Seul. A palavra soava como um sussurro gélido, um contraste brutal com o calor sufocante das lembranças que Sofia tentava, em vão, deixar para trás. Vinte e cinco anos, uma idade que deveria vibrar com a promessa de um futuro radiante, mas que para ela carregava a amarga poeira da traição. O golpe duplo, a facada nas costas desferida pelo ex-namorado e pela melhor amiga, havia deixado cicatrizes profundas em sua alma, cicatrizes que a acompanhavam na longa viagem até a Coreia do Sul. Seus cabelos cacheados, negros como a noite mais escura, emolduravam um rosto que refletia a força e a resiliência de uma guerreira. A força de uma mulher negra que havia se erguido da pobreza da favela, conquistando dois idiomas e um diploma universitário com suor e determinação. Mas os olhos, ah, os olhos… neles ainda pairava a sombra da desilusão, a frieza de um coração fechado para o amor, blindado contra novas decepções. A entrevista na renomada empresa de tecnologia era mais do que uma oportunida
O prédio de vidro se erguia imponente, um monólito de vidro e aço refletindo o céu azul de Seul. um símbolo de poder e sucesso da empresa de tecnologia Um jardim exuberante emoldurava a entrada, um contraste elegante entre a natureza e a tecnologia de ponta que pulsava dentro. Sofia, ainda carregava o peso das lembranças dolorosas, mas com o coração batendo forte no peito, atravessou os portões, sentindo uma mistura de expectativa e nervosismo. aos poucos ela ia deixando os pesadelos do passado A entrevista para a vaga de recepcionista na renomada empresa era apenas o primeiro passo, mas a oportunidade parecia promissora. O hall de entrada, moderno e minimalista, a envolveu com sua elegância discreta. Uma recepcionista impecável a conduziu até a sala de entrevistas, onde a Senhorita Amanda, uma mulher de quarenta anos com um olhar perspicaz e um sorriso gentil, a aguardava. A conversa fluiu naturalmente, misturando assuntos profissionais e pessoais, criando uma atmosfera de c
O elevador subiu silenciosamente, transportando Sofia para o topo do imponente edifício. O nervosismo, contido até então, voltou com força total. Era seu primeiro dia como secretária do Sr. Arthur, e a responsabilidade era imensa. A imagem da Senhorita Amanda, com seu sorriso confiante e olhar perspicaz, voltou à sua memória, acalmando um pouco a agitação interior. Ao sair do elevador, Sofia foi recebida por um corredor amplo e silencioso, decorado com obras de arte abstratas e plantas exóticas que contrastavam com a frieza do aço e do vidro. O escritório do Sr. Arthur era uma suíte espaçosa e moderna, com duas amplas janelas: uma oferecia uma vista panorâmica da cidade de Seul, um mar de prédios e luzes cintilantes; a outra, uma visão serena e relaxante do jardim exuberante que emoldurava o edifício, um oásis de verde em meio à selva de concreto. Uma secretária auxiliar, uma mulher de meia idade com um ar profissional e eficiente, a recebeu com um sorriso discreto e a conduziu at
Após um dia frenético, a companhia de Angel foi um bálsamo para Sofia. O encontro não foi em uma balada agitada, como Angel inicialmente sugeriu, mas em um cinema aconchegante, seguido por sorvete artesanal em uma sorveteria charmosa. A atmosfera descontraída permitiu que Sofia relaxasse, compartilhando suas experiências e emoções com a prima e seus amigos. Angel apresentou Sofia a um grupo animado e diversificado. Havia alguns homens atraentes entre eles, alguns com atitudes mais ousadas, outros mais respeitosos. Entre eles, um em particular chamou a atenção de Sofia: Kim Junmyeon, um jovem arquiteto com um sorriso encantador e um olhar gentil. Kim era diferente dos outros; havia nele uma inteligência e uma sensibilidade que a cativou imediatamente. A conversa fluiu naturalmente entre eles, e logo Sofia se sentia à vontade na companhia de Kim e Angel, o trio se encaixando com uma facilidade surpreendente. Enquanto saboreavam seus sorvetes, Sofia começou a contar sua história, a
