POV CALEB
Um rosnado baixo escapou de minha garganta. Meu corpo ainda estava fraco, mas a necessidade de encontrá-la se sobrepôs à dor. Me obriguei a me mover. Cada músculo queimava. Meu peito protestou, minhas pernas tremeram.
Mas eu não poderia simplesmente ficar ali.
O piso rangeu sob meu peso quando consegui me erguer. Minha cabeça girou. Meu focinho captou um rastro fraco, e eu já estava pronto para segui-lo quando…
A porta se abriu. Lá estava ela.
Os cabelos ligeiramente desalinhados pelo vento frio. O olhar fixo em mim. O cheiro dela tomou o ar, afogando meus sentidos, preenchendo cada espaço vazio dentro de mim.
Relaxei sem perceber. Ela voltou.
— Eu trouxe frutas para você. — A voz dela era suave, mas hesitante. — Não tenho mais nada… Me desculpe.
Ela se desculpava? Apenas a observei. Comida não era o que eu queria. Mas deixei que se aproximasse, sentando-se ao meu lado, oferecendo um pedaço da fruta.
Seus dedos hesitaram antes de tocarem meu focinho. E quando finalmente tocaram… meu corpo inteiro reagiu.
O calor percorreu minha pele como eletricidade, despertando algo primitivo e perigoso dentro de mim.
Seus olhos deslizaram para minhas presas, refletindo a luz da lareira como lâminas. O medo brilhou em seu olhar por um instante. Ela sabia. Eu poderia acabar com tudo ali, arrancar sua mão, tomar o que quisesse. Ela compreendia isso.
Mas, ainda assim… continuou. E eu deixei. Ela me alimentou. E eu apenas observei.
Seus gestos eram lentos, delicados, mas determinados. Havia algo fascinante na forma como não recuava.
Por que ela fazia isso?
Ela terminou, e então seus olhos desceram para meu corpo. O cenho franziu.
— Suas ataduras… — murmurou. Havia sangue. — Eu preciso trocá-las.
Seu toque deslizou sobre minha pele. Quente. Suave. Inesperado. Minha mente dizia que eu deveria afastá-la. Mas meu corpo se recusava a obedecer.
Apenas observei enquanto suas mãos deslizavam com delicadeza, desfazendo as ataduras encharcadas de sangue para substituí-las por novas.
A sensação foi indescritível. Um calor, um arrepio. Como algo ancestral dentro de mim respondendo ao toque dela.
A noite caiu, e antes que eu percebesse, o sono me venceu. Mas quando despertei… algo estava diferente.
O ar ainda era frio, mas meu corpo estava quente.
Meus sentidos dispararam. Meu olhar encontrou a razão imediatamente. Enrica.
Seu corpo pequeno estava encolhido ao meu lado. A respiração suave. Os fios de cabelo bagunçados contra a madeira.
Mas o que me fez travar não foi isso. Foi a coberta sobre mim. A única coberta que existia ali. Ela cedeu seu próprio calor para mim.
Meu peito se contraiu com algo estranho. Um impulso primitivo gritou dentro de mim. Algo que eu não reconhecia, mas que rugia com força.
Minha mão se moveu antes que eu percebesse, puxando a coberta de volta para ela. Ela não deveria passar frio.
Foi quando vi. O colar. Minha visão estreitou.
Uma corrente de camurça desgastada pelo tempo. Um colar simples… para olhos desatentos. Mas eu sabia exatamente o que aquilo era. Um colar de Ômega.
O fecho bem preso, a camurça marcada… ela o usava há muito tempo. Para um humano comum, não significaria nada. Mas para um Alfa como eu… Aquele colar gritava segredos.
Ele escondia um cheiro. Um cheiro que… agora escapava pelas frestas da camurça.
Minha respiração se tornou pesada. O aroma dela se infiltrava em cada célula do meu corpo.
Suave. Doce. Perigoso.
Meu instinto rugiu. Voraz. Exigindo que eu me aproximasse. Que eu a tomasse.
Minhas presas pressionaram contra meus lábios. Meus músculos se contraíram. Isso não podia estar acontecendo.
