Elizabeth entrou em casa e observou cada detalhe com curiosidade. No pequeno rack da sala, junto da janela de cortinas curtas e amarelas, ela divisou algumas fotos minhas.Por sorte, eu não cultuava o passado de tentativas fracassadas com mulheres e não havia imagens delas. Não havia o que questionar e Beth gostou do que viu. Casinha pequena, mas bem arrumada e limpa, coisa que boa parte dos solteiros tem dificuldade em lidar.Perguntou dos meus pais e contei um pouco sobre eles. Falei que meu pai se chamava Carlos Alberto e minha mãe Maria de Fátima. Já aposentado das Docas, ele tinha três filhos, sendo eu caçula, assim como Beth.Robson, o mais velho, tinha três filhos. Rogério era o segundo, casado há dois anos e sem filhos. Não mencionei seus sobrenomes como Beth havia feito.Essa era a criação que ela tivera, onde se identificava as pessoas por nome e sobrenome. Sei lá, soou meio burguês… No entanto, não era culpa dela e sim do sistema onde cresceu.Ao chegar à cozinha, Beth logo
Segunda. Meu dia começou cedo, como sempre. Tomei um justo banho, mas muito a contragosto, visto desejar nunca mais perder aquele cheiro dela em mim... Estava disposto a começar a semana diferente. Longe do passado, que morrera naquela manhã de sábado.Queria rever muitas coisas e ter todo o tempo do mundo para ela. Quando estava no ônibus, meu telefone tocou. Claro, quem mais poderia ser? Beth deu-me um “bom dia” caloroso! Fiquei feliz de ouvir a voz dela.Não coincidentemente, ela também estava num ônibus, indo para seu trabalho. Elizabeth trabalhava no escritório de uma construtora. Seu pai, Joseph, já fora sócio de lá, mas se retirou há alguns anos.Ainda assim, ele tinha influência na empresa e colocou sua filha na parte administrativa. Beth não quis seguir a carreira do pai, preferiu a parte burocrática da coisa... Não conseguimos nos encontrar, infelizmente.Chegando ao trabalho, Natália, aquela alta que eu já mencionei, se aproximou curiosa e lançou:— Como foi? Deu certo?Resp
Aquela semana começara bem e terminaria ainda melhor. Contudo, não seria nada fácil atravessar aquele período. Terça, fim da tarde, era hora de supermercado. Ela havia prometido que faria as compras comigo.Fomos até minha casa para pegar o Fusca e ter onde trazer as sacolas. Mais uma vez, Amanda estava ausente e eu agradeci. Entramos, mas não ficamos nem 5 minutos.Ao sairmos, o seu Moacir chegava com seu Honda Civic 95 de cor azul. Parei para falar com ele, que estava com dona Letícia e apresentei Elizabeth a eles. Moacir elogiou respeitosamente a beleza daquela mulher:— Bonita você, hein?Dona Letícia não perdeu a chance e brincou com o marido:— Sim, ela é bem bonita até, mas eu que sou a linda aqui, viu?Todos rimos naquele momento. Beth gostara do casal e me confidenciaria isso depois. Moacir e Letícia formavam um belo casal. Ele, já com seus 52 anos, era sete anos mais velho, mas ainda era um garotão.Contudo, os cabelos grisalhos já se faziam presentes e a pele branca, avermel
Desci para o estacionamento, peguei meu Fusca e fui até um supermercado que ficava aberto 24 horas. Quase sem ninguém – pois passava da 1h da manhã – busquei o que ela havia pedido e senti que meu estômago queria algo também. Então, dobrei a compra.Voltando para o hospital, observei a cidade de Santos silenciosa... Com os cruzamentos vazios naquele canal 2 - um dos sete principais que cortam o lado leste da cidade – me perdi numa reflexão...Qual seria meu futuro com Elizabeth? Fiquei imaginando que teríamos uma vida tranquila. Pelo menos em relação aos nossos sentimentos mútuos. Já as demais coisas da nossa breve existência, infelizmente, nós estaríamos sujeitos...Conduzindo meu Fusca pela Bernardino de Campos, observei o velocímetro de iluminação verde e grafismos clássicos, de origem alemã. Com o vento frio entrando pela janela, meu pensamento estava longe...De repente, surge alguém na frente do carro! Tomei um susto enorme e, instintivamente, pressionei o pedal do freio com forç
