia um cavalo de bronze, que mais tarde eu saberia de onde viera e por qual motivo estava ali. Com um blazer preto, me senti elegante, porém, aquele momento era para mim crucial, independente de como estivesse vestido, em frente à tal lareira.Ao lado direito, numa das poltronas, Joseph parecia um lorde inglês. Alto e loiro, com traços britânicos, olhava para seu copo de uísque escocês com duas pedras de gelo. Meditava talvez sobre o que esperar de mais um “intruso”.Do outro lado, sua mulher, Ana Maria, me olhava com ar de interrogação. Parecia querer ler a minha mente, saber de minhas reais intenções e eu tinha mais medo dela que do “sir”. Em pé, ao lado dela, uma pessoa me
Amanheceu tão rápido quanto eu podia imaginar. Nem bem acordei e o corpo queria ficar na cama, mas meu espírito dizia para levantar, e rápido! Diante do meu guarda-roupa cheio de histórias não contadas, me deparei com aquele blazer preto que usei no casamento do meu irmão, o Rogério.Tinha uns dois anos que não o usava. Nunca achei necessário, mas a ocasião exigia uma boa apresentação.— Imbecil! — disse a mim mesmo.Para que tudo isso? Vai que ela simplesmente não goste de você? Sim, havia o risco de não dar certo.Todo esporte-fino e com o perfume Quasar no pescoço, poderia ir mais seguro. Ao chegar ao escritório, logo notaram meu visual “diferente”. Isabela, a secretária de cabelos curtos bem penteados e olhos castanhos, me fitou com curiosidade. Passei por ela e por outros que se entreolharam.Natália, com seus 30 e poucos anos, chegou até mim na velocidade “5” e interrogou logo de cara. A alta e magra, com seus seios pequenos e quadril fino, olhou para este e disparou:— Regi, hoj
Aquele abraço foi maravilhoso e, automaticamente, veio o primeiro beijo. Perdi-me em seus lábios e na pele macia junto à minha, que era tão suave quanto seda.Notei que os olhos dela estavam marejados… Mas não rolou nenhuma lágrima. Após beijos posteriores, nos refizemos. Agora, não largaria aquela mulher por nada! Nem por ninguém!Comecei a acariciar seus sedosos cabelos, como aqueles das embalagens de xampu. Num segundo abraço, ela observou o bonde.— Vamos dar uma volta de bonde?Elizabeth, com um ânimo renovado, queria aproveitar cada minuto daquele encontro. Ela não era mais a “loira do trólebus”, mas uma nova mulher. Minha mulher! Tinha de ser minha!Nunca tive tanta determinação por algo ou alguém como naquele momento. Tomamos o bonde turístico num tour pelo centro.Seus cabelos dançavam ao sabor do vento junto à janela, enquanto me olhava com um misto de paixão e agradecimento. Eu a salvara de si mesma. Naquele banco de madeira do bonde histórico de Santos — era o verde, o “cam
Após o banho, notei que precisaria atualizar meu guarda-roupa. Pensei: “segunda-feira vou passar o cartão”. Renovar meu armário era obrigatório! Mulheres são observadoras e boas de memória, e Elizabeth certamente passaria em revista a tropa… Sorri por este pensamento. Troquei o Quasar pelo Senhor N e me arrependeria disso. Com meus 1,79 m e pesando 78 kg, não era um cara muito magro e nem muito gordo. O bom é que não tinha barriga.— Obrigado senhor, por morar sozinho e ser mal alimentado! — comemorei.Com meu cabelo crespo ao nível quase um, olhos castanhos claros e pele escura, bem parda, estava pronto para zarpar. Portando minha correntinha banhada a ouro e o “R” estilizado no pescoço, parti. Peguei a chave do Fusca e saí pelo longo corredor.Domingo, certamente, Amanda estaria do lado de fora de casa, esfregando seu corpo sarado no Erick, o “fortão”. Amanda não era novinha, tinha 23 anos, sendo mais velha até que minha rainha Elizabeth. Certamente, naquele momento, os dois me fit
Elizabeth entrou em casa e observou cada detalhe com curiosidade. No pequeno rack da sala, junto da janela de cortinas curtas e amarelas, ela divisou algumas fotos minhas.Por sorte, eu não cultuava o passado de tentativas fracassadas com mulheres e não havia imagens delas. Não havia o que questionar e Beth gostou do que viu. Casinha pequena, mas bem arrumada e limpa, coisa que boa parte dos solteiros tem dificuldade em lidar.Perguntou dos meus pais e contei um pouco sobre eles. Falei que meu pai se chamava Carlos Alberto e minha mãe Maria de Fátima. Já aposentado das Docas, ele tinha três filhos, sendo eu caçula, assim como Beth.Robson, o mais velho, tinha três filhos. Rogério era o segundo, casado há dois anos e sem filhos. Não mencionei seus sobrenomes como Beth havia feito.Essa era a criação que ela tivera, onde se identificava as pessoas por nome e sobrenome. Sei lá, soou meio burguês… No entanto, não era culpa dela e sim do sistema onde cresceu.Ao chegar à cozinha, Beth logo
Segunda. Meu dia começou cedo, como sempre. Tomei um justo banho, mas muito a contragosto, visto desejar nunca mais perder aquele cheiro dela em mim... Estava disposto a começar a semana diferente. Longe do passado, que morrera naquela manhã de sábado.Queria rever muitas coisas e ter todo o tempo do mundo para ela. Quando estava no ônibus, meu telefone tocou. Claro, quem mais poderia ser? Beth deu-me um “bom dia” caloroso! Fiquei feliz de ouvir a voz dela.Não coincidentemente, ela também estava num ônibus, indo para seu trabalho. Elizabeth trabalhava no escritório de uma construtora. Seu pai, Joseph, já fora sócio de lá, mas se retirou há alguns anos.Ainda assim, ele tinha influência na empresa e colocou sua filha na parte administrativa. Beth não quis seguir a carreira do pai, preferiu a parte burocrática da coisa... Não conseguimos nos encontrar, infelizmente.Chegando ao trabalho, Natália, aquela alta que eu já mencionei, se aproximou curiosa e lançou:— Como foi? Deu certo?Resp