Seul. A palavra soava como um sussurro gélido, um contraste brutal com o calor sufocante das lembranças que Sofia tentava, em vão, deixar para trás. Vinte e cinco anos, uma idade que deveria vibrar com a promessa de um futuro radiante, mas que para ela carregava a amarga poeira da traição. O golpe duplo, a facada nas costas desferida pelo ex-namorado e pela melhor amiga, havia deixado cicatrizes profundas em sua alma, cicatrizes que a acompanhavam na longa viagem até a Coreia do Sul. Seus cabelos cacheados, negros como a noite mais escura, emolduravam um rosto que refletia a força e a resiliência de uma guerreira. A força de uma mulher negra que havia se erguido da pobreza da favela, conquistando dois idiomas e um diploma universitário com suor e determinação. Mas os olhos, ah, os olhos… neles ainda pairava a sombra da desilusão, a frieza de um coração fechado para o amor, blindado contra novas decepções. A entrevista na renomada empresa de tecnologia era mais do que uma oportunida
O elevador subiu silenciosamente, transportando Sofia para o topo do imponente edifício. O nervosismo, contido até então, voltou com força total. Era seu primeiro dia como secretária do Sr. Arthur, e a responsabilidade era imensa. A imagem da Senhorita Amanda, com seu sorriso confiante e olhar perspicaz, voltou à sua memória, acalmando um pouco a agitação interior. Ao sair do elevador, Sofia foi recebida por um corredor amplo e silencioso, decorado com obras de arte abstratas e plantas exóticas que contrastavam com a frieza do aço e do vidro. O escritório do Sr. Arthur era uma suíte espaçosa e moderna, com duas amplas janelas: uma oferecia uma vista panorâmica da cidade de Seul, um mar de prédios e luzes cintilantes; a outra, uma visão serena e relaxante do jardim exuberante que emoldurava o edifício, um oásis de verde em meio à selva de concreto. Uma secretária auxiliar, uma mulher de meia idade com um ar profissional e eficiente, a recebeu com um sorriso discreto e a conduziu até
A semana havia sido um turbilhão de emoções para Sofia. A adaptação à nova vida em Seul, o trabalho desafiador na empresa de Arthur, e a alegria das novas amizades com Angel, Kim e Jun, haviam se mesclado em uma experiência intensa e transformadora. Mas, por trás do sorriso e da aparente felicidade, Sofia carregava consigo as marcas do passado. A lembrança da traição do ex-namorado, a dor da cumplicidade da amiga, a opressão e o controle que sofrera, ainda ecoavam em seu coração, como sombras teimosas que se recusavam a se dissipar. A distância da família, a saudade da vida que deixara para trás no Brasil, tudo isso contribuía para uma sensação de melancolia que, por vezes, a invadia como uma onda implacável. A pressão do novo emprego, a necessidade de provar seu valor em um ambiente competitivo, tudo isso adicionava mais peso à sua jornada. Em um final de semana, buscando um escape da rotina intensa, o grupo decidiu fazer uma viagem à praia. Angel, sempre animada e cheia de energia,
A exaustão tomou conta de Sofia como uma onda gigante. Cada tarefa era um fardo, cada e-mail uma obrigação, cada documento uma montanha a ser escalada. A pressão imensa do trabalho, a responsabilidade de preparar tudo para a chegada de Arthur, a deixavam sem fôlego. Não havia ameaças, apenas a imensa quantidade de trabalho a ser feito, papeis a serem recolhidos de todas as áreas para apresentar ao Sr Choi A mensagem de Arthur, uma simples notificação de sua volta, sem qualquer tom agressivo, a havia lançado em uma frenética corrida contra o tempo. Dormir? Comer? Respirar fundo? Luxos inimagináveis. A pressão era uma força física, sufocando-a, deixando-a sem ar. A declaração de Jun, a vulnerabilidade em suas palavras, o pedido de desculpas subsequente – tudo isso ficou perdido no turbilhão. A primeira mensagem de jun, uma declaração novamente, vibrou em seu celular, mas a exaustão foi mais forte. A segunda mensagem, um pedido de desculpas, também passou despercebida. Sofia estava em
