POV ENRICA— Isso não tem nada a ver comigo. Eu não quero estar envolvida nisso. Vá embora!Sem esperar resposta, passei por ele e segui meu caminho. Eu precisava ir à cidade antes que qualquer outra distração me impedisse. Mas, após alguns minutos, percebi que Oliver ainda me seguia.Parei abruptamente e me virei.— O que você ainda quer? — Minha paciência estava se esgotando.Ele arqueou a sobrancelha.— Nada. Só estou indo para a cidade.Meu maxilar travou. Bufei, irritada, e continuei andando, tentando ignorá-lo. Mas algo nele parecia diferente. Mesmo sem olhar diretamente, percebia seu corpo tenso, como se estivesse lidando com algo que o incomodava mais do que minha presença. Cada movimento dele, cada rosnado baixo, cada respiração parecia um aviso silencioso.Alfas sempre foram uma ameaça para mim. O lobo podia ser uma obsessão perigosa, mas esse alfa? Ele não era o lobo negro.Tentei ignorar, mas a sensação de que ele pudesse fazer algo contra mim não sabia de minha mente.Eu
POV CALEBMeus dedos apertaram os lençóis, os nós dos dedos ficando brancos. Eu podia sentir o cheiro dela na minha memória, podia lembrar do toque suave de sua pele contra minha língua. Mesmo após dias, mesmo depois de incontáveis banhos, de noites em claro tentando sufocar essa lembrança. Ela estava embaixo da minha pele, dentro dos meus ossos. Como uma maldição que eu mesmo cravei em minha carne.O desejo de tê-la, de senti-la de novo, me consumia como uma febre que não passava. Mas o medo do que eu poderia fazer caso me aproximasse era ainda maior.Eu estava preso entre a necessidade e a destruição.A porta do meu quarto se escancarou sem aviso, e minha mãe entrou como uma tempestade, sua postura impecável contrastando com a frieza em seus olhos.— Já lhe dei tempo suficiente para remoer sua miséria, Caleb. Agora, é hora de cumprir seu papel. — Sua voz era cortante, carregada de impaciência.Cruzei os braços, observando-a sem interesse.— E qual tormento planejou desta vez? — Minha
POV ENRICA — ANTES DO BAILECaminhamos em silêncio pela trilha estreita, o crepúsculo lançando sombras distorcidas sobre o solo irregular. O cheiro estranho que senti antes ainda estava lá, preso no ar como uma promessa de perigo. Oliver mantinha-se perto, sua presença inquietante, mas, por algum motivo, estranhamente reconfortante.Eu odiava admitir isso.— Você sempre foi assim, tão calada? — A voz dele cortou o silêncio.Suspirei, revirando os olhos.— Você sempre foi assim, tão intrometido?— Apenas curioso. — Ele lançou-me um olhar lateral, um meio sorriso brincando nos lábios. — Você não é como as outras ômegas que conheço.Meu corpo enrijeceu levemente, e ele percebeu. Vi seus olhos se estreitarem, analisando minha reação com mais atenção do que eu gostaria.— Eu não sou como nenhuma outra ômega — respondi, mantendo meu olhar fixo na trilha à frente.Oliver riu, um som grave e baixo que ecoou na floresta ao nosso redor.— Isso eu já percebi. Mas, me diga, por que ainda não foi r
POV ENRICAAntes que eu pudesse me mover, sombras emergiram da floresta. Um grupo homens de aparência selvagem, me cercaram.Meu coração disparou. Levantei-me de um salto e tentei correr, mas uma mão áspera agarrou meu braço.Gritei. Tentei me desvencilhar, mas o aperto em meu braço era firme, doloroso.— Fique quietinha, docinho — sibilou um dos bandidos, puxando-me contra seu peito imundo. Seu hálito quente e fétido se espalhou contra minha pele quando ele enfiou o rosto no vão do meu pescoço e inspirou fundo. Meus pelos se arrepiaram, não pelo medo, mas pelo nojo que me percorreu dos pés à cabeça.— Hm… essa aqui tem algo diferente. — Ele riu, os dedos sujos apertando minha cintura. — Talvez seja uma entrega especial para o laboratório.Meu corpo congelou.— Não acho que vale muito — disse outro, analisando-me de cima a baixo com desprezo. — Fraca demais. Ninguém vai pagar bem por essa.Meu estômago se revirou. Entrega? Laboratório? O que eles estavam dizendo? Meu sangue gelou, mas