Meu corpo se inclinou para frente, movido por algo que eu não podia controlar. O lobo dentro de mim despertava. Feroz. Faminto. Possessivo.
Eu precisava sair dali. Me afastei bruscamente, quase tropeçando. A distância era necessária.
O ar frio ardeu em meus pulmões, enquanto eu lutava contra algo que eu não entendia, mas que queria me consumir.
O desejo latejava dentro de mim, pulsante e perigoso. Nunca havia sentido algo assim antes. Algo tão profundo, tão avassalador. E isso me aterrorizava.
Eu tinha que partir. A decisão deveria ter sido simples. Racional. Mas não era.
Porque ao olhar para ela ali, dormindo, vulnerável, com o cheiro dela grudado na minha pele…
Uma única certeza se cravou dentro de mim. Se eu partisse agora… jamais conseguiria esquecê-la.
Mas eu precisava voltar para Vartheos. Meu reino me chamava, minha alcateia esperava. Eu não pertencia àquele lugar, e cada minuto que passava ali era uma afronta ao que eu conhecia como ordem.
Mas por que era tão difícil simplesmente me virar e ir embora?
Algo me prendia. Um peso no peito. Uma força invisível que se recusava a ser ignorada. Eu não queria nomear aquilo. Mas ele estava ali, me ancorando naquela cabana.
Naquele cheiro. O cheiro dela. Minha mandíbula travou. Aquilo era irracional. Eu nunca havia sentido tristeza ao deixar algo para trás.
Minha mente gritava que ela não era minha, mas meu corpo queimava com uma verdade primitiva. Meu lobo discordava. Meu instinto exigia que eu garantisse que ninguém jamais a tocaria em minha ausência.
E então, um pensamento me atingiu como um soco no estômago.
Ela poderia já ter um alfa. Alguém que a reivindicasse.
O fogo em minhas veias se acendeu, abrasador, insuportável. O simples pensamento de outro macho tocando-a, respirando o cheiro dela, reivindicando-a…
Minha respiração ficou pesada. Minha visão turvou em vermelho. Se isso fosse verdade, eu o mataria.
Rosnei, os músculos tensos com uma fúria que não deveria estar ali. Eu não era um alfa jovem e impulsivo, dominado por emoções. Eu era um rei. Meu dever era comandar, não me perder em algo tão insignificante quanto uma mulher.
Mas meu corpo discordava.
Eu não podia partir sem garantir que ela estaria protegida. Sem deixar claro para qualquer um que se atrevesse a cruzar este território que ela já estava marcada.
Me aproximei da entrada da cabana, erguendo a perna e impregnando minha essência ali. o Mijo quente respingou o suficiente para deixar meu cheiro na madeira do lado de fora.
Um aviso silencioso, uma sentença invisível. Ela não podia ver, mas qualquer alfa sentiria.
Mas não bastava. Eu precisava de mais.
Girei sobre minhas patas e pressionei meu corpo contra a madeira, esfregando cada centímetro de mim contra as paredes externas da cabana.
Meu lobo rugiu, satisfeito. Meu cheiro agora estava nela. No abrigo dela. No único espaço que era só dela.
Cada célula do meu corpo vibrou com satisfação. Minha presença estava ali. Minha sombra pairava sobre ela.
Ela ainda não sabia. Mas qualquer um que ousasse cruzar este território sentiria a ameaça no ar.
Dei um passo para trás, inspirando fundo. A cabana estava impregnada com meu cheiro. Nenhum alfa ousaria se aproximar sem hesitar.
Era irracional, mas eu me sentia melhor. Sem olhar para trás, corri para a escuridão da floresta. Meu destino era Vartheos. Meu dever me chamava.
Mas enquanto eu me afastava, o cheiro dela ainda estava em mim. E uma certeza se cravou em minha mente.
Eu voltaria. E não sabia dizer se isso era uma promessa ou uma ameaça.
