POV ENRICA— Você voltou para a nossa terra natal? — perguntei com cautela.— Por que voltaria para aquele lugar horrível? Não, encontrei a neta dela aqui na capital. Ela parecia procurar por alguém. — Ele me encarou intensamente. Fiquei pensativa sobre isso. Será que estava atrás de mim? Foi a bruxa quem me ensinou a esconder meu cheiro com ervas e banhos. Mas por que a neta dela estaria atrás de mim? Marco não me deu tempo para processar.— Melhor ficar longe deles. Algo aconteceu com o neto dela, ele está descontrolado, Rica. — Marco respirou fundo, os olhos escuros me prendendo no lugar. — Só… fique atenta. E se precisar de alguma coisa, eu estou aqui, Rica. Sempre estou.Ele estendeu a mão e segurou meu ombro com firmeza, sem agressividade, mas de uma forma que me fez prender a respiração. Recuei um passo, hesitante. Tinha que disfarçar a dor ali.— Algo errado? — Ele me encarou ainda mais desconfiado.— Não. Obrigada, Marco. Vou ficar bem. — Falei rápido, tentando encerrar aquel
POR ENRICA— Somos amigos do lobo. — O homem que bufou falou, sua voz mais grave e direta.Franzi o cenho. Amigos do lobo? Aquilo parecia uma tentativa desesperada de me fazer falar algo que não queria. Meu coração bateu forte no peito, e meu corpo se enrijeceu.— Eu já disse que não sei de nada. — Minha voz saiu firme, mas o nervosismo latejava sob a superfície. — Vocês precisam ir embora.O homem mais calmo ergueu as mãos em um gesto pacífico.— O lobo está com problemas. Ele precisa da sua ajuda. — Sua voz era tranquila, mas havia algo ali… um peso real naquelas palavras. — Você o viu?Meus lábios se apertaram, minha mente buscando uma saída para aquela situação. Não podia confiar neles. Não podia dizer nada. Mas a hesitação custou minha resposta, e quando finalmente me forcei a falar, a verdade escapou.— Não.O homem mais calmo me analisou com paciência. E antes que pudesse impedir, as palavras saíram automaticamente da minha boca:— Como ele está?Me arrependi no mesmo instante.
POV ENRICAA ideia do baile martelava na minha mente. Eu tentava afastar o pensamento, ignorar as palavras de Samuel, mas elas se enraizavam dentro de mim como espinhos. Por que insistiam tanto? O que realmente queriam comigo? Meu corpo estava cansado, exausto, mas o sono não vinha.Quando finalmente adormeci, os pesadelos me encontraram.Eu estava na floresta. A névoa densa escondia o que havia além das sombras, e o vento frio soprava contra minha pele, carregando um cheiro metálico que me fez estremecer. Sangue. Um rosnado ecoou. Alto. Profundo. Quando me virei, vi o lobisomem. Alto, monstruoso, seus olhos ardendo em fúria. O mundo ao meu redor pareceu encolher.Ele avançou, e meu corpo congelou. Quis correr, mas minhas pernas não obedeciam. Então, antes que suas garras me alcançassem, outro vulto surgiu.O lobo negro.Ele rosnou ferozmente, colocando-se entre mim e a criatura. Seus olhos vermelhos brilharam como brasas, e seu corpo tensionou, pronto para lutar. O lobisomem rugiu e a
POV ENRICA— Isso não tem nada a ver comigo. Eu não quero estar envolvida nisso. Vá embora!Sem esperar resposta, passei por ele e segui meu caminho. Eu precisava ir à cidade antes que qualquer outra distração me impedisse. Mas, após alguns minutos, percebi que Oliver ainda me seguia.Parei abruptamente e me virei.— O que você ainda quer? — Minha paciência estava se esgotando.Ele arqueou a sobrancelha.— Nada. Só estou indo para a cidade.Meu maxilar travou. Bufei, irritada, e continuei andando, tentando ignorá-lo. Mas algo nele parecia diferente. Mesmo sem olhar diretamente, percebia seu corpo tenso, como se estivesse lidando com algo que o incomodava mais do que minha presença. Cada movimento dele, cada rosnado baixo, cada respiração parecia um aviso silencioso.Alfas sempre foram uma ameaça para mim. O lobo podia ser uma obsessão perigosa, mas esse alfa? Ele não era o lobo negro.Tentei ignorar, mas a sensação de que ele pudesse fazer algo contra mim não sabia de minha mente.Eu
