POV EnricaAo chegarmos, empurrei a porta com o ombro e indiquei o interior.— Pode ficar à vontade. Não é grande coisa, mas é segura. Dá pra improvisar uma cama ali perto da lareira, se você quiser.— Já parece mais confortável que qualquer pousada onde fiquei — disse Alicia, sorrindo enquanto se acomodava.Fui até a mesa e abri o pacote que Samuel havia me entregado. Dentro, encontrei uma máscara delicada, branca, com orelhas de coelho levemente alongadas e detalhes prateados bordando o contorno dos olhos. Era linda. Assustadoramente linda.Minha mão tremia levemente ao tocá-la. Um nó apertava minha garganta.— Respira — disse Alicia atrás de mim. — Vai dar tudo certo.Respirei fundo e sorri. Alicia perguntou onde era o banheiro e indiquei a ela, dizendo que iria preparar algo para comermos. A viagem de volta foi cansativa. Precisava recarregar as energias para o baile.O tempo parecia correr mais rápido conforme o sol descia no horizonte. A cada batida do meu coração, o nervosismo c
POV Enrica— Eu sei que tudo isso é demais — Samuel começou, mantendo o tom calmo enquanto me guiava com discrição entre os convidados. — Oliver já me contou o essencial sobre o que aconteceu. Não precisa se assustar.Um arrepio percorreu minha espinha.— Ele contou?— Sim, mas com o cuidado necessário. Ninguém além de nós sabe, e já pensamos em contramedidas caso algo saia do controle — garantiu ele, firme. — Você está segura conosco.Fiquei em silêncio, a tensão ainda presente, mas começando a ceder.— Oliver pode parecer um idiota às vezes — ele continuou, com um pequeno sorriso de lado — mas é absurdamente responsável quando se trata de proteger alguém. Especialmente quando envolve o Caleb.Um calor estranho percorreu meu estômago ao ouvir aquele nome. Samuel prosseguiu:— Depois do baile, pretendo visitá-la. Quero levar alguns livros da biblioteca da minha família. Tenho quase certeza de que há registros sobre linhagens extintas… ou pelo menos, algo próximo. Talvez ajude a entende
POV Enrica— E a outra ômega, a que faz poções… — Oliver começou, tentando soar casual. — Al…— Alicia? — interrompi, franzindo o cenho. — Por que a pergunta?— Nada demais — ele deu de ombros depressa demais. — É que os remédios dela funcionam rápido. Amargos, mas eficazes. Só isso.— Só isso, hein? — Samuel arqueou a sobrancelha, entrando na conversa. — O alfa que dizia que nunca se renderia a ômegas, agora cercado por duas. Deve estar vivendo um pesadelo.— Vai à merda, Samuel — Oliver resmungou, mas sem real agressividade.Não contive a risada. A troca entre os dois era quase cômica, e, por um momento, me ajudou a esquecer a tensão em meu estômago.— E você — Oliver virou-se para mim, me analisando de cima a baixo com aquele ar provocador de sempre. — Solta um pouco esses ombros, ômega. Desse jeito, vai parecer que tá prestes a ser devorada por um bando de lobos famintos.Fingi não ouvir, mas minhas mãos encontraram o colar no pescoço por instinto. Meus dedos deslizaram pelo pingen
POV Caleb— Repita — rosnei.— Eu só… foi uma brincadeira. — Sua confiança escorregava mais rápido do que a dignidade no olhar. — A máscara… o jeito como o você olhava para ela… é óbvio, não?Dei um passo à frente.— Engraçado. Achei que você estivesse interessada em mim. Mas está mais preocupada com ela, é isso?A ômega engoliu em seco, mas manteve o sorriso.— Não me leve a mal, Alteza… — Ela olhou de soslaio para Enrica, com veneno. — É que algumas… se destacam por estarem fora do lugar.— E outras se esforçam tanto para chamar atenção, que acabam expostas demais — rebati, o tom mais baixo, mais cortante. — Como você, se oferecendo como se estivesse à venda, enquanto tenta diminuir outra para se sentir desejável.Ela empalideceu.— Está me chamando de quê?Inclinei-me até que nossas respirações quase se tocassem.— Estou dizendo que sua boca fala mais do que seu sangue sustenta. E que sua inveja fede mais do que seu perfume.Um estalo seco surgiu, senti o tapa. Minha cabeça virou de
