POV ENRICA
O vento cortante soprava contra a cabana, uivando como uma entidade raivosa, mas foi outro som que me despertou no meio da noite. Um uivo, longo e carregado de um sofrimento que eu não sabia nomear. Não era apenas um chamado ou um aviso, era um lamento profundo, um grito de dor rasgando a escuridão.
Sentei-me na cama, ofegante. Meu coração martelava forte contra o peito, a sensação de inquietação se espalhando por minhas veias como veneno. A lareira ainda crepitava, lançando sombras trêmulas contra as paredes de madeira. Mas o calor não era suficiente para abafar o arrepio que se arrastou pela minha pele.
Outro uivo ecoou, mais fraco dessa vez, como se a própria noite estivesse engolindo sua força. Engoli em seco. Algo estava errado.
Levantei-me sem hesitação, puxando um casaco grosso e calçando minhas botas. O medo sussurrava para eu ignorar aquele chamado, mas a curiosidade sempre foi um veneno que corriam em minhas veias. E eu precisava ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo.
Abri a porta da cabana, e o ar gélido me atingiu com violência. A neve reluzia sob a luz pálida da lua, um cenário de beleza fria e implacável. Mas o que me atraiu não foi a paisagem congelada.
E sim, a presença ali.
Avancei com cautela, os flocos rangendo sob minhas botas. O som do meu próprio coração parecia ensurdecedor no silêncio da floresta adormecida. Até que o vi.
Uma silhueta colossal jazia caída na neve, um vulto escuro contrastando contra a brancura imaculada. Um lobo. Mas não qualquer lobo.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Ele era enorme, maior do que qualquer criatura que eu já vira. Seu pelo negro parecia absorver a luz ao invés de refleti-la, como uma sombra viva. O peito largo subia e descia com esforço, e conforme me aproximei, pude ver o tremor sutil que percorria seu corpo.
Um rosnado fraco reverberou no ar quando dei mais um passo. O som gutural e ameaçador fez meus instintos gritarem para que eu recuasse. Mas meus pés se fincaram no chão.
Ele estava ferido. Não precisava ser um especialista para perceber isso. Seu corpo se contraía de dor, e a neve ao redor dele estava manchada com pequenas marcas escuras. Sangue.
Um arrepio percorreu minha espinha. Algo ou alguém o havia atacado. Mas o quê? Ou quem?
Eu deveria me afastar. Voltar para a cabana, fingir que nunca o vi e seguir minha vida. Mas meus olhos se prenderam aos dele, e qualquer pensamento racional desapareceu.
Escarlate.
Seus olhos eram de um vermelho hipnotizante, como brasas acesas em meio à escuridão. Profundos, intensos, e... inteligentes.
Aquela não era a expressão vazia de um animal selvagem. Havia algo ali. Algo que me fez sentir como se estivesse sendo puxada para um abismo sem volta.
Ele rosnou de novo, um som arrastado e rouco, mas sem força para me afastar.
E então, mesmo contra todo senso lógico, eu ajoelhei ao seu lado, minha respiração pesada e os dedos trêmulos se estendendo, hesitantes, para tocá-lo.
Meus olhos percorreram seu corpo e então vi. Duas flechas. Uma cravada em seu ombro, a outra entre suas costelas. O sangue encharcava o pelo negro, tingindo a neve ao redor.
— Você está ferido… — murmurei, minha voz saindo baixa, quase inaudível. Eu não sabia se ele podia entender, mas continuei. — Eu não vou machucá-lo.
Ele me observava, sua respiração arfada, quente contra o ar gelado. Seus olhos cintilavam em alerta, um animal encurralado ponderando suas opções. Talvez pensasse que eu fosse outro caçador.
— Você precisa confiar em mim. — Minha voz era um sussurro, tentando quebrar a barreira de medo e desconfiança entre nós.
Ele não reagiu com agressividade, mas também não se moveu. Apenas observou, seus olhos cravados nos meus.
