A exaustão tomou conta de Sofia como uma onda gigante. Cada tarefa era um fardo, cada e-mail uma obrigação, cada documento uma montanha a ser escalada. A pressão imensa do trabalho, a responsabilidade de preparar tudo para a chegada de Arthur, a deixavam sem fôlego. Não havia ameaças, apenas a imensa quantidade de trabalho a ser feito, papeis a serem recolhidos de todas as áreas para apresentar ao Sr Choi
A mensagem de Arthur, uma simples notificação de sua volta, sem qualquer tom agressivo, a havia lançado em uma frenética corrida contra o tempo. Dormir? Comer? Respirar fundo? Luxos inimagináveis. A pressão era uma força física, sufocando-a, deixando-a sem ar. A declaração de Jun, a vulnerabilidade em suas palavras, o pedido de desculpas subsequente – tudo isso ficou perdido no turbilhão. A primeira mensagem dele, a declaração novamente, vibrou em seu celular, mas a exaustão foi mais forte. A segunda, um pedido de desculpas, também passou despercebida. Sofia estava em um estado de alerta máximo, cada segundo dedicado à organização da sala de Arthur, cada minuto uma corrida contra o relógio. No meio dessa correria frenética, o desastre aconteceu. O celular de Sofia caiu. A tela trincada, um espelho de sua própria fragilidade naquele momento. A queda não foi apenas física; foi um símbolo da implosão de sua vida pessoal, esmagada pela pressão profissional. O celular, seu portal para o mundo, agora era um pedaço inútil de tecnologia. Com ele, foram os contatos, as mensagens, o histórico de conversas – tudo perdido no vazio digital. Restou apenas o aparelho provisório, uma caixa vazia que recebia chamadas e mensagens, mas não preservava o passado. Não havia como acessar as mensagens de Jun, nem responder ao seu pedido de desculpas. Ela precisava ligar para as pessoas, reconstruir os contatos, organizar a papelada – tudo isso com um celular provisório, sem histórico de chamadas ou mensagens. Os números de telefone, os nomes, tudo perdido em meio aos fragmentos da tela quebrada. O conserto levaria três dias, um prazo que parecia uma eternidade em sua situação atual. A correria continuou, agora ainda mais frenética. A lista de contatos do celular provisório era seu único guia, um lembrete dos afazeres que precisavam ser feitos antes da chegada de Arthur. Cada ligação era uma batalha, cada e-mail uma corrida de obstáculos. A mensagem de Arthur, simples e direta, ainda assim ecoava em sua mente, um lembrete constante da imensa pressão que sentia. A exaustão física e mental a esmagava, e ela mal conseguia processar a avalanche de tarefas que a aguardavam. Exaustas, Sofia e Angel resolveram sair para jantar e tomar um vinho. Era uma tentativa de aliviar a tensão acumulada, um respiro antes da tempestade que se aproximava. A conversa fluiu naturalmente, entre risos e confissões, um bálsamo para as almas cansadas. Mas o descanso foi breve. De volta ao apartamento, o peso da exaustão e dos problemas retornou. Angel, então, fez sua confissão: "Prima, enquanto a gente estava tomando vinho... eu percebi... eu acho que estou apaixonada pelo Kim. E não sei se ele sente o mesmo." A confissão de Angel foi sussurrada, quase um segredo compartilhado entre duas almas. Sofia ficou surpresa, mas também sentiu uma onda de compreensão. A exaustão, a pressão, a confusão... tudo isso era compartilhado entre elas, de formas diferentes, mas com a mesma intensidade. A conversa sobre Jun ficou em segundo plano, substituída pela necessidade de apoiar Angel em sua descoberta, em sua jornada emocional. O cansaço físico e mental persistia, mas a conexão entre as primas, a empatia compartilhada, criou um espaço de conforto e compreensão, um refúgio em meio à tempestade. A mensagem de Arthur, agora um detalhe menor em um quadro maior, que incluía a fragilidade e a complexidade das relações humanas, e a busca por conexão em meio ao caos da vida moderna. A noite, apesar do início relaxante, terminou com a mesma intensidade emocional do dia.O