POV Enrica— O que tem meu pai? — perguntei, a voz tensa.— A minha avó me contou que ele era um atravessador, Enrica. — Alicia me encarou com cuidado. — Ele traficava draxa. Provavelmente para proteger você… escondendo o seu cheiro, desviando a atenção.Neguei com a cabeça, sentindo o mundo girar ao meu redor.— Não… meu pai… ele nunca faria isso…— Talvez sua mãe também não soubesse. — Ela hesitou por um segundo, os olhos fixos no ponto onde sua agulha perfurava a carne de Oliver, como se aquilo a ajudasse a se concentrar. — Ou talvez ela soubesse e não pudesse aceitar. Mas a verdade é que ele estava envolvido com gente perigosa.As peças começaram a se encaixar de forma doentia. As discussões abafadas pela casa. Os sussurros. O medo no olhar da minha mãe quando o nome de certos homens era mencionado. As ausências longas do meu pai. As desculpas esfarrapadas.Levei a mão à testa, tentando afastar aquela nova dor.— Por que ninguém nunca me contou isso? — sussurrei.— Porque você era
POV Enrica— Eu preciso da draxina — falei, finalmente, depois que o silêncio nos envolveu de novo. — Preciso reforçar meu colar. Não tenho mais muito tempo.Alicia me encarou com gravidade.— A draxina não é fácil de manipular. É perigosa, venenosa. Só pessoas autorizadas podem usá-la… porque uma dose errada pode matar até um alfa em minutos.Meu peito apertou. Eu sabia que estava ficando sem alternativas.— Então o que eu faço?— Posso tentar usar a draxa. — disse, pensativa. — Não tem o mesmo efeito duradouro, mas vai ajudar… por algum tempo.A draxa era instável, era ilegal. Se descobrirem que eu usava, estaria condenada. Mas era tudo o que eu tinha.— Quanto tempo ela dura?— Manipulada do jeito incorreto? Dias, talvez uma semana. Mas quando começar a perder o efeito… seu cheiro virá à tona com mais força do que nunca. Porque a draxa não suprime… ela mascara. E quando se desfaz, os feromônios se libertam com mais intensidade.— Vai ser a primeira vez que reforço o colar desde que
POV Enrica— Talvez eu possa ajudar. Quero dizer, conheço alguém que sabe mais do que parece e pode conhecer algo sobre linhagens raras ou o que quer que vocês sejam.Alicia e eu o observamos em silêncio.— Você sabe quem é, ômega — ele disse olhando diretamente para mim.Deve ser o beta que estava com ele em frente a minha cabana.— O que você quer em troca? — perguntei, estreitando os olhos. — Ninguém oferece ajuda de graça.Oliver suspirou e seus olhos encontraram os meus, sérios, mas não agressivos.— Que aquele amigo idiota seja feliz.Franzi o cenho sem entender.— Isso não responde minha pergunta.— E o que você pode me oferecer, ômega? — ele perguntou, a voz quase desdenhosa.Algo estalou dentro de mim. O sangue ferveu.— Você realmente quer descobrir o que acontece quando subestima alguém como eu? — rosnei, dando um passo à frente, a raiva queimando em cada palavra. — Porque se tudo que você vê quando olha pra mim é uma maldita “ômega”, então você é tão cego quanto o resto del
POV EnricaAlicia caminhou até a outra ponta do cômodo e recolheu algumas ervas e frascos.— Vou começar a reforçar seu colar — falou, observando Oliver afundar nas almofadas. — Ainda me intriga como um lobo comum reagiu tanto ao seu cheiro.— Ele era um lobisomem, Alicia. Na verdade, um shifter… — retruquei, franzindo o cenho. Nem eu mesma acreditava nisso. Shifter não existiam no nosso mundo.O olhar dela se estreitou.— Está me dizendo que ele é um lobisomem que se transforma em lobo? Um lobo comum? — Ela estava exageradamente surpresa.— Lobo Supremo — corrigiu Oliver, olhando para ela com dureza. — E não andem por aí dizendo isso em voz alta se quiserem manter a cabeça.— O quê?! — exclamamos ao mesmo tempo.Ele apenas fechou os olhos de novo, como se estivesse cansado do nosso atraso em entender.— Isso… é realmente possível? — Você viu, não viu? — Oliver respondeu ainda de olhos fechados.— Vi a transformação. Mas não sei quem ele é...— Ainda. O baile servirá para isso, não?—
