POV ENRICAEu ri sem humor, desviando o olhar.— Estou bem, Marco — respondi com leveza, pegando uma maçã da barraca ao lado. — Só… tem sido um inverno difícil. Ele suspirou, cruzando os braços. — Você devia sair daquela cabana, sabia? Viver sozinha no meio da floresta não é seguro. Apertei os lábios, sentindo o mesmo aperto de sempre quando esse assunto surgia.— Eu já te disse. Não posso. É o último lugar que ainda me liga aos meus pais. Marco me observou por um instante, sua expressão suavizando. — Eu entendo, Rica. Mas isso não significa que você precisa se isolar. Desviei o olhar, focando na maçã em minhas mãos. Antes que ele pudesse continuar com seu sermão, algo chamou minha atenção.O jornal dobrado embaixo do braço dele.— O que é isso?Marco seguiu meu olhar e bufou. — Ah, só mais um artigo sobre a realeza. Ele desdobrou o jornal e mostrou a página principal. Meu olhar foi direto para a imagem de um homem de aparência imponente. Príncipe Caleb de Vartheos. Ha
POV ENRICAEntrei na cabana e soltei um suspiro longo. O lobo negro continuava ali, parado na entrada como uma sombra imponente, os olhos vermelhos me acompanhando em silêncio. — Você realmente ficou aqui o tempo todo, não é? — sorri, fechando a porta atrás de mim. — Bom menino. Ele não reagiu, mas algo na forma como me observava fez meu estômago se apertar. Ignorando a estranha sensação, pendurei o casaco e caminhei até a pequena cozinha. Meus dedos estavam gelados pelo frio, e eu mal sentia minhas pernas depois da caminhada. Tudo o que eu queria era uma refeição quente. Peguei a sacola com as compras e comecei a tirar os itens, separando o que precisava para preparar meu jantar. Peguei um pedaço de carne crua e ergui na direção do lobo. — Trouxe algo pra você também. — balancei o pedaço diante dele. — Espero que goste. Ele sequer piscou. Minha sobrancelha arqueou. — Ah, então você é exigente, é isso? — provoquei, girando a carne na minha mão. — Prefere que eu asse prime
POV CALEBO cheiro dela me atingiu como um raio. Quente. Suave. Perfeito.Toda a tensão que dominava meu corpo se desfez no mesmo instante. Meu lobo, que antes rugia de frustração e desejo reprimido, agora estava… em paz. Era ela. Ela era a resposta.Passei tanto tempo lutando contra impulsos incontroláveis, contra o instinto primitivo que exigia destruição, que essa nova sensação me pegou desprevenido. Por que apenas ela me acalmava? Por que nenhuma outra fêmea jamais teve esse efeito?Meus olhos estavam cravados nela, cada pequeno gesto me puxando para mais perto. — Hm… parece que você gostou mais de mim agora, não é, grandão? — Enrica brincou, rindo baixinho enquanto mexia nos cabelos. Minha atenção se intensificou. Ela não fazia ideia do que havia acabado de fazer comigo. Do que significava para mim. Ela suspirou e voltou para suas tarefas, sem perceber que eu estava absorvendo cada pequeno detalhe dela. Enquanto costurava, suas sobrancelhas se franziram, e um pequeno biquin
POV CALEBNo instante em que senti o cheiro, soube que algo estava errado. Não era o vento frio da floresta, nem a umidade da madrugada. Era um vestígio. Fraco. Quase imperceptível. Mas presente.Meu lobo reagiu antes de mim, os pelos se eriçando em um alerta silencioso. Meu faro se expandiu, procurando qualquer sinal de movimento, qualquer ameaça que se escondesse na escuridão. Algo esteve aqui. Algo que não deveria estar.Mas não havia nada. Somente o silêncio absoluto da floresta. Meus músculos se retesaram, e meu lobo rugiu em silêncio. Eu não gostava disso. A sensação de que algo espreitava na sombra. Meus olhos percorreram a área, minhas garras se cravaram no chão. Não importava quem ou o quê estivesse ali. Eu não deixaria nada chegar até ela.Fortaleci minha marca na cabana, roçando meu cheiro contra a madeira de forma mais agressiva, deixando um aviso ainda mais claro. Se alguém ousasse entrar naquele território, eu arrancaria sua garganta com os dentes.Mas isso não era o