POV CALEBO castelo surgiu no horizonte como uma sentinela silenciosa, um farol sombrio na vastidão gelada de Vartheos. As torres perfuravam o céu acinzentado, e as bandeiras negras tremulavam com o vento cortante, carregando o brasão do reino como um aviso.Eu deveria me sentir em casa. Mas não me sentia.Cada pedra, cada sombra naquele castelo deveria me ser familiar. Mas agora, parecia estranho. Como se eu fosse um estrangeiro em minha própria terra.O frio me recebeu como um golpe de lâmina quando pisei dentro dos portões. Meu corpo protestou contra a transformação, músculos enrijecidos queimando com a dor da mudança abrupta. Minha pele nua se arrepiou, e o vento cortante me lembrou de que eu ainda estava ferido, exausto e marcado pela batalha.Um dos guardas hesitou antes de retirar seu próprio manto e me estender, sem dizer uma palavra. Peguei a peça de roupa e a vesti rapidamente, cobrindo os cortes e hematomas que ainda latejavam. Meu corpo pulsava de dor, mas aparecer diante d
POV CALEB— Você quer que eu me case por obrigação? — minha voz saiu baixa, mas carregada de fúria contida. — Nenhuma fêmea real aceitaria um Alfa como eu.Amelia estreitou os olhos.— E por que não aceitaria?Soltei uma risada amarga.— Porque metade do reino me teme e a outra metade sussurra que eu sou um predador de ômegas. — Cruzei os braços, sentindo a irritação queimando dentro de mim. — Você sabe disso. Você sabe o que dizem sobre mim.— Rumores — Amelia rebateu, sua voz carregada de impaciência. — Palavras de covardes que falam demais e sabem de menos.— Mas que se espalham como veneno. — Passei a mão pelo rosto, exausto. — Você acha que alguma família real me entregaria uma de suas filhas para ser minha Luna, sabendo o que sussurram pelos corredores? Sabendo que eu perdi o controle mais vezes do que deveria?Minha mãe me estudou em silêncio por um longo momento antes de soltar um suspiro cansado.— Vá descansar, Caleb. — Sua voz perdeu um pouco da rigidez, embora sua expressão
POV CALEBMeus deveres como príncipe exigiam minha atenção, e eu tentava, com todas as forças, me convencer de que nada havia mudado. Mas era mentira. Os salões do castelo fervilhavam com a movimentação costumeira, conselheiros discutindo alianças, soldados marchando pelos corredores de pedra, ecos de ordens e estratégias que deveriam ser minha prioridade. Mas não eram. Minha mente estava em outro lugar. Com ela.A lembrança de seu cheiro ainda pairava ao meu redor, insistente como um veneno que não podia ser expelido. O vazio deixado por sua ausência se espalhava dentro de mim como uma ferida aberta. Eu não deveria sentir isso. Eu odiava sentir isso.— Você está estranho, Caleb. — Samuel quebrou o silêncio ao meu lado, cruzando os braços enquanto me analisava com o olhar atento. — Desaparece por quatro dias, volta cheio de ferimentos e agora age como se estivesse possuído. O que diabos aconteceu?— Foi um vacilo — murmurei, sem vontade de prolongar o assunto. — Vacilo? — Oli
POV CALEBQuando alcancei a floresta, me afastei o suficiente para que ninguém me visse e deixei minha forma real tomar o controle. A dor veio primeiro — ossos estalando, músculos se expandindo, pele ardendo no processo brutal de transição, o pelo negro de minha forma lupina. O mundo se tornou mais instintivo, mais afiado. Cada som e cheiro se intensificaram, e entre todos eles, um me puxava para frente. O dela.Corri pela neve, cortando a escuridão da noite com velocidade brutal. Meu corpo se movia sozinho, guiado por algo que eu não compreendia, mas não ousava desafiar.E então, a cabana apareceu diante de mim. O cheiro dela ainda estava ali, mas algo estava errado.Minha respiração desacelerou, captando o gosto da angústia impregnado no ar. Um rosnado baixo escapou da minha garganta, minha pele formigando com uma fúria surda. Ela estava sofrendo. E eu não sabia por quê.Aproximei-me com cautela, ocultando-me entre as sombras das árvores. Meus olhos captaram a luz fraca tremeluzindo