A semana havia sido um turbilhão de emoções para Sofia. A adaptação à nova vida em Seul, o trabalho desafiador na empresa de Arthur, e a alegria das novas amizades com Angel, Kim e Jun, haviam se mesclado em uma experiência intensa e transformadora. Mas, por trás do sorriso e da aparente felicidade, Sofia carregava consigo as marcas do passado. A lembrança da traição do ex-namorado, a dor da cumplicidade da amiga, a opressão e o controle que sofrera, ainda ecoavam em seu coração, como sombras teimosas que se recusavam a se dissipar. A distância da família, a saudade da vida que deixara para trás no Brasil, tudo isso contribuía para uma sensação de melancolia que, por vezes, a invadia como uma onda implacável. A pressão do novo emprego, a necessidade de provar seu valor em um ambiente competitivo, tudo isso adicionava mais peso à sua jornada. Em um final de semana, buscando um escape da rotina intensa, o grupo decidiu fazer uma viagem à praia. Angel, sempre animada e cheia de energ
A mensagem vibrou no celular de Sofia, interrompendo abruptamente a atmosfera romântica deixada pela declaração de Jun. As palavras na tela eram curtas e diretas, mas carregavam um peso que transcendia as letras impressas. Um comando, mais do que um pedido, ressoando com a autoridade inquestionável de um CEO acostumado a ser obedecido: "Estou chegando de viagem em 4 dias. Peça para que arrumem minha sala, deixem tudo limpo e a papelada em ordem. Tenho muita coisa para fazer e muita coisa para pôr em dia." A assinatura eletrônica: Arthur choi. A ficha de Sofia caiu lentamente. Arthur, o CEO da empresa, o homem que ela ainda não havia visto pessoalmente em seus 30 dias de trabalho, havia lhe enviado uma mensagem. A palidez tomou conta de seu rosto. Normalmente, Amanda, que estava sendo sua assistente temporária ate a chegada do Sr Choi, era a intermediária de todas as comunicações com o CEO, que estava viajando havia três meses. A ausência de contato de Arthur não era incomum, mas
A exaustão tomou conta de Sofia como uma onda gigante. Cada tarefa era um fardo, cada e-mail uma obrigação, cada documento uma montanha a ser escalada. A pressão imensa do trabalho, a responsabilidade de preparar tudo para a chegada de Arthur, a deixavam sem fôlego. Não havia ameaças, apenas a imensa quantidade de trabalho a ser feito, papeis a serem recolhidos de todas as áreas para apresentar ao Sr Choi A mensagem de Arthur, uma simples notificação de sua volta, sem qualquer tom agressivo, a havia lançado em uma frenética corrida contra o tempo. Dormir? Comer? Respirar fundo? Luxos inimagináveis. A pressão era uma força física, sufocando-a, deixando-a sem ar. A declaração de Jun, a vulnerabilidade em suas palavras, o pedido de desculpas subsequente – tudo isso ficou perdido no turbilhão. A primeira mensagem dele, a declaração novamente, vibrou em seu celular, mas a exaustão foi mais forte. A segunda, um pedido de desculpas, também passou despercebida. Sofia estava em um estado de a
O domingo amanheceu ensolarado, um convite irresistível para a praia. Sofia e Angel, precisando desesperadamente de um descanso, decidiram aproveitar o dia livre. Kim e Jun se juntaram a elas, o clima levemente tenso pela confusão emocional dos dias anteriores. Na areia, enquanto os rapazes jogavam vôlei, Sofia e Angel aproveitaram para colocar as coisas em pratos limpos. Angel, apesar do clima romântico que se instalou entre ela e Kim – os abraços constantes, a proximidade, o jeito como se olhavam – ainda não conseguia se declarar. A insegurança a paralisava, a vergonha a prendia em um ciclo de desejos não expressos. Kim, sentiu-se mal, um enjoo súbito o fez cair na água, interrompendo a conversa. Enquanto isso, Sofia tentava explicar a situação para Jun. -Jun, eu preciso que você entenda. Eu gosto muito de você, tenho um sentimento forte, mas não é amor. Não consigo sentir aquela conexão, aquela centelha que você merece. O que aconteceu no passado me deixou… marcada. Eu te valo