Foi então que ouvi. Passos. Rápidos. Determinados. Se aproximando.
Meu coração disparou. Eles estavam vindo terminar o serviço.
Olhei para o lobo. Eu não podia deixá-lo ali. Se ficasse, ele morreria.
— Você precisa se mover. — Me inclinei, tentando convencê-lo. — Se me deixar ajudá-lo, eu posso levá-lo para um lugar seguro.
O lobo hesitou. Vi o conflito em seus olhos, o instinto lhe dizendo para fugir, mas seu corpo ferido não lhe daria essa chance. E ele sabia disso.
A decisão veio em um suspiro pesado. Com esforço, ele tentou se erguer, suas patas vacilando. Eu o apoiei como pude, sentindo a força crua em seu corpo, mesmo debilitado.
Cada segundo contava. Se não saíssemos dali agora, não haveria mais chance. Corremos. Ou melhor, tropeçamos, cambaleamos, mas seguimos em frente. Meu corpo queimava com o esforço de sustentá-lo, mas eu não pararia. Os passos se tornaram mais próximos.
— Anda! — sussurrei para o lobo, apoiando seu corpo contra o meu enquanto ele mancava.
Cada passo era uma luta contra o tempo e o medo. O lobo negro mancava ao meu lado, sua respiração pesada e quente contra o frio cortante da noite. O som dos passos se aproximava, e meu coração batia em um frenesi descontrolado. Não podíamos parar. Não podíamos hesitar.
A cabana surgiu diante de nós como uma promessa silenciosa de abrigo. As janelas pequenas e a madeira gasta mal pareciam oferecer segurança, mas era tudo o que tínhamos. A dor cravava garras afiadas em meus músculos enquanto eu forçava meu corpo a seguir em frente, sustentando o peso da criatura ferida.
Alcançamos a porta, e com um último esforço, empurrei o lobo para dentro. Girei a chave no trinco no instante em que um estalo do lado de fora me fez prender a respiração. A madeira vibrou quando algo — ou alguém — colidiu contra ela.
Segurei firme a maçaneta, como se pudesse impedir qualquer invasão apenas com minha vontade. O silêncio que se seguiu foi sufocante. Depois, passos se afastando, lentamente, como se soubessem que não podiam entrar.
Meus músculos cederam, e me virei para encarar a criatura que acabara de salvar.
O lobo negro tombou no chão, ofegante. Seus olhos — predadores, mas opacos de dor — me observavam, ainda inseguros. O calor da lareira crepitando parecia um convite ao descanso, mas sua postura tensa mostrava que ele ainda não decidira se eu era um refúgio ou uma nova ameaça.
— Você está seguro agora — murmurei, sem esperar que ele entendesse as palavras, apenas a intenção nelas.
Ele piscou devagar, a respiração desacelerando à medida que a exaustão vencia sua desconfiança. Aos poucos, suas pálpebras pesadas cederam, e o corpo tenso se rendeu ao sono.
Aproveitei o momento para agir. A luz tremulante da lareira iluminava os ferimentos abertos em seu pelo negro, o sangue escorrendo em filetes espessos. Precisava cuidar disso antes que a infecção fizesse seu trabalho.
Peguei minha caixa de primeiros socorros, os dedos ágeis trabalhando com a familiaridade de anos lidando com agulhas e tecidos. Não era muito diferente.
Ajoelhei-me ao lado dele e passei os dedos com cuidado sobre sua pele quente, identificando as flechas alojadas em seu corpo. Ambas exigiriam precisão para serem removidas sem causar mais danos.
Respirei fundo e agarrei a haste da flecha do ombro, sentindo a rigidez da madeira sob meus dedos.
— Isso vai doer…
Ele dormia, mas sua respiração se alterou quando comecei a puxar. O som da carne se rasgando sob a pressão da retirada me fez prender o ar, mas continuei. Um último puxão, e a flecha deslizou para fora, trazendo consigo um fluxo quente de sangue.
