POV CalebO caminho de volta parecia mais escuro do que antes. As árvores mais altas. O mundo… mais pesado.Eu precisava voltar ao palácio. Mas antes mesmo de alcançar a saída da floresta…— Demorou. — A voz de Oliver surgiu à minha frente. Braços cruzados. Olhar sombrio. Ele avaliou meu estado de cima a baixo e bufou, estendendo uma capa. — Pelo menos cobre essa sua realeza antes de causar outro escândalo.Vesti a capa sem dizer uma palavra. O tecido roçava minha pele como se tentasse apagar os últimos vestígios dela. Mas nada podia.— Samuel está com a rainha e Conselheiro Magnus — continuou Oliver, andando ao meu lado. — Meu pai também… — Ele fez uma careta. — Estão tentando contornar o estrago com Liene. O príncipe ainda está no castelo, cercado por bajuladores e exigências idiotas.— Não me importo com Liene — rosnei, os dentes travando. — Não dou a mínima para o que eles pensam.— Talvez devesse. — Oliver parou. A voz firme, fria. — Antes de pensar nela, pense no seu povo. Se vo
POV Caleb— Então… — Anthony pigarreou, quebrando a tensão, embora seus olhos ainda analisassem cada detalhe da sala. — Quem é essa ômega que colocou metade do reino em alerta e quase iniciou uma guerra com Liene? — Ele estreitou os olhos. — Oliver, está caçando ômegas proibidas pelas costas da guarda real?— O quê?! — Oliver arregalou os olhos, ofendido. — NÃO! Não é minha, juro! Nem toquei nela! Eu só… acompanhei! — Ele logo se calou, percebendo que falara demais.Eu rosnei. Baixo. Quente. O som gutural vibrou no ar antes que eu pudesse conter. Anthony virou-se lentamente, as sobrancelhas arqueadas. E antes que eu dissesse qualquer coisa, Samuel interveio com firmeza:— Ela é uma parente distante minha. — Os olhos dele estavam fixos em Anthony, o tom cortante, como se desafiasse qualquer um a questionar.Magnus estreitou os olhos, mas não disse uma palavra. Apenas encarou o próprio filho, o silêncio carregando mais significado do que qualquer reprovação verbal. Samuel desviou o olha
POV Caleb— Então é guerra que querem? — murmurei, a voz ainda reverberando com a força do comando. — Se guerra é a única forma de diplomacia que Liene conhece… que assim seja.Virei o rosto para Anthony:— Prepare os regimentos. Agora.Ele assentiu com um leve movimento de cabeça, como quem já esperava por isso.— Caleb… — Magnus tentou, cauteloso. — Há caminhos que ainda não exploramos…— Não há mais tempo para caminhos — cortei. — Eles cruzaram uma linha.Amelia não disse uma palavra. Só me observava. O olhar fixo, carregado de algo que eu não soube nomear.— Você não vai levar a futura rainha deste reino — declarei.Um silêncio tenso desceu sobre a sala. Alguns conselheiros olharam uns para os outros, tensos. A palavra “rainha” jamais deveria ser dita sem aprovação do Alto Conselho… mas ninguém ousou questionar. Raphael soltou uma risada breve, seca.— Rainha? Aquela coelha assustada? — O escárnio escorria das palavras dele. — Vocês esperam mesmo que alguém leve isso a sério?— Q
POV EnricaO escuro era denso. Não apenas pela ausência de luz, mas por aquele tipo de escuridão que se arrasta sob a pele, como se o próprio corpo tivesse esquecido como existir.O primeiro suspiro veio entrecortado. Os pulmões pareciam esquecer o ritmo. Minha garganta doía. A boca tinha gosto de metal, como se tivesse mordido sangue.Abri os olhos com dificuldade. O teto acima de mim… eu conhecia aquele forro de madeira. A textura das paredes. O cheiro da lareira antiga. A cabana. Mas algo estava fora do lugar. Meu corpo. Meu peito. O colar apertava a garganta como se estivesse tentando me punir por ainda estar ali. Cada centímetro da minha pele doía. E na mente… flashes.Caleb. O baile. O lobo. Os olhos vermelhos. A briga. O rugido. A queda.Arfei.— Enrica?! — Uma voz feminina se aproximou. Alicia.Vi seu vulto se apressar até mim, os cabelos escuros presos de qualquer jeito, os olhos azuis arregalados. Ela parecia aliