O Alfa Sombrio e a Ômega Proibida
O Alfa Sombrio e a Ômega Proibida
Por: Pann Ludovica
1: O Uivo na Escuridão

POV ENRICA

O vento cortante soprava contra a cabana, uivando como uma entidade raivosa, mas foi outro som que me despertou no meio da noite. Um uivo, longo e carregado de um sofrimento que eu não sabia nomear. Não era apenas um chamado ou um aviso, era um lamento profundo, um grito de dor rasgando a escuridão.

Sentei-me na cama, ofegante. Meu coração martelava forte contra o peito, a sensação de inquietação se espalhando por minhas veias como veneno. A lareira ainda crepitava, lançando sombras trêmulas contra as paredes de madeira. Mas o calor não era suficiente para abafar o arrepio que se arrastou pela minha pele.

Outro uivo ecoou, mais fraco dessa vez, como se a própria noite estivesse engolindo sua força. Engoli em seco. Algo estava errado.

Levantei-me sem hesitação, puxando um casaco grosso e calçando minhas botas. O medo sussurrava para eu ignorar aquele chamado, mas a curiosidade sempre foi um veneno que corriam em minhas veias. E eu precisava ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo.

Abri a porta da cabana, e o ar gélido me atingiu com violência. A neve reluzia sob a luz pálida da lua, um cenário de beleza fria e implacável. Mas o que me atraiu não foi a paisagem congelada.

E sim, a presença ali.

Avancei com cautela, os flocos rangendo sob minhas botas. O som do meu próprio coração parecia ensurdecedor no silêncio da floresta adormecida. Até que o vi.

Uma silhueta colossal jazia caída na neve, um vulto escuro contrastando contra a brancura imaculada. Um lobo. Mas não qualquer lobo.

Minha respiração ficou presa na garganta.

Ele era enorme, maior do que qualquer criatura que eu já vira. Seu pelo negro parecia absorver a luz ao invés de refleti-la, como uma sombra viva. O peito largo subia e descia com esforço, e conforme me aproximei, pude ver o tremor sutil que percorria seu corpo.

Um rosnado fraco reverberou no ar quando dei mais um passo. O som gutural e ameaçador fez meus instintos gritarem para que eu recuasse. Mas meus pés se fincaram no chão.

Ele estava ferido. Não precisava ser um especialista para perceber isso. Seu corpo se contraía de dor, e a neve ao redor dele estava manchada com pequenas marcas escuras. Sangue.

Um arrepio percorreu minha espinha. Algo ou alguém o havia atacado. Mas o quê? Ou quem?

Eu deveria me afastar. Voltar para a cabana, fingir que nunca o vi e seguir minha vida. Mas meus olhos se prenderam aos dele, e qualquer pensamento racional desapareceu.

Escarlate.

Seus olhos eram de um vermelho hipnotizante, como brasas acesas em meio à escuridão. Profundos, intensos, e... inteligentes.

Aquela não era a expressão vazia de um animal selvagem. Havia algo ali. Algo que me fez sentir como se estivesse sendo puxada para um abismo sem volta.

Ele rosnou de novo, um som arrastado e rouco, mas sem força para me afastar.

E então, mesmo contra todo senso lógico, eu ajoelhei ao seu lado, minha respiração pesada e os dedos trêmulos se estendendo, hesitantes, para tocá-lo.

Meus olhos percorreram seu corpo e então vi. Duas flechas. Uma cravada em seu ombro, a outra entre suas costelas. O sangue encharcava o pelo negro, tingindo a neve ao redor.

— Você está ferido… — murmurei, minha voz saindo baixa, quase inaudível. Eu não sabia se ele podia entender, mas continuei. — Eu não vou machucá-lo.

Ele me observava, sua respiração arfada, quente contra o ar gelado. Seus olhos cintilavam em alerta, um animal encurralado ponderando suas opções. Talvez pensasse que eu fosse outro caçador.

— Você precisa confiar em mim. — Minha voz era um sussurro, tentando quebrar a barreira de medo e desconfiança entre nós.

Ele não reagiu com agressividade, mas também não se moveu. Apenas observou, seus olhos cravados nos meus.

Foi então que ouvi. Passos. Rápidos. Determinados. Se aproximando. Meu coração disparou. Eles estavam vindo terminar o serviço. Olhei para o lobo. Eu não podia deixá-lo ali. Se ficasse, ele morreria.

— Você precisa se mover. — Me inclinei, tentando convencê-lo. — Se me deixar ajudá-lo, eu posso levá-lo para um lugar seguro.

O lobo hesitou. Vi o conflito em seus olhos, o instinto lhe dizendo para fugir, mas seu corpo ferido não lhe daria essa chance. E ele sabia disso.

A decisão veio em um suspiro pesado. Com esforço, ele tentou se erguer, suas patas vacilando. Eu o apoiei como pude, sentindo a força crua em seu corpo, mesmo debilitado.

Cada segundo contava. Se não saíssemos dali agora, não haveria mais chance. Corremos. Ou melhor, tropeçamos, cambaleamos, mas seguimos em frente. Meu corpo queimava com o esforço de sustentá-lo, mas eu não pararia. Os passos se tornaram mais próximos. 

— Anda! — sussurrei para o lobo, apoiando seu corpo contra o meu enquanto ele mancava.

Cada passo era uma luta contra o tempo e o medo. O lobo negro mancava ao meu lado, sua respiração pesada e quente contra o frio cortante da noite. O som dos passos se aproximava, e meu coração batia em um frenesi descontrolado. Não podíamos parar. Não podíamos hesitar.

A cabana surgiu diante de nós como uma promessa silenciosa de abrigo. As janelas pequenas e a madeira gasta mal pareciam oferecer segurança, mas era tudo o que tínhamos. A dor cravava garras afiadas em meus músculos enquanto eu forçava meu corpo a seguir em frente, sustentando o peso da criatura ferida.

Alcançamos a porta, e com um último esforço, empurrei o lobo para dentro. Girei a chave no trinco no instante em que um estalo do lado de fora me fez prender a respiração. A madeira vibrou quando algo — ou alguém — colidiu contra ela.

Segurei firme a maçaneta, como se pudesse impedir qualquer invasão apenas com minha vontade. O silêncio que se seguiu foi sufocante. Depois, passos se afastando, lentamente, como se soubessem que não podiam entrar.

Meus músculos cederam, e me virei para encarar a criatura que acabara de salvar.

O lobo negro tombou no chão, ofegante. Seus olhos — predadores, mas opacos de dor — me observavam, ainda inseguros. O calor da lareira crepitando parecia um convite ao descanso, mas sua postura tensa mostrava que ele ainda não decidira se eu era um refúgio ou uma nova ameaça.

— Você está seguro agora — murmurei, sem esperar que ele entendesse as palavras, apenas a intenção nelas.

Ele piscou devagar, a respiração desacelerando à medida que a exaustão vencia sua desconfiança. Aos poucos, suas pálpebras pesadas cederam, e o corpo tenso se rendeu ao sono.

*****************

Olá, meus amores!

Para melhorar a experiência de leitura e tornar os capítulos mais leves e fáceis de acompanhar, fiz uma divisão técnica nos capítulos da história.

O conteúdo continua exatamente o mesmo, apenas dividido em partes menores. Nenhum trecho foi excluído ou alterado, apenas reestruturado para melhorar o ritmo da leitura.

Por isso, pode ser que os capítulos que você já leu estejam com nova numeração.

Agradeço imensamente a compreensão e o apoio de vocês. E preparem-se, porque as próximas cenas vão pegar fogo!

Com carinho,

Pann Ludovica

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App