POV ENRICAOliver caiu de joelhos, ofegante, segurando o lado do corpo onde um corte profundo sangrava sem parar. Eu vi o suor escorrendo por sua testa, misturado ao sangue que já manchava seu rosto. Ele tentou se levantar, mas falhou, apoiando-se com uma mão no chão.— Terminou…? — Sua voz saiu áspera e com exaustão.Olhei ao redor, sentindo o pânico ainda preso em minha garganta. O lugar estava repleto de corpos. Todos mortos.— Você está bem? — Oliver perguntou entre dentes, a respiração entrecortada.Eu queria responder, mas minha garganta estava seca. Meu coração ainda martelava em meu peito, incapaz de aceitar que aquilo realmente tinha acontecido. Oliver apertou os olhos, tentando se manter firme, mas seu corpo tremia visivelmente.— Isso… não foi normal — ele rosnou, passando a mão pelo peito ferido. — Por que diabos eles estavam tão descontrolados?Eu sabia a resposta. Meu cheiro. Mas não podia dizer isso.Minha mente gritava para eu correr dali, mas então vi algo que fez o me
POV EnricaO caminho entre as árvores se estreitou conforme Alicia nos guiava e o ar parecia cada vez mais denso. O chalé surgiu entre a neblina fina como um fantasma do passado — pequeno, de madeira envelhecida, com trepadeiras subindo pelas laterais. Assim que o vi, meu peito apertou. Aquela casa… eu já havia estado ali. Quando criança. Nos braços da velha bruxa que me salvou da morte.Entrei com Oliver ainda escorado em mim. Cada passo parecia mais difícil, o corpo dele pendendo como se os ossos tivessem sido drenados. Alicia abriu a porta e correu para ajeitar um espaço na mesa rústica do centro do cômodo.— Coloque-o aqui — ela indicou, puxando um cobertor velho.Deitei Oliver com cuidado, observando seu rosto pálido e a respiração rasa. Alicia se moveu com agilidade, pegando potes de vidro, ervas e bandagens.— Os ferimentos são profundos, mas não fatais. Se cuidarmos a tempo… — ela não completou.Mesmo desconfiada, me aproximei. Peguei o pano limpo que ela me ofereceu e ajudei a
POV Enrica— O que tem meu pai? — perguntei, a voz tensa.— A minha avó me contou que ele era um atravessador, Enrica. — Alicia me encarou com cuidado. — Ele traficava draxa. Provavelmente para proteger você… escondendo o seu cheiro, desviando a atenção.Neguei com a cabeça, sentindo o mundo girar ao meu redor.— Não… meu pai… ele nunca faria isso…— Talvez sua mãe também não soubesse. — Ela hesitou por um segundo, os olhos fixos no ponto onde sua agulha perfurava a carne de Oliver, como se aquilo a ajudasse a se concentrar. — Ou talvez ela soubesse e não pudesse aceitar. Mas a verdade é que ele estava envolvido com gente perigosa.As peças começaram a se encaixar de forma doentia. As discussões abafadas pela casa. Os sussurros. O medo no olhar da minha mãe quando o nome de certos homens era mencionado. As ausências longas do meu pai. As desculpas esfarrapadas.Levei a mão à testa, tentando afastar aquela nova dor.— Por que ninguém nunca me contou isso? — sussurrei.— Porque você era
POV Enrica— Eu preciso da draxina — falei, finalmente, depois que o silêncio nos envolveu de novo. — Preciso reforçar meu colar. Não tenho mais muito tempo.Alicia me encarou com gravidade.— A draxina não é fácil de manipular. É perigosa, venenosa. Só pessoas autorizadas podem usá-la… porque uma dose errada pode matar até um alfa em minutos.Meu peito apertou. Eu sabia que estava ficando sem alternativas.— Então o que eu faço?— Posso tentar usar a draxa. — disse, pensativa. — Não tem o mesmo efeito duradouro, mas vai ajudar… por algum tempo.A draxa era instável, era ilegal. Se descobrirem que eu usava, estaria condenada. Mas era tudo o que eu tinha.— Quanto tempo ela dura?— Manipulada do jeito incorreto? Dias, talvez uma semana. Mas quando começar a perder o efeito… seu cheiro virá à tona com mais força do que nunca. Porque a draxa não suprime… ela mascara. E quando se desfaz, os feromônios se libertam com mais intensidade.— Vai ser a primeira vez que reforço o colar desde que