POV ENRICAUm arrepio percorreu minha espinha. Merda.Se eu não fizesse algo agora, seria tarde demais. Meu cheiro se espalharia. E eu sabia exatamente o que acontecia quando um Alfa sentia meu aroma sem restrições. Caos. Violência. Sangue. Apertei os dentes. Não dessa vez. Eu não podia permitir. Não queria mais fugir. Mas o que eu faria para impedir?Meus dedos tocaram o colar de camurça desgastado ao redor do meu pescoço. Aquele pedaço de couro e ervas secas foi minha salvação durante anos, escondendo meu cheiro do mundo. Mas estava velho. Fraco. Se meu cio estava perto, não demoraria até que sua proteção falhasse.Eu precisava renová-lo.Minha mente percorreu rapidamente a lista de ervas que eu precisaria para refazer a mistura. Algumas eram fáceis de encontrar. Outras… nem tanto. Isso significava sair da cidade e voltar a minha terra natal…Suspirei, lembrando que tinha entregas para fazer. Levantei e reuni minhas coisas, esse trabalho foi bem maior que o anterior e fico grata q
POV CALEBO tecido deslizou das mãos dela, espalhando-se pelo chão de pedra do mercado. O tempo pareceu desacelerar no instante em que Raphael Lombardi se inclinou para ajudá-la. O príncipe visitante pegou um dos tecidos e estendeu para Enrica, e eu vi.Eu vi a forma como ele a olhava. Como se estivesse avaliando. Testando. O maldito inalou o ar ao redor dela. Meu corpo inteiro travou. O olhar de Raphael vacilou por um instante. Foi rápido, quase imperceptível. O maldito sentiu algo. E um sorriso sutil curvou seus lábios, como se ele tivesse acabado de descobrir um segredo que ninguém deveria saber.O lobo dentro de mim rugiu, o instinto territorial tomando conta como um incêndio incontrolável. Lombardi estava perto demais. O bastante para farejar algo que não lhe pertencia. O bastante para testar um limite que ele nem sabia que estava prestes a cruzar.— O que foi? — Oliver perguntou ao meu lado, percebendo minha mudança instantânea.Samuel seguiu meu olhar e endureceu a expressão.—
POV ENRICAO urro foi como um trovão partindo o céu.Meu corpo congelou, e o medo tomou conta de mim antes mesmo que eu conseguisse entender o que estava acontecendo. A silhueta diante de mim se contorcia, crescendo, os ossos estalando em uma transformação violenta.Minhas pernas se moveram antes que minha mente acompanhasse. Corra. Meu instinto gritava, e eu tentei obedecer.Mas tropecei. O chão de terra fria me recebeu com força, e um soluço escapou de meus lábios. O lobisomem avançou. Seus olhos eram puro sangue e fúria.Uma garra cortou o ar em minha direção, e me joguei para o lado no último segundo. A terra se abriu onde eu estivera um momento antes, provando que aquele golpe teria sido fatal.Meu coração batia tão forte que doía. Eu precisava correr, precisava fugir dali antes que…Meus olhos encontraram os dele.E algo dentro de mim implorou para que eu não o deixasse.Ele avançou outra vez, e dessa vez, sua garra rasgou minha pele. Um grito de dor ecoou de minha garganta quand
POV CALEBO uivo ainda vibrava em meu peito quando minhas patas tocaram a terra gelada da floresta. Minha respiração era áspera, cada batida do meu coração um lembrete do que eu havia feito.Eu a ataquei. Mesmo inconsciente, mesmo sem controle, eu fiz exatamente o que sempre temi: feri Enrica.Meu lobo rugia em frustração, mas eu ignorei a dor queimando dentro de mim. Correr era a única coisa que me restava. Deixei a cabana para trás, atravessando a floresta sem pensar, apenas movido pelo instinto de fugir de mim mesmo. O castelo se erguia à distância quando senti o cheiro deles. Samuel e Oliver.Meus passos diminuíram, minha mente ainda entorpecida pelo caos que deixei para trás. Eles estavam perto, e minha presença não passou despercebida. Mas, à primeira vista, eles me ignoraram, sem perceber que o lobo que avançava pelas sombras era, na verdade, eu.Foi só quando parei diante deles que os vi enrijecerem. Oliver instintivamente levou a mão à lâmina presa à cintura, mas antes que qu