Não sei o que pensaria Sir Joseph se me visse em seu “castelo”. Sua casa era grande e antiga, parecia dos anos 30, mas a arquitetura tinha influência inglesa.O muro de pedra com mais ou menos 1,5 m de altura tinha grades grossas de ferro esverdeado e um portão pequeno em forma de arco, no lado esquerdo da entrada. No direito, um portão grande, também em forma de arco. Em todos eles, lanças pontiagudas tentavam desanimar o alheio...Na entrada dos carros havia um pavimento de pedra que servia de caminho para os veículos e ia dar na garagem ao fundo. Ela parecia grande e achei caberem uns dois carros lá.A frente harmônica daquela casa “inglesa” tinha uma pequena escada de pedra branca com pequenos corrimãos em granito. Um arco romano dava as boas-vindas na pequena área e as imensas paredes era cor caqui, mas já pediam um retoque.A janela da sala era de ferro e avançava para fora, coberta por vidros multifacetados. Ela, de certa forma, ampliava mais a área da sala. Mais acima, as janel
Após alguns minutos, nos refizemos e, alegremente, tomamos aquele café, que ainda estava quente. Beth pegou algumas bolachas no armário e comemos. Ela parecia cansada e, na verdade, estava duplamente esgotada, visto que a mãe estava no hospital ainda e acabara de me revelar seu segredo.Elizabeth decidiu ir dormir e eu liguei na empresa, dizendo que iria faltar. Dei uma desculpa de que havia passado a noite no hospital como acompanhante e, se fosse o caso, que poderiam descontar o dia.Havia falado com a secretária, mas eu sabia que meu chefe compreenderia. Gregório era um cara novo, tinha apenas 30 anos e já era gerente. Muitas vezes ele me disse para não ser tão preso com as mulheres...Ficava em outra sala e, por isso, no dia em que cheguei “chique” ele não viu de cara. Disse até que me daria uma folga se fosse o caso... Solteiro, Gregório gosta de curtir a vida, sem compromissos. É a vida que ele escolheu, uma totalmente diferente da minha.Subimos a escada de madeira em forma de c
Enquanto comíamos um risoto de frango preparado pela “chef” Elizabeth, contei como nos encontramos... Da forma como narrei, Kelly ficou impressionada e isso, de certa forma, me deu pontos positivos em sua classificação pessoal.Com espanto, a amiga de Elizabeth ouvia atentamente aos detalhes que eu mencionava e que tornavam aquele encontro virtualmente impossível de acontecer.Não sou matemático e estou longe disso, mas a probabilidade de adivinhar que Elizabeth entraria naquele chat de internet era realmente muito, mas muito pequena. Havia 29 salas, cada uma com 30 pessoas em média e, daí, basta imaginar as possibilidades.Isso sem contar que foi no mesmo dia que eu a vi pela primeira vez, pois tinha certeza de nunca ter visto Elizabeth antes...Em certo ponto, Kelly começou a olhar para a amiga com olhos diferentes. Aquela impressão de inconformismo inicial parecia ter se dissipado, ainda mais que a ruiva crescera com Beth e sabia exatamente como ela era.Talvez em sua mente imaginas
Retornei à “Benê”, porém, no caminho, o celular tocou. Beth perguntara se eu já estava voltando e adicionou:— Então vem logo, pois tenho novidades...Ela parecia contente com algo e uma das novidades me chamaria atenção. Chegando à Sociedade Portuguesa de Beneficência – esse é o “nome completo” do hospital – Beth apareceu na recepção.Abraçamo-nos e pude sentir novamente aquele cheiro inesquecível. Ao beijar-me, seus olhos brilharam e veio a primeira boa notícia:— Minha mãe deve sair amanhã – disse ela, que continuou:— Conversei com os médicos. Eles disseram que ela está bem estável e vão apenas verificar os exames extras que fizeram, pois, os primeiros foram satisfatórios.Sorri de felicidade e agradeci a Deus.— Que ótimo meu amor.Com um largo sorriso, Beth me abraçou novamente e falou que avisara seu pai da novidade e que sua mãe estava conversando com Kelly. Nisso, perguntei rapidamente assustado:— Ela não vai falar de mim?Com ar tranquilo, Beth disse que instruíra Kelly a nã