domingo amanheceu ensolarado, um convite irresistível para a praia. Sofia e Angel, precisando desesperadamente de um descanso, decidiram aproveitar o dia livre. Kim e Jun se juntaram a elas, o clima levemente tenso pela confusão emocional dos dias anteriores. Na areia, enquanto os rapazes jogavam vôlei, Sofia e Angel aproveitaram para colocar as coisas em pratos limpos. Angel, apesar do clima romântico que se instalou entre ela e Kim – os abraços constantes, a proximidade, o jeito como se olhavam – ainda não conseguia se declarar. A insegurança a paralisava, a vergonha a prendia em um ciclo de desejos não expressos. Kim, sentiu-se mal, um enjoo súbito o fez cair na água, interrompendo a conversa. Enquanto isso, Sofia tentava explicar a situação para Jun. -Jun, eu preciso que você entenda. Eu gosto muito de você, tenho um sentimento forte, mas não é amor. Não consigo sentir aquela conexão, aquela centelha que você merece. O que aconteceu no passado me deixou… marcada. Eu te valo
O ambiente da festa pulsava ao redor deles, mas para Kim e Angel, só existia o momento presente. Kim, com um misto de nervosismo e paixão nos olhos, aproximou-se de Angel. Ele hesitou por um instante, a mão tremendo levemente enquanto buscava o ponto certo para começar, a timidez era uma novidade para ele que sempre foi tão extrovertido e com palavras na ponta da língua, quase gaguejando ele começa a falar, e toma coragem, depois das primeiras palavras não tem como voltar atrás — Olha, eu não sei se este é o momento ideal, mas não consigo mais guardar isso para mim. Eu preciso te dizer como me sinto. Assim como Jun se declarou para Sofia, mesmo que as coisas não tenham dado certo entre eles, eu resolvi me abrir para você, porque a ideia de perder essa chance me assusta demais. Angel, eu não consigo esconder mais. Ultimamente, nossa proximidade tem sido intensa, e isso despertou em mim um sentimento profundo, algo que vai muito além de uma simples atração. Eu não sei se você se
Kim e Angel chegaram ao restaurante, um lugar aconchegante com iluminação suave. Enquanto esperavam a mesa, uma figura familiar surgiu na entrada: Akari, um antigo amor de Kim. O sorriso de Akari era brilhante, mas Angel sentiu um aperto no peito ao perceber o olhar insistente que ela lançava em Kim. — Kim! Que surpresa te encontrar aqui! — exclamou Akari, se aproximando da mesa. — Não te vejo há anos! — Akari… Olá, — respondeu Kim, um pouco sem jeito. — Angel, essa é Akari, uma amiga de longa data. Akari, essa é Angel. — Prazer em conhecê-la, — disse Akari, lançando um olhar superficial para Angel, que sentiu um nó na garganta. O tom de Akari era frio, quase arrogante. — Imagino que vocês estejam comemorando algo especial? — Estamos sim, — respondeu Kim, envolvendo a mão de Angel em um gesto reconfortante. Angel sentiu um calor reconfortante diante da demonstração de Kim. — É um momento importante para nós dois. Akari sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Ela com
Seul. A palavra soava como um sussurro gélido, um contraste brutal com o calor sufocante das lembranças que Sofia tentava, em vão, deixar para trás. Vinte e cinco anos, uma idade que deveria vibrar com a promessa de um futuro radiante, mas que para ela carregava a amarga poeira da traição. O golpe duplo, a facada nas costas desferida pelo ex-namorado e pela melhor amiga, havia deixado cicatrizes profundas em sua alma, cicatrizes que a acompanhavam na longa viagem até a Coreia do Sul. Seus cabelos cacheados, negros como a noite mais escura, emolduravam um rosto que refletia a força e a resiliência de uma guerreira. A força de uma mulher negra que havia se erguido da pobreza da favela, conquistando dois idiomas e um diploma universitário com suor e determinação. Mas os olhos, ah, os olhos… neles ainda pairava a sombra da desilusão, a frieza de um coração fechado para o amor, blindado contra novas decepções. A entrevista na renomada empresa de tecnologia era mais do que uma oportunida
