Enrica passou a vida inteira fugindo. Seu cheiro não é como o de qualquer ômega—ele é letal. Onde quer que passe, alfas enlouquecem, perdem o controle e se tornam bestas sem consciência. Alguns até matam por ela. Para sobreviver, ela esconde sua verdadeira natureza, mascarando seu aroma com um colar que mantém sua existência segura. Mas tudo começa a desmoronar. Seu corpo está mudando. O colar enfraquecendo. E alfas estão começando a notar. Então, ele aparece. Um lobo negro, colossal e ferido, caído na neve como um presságio. Contra todo instinto de autopreservação, Enrica o leva para dentro de sua cabana—sem saber que acaba de salvar Caleb Vartheos, o príncipe herdeiro e Alfa Maldito de sua matilha. Um alfa puro. Um monstro temido pelo reino. Mas enquanto todos os outros alfas enlouquecem com seu cheiro, Caleb sente outra coisa. Ela o acalma. Pela primeira vez em sua vida, a fera dentro dele encontra paz. E isso só o torna ainda mais perigoso. Agora, enquanto segredos são revelados e forças maiores conspiram para separá-los, Caleb e Enrica se veem presos em um jogo mortal de desejo, instinto e poder. Ele a quer. Ele a reivindicará. Mas será que ela sobreviverá ao Alfa que ninguém jamais conseguiu domar?
Leer másPOV CALEBEla pediu. E o mundo parou.O sangue em minhas veias rugiu. Como se o próprio lobo em mim despertasse com um uivo surdo, feroz, primitivo. Cada fibra do meu corpo gritou para obedecer. Para tomá-la. Para marcá-la como minha.Mas eu travei.A respiração ficou presa. As mãos ainda estavam em sua cintura, mas rígidas. O olhar dela era um convite… e um salto no abismo.— Enrica…Minha voz saiu rouca. Quase irreconhecível até para mim.— Você não tem noção do que está me pedindo — murmurei, o peito subindo e descendo com esforço. — A marca… ela não é só uma mordida. É vínculo. Sangue. Alma. Dor. Desejo. É para sempre.Ela não piscou.— Eu sei — disse, e seus dedos tocaram meu rosto com a mesma firmeza de antes. — E eu escolho você, Caleb. Escolhi quando cuidei de você naquela noite. Escolhi quando não corri. E escolho agora. Porque você também me trouxe de volta.O lobo em mim parou de lutar.Ele se ajoelhou dentro de mim. Silencioso. Submisso. Como se reconhecesse a fêmea que o
POV ENRICA— E o que é isso? Encontro secreto ou grupo de leitura esotérica? — Oliver disse enquanto passava as mãos pelos livros espalhados na mesa.— Vai embora, alfa — Alicia respondeu, sem paciência. — Você já atrasa bastante a evolução humana, não atrasa nossos estudos também.— Que hostilidade… — ele entrou e puxou uma cadeira, se jogando nela com descaso. — E quando vai parar de me chamar de Alfa?— Você é um.Oliver bufou.— Enrica já chama Caleb pelo nome. Por que você não pode fazer o mesmo?— O quê? — disse sentindo o rubor subir pelo pescoço e ele deu uma risadinha.O tanto que Alicia revirava os olhos, parecia que eles iriam saltar das órbitas.— Você quer que eu chame o futuro rei pelo nome?— Não ele!Samuel suspirou.— O que faz aqui, Oliver?— Senti sua falta, conselheiro. Estava com saudade das suas teorias impossíveis.— Se continuar falando, vai sentir saudade do maxilar também — respondeu Samuel, sem nem disfarçar a irritação.— Até tu, Brutus?— Vocês dois discut
POV ENRICAPassei o restante do dia na biblioteca com Alicia. Entre livros, mapas e pergaminhos, deixamos o tempo escorrer com mais lanches do que descobertas. A conversa ia e vinha, às vezes descontraída, às vezes intensa. Mas servia para manter meu coração sob controle.Quando o sol começou a baixar, Alicia fechou o último tomo com um suspiro.— Você precisa descansar — disse ela, estalando os dedos e se espreguiçando. — Vai acabar sonhando com palavras antigas se continuar.— Eu podia ficar mais um pouco… — comentei, mordendo o lábio.— Só se quiser atrapalhar — retrucou, com um sorriso debochado. — Vai, vai. Amanhã tem mais. E eu preciso de um tempo longe de você. Tô ficando mole demais.Ri e aceitei. Saí da biblioteca com passos lentos, voltando ao quarto que agora era… meu. Ou dele? Ou nosso? Não sei.Os guardas me seguiram como sombras, junto com duas empregadas que não saíam do meu encalço. O tempo todo perguntando se eu precisava de algo, se queria mais travesseiros, se desej
POV CALEBO som de passos leves ecoou pela biblioteca, quase abafado pelas prateleiras e corredores de pedra. Um guarda surgiu, parando respeitosamente na entrada do corredor. Seu olhar me encontrou com discrição, e eu entendi imediatamente que algo exigia minha presença.Me afastei dos outros e me aproximei do homem, que se curvou ligeiramente.— Alteza. O general Anthony solicita sua presença para revisar os últimos movimentos táticos. Disse que os mapas e relatórios estão prontos.Assenti, sentindo o peso do dever voltar a se acomodar sobre meus ombros.— Diga a ele que estou a caminho. — Me virei de volta para o grupo. — Preciso retornar aos preparativos.Samuel se adiantou.— Vou com você.Neguei com a cabeça.— Fique. Continue ajudando Alicia e Enrica. Quero que descubram tudo o que puderem. Isso é importante.Ele assentiu, ainda contrariado. Meus olhos pousaram em Enrica, e minha expressão suavizou. Ela parecia preocupada, as mãos se entrelaçando nervosamente.— Você está segur