POV EnricaAlicia subiu correndo as escadas para preparar sua bolsa. No meio do caminho, esbarrou em Oliver.— Ai, preste atenção por onde anda! — ele reclamou, fazendo uma careta de dor.— Você que estava plantado no meio — retrucou Alicia, empurrando-o com o ombro enquanto passava.— O que foi isso? — perguntou ele, arqueando a sobrancelha para mim e voltando seu olhar para o andar de cima.— Ela vai com a gente — respondi.Oliver não pareceu nem um pouco satisfeito com a notícia, mas não disse nada.Os curativos de Oliver foram reforçados e logo estávamos prontos para partir. Mas Alicia surgiu com uma mochila e duas bolsas pesadas. Oliver tentou ignorar, mas acabou tomando delas com um resmungo.Na verdade, Oliver queria deixá-las no chalé, mas ela reclamou tanto e ameaçou deixá-lo sangrar no meio do caminho que ele simplesmente desistiu.— Conheço um caminho mais rápido — disse Alicia, ao ajustarmos o passo. — Mas é mais perigoso. É uma trilha que mercenários e bandidos costumam us
POV EnricaAo chegarmos, empurrei a porta com o ombro e indiquei o interior.— Pode ficar à vontade. Não é grande coisa, mas é segura. Dá pra improvisar uma cama ali perto da lareira, se você quiser.— Já parece mais confortável que qualquer pousada onde fiquei — disse Alicia, sorrindo enquanto se acomodava.Fui até a mesa e abri o pacote que Samuel havia me entregado. Dentro, encontrei uma máscara delicada, branca, com orelhas de coelho levemente alongadas e detalhes prateados bordando o contorno dos olhos. Era linda. Assustadoramente linda.Minha mão tremia levemente ao tocá-la. Um nó apertava minha garganta.— Respira — disse Alicia atrás de mim. — Vai dar tudo certo.Respirei fundo e sorri. Alicia perguntou onde era o banheiro e indiquei a ela, dizendo que iria preparar algo para comermos. A viagem de volta foi cansativa. Precisava recarregar as energias para o baile.O tempo parecia correr mais rápido conforme o sol descia no horizonte. A cada batida do meu coração, o nervosismo c
POV Enrica— Eu sei que tudo isso é demais — Samuel começou, mantendo o tom calmo enquanto me guiava com discrição entre os convidados. — Oliver já me contou o essencial sobre o que aconteceu. Não precisa se assustar.Um arrepio percorreu minha espinha.— Ele contou?— Sim, mas com o cuidado necessário. Ninguém além de nós sabe, e já pensamos em contramedidas caso algo saia do controle — garantiu ele, firme. — Você está segura conosco.Fiquei em silêncio, a tensão ainda presente, mas começando a ceder.— Oliver pode parecer um idiota às vezes — ele continuou, com um pequeno sorriso de lado — mas é absurdamente responsável quando se trata de proteger alguém. Especialmente quando envolve o Caleb.Um calor estranho percorreu meu estômago ao ouvir aquele nome. Samuel prosseguiu:— Depois do baile, pretendo visitá-la. Quero levar alguns livros da biblioteca da minha família. Tenho quase certeza de que há registros sobre linhagens extintas… ou pelo menos, algo próximo. Talvez ajude a entende
POV Enrica— E a outra ômega, a que faz poções… — Oliver começou, tentando soar casual. — Al…— Alicia? — interrompi, franzindo o cenho. — Por que a pergunta?— Nada demais — ele deu de ombros depressa demais. — É que os remédios dela funcionam rápido. Amargos, mas eficazes. Só isso.— Só isso, hein? — Samuel arqueou a sobrancelha, entrando na conversa. — O alfa que dizia que nunca se renderia a ômegas, agora cercado por duas. Deve estar vivendo um pesadelo.— Vai à merda, Samuel — Oliver resmungou, mas sem real agressividade.Não contive a risada. A troca entre os dois era quase cômica, e, por um momento, me ajudou a esquecer a tensão em meu estômago.— E você — Oliver virou-se para mim, me analisando de cima a baixo com aquele ar provocador de sempre. — Solta um pouco esses ombros, ômega. Desse jeito, vai parecer que tá prestes a ser devorada por um bando de lobos famintos.Fingi não ouvir, mas minhas mãos encontraram o colar no pescoço por instinto. Meus dedos deslizaram pelo pingen