Imediatamente pressionei um pano limpo contra o ferimento. O lobo se mexeu, soltando um rosnado baixo, mas não acordou. Continuei, removendo a segunda flecha com a mesma precisão e, com mãos firmes, limpei cada ferida. O cheiro metálico do sangue misturava-se ao aroma amadeirado da cabana, impregnando o ar com um peso difícil de ignorar.
Após desinfetar os ferimentos, enfaixei-os com tiras de pano limpas, amarrando-as com destreza. Minha vida como costureira me ensinara mais do que bordados e bainhas. Havia algo de tranquilizador no ato de remendar algo partido, mesmo que esse algo fosse um ser vivo de presas afiadas.
Quando terminei, afastei-me um pouco, observando meu trabalho. O lobo negro respirava fundo, sua forma colossal relaxada diante do fogo. Meu olhar deslizou pelo seu corpo poderoso, agora vulnerável, e uma estranha sensação se enraizou em meu peito.
Ele parecia… mais humano assim.
Sacudi a cabeça, afastando pensamentos insensatos. Eu estava exausta, e o medo do que aconteceu lá fora ainda pulsava em minhas veias.
O calor da lareira lançava sombras oscilantes pela cabana, preenchendo o espaço com uma atmosfera morna e reconfortante. O lobo negro respirava de forma pausada, mas seus músculos ainda carregavam a tensão de quem desconhecia o verdadeiro descanso.
Meus olhos correram pelo corpo dele, analisando cada detalhe com atenção. A ferida do ombro já não sangrava tanto, e sua respiração parecia mais controlada. Ele estava melhor. Pelo menos, fisicamente.
Ajoelhei-me para recolher os panos manchados de sangue, cuidando para não fazer barulho. Foi quando senti o peso do olhar sobre mim.
Ergui os olhos e encontrei os dele. Um vermelho profundo e atento, brilhando sob a luz vacilante do fogo. Não havia ameaça ali, apenas uma curiosidade cautelosa.
— Você está se recuperando. — murmurei, sem esperar resposta.
Ele apenas piscou devagar, como se processasse minha presença. Depois, fechou os olhos novamente, permitindo-se afundar outra vez no sono.
Suspirei, aliviada. O fato de ele ter despertado, ainda que por breves segundos, indicava que não estava tão fraco quanto antes.
Continuei a organizar os suprimentos, tentando ignorar a sensação de estar sendo observada, mesmo que seu olhar já não estivesse sobre mim. Foi então que, ao afastar um dos panos, algo frio e metálico roçou contra meus dedos.
Franzi o cenho e segurei o objeto, erguendo-o para examiná-lo sob a luz do fogo. Era um pingente, preso a uma corrente de prata. O rubi e o ônix incrustados nele cintilavam com um brilho quase hipnótico. Mas foi o brasão gravado no metal que fez meu estômago se revirar.
Uma coroa de espinhos dourada entrelaçada com um sol negro e asas de ferro.
Engoli em seco.
Eu conhecia aquele símbolo. Era do Reino Vartheos.
Minhas mãos apertaram o pingente, o coração disparando. O que um lobo como aquele fazia com algo tão precioso? A única explicação lógica era a pior de todas.
Ele era um animal de guerra. Ou, pior… um pet real.
Meus olhos voltaram-se para a criatura adormecida. Sua respiração serena contrastava com a onda de inquietação que agora tomava conta de mim.
Se ele pertencia à realeza… Alguém viria atrás dele. E eu estava condenada.