POV CALEBA respiração dela estava baixa, ritmada, como se o peso de suas próprias palavras ainda estivesse se acomodando dentro dela. Enrica não percebeu o impacto do que dissera, mas eu senti cada sílaba reverberando no fundo do meu peito.Ela estava sozinha. E isso me incomodava mais do que eu queria admitir.Seus dedos ainda estavam sobre minha pelagem, quentes, hesitantes, mas sem recuar. Seu cheiro oscilava entre incerteza e um alívio que me aquecia de uma forma inexplicável. Mas havia algo mais ali, escondido sob as camadas de controle que ela tentava manter. Um vazio.— Às vezes, acho que me acostumei com isso — ela continuou, sua voz um sussurro para si mesma. — Mas noites como essa me lembram que não.A forma como seu corpo se curvava levemente, como se estivesse acostumada a se manter pequena, invisível, me fez rosnar baixo. O som reverberou no fundo da minha garganta. Não era uma ameaça, mas carregava algo primitivo, algo que nem eu conseguia nomear.Ela estava tão acostuma
POV CALEBAvancei um pouco, mantendo meus movimentos lentos, cuidadosos. Eu queria que ela entendesse que eu não era uma ameaça. Que nunca seria. Meus olhos se fixaram nos dela, minha respiração quente escapando em baforadas suaves na pouca distância que nos separava.Ela estendeu a mão, hesitante, seus lábios se entreabrindo como se quisesse dizer algo, mas se conteve. Suas pupilas dilataram, o coração acelerado bombeando sua essência pelo ar. Meu lobo rugiu em satisfação silenciosa. Ela sentia a conexão, mesmo sem entender o que era.E então, seus dedos tocaram algo inesperado. Meu pingente.Passou o polegar devagar sobre os símbolos cravados na joia. Meus músculos tensionaram no mesmo instante. O olhar dela se fixou na peça de metal, e sua expressão mudou. Curiosidade, surpresa… suspeita.— O que é isso? — murmurou, passando o polegar lentamente sobre o brasão de Vartheos gravado na joia. — Você pertence ao castelo?O simples som daquela pergunta fez algo em mim se incendiar. Meu pe
POV ENRICA— Ah! — soltei um riso surpreso, olhando para ele. — Então era isso? Você só queria brincar? O grande lobo negro ficou sobre mim, as patas firmes ao lado do meu corpo, o olhar fixo no meu. O peito dele subia e descia devagar, e por um momento, achei que ele ficaria assim, apenas me analisando. E então uma língua quente deslizou pela minha bochecha, longa e molhada, me fazendo soltar outro riso. — Ei! — protestei entre gargalhadas, tentando me afastar, mas ele não parou. O lobo continuou, lambendo meu pescoço, depois meu ombro, roçando o focinho contra minha pele exposta. Seu calor era intenso, e cada toque da língua dele enviava cócegas por todo o meu corpo. — Você realmente gosta de fazer isso, hein? — brinquei, entre risos, tentando revidar ao passar a mão pelo pelo espesso dele. Meus dedos se afundaram na pelagem negra, e o senti se contrair levemente antes de relaxar contra mim. Mas então, como se um estalo passasse por ele, o lobo parou. Seus músculos fica
POV ENRICAEu ri sem humor, desviando o olhar.— Estou bem, Marco — respondi com leveza, pegando uma maçã da barraca ao lado. — Só… tem sido um inverno difícil. Ele suspirou, cruzando os braços. — Você devia sair daquela cabana, sabia? Viver sozinha no meio da floresta não é seguro. Apertei os lábios, sentindo o mesmo aperto de sempre quando esse assunto surgia.— Eu já te disse. Não posso. É o último lugar que ainda me liga aos meus pais. Marco me observou por um instante, sua expressão suavizando. — Eu entendo, Rica. Mas isso não significa que você precisa se isolar. Desviei o olhar, focando na maçã em minhas mãos. Antes que ele pudesse continuar com seu sermão, algo chamou minha atenção.O jornal dobrado embaixo do braço dele.— O que é isso?Marco seguiu meu olhar e bufou. — Ah, só mais um artigo sobre a realeza. Ele desdobrou o jornal e mostrou a página principal. Meu olhar foi direto para a imagem de um homem de aparência imponente. Príncipe Caleb de Vartheos. Ha