POV CalebEla não era minha. Ainda. Mas o instinto não entende de diplomacia. O instinto só entende de reivindicação.— Por que vocês estavam com ela?— O quê?— Você e Oliver. O que estavam fazendo com Enrica, Samuel? Por que estavam com ela? — minha voz crescia, embora ainda baixa. A ameaça real estava no tom. — Desde quando ela anda com vocês?Samuel suspirou, passou a mão no rosto.— Estávamos tentando te proteger. E a ela também.Eu ergui uma sobrancelha, a desconfiança crescendo junto com a raiva. — Você quer que eu diga a verdade? Oliver quase morreu protegendo ela.A raiva ferveu. A imagem de Oliver entre ela e qualquer outro alfa era suficiente pra me fazer querer quebrar algo.— Por quê? — minha voz saiu alta e gutural o suficiente para que outros convidados se viraram e partissem para longe de nós.— Eu vou te explicar tudo depois do baile — disse Samuel, baixo, porém firme. A voz dele carregava aquele tom que sempre usava quando queria me conter.Mas eu não queria esperar
POV CalebO silêncio que se seguiu foi mais forte do que qualquer discussão. Vi o exato momento em que o olhar da Rainha Amelia vacilou, como se, por um segundo, não soubesse o que dizer.Mas foi quando Raphael — aquele maldito bastardo de Liene — estendeu a mão e Enrica a aceitou, que o controle se partiu por dentro de mim.Eles estavam indo para a pista de dança. Ela estava indo dançar com outro alfa.Com Raphael. À vista de todos. E ela aceitou.O mundo se estreitou. Cada músculo do meu corpo enrijeceu, como se estivesse prestes a despedaçar a própria pele. O som ao redor desapareceu. Tudo que eu ouvia era o rosnado surdo do meu lobo, exigindo sangue.Minha mãe seguiu meu olhar e seu semblante se fechou.— É ela? — sua voz veio em um sussurro. — A mesma com quem você se encontrava às escondidas?Não havia mais o porquê fingir. O instinto já havia me denunciado.— Caleb, você precisa se controlar. Isso não pode acontecer agora.— Ele está tocando nela! — rosnei, o olhar preso nas mão
POV CalebSamuel respirou fundo e finalmente falou:— O cheiro dela é diferente, Caleb. É raro e afeta os alfas. A maioria não consegue resistir. Se tornam agressivos, territoriais, perigosos.Samuel olhou para Oliver, que desviou o olhar de mim.— Você fez algo contra ela? — rosnei.— Claro que não! Mas vi o que acontece quando um alfa sente o cheiro dela. E não é algo bonito.Estreitei os olhos sem entender.— Lembra daquela história do massacre da Vila Harari? — começou Samuel. — Enrica era de lá.Meu coração parou de bater por um segundo. Quando o nome da vila foi pronunciado, o tempo pareceu congelar.— O que você acabou de dizer? — murmurei, a voz baixa, mas carregada de tensão.Samuel me encarou com seriedade. Oliver, ao lado, mantinha os braços cruzados, a mandíbula travada.— Aquilo foi um surto de draxa. Os moradores usavam e traficavam, pois existia um laboratório clandestino operando perto da vila.— Foi o que nos fizeram acreditar — respondeu Samuel. — Mas só depois que Ol
POV CalebCada segundo daquela maldita dança era uma tortura.Meus olhos estavam fixos nos dois. Raphael sorria com a falsa polidez de sempre, uma mão estendida na direção de Enrica, e o outro braço a guiava com elegância calculada pelo salão.Minhas garras latejavam sob a pele. O lobo se agitava, implorando para avançar. Para tomá-la dali. Mas eu me segurei. Só porque Samuel estava ao meu lado — e porque, por mais que doesse admitir, ele tinha razão.— Ela ainda não sabe quem você é — disse Samuel, observando o casal com expressão tensa. — E mesmo assim, ela está dançando com outro. Porque é o que uma estrategista faria. Ela aceita para manter o disfarce.Respirei fundo, sentindo o gosto de sangue na garganta.— Isso está demorando demais — murmurei. — Essa música já devia ter acabado.— É a dança de abertura oficial — explicou ele. — Raphael a convidou de forma pública, e com todos olhando. É tradição. Ninguém pode questionar.Meus punhos se cerraram com força. Eu não me importava co