O prédio de vidro se erguia imponente, um monólito de vidro e aço refletindo o céu azul de Seul. um símbolo de poder e sucesso da empresa de tecnologia Um jardim exuberante emoldurava a entrada, um contraste elegante entre a natureza e a tecnologia de ponta que pulsava dentro. Sofia, ainda carregava o peso das lembranças dolorosas, mas com o coração batendo forte no peito, atravessou os portões, sentindo uma mistura de expectativa e nervosismo. aos poucos ela ia deixando os pesadelos do passado A entrevista para a vaga de recepcionista na renomada empresa era apenas o primeiro passo, mas a oportunidade parecia promissora. O hall de entrada, moderno e minimalista, a envolveu com sua elegância discreta. Uma recepcionista impecável a conduziu até a sala de entrevistas, onde a Senhorita Amanda, uma mulher de quarenta anos com um olhar perspicaz e um sorriso gentil, a aguardava. A conversa fluiu naturalmente, misturando assuntos profissionais e pessoais, criando uma atmosfera de c
O elevador subiu silenciosamente, transportando Sofia para o topo do imponente edifício. O nervosismo, contido até então, voltou com força total. Era seu primeiro dia como secretária do Sr. Arthur, e a responsabilidade era imensa. A imagem da Senhorita Amanda, com seu sorriso confiante e olhar perspicaz, voltou à sua memória, acalmando um pouco a agitação interior. Ao sair do elevador, Sofia foi recebida por um corredor amplo e silencioso, decorado com obras de arte abstratas e plantas exóticas que contrastavam com a frieza do aço e do vidro. O escritório do Sr. Arthur era uma suíte espaçosa e moderna, com duas amplas janelas: uma oferecia uma vista panorâmica da cidade de Seul, um mar de prédios e luzes cintilantes; a outra, uma visão serena e relaxante do jardim exuberante que emoldurava o edifício, um oásis de verde em meio à selva de concreto. Uma secretária auxiliar, uma mulher de meia idade com um ar profissional e eficiente, a recebeu com um sorriso discreto e a conduziu at
Após um dia frenético, a companhia de Angel foi um bálsamo para Sofia. O encontro não foi em uma balada agitada, como Angel inicialmente sugeriu, mas em um cinema aconchegante, seguido por sorvete artesanal em uma sorveteria charmosa. A atmosfera descontraída permitiu que Sofia relaxasse, compartilhando suas experiências e emoções com a prima e seus amigos. Angel apresentou Sofia a um grupo animado e diversificado. Havia alguns homens atraentes entre eles, alguns com atitudes mais ousadas, outros mais respeitosos. Entre eles, um em particular chamou a atenção de Sofia: Kim Junmyeon, um jovem arquiteto com um sorriso encantador e um olhar gentil. Kim era diferente dos outros; havia nele uma inteligência e uma sensibilidade que a cativou imediatamente. A conversa fluiu naturalmente entre eles, e logo Sofia se sentia à vontade na companhia de Kim e Angel, o trio se encaixando com uma facilidade surpreendente. Enquanto saboreavam seus sorvetes, Sofia começou a contar sua história, a
A semana havia sido um turbilhão de emoções para Sofia. A adaptação à nova vida em Seul, o trabalho desafiador na empresa de Arthur, e a alegria das novas amizades com Angel, Kim e Jun, haviam se mesclado em uma experiência intensa e transformadora. Mas, por trás do sorriso e da aparente felicidade, Sofia carregava consigo as marcas do passado. A lembrança da traição do ex-namorado, a dor da cumplicidade da amiga, a opressão e o controle que sofrera, ainda ecoavam em seu coração, como sombras teimosas que se recusavam a se dissipar. A distância da família, a saudade da vida que deixara para trás no Brasil, tudo isso contribuía para uma sensação de melancolia que, por vezes, a invadia como uma onda implacável. A pressão do novo emprego, a necessidade de provar seu valor em um ambiente competitivo, tudo isso adicionava mais peso à sua jornada. Em um final de semana, buscando um escape da rotina intensa, o grupo decidiu fazer uma viagem à praia. Angel, sempre animada e cheia de energ