POV CALEBA escuridão sempre foi minha aliada. Nela, eu caçava, matava e sobrevivia. Mas agora, ela parecia diferente. Densa. Sufocante. Como se tentasse me arrastar para um vazio do qual eu não poderia escapar.Então, algo cortou a escuridão.Um cheiro. Doce, quente. Nada como o sangue ou a terra molhada que eu estava acostumado. Era reconfortante, mas, ao mesmo tempo, errado. Um erro que me fazia querer me afundar nele.Meu corpo protestou ao mínimo movimento, a dor queimando por cada fibra dos meus músculos. Mas o cheiro persistia, se infiltrando em minha mente, me puxando para longe da inconsciência.Meus olhos se abriram.A visão ainda estava turva, mas clara o suficiente para perceber que eu não estava mais na floresta. O calor envolvia meu corpo, uma luz branda tremulava nas sombras. Pisquei algumas vezes, tentando me situar.E então, eu a vi.Os olhos verdes.Os mesmos que me fitaram antes da escuridão me consumir. Agora, estavam ali de novo. Observando. Medindo. Seu olhar era
POV CALEBO castelo surgiu no horizonte como uma sentinela silenciosa, um farol sombrio na vastidão gelada de Vartheos. As torres perfuravam o céu acinzentado, e as bandeiras negras tremulavam com o vento cortante, carregando o brasão do reino como um aviso.Eu deveria me sentir em casa. Mas não me sentia.Cada pedra, cada sombra naquele castelo deveria me ser familiar. Mas agora, parecia estranho. Como se eu fosse um estrangeiro em minha própria terra.O frio me recebeu como um golpe de lâmina quando pisei dentro dos portões. Meu corpo protestou contra a transformação, músculos enrijecidos queimando com a dor da mudança abrupta. Minha pele nua se arrepiou, e o vento cortante me lembrou de que eu ainda estava ferido, exausto e marcado pela batalha.Um dos guardas hesitou antes de retirar seu próprio manto e me estender, sem dizer uma palavra. Peguei a peça de roupa e a vesti rapidamente, cobrindo os cortes e hematomas que ainda latejavam. Meu corpo pulsava de dor, mas aparecer diante
POV ENRICAAcordei com uma estranha sensação de vazio, um aperto incômodo no peito que se espalhava antes mesmo que minha mente pudesse processar o motivo. Algo estava errado. Permaneci imóvel por um instante, esperando que essa impressão se dissipasse, que fosse apenas um resquício de algum sonho que já havia se esvaído na inconsciência. Mas não passou. Era real. Meu corpo sabia antes mesmo que meus olhos se abrissem. O peso ao meu lado, o calor constante que havia preenchido o pequeno espaço da cabana nas últimas horas, havia desaparecido. Meu coração perdeu um compasso. Virei-me devagar, meus dedos deslizando pelo colchão improvisado até onde ele havia estado na noite anterior. Tudo o que encontrei foi o frio. Meus pulmões se encheram, mas o ar pareceu pesado, difícil de ser puxado. Eu sabia que isso aconteceria. Ele era um lobo selvagem, pertencente à floresta. Mas, ainda assim, a confirmação de sua ausência me atingiu com mais força do que deveria. Sentei-me, levand
POV CALEB— Quando você vai voltar? — Samuel perguntou de repente, sua voz casual. Meu olhar disparou para ele. — Eu não disse que vou voltar. Oliver riu de novo. — Não precisa dizer. Nós sabemos. Está estampado na sua cara. Samuel inclinou-se para frente, sua expressão ficando mais séria. — Talvez ela seja a certa para você. Meus ombros enrijeceram. A ideia se enroscou em minha mente como um veneno doce, perigoso e viciante. — Você sabe que não posso — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Por que não? — Samuel insistiu. — Por que seu lobo é instável? Por que tem medo de que ela o rejeite?As palavras atingiram algo profundo dentro de mim. Era isso. O medo, a insegurança que eu tentava mascarar com raiva e distância.Meu lobo não era como os outros. Minha transformação era imprevisível. Meu controle, frágil. Meu controle sempre foi uma ilusão bem sustentada, uma barreira entre quem eu queria ser e o monstro que me espreitava sob a pele. E colocar Enrica perto