POV CALEB— A única coisa que importa é que ela será minha escolha. — Você realmente acredita que essa decisão pertence a você? — Sua voz se tornou mais cortante. — Quer uma fêmea sem título, sem linhagem, sem poder?Meu lobo rugiu violentamente dentro de mim, rejeitando cada uma dessas palavras.— Você pode lutar contra isso o quanto quiser, Caleb. Pode bater os pés como uma criança teimosa. Mas, no fim, o reino vencerá.— Eu não sigo as tradições desse reino. — Você é esse reino — Amelia rebateu, séria. — Não aceitarão uma plebeia ao seu lado, Caleb. Você precisa de uma rainha com sangue real. Uma mulher digna de gerar um herdeiro forte. O nó de fúria na minha garganta apertou ainda mais. Minhas garras emergiram antes que eu pudesse conter. O rosnado que escapou de mim reverberou no corredor silencioso. Amelia parou. Seus olhos analisaram meu corpo tenso, a forma como minha respiração se tornara instável. Ela percebeu. Pela primeira vez, ela percebeu que eu estava à beira de pe
POV CALEBSamuel soltou um suspiro carregado de frustração. — Para com isso. Você não é um monstro. — Não sou? — minha mandíbula se contraiu. — Então me diga, Samuel. Quantos alfas nesse reino têm as mãos tão sujas de sangue quanto as minhas? Ele abriu a boca, mas nada disse. Oliver chutou uma pedra no chão, impaciente. — Isso não é sobre o que você foi ensinado a fazer, Caleb. Isso é sobre quem você quer ser agora. E se essa fêmea significa tanto para você, você precisa parar de se esconder atrás dessa desculpa idiota. Meus olhos brilharam em advertência, mas Oliver apenas me encarou de volta, desafiador. Eu queria rebater, dizer que não era tão simples. Mas antes que pudesse encontrar as palavras, Samuel resmungou: — E o baile? Minha respiração ficou pesada. — Não me fale desse maldito baile. — Sua mãe quer que você escolha uma fêmea da realeza, não é? — Oliver perguntou, mais sério agora. Eu ri, sem humor. — Ela quer que eu escolha uma fêmea conveniente. Uma mu
POV ENRICAUm arrepio percorreu minha espinha. Merda.Se eu não fizesse algo agora, seria tarde demais. Meu cheiro se espalharia. E eu sabia exatamente o que acontecia quando um Alfa sentia meu aroma sem restrições. Caos. Violência. Sangue. Apertei os dentes. Não dessa vez. Eu não podia permitir. Não queria mais fugir. Mas o que eu faria para impedir?Meus dedos tocaram o colar de camurça desgastado ao redor do meu pescoço. Aquele pedaço de couro e ervas secas foi minha salvação durante anos, escondendo meu cheiro do mundo. Mas estava velho. Fraco. Se meu cio estava perto, não demoraria até que sua proteção falhasse.Eu precisava renová-lo.Minha mente percorreu rapidamente a lista de ervas que eu precisaria para refazer a mistura. Algumas eram fáceis de encontrar. Outras… nem tanto. Isso significava sair da cidade e voltar a minha terra natal…Suspirei, lembrando que tinha entregas para fazer. Levantei e reuni minhas coisas, esse trabalho foi bem maior que o anterior e fico grata q
POV CALEBO tecido deslizou das mãos dela, espalhando-se pelo chão de pedra do mercado. O tempo pareceu desacelerar no instante em que Raphael Lombardi se inclinou para ajudá-la. O príncipe visitante pegou um dos tecidos e estendeu para Enrica, e eu vi.Eu vi a forma como ele a olhava. Como se estivesse avaliando. Testando. O maldito inalou o ar ao redor dela. Meu corpo inteiro travou. O olhar de Raphael vacilou por um instante. Foi rápido, quase imperceptível. O maldito sentiu algo. E um sorriso sutil curvou seus lábios, como se ele tivesse acabado de descobrir um segredo que ninguém deveria saber.O lobo dentro de mim rugiu, o instinto territorial tomando conta como um incêndio incontrolável. Lombardi estava perto demais. O bastante para farejar algo que não lhe pertencia. O bastante para testar um limite que ele nem sabia que estava prestes a cruzar.— O que foi? — Oliver perguntou ao meu lado, percebendo minha mudança instantânea.Samuel seguiu meu olhar e endureceu a expressão.—