POV CALEBMeus dedos apertaram os lençóis, os nós dos dedos ficando brancos. Eu podia sentir o cheiro dela na minha memória, podia lembrar do toque suave de sua pele contra minha língua. Mesmo após dias, mesmo depois de incontáveis banhos, de noites em claro tentando sufocar essa lembrança. Ela estava embaixo da minha pele, dentro dos meus ossos. Como uma maldição que eu mesmo cravei em minha carne.O desejo de tê-la, de senti-la de novo, me consumia como uma febre que não passava. Mas o medo do que eu poderia fazer caso me aproximasse era ainda maior.Eu estava preso entre a necessidade e a destruição.A porta do meu quarto se escancarou sem aviso, e minha mãe entrou como uma tempestade, sua postura impecável contrastando com a frieza em seus olhos.— Já lhe dei tempo suficiente para remoer sua miséria, Caleb. Agora, é hora de cumprir seu papel. — Sua voz era cortante, carregada de impaciência.Cruzei os braços, observando-a sem interesse.— E qual tormento planejou desta vez? — Minha
POV ENRICA — ANTES DO BAILECaminhamos em silêncio pela trilha estreita, o crepúsculo lançando sombras distorcidas sobre o solo irregular. O cheiro estranho que senti antes ainda estava lá, preso no ar como uma promessa de perigo. Oliver mantinha-se perto, sua presença inquietante, mas, por algum motivo, estranhamente reconfortante.Eu odiava admitir isso.— Você sempre foi assim, tão calada? — A voz dele cortou o silêncio.Suspirei, revirando os olhos.— Você sempre foi assim, tão intrometido?— Apenas curioso. — Ele lançou-me um olhar lateral, um meio sorriso brincando nos lábios. — Você não é como as outras ômegas que conheço.Meu corpo enrijeceu levemente, e ele percebeu. Vi seus olhos se estreitarem, analisando minha reação com mais atenção do que eu gostaria.— Eu não sou como nenhuma outra ômega — respondi, mantendo meu olhar fixo na trilha à frente.Oliver riu, um som grave e baixo que ecoou na floresta ao nosso redor.— Isso eu já percebi. Mas, me diga, por que ainda não foi r
POV ENRICAAntes que eu pudesse me mover, sombras emergiram da floresta. Um grupo homens de aparência selvagem, me cercaram.Meu coração disparou. Levantei-me de um salto e tentei correr, mas uma mão áspera agarrou meu braço.Gritei. Tentei me desvencilhar, mas o aperto em meu braço era firme, doloroso.— Fique quietinha, docinho — sibilou um dos bandidos, puxando-me contra seu peito imundo. Seu hálito quente e fétido se espalhou contra minha pele quando ele enfiou o rosto no vão do meu pescoço e inspirou fundo. Meus pelos se arrepiaram, não pelo medo, mas pelo nojo que me percorreu dos pés à cabeça.— Hm… essa aqui tem algo diferente. — Ele riu, os dedos sujos apertando minha cintura. — Talvez seja uma entrega especial para o laboratório.Meu corpo congelou.— Não acho que vale muito — disse outro, analisando-me de cima a baixo com desprezo. — Fraca demais. Ninguém vai pagar bem por essa.Meu estômago se revirou. Entrega? Laboratório? O que eles estavam dizendo? Meu sangue gelou, mas
POV ENRICAOliver caiu de joelhos, ofegante, segurando o lado do corpo onde um corte profundo sangrava sem parar. Eu vi o suor escorrendo por sua testa, misturado ao sangue que já manchava seu rosto. Ele tentou se levantar, mas falhou, apoiando-se com uma mão no chão.— Terminou…? — Sua voz saiu áspera e com exaustão.Olhei ao redor, sentindo o pânico ainda preso em minha garganta. O lugar estava repleto de corpos. Todos mortos.— Você está bem? — Oliver perguntou entre dentes, a respiração entrecortada.Eu queria responder, mas minha garganta estava seca. Meu coração ainda martelava em meu peito, incapaz de aceitar que aquilo realmente tinha acontecido. Oliver apertou os olhos, tentando se manter firme, mas seu corpo tremia visivelmente.— Isso… não foi normal — ele rosnou, passando a mão pelo peito ferido. — Por que diabos eles estavam tão descontrolados?Eu sabia a resposta. Meu cheiro. Mas não podia dizer isso.Minha mente gritava para eu correr dali, mas então vi algo que fez o me