POV CalebSamuel respirou fundo e finalmente falou:— O cheiro dela é diferente, Caleb. É raro e afeta os alfas. A maioria não consegue resistir. Se tornam agressivos, territoriais, perigosos.Samuel olhou para Oliver, que desviou o olhar de mim.— Você fez algo contra ela? — rosnei.— Claro que não! Mas vi o que acontece quando um alfa sente o cheiro dela. E não é algo bonito.Estreitei os olhos sem entender.— Lembra daquela história do massacre da Vila Harari? — começou Samuel. — Enrica era de lá.Meu coração parou de bater por um segundo. Quando o nome da vila foi pronunciado, o tempo pareceu congelar.— O que você acabou de dizer? — murmurei, a voz baixa, mas carregada de tensão.Samuel me encarou com seriedade. Oliver, ao lado, mantinha os braços cruzados, a mandíbula travada.— Aquilo foi um surto de draxa. Os moradores usavam e traficavam, pois existia um laboratório clandestino operando perto da vila.— Foi o que nos fizeram acreditar — respondeu Samuel. — Mas só depois que Ol
POV CalebCada segundo daquela maldita dança era uma tortura.Meus olhos estavam fixos nos dois. Raphael sorria com a falsa polidez de sempre, uma mão estendida na direção de Enrica, e o outro braço a guiava com elegância calculada pelo salão.Minhas garras latejavam sob a pele. O lobo se agitava, implorando para avançar. Para tomá-la dali. Mas eu me segurei. Só porque Samuel estava ao meu lado — e porque, por mais que doesse admitir, ele tinha razão.— Ela ainda não sabe quem você é — disse Samuel, observando o casal com expressão tensa. — E mesmo assim, ela está dançando com outro. Porque é o que uma estrategista faria. Ela aceita para manter o disfarce.Respirei fundo, sentindo o gosto de sangue na garganta.— Isso está demorando demais — murmurei. — Essa música já devia ter acabado.— É a dança de abertura oficial — explicou ele. — Raphael a convidou de forma pública, e com todos olhando. É tradição. Ninguém pode questionar.Meus punhos se cerraram com força. Eu não me importava co
POV CalebA mão dela estava na minha. Leve, hesitante… mas ali. E era tudo o que eu precisava.A música preencheu o salão em ondas suaves. Conduzi Enrica para o centro da pista, o calor da palma dela queimando na minha pele como uma promessa antiga que finalmente se cumpria.De início, dançamos em silêncio. O som dos passos ritmados no mármore, o arrastar sutil de tecidos, o murmúrio distante das conversas — tudo se tornava ruído diante da presença dela.Eu sentia sua respiração. Sentia o toque da pele. E sentia meu lobo… faminto.O cheiro dela era intoxicante. Minha boca salivava com a lembrança de seu gosto, do sangue… Era como se o mundo inteiro desaparecesse e só restasse o instinto: puxá-la para mais perto, colar meu corpo ao dela e cravar meus dentes naquela pele quente, onde todos pudessem ver.Gritar ao salão inteiro que ela era minha. Que já tinha dono. Que nenhum outro alfa ousasse sequer respirar perto. Ela sempre foi minha. Desde a primeira vez que meu lobo sentiu seu chei
POV CalebEnquanto Enrica mordiscava um dos bolinhos com o cuidado de quem não sabia se devia saborear ou se preparar para fugir de novo, meu olhar voltou-se para o salão.Samuel conversava com Raphael do outro lado — e aquilo não parecia uma conversa amistosa. O príncipe de Liene mantinha a postura impecável, claro, mas Samuel falava com os ombros tensos e a mandíbula travada. Conhecia aquele olhar. Algo ali estava prestes a explodir.Mais à frente, Oliver interagia com dois guardas, contornando uma situação com dois alfas exaltados. Um deles apontava discretamente na direção da mesa onde estávamos. Meu corpo inteiro se retesou.Não era paranoia. Eu podia senti-los.Outros alfas. Demais deles. Disfarçados, espreitando… ou simplesmente sendo consumidos pelo cheiro que emanava dela, mesmo com o colar. Suprimido, sim. Mas não apagado. Nunca completamente.E então, senti. O olhar dela, minha mãe.Sentada no alto, entre risos e discussões políticas, Amelia não se dava o trabalho de escond