POV CALEB— Se foi um incidente, espero que esteja resolvido — ela disse, sua voz carregada de um aviso silencioso. — O baile se aproxima, Caleb. Não quero mais surpresas.Meus punhos se cerraram. O veneno nas palavras de minha mãe pairava no ar, pronta para queimar qualquer resquício de resistência que eu ousasse demonstrar. Mas eu não era mais um garoto, e ela não era a única estrategista neste castelo.— O baile já tem data marcada — Amelia declarou, sua voz cortante e imutável como pedra. — Será dentro de duas semanas. Todos os clãs e famílias nobres foram informados. Você não tem mais escolha, Caleb.Meu sangue gelou. O ar ao meu redor pareceu vibrar, a raiva latente ameaçando tomar o controle.— Você não fez isso — rosnei, sentindo meu corpo inteiro enrijecer.— Fiz. — Sua expressão permaneceu inalterada, como se minha fúria fosse irrelevante. — E você cumprirá seu dever.Um silêncio mortal se instalou no salão. Oliver e Samuel trocaram um olhar tenso, já antecipando a tempestade
POV CalebOs dias passaram e eu não saía do quarto. O cheiro de comida intocada pairava no ar, uma lembrança constante da insistência inútil dos criados para que eu me alimentasse. Apenas abria a porta para pegar as bandejas, apenas para deixá-las intactas. O peso do silêncio me esmagava, e a escuridão do quarto se tornava uma extensão da minha própria mente.As noites eram piores. Eu fechava os olhos e via Enrica. Via o sangue manchando sua pele, o medo em seus olhos, sua respiração trêmula sob meu toque. Meu corpo reagia de formas que eu odiava admitir. Eu queria segurá-la. Queria senti-la de novo, sem violência, sem o instinto bruto que me transformava em fera. Mas era tarde demais. Ela deveria me odiar. E se não odiasse, era só uma questão de tempo. Porque eu já me odiava.Então, certo dia, a porta se abriu abruptamente. Oliver e Samuel entraram antes que eu pudesse reagir. A luz do corredor invadiu o quarto escuro, forçando-me a cerrar os olhos por um instante. O cheiro do castelo
POV ENRICA— Você voltou para a nossa terra natal? — perguntei com cautela.— Por que voltaria para aquele lugar horrível? Não, encontrei a neta dela aqui na capital. Ela parecia procurar por alguém. — Ele me encarou intensamente. Fiquei pensativa sobre isso. Será que estava atrás de mim? Foi a bruxa quem me ensinou a esconder meu cheiro com ervas e banhos. Mas por que a neta dela estaria atrás de mim? Marco não me deu tempo para processar.— Melhor ficar longe deles. Algo aconteceu com o neto dela, ele está descontrolado, Rica. — Marco respirou fundo, os olhos escuros me prendendo no lugar. — Só… fique atenta. E se precisar de alguma coisa, eu estou aqui, Rica. Sempre estou.Ele estendeu a mão e segurou meu ombro com firmeza, sem agressividade, mas de uma forma que me fez prender a respiração. Recuei um passo, hesitante. Tinha que disfarçar a dor ali.— Algo errado? — Ele me encarou ainda mais desconfiado.— Não. Obrigada, Marco. Vou ficar bem. — Falei rápido, tentando encerrar aquel
POR ENRICA— Somos amigos do lobo. — O homem que bufou falou, sua voz mais grave e direta.Franzi o cenho. Amigos do lobo? Aquilo parecia uma tentativa desesperada de me fazer falar algo que não queria. Meu coração bateu forte no peito, e meu corpo se enrijeceu.— Eu já disse que não sei de nada. — Minha voz saiu firme, mas o nervosismo latejava sob a superfície. — Vocês precisam ir embora.O homem mais calmo ergueu as mãos em um gesto pacífico.— O lobo está com problemas. Ele precisa da sua ajuda. — Sua voz era tranquila, mas havia algo ali… um peso real naquelas palavras. — Você o viu?Meus lábios se apertaram, minha mente buscando uma saída para aquela situação. Não podia confiar neles. Não podia dizer nada. Mas a hesitação custou minha resposta, e quando finalmente me forcei a falar, a verdade escapou.— Não.O homem mais calmo me analisou com paciência. E antes que pudesse impedir, as palavras saíram automaticamente da minha boca:— Como ele está?Me arrependi no mesmo instante.