POV CALEBA respiração dela estava baixa, ritmada, como se o peso de suas próprias palavras ainda estivesse se acomodando dentro dela. Enrica não percebeu o impacto do que dissera, mas eu senti cada sílaba reverberando no fundo do meu peito.Ela estava sozinha. E isso me incomodava mais do que eu queria admitir.Seus dedos ainda estavam sobre minha pelagem, quentes, hesitantes, mas sem recuar. Seu cheiro oscilava entre incerteza e um alívio que me aquecia de uma forma inexplicável. Mas havia algo mais ali, escondido sob as camadas de controle que ela tentava manter. Um vazio.— Às vezes, acho que me acostumei com isso — ela continuou, sua voz um sussurro para si mesma. — Mas noites como essa me lembram que não.A forma como seu corpo se curvava levemente, como se estivesse acostumada a se manter pequena, invisível, me fez rosnar baixo. O som reverberou no fundo da minha garganta. Não era uma ameaça, mas carregava algo primitivo, algo que nem eu conseguia nomear.Ela estava tão acostum
POV ENRICAO lobo diante de mim estava tenso, os olhos vermelhos brilhando como brasas enquanto me observava de perto. Meu coração ainda batia rápido depois do que ele tinha feito. Eu deveria estar assustada, deveria querer distância depois daquele gesto inesperado. Mas, por algum motivo, não consegui me afastar.Passei a língua pelos lábios, sentindo a pele quente onde a língua áspera dele havia tocado. Minha mente gritava que aquilo não fazia sentido, que eu deveria me afastar, mas meu corpo parecia reagir a ele de uma maneira que não conseguia controlar.Suspirei, tentando aliviar a tensão.— Acho que meus hormônios estão desregulados — murmurei, mais para mim mesma do que para ele. — Tem acontecido com frequência… essa sensação estranha, como se meu corpo estivesse mudando. Talvez seja por isso que os homens ficam tão esquisitos perto de mim.O lobo moveu-se ligeiramente, as orelhas se erguendo. Ele estava atento, absorvendo cada palavra.— Não sei o que é exatamente — continuei,
POV ENRICAEu ri sem humor, desviando o olhar.— Estou bem, Marco — respondi com leveza, pegando uma maçã da barraca ao lado. — Só… tem sido um inverno difícil. Ele suspirou, cruzando os braços. — Você devia sair daquela cabana, sabia? Viver sozinha no meio da floresta não é seguro. Apertei os lábios, sentindo o mesmo aperto de sempre quando esse assunto surgia.— Eu já te disse. Não posso. É o último lugar que ainda me liga aos meus pais. Marco me observou por um instante, sua expressão suavizando. — Eu entendo, Rica. Mas isso não significa que você precisa se isolar. Desviei o olhar, focando na maçã em minhas mãos. Antes que ele pudesse continuar com seu sermão, algo chamou minha atenção.O jornal dobrado embaixo do braço dele.— O que é isso?Marco seguiu meu olhar e bufou. — Ah, só mais um artigo sobre a realeza. Ele desdobrou o jornal e mostrou a página principal. Meu olhar foi direto para a imagem de um homem de aparência imponente. Príncipe Caleb de Vartheos. H
POV ENRICAO rosnado reverberou pela cabana, baixo e carregado de algo que eu não conseguia identificar completamente. Meu corpo enrijeceu, os pelos da minha nuca se arrepiaram, e, por um instante, o ar ao meu redor pareceu pesado, espesso. Virei-me devagar, encontrando os olhos vermelhos incandescentes cravados em mim. Mas havia algo errado naquele olhar. Ele me observava de um jeito diferente, como se estivesse me vendo pela primeira vez. O som ameaçador cessou, mas a tensão não desapareceu. Seus músculos estavam rígidos, os pelos eriçados, o corpo maior do que nunca. — Ei… — minha voz saiu baixa, hesitante. O lobo avançou um passo brusco, e um arquejo escapou dos meus lábios enquanto meu corpo reagia por puro instinto, recuando contra a bancada. Meu coração disparou, e por um instante, a ideia de que ele me atacaria cruzou minha mente. Mas não havia agressividade em seus olhos. Havia algo muito, muito pior. O peso da sua presença me cercava sem que ele precisasse sequ