POV CalebEntrei na sala privada anexa ao salão principal com os passos mais pesados do que gostaria de admitir. A porta fechou atrás de mim, abafando o som da festa. Lá dentro, minha mãe esperava, cercada de três conselheiros reais. Quando me viu, não esboçou nenhum sorriso — apenas um aceno breve.— Deixem-nos a sós — disse ela aos homens, e eles se curvaram antes de sair com pressa.O silêncio entre nós durou alguns segundos. Longos demais.— Quem é aquela ômega? — Amelia começou, direto ao ponto. Sua voz era baixa, gélida. — Você pretende manchar sua linhagem por capricho?Minha mandíbula travou. Respirei fundo, tentando manter o controle.— Ela é só uma convidada, mãe. Nada oficial.— Está claro para todos que ela é importante demais para você. — Amelia cruzou os braços, a postura de rainha em cada traço. — Sabe quantos olhos estão observando? Quantos comentários já começaram a circular?— E desde quando me importo com os cochichos da corte? — retruquei, seco.— Você devia. Um di
POV EnricaO som do baile parecia distante agora, abafado pelas paredes e pelo vento suave que vinha da sacada. A comida no meu prato tinha acabado há algum tempo, mas eu continuava ali, imóvel, encarando o céu como se ele fosse me oferecer alguma resposta.Príncipe Caleb.O nome pulsava dentro de mim como uma dúvida que se recusava a morrer.Havia algo errado com ele. Ou talvez… certo demais. E era isso que me assustava.Desde que entrei naquele salão, senti sua presença antes mesmo de vê-lo. E quando nossos olhos se encontraram… não foi como se eu estivesse conhecendo alguém. Foi como se estivesse reencontrando. Como se já soubesse exatamente o que havia por trás daquela máscara.A forma como ele se movia… o jeito que falava… aquele calor estranho que se espalhava por mim quando ele estava por perto. A tensão, a calma forçada, os olhos em brasa. Ele me olhava como se eu fosse o centro de algo que ele tentava desesperadamente conter. Ou reivindicar.E dançar com ele… foi quase demais
POV EnricaO som da briga se tornou um borrão atrás de mim. Estava na sacada, mas parecia em outro mundo. O ar vibrava com tensão, mas dentro de mim, tudo era silêncio. Um silêncio surdo, esmagador. Como se o tempo tivesse prendido a respiração.Minha boca se abriu. Eu queria gritar. Mas a voz não saiu. A garganta travada, o peito preso, como se o medo tivesse engolido meu fôlego.Caleb golpeava Raphael com uma força que não era humana. O som dos socos parecia vir debaixo da terra. Raphael revidava, mas estava em desvantagem. Caleb era puro instinto agora. Puro ódio. E algo além.O baile… o salão atrás de nós… estava em pânico contido. As pessoas espiavam, tentavam entender. Mas ninguém ousava se aproximar da sacada. Ninguém queria estar entre aquelas duas forças em colisão.Até que ouvi:— CALEB! — A voz de Oliver cortou o caos como uma lâmina. — OLHA PRA MIM!Ele se meteu entre os dois, Samuel em seu encalço, os braços abertos, tentando conter o impossível. Mas Caleb já não estava a
POV EnricaO frio da floresta era como agulhas. Cada folha que cortava minha pele parecia querer me lembrar que eu ainda estava aqui, viva… fugindo.O ar entrava e saía com dificuldade. Meu peito ardia. O colar apertava a garganta como um castigo, como se soubesse que eu estava tentando negar o que não podia ser negado.Então, aconteceu. Um uivo.Não era um som comum. Era grave, profundo, reverberava por entre as árvores como algo que não pedia atenção — exigia. E meu corpo respondeu.As pernas travaram. Os dedos se fecharam em punhos. Os olhos se arregalaram. O coração parou por um segundo. O sangue correu quente demais. Frio demais. Como se meu nome tivesse sido sussurrado por algo que me conhecia por dentro.Não consegui me mexer. Como se algo invisível tivesse se enroscado nos meus ossos. Eu não queria responder. Mas já estava respondendo.— Não… — sussurrei, entre lágrimas e fôlego curto. — Por favor… não.Virei o rosto. Não queria olhar. Mas olhei.Entre as árvores, uma sombra s