O ambiente da festa pulsava ao redor deles, mas para Kim e Angel, só existia o momento presente. Kim, com um misto de nervosismo e paixão nos olhos, aproximou-se de Angel. Ele hesitou por um instante, a mão tremendo levemente enquanto buscava o ponto certo para começar, a timidez era uma novidade para ele que sempre foi tão extrovertido e com palavras na ponta da língua, quase gaguejando ele começa a falar, e toma coragem, depois das primeiras palavras não tem como voltar atrás — Olha, eu não sei se este é o momento ideal, mas não consigo mais guardar isso para mim. Eu preciso te dizer como me sinto. Assim como Jun se declarou para Sofia, mesmo que as coisas não tenham dado certo entre eles, eu resolvi me abrir para você, porque a ideia de perder essa chance me assusta demais. Angel, eu não consigo esconder mais. Ultimamente, nossa proximidade tem sido intensa, e isso despertou em mim um sentimento profundo, algo que vai muito além de uma simples atração. Eu não sei se você sente o
Capítulo 6: O relógio marcava 13h50. Sofia podia sentir o suor frio escorrendo pelas têmporas. Três dias. Três dias de uma maratona frenética para deixar a sala presidencial impecável para a volta de Arthur Choi. A tela trincada do seu celular, um reflexo da fragilidade que sentia por dentro, era um lembrete constante do caos dos últimos dias. A ausência das mensagens de Jun pesava, mas a prioridade era a iminente chegada do CEO. Ela relatou cada detalhe dos últimos dias à Senhorita Amanda, a secretária-chefe, enquanto finalizava a revisão dos documentos. A organização meticulosa da papelada, a limpeza impecável da sala, a confirmação de todas as agendas – tudo estava pronto. A tensão era palpável, um nó na garganta que a impedia de respirar fundo. — ...e então, Senhorita Amanda, verifiquei todas as reservas de voos e reuniões... tudo está na agenda digital, como o senhor Choi prefere. — Sofia concluiu, sentindo a voz trêmula. De repente, o elevador sibilou, abrindo-se com um estro
A porta do escritório se abriu, revelando Amanda, que saía da sala de Arthur. Amanda parecia um pouco nervosa, mas com um leve sorriso nos lábios. Sofia, sentada em sua mesa, organizando alguns papéis, levantou o olhar, curiosa. Sofia: Aconteceu algo, Amanda? Amanda: (Suspira) Foi uma longa história, Sofia. O senhor Choi teve problemas com o carro no caminho, tentou consertar e se sujou todo..tentou te ligar porém não conseguiu,e ficou com muito ódio e sem bateria,disse que mandou varias mensagens Sofia tenta explicar porém amanda interrompe e diz que explicou que havia pegado o celular com sofia,e esqueceu de devolver, nesta hora ela rira o celular do bolso e entrega em suas mãos Sofia: Nossa... o rigada amanda... E ele? Como ele está? Amanda: Irritado, no começo. Mas depois que eu expliquei, ele se acalmou um pouco. Ainda está visivelmente frustrado, mas... Ele parece diferente. Mais... observador. Sofia assentiu, ainda processando a informação. A imagem de Arthur, o CEO
Arthur: (Após um longo silêncio, finalmente encontrando a voz, ainda um pouco rouca pela surpresa) Sofia... eu... me desculpe. Eu não esperava... Eu estava... (gesticula sem jeito em direção à toalha) Sofia: (Ainda corada, mas encontrando um pouco de firmeza na voz) Não se preocupe, senhor Choi. Eu... eu estava apenas... (procura uma desculpa, sem sucesso) Eu... eu já ia embora. Arthur: (Ajeitando a toalha, visivelmente envergonhado) Sim, claro. Eu... devo ter me esquecido completamente da hora. Sofia: (Tentando parecer natural, apesar do tremor em suas mãos) Tudo bem. Boa noite, senhor Choi. Arthur: (Assentindo, ainda sem jeito) Boa noite, Sofia. E... desculpe mais uma vez pela... (ele hesita, sem conseguir encontrar uma palavra adequada para descrever a situação) ... inconveniência. Sofia se vira e sai rapidamente da sala, sentindo o alívio de estar longe daquela situação embaraçosa, mas também uma estranha sensação de inquietação. A imagem de Arthur, em sua vulnerabilidade