POV CALEBA biblioteca do castelo era um relicário de segredos. Prateleiras tão altas que tocavam o teto abobadado, escadas móveis presas por trilhos de ferro. O cheiro de tempo impregnava tudo — pergaminho, cera de vela, poeira sagrada. Era o lugar perfeito para esconder verdades que ninguém mais queria encarar.Samuel estava sentado de braços cruzados, encarando Alicia com um olhar cético, enquanto ela apontava para algo aberto diante deles, em um dos livros.— Eu não estou inventando — Alicia insistia, os olhos azuis faiscando. — Tá escrito aqui, você que não quer aceitar.— Não é de você que eu duvido — Samuel respondeu, seco. — É do que esse livro insinua.O embate parou assim que perceberam nossa presença. Alicia ergueu os olhos e veio direto até Enrica, completamente alheia à minha presença.— Você tá bem? — perguntou, os olhos cheios de preocupação.— Sim — ela respondeu, soltando minha mão com certa hesitação.A ausência do toque dela foi mais incômoda do que eu esperava. Ela
POV CALEBMinha boca ainda repousava sobre a dela, faminta, entregue. O gosto de Enrica era doce, mas havia algo selvagem e cru também. Algo que me fazia perder a noção do tempo, do lugar, de mim.Meus dedos subiram por sua cintura, contornando suas costelas, sentindo a pele quente sob o tecido fino do vestido. Ela não recuou. Pelo contrário — se aproximou mais, seus dedos cravando levemente nos meus ombros. Seu cheiro me envolveu, adocicado, viciante, antigo. Como se uma floresta tivesse decidido respirar apenas para mim.Meu corpo inteiro gritou por mais. Minha garganta emitiu um rosnado baixo, instintivo, e eu senti quando o lobo em mim pediu. Pediu para marcá-la. Para tomá-la. Para torná-la minha. Ali. Agora. Ela não resistiria. Eu sentia. Ela deixaria. E era isso que me assustava.Porque não era a hora.Afastei meu rosto com esforço, os olhos ainda fechados, a respiração descompassada. Minha testa encostou na dela. Enrica arfava, confusa. Quando abri os olhos, vi o brilho de ince
POV CALEBVer Enrica desabar diante de mim foi como ouvir o som de um espelho se partindo por dentro.A dor dela era minha. Os traumas, as fugas, os gritos calados. Tudo me atingia como se fosse meu, e talvez… sempre tivesse sido. Eu queria tocá-la, enxugar suas lágrimas, envolvê-la com meu corpo inteiro até que o mundo esquecesse de doer para ela. Mas hesitei. Minhas mãos pairaram no ar, vazias. Como se eu não tivesse o direito.Sentei à frente dela. Minhas pernas dobradas, os cotovelos apoiados nos joelhos. A distância entre nós parecia um abismo.— Eu também tenho fantasmas, Enrica — murmurei, a voz rouca. — E eles ainda me caçam, todas as noites.Ela ergueu os olhos inchados para mim. O brilho molhado do verde me desmontou. Eu continuei:— Não sou o príncipe perfeito. Nem o lobo que todos acham que posso controlar. — Fechei os olhos por um segundo. — Quando eu tinha dez anos, tive minha primeira transformação. Não foi como acontece com os outros. Minha pele queimava. Meus ossos es
POV ENRICAMeus dedos se fecharam discretamente sobre a rosa enquanto o silêncio se estendia entre nós. As palavras de Caleb ainda ecoavam, impregnadas na minha pele como uma marca que eu não sabia se queria apagar.“Eu destruiria o mundo por você.”Foi como se um peso antigo voltasse a pressionar meu peito. Porque eu sabia o que o mundo fazia quando se movia por minha causa. Quantos já tinham sangrado. Quantos enlouqueceram. Aquilo não era romântico, não era poético. Era um lembrete. Do que eu era. Do que o meu cheiro podia provocar.Engoli seco. A garganta arranhava.Caleb pareceu notar. O brilho intenso dos olhos dele suavizou, e a linha da mandíbula se desfez um pouco da tensão.— Enrica — ele disse, a voz mais calma. — Me desculpe. Eu não quis assustar você. Não foi por impulso. Nem por instinto. Eu só…Ele passou a mão pelos cabelos e respirou fundo.— Eu sei o que suas experiências te ensinaram. E não quero ser mais um que usa a força ou o instinto como justificativa. Quando di
POV ENRICAA brisa que soprava pela sacada era fria, mas não incômoda. Meus olhos se perderam no jardim abaixo, onde as sombras das árvores se alongavam com o fim do dia.O ar tinha cheiro de terra úmida e de silêncio. Apoiei os braços no parapeito, sentindo o coração bater mais lento agora. Mas não calmo.Eu estava no quarto dele. No castelo dele. Depois de tudo.Parte de mim queria se convencer de que aquilo era só mais um esconderijo. Só mais uma pausa antes da próxima fuga. Mas… não era. Nada na presença de Caleb era temporário. E talvez esse fosse o verdadeiro problema.Fechei os olhos e inspirei fundo.Confiar nele era um risco. Um risco estúpido. E ainda assim… ele me carregou até aqui. Me protegeu. Se ajoelhou diante de todos por mim. Aquele não era o comportamento de um príncipe que só queria posse.Mas será que era o bastante? Uma batida suave na porta me tirou dos devaneios.— Com licença? — A voz feminina veio delicada. Quando me virei, uma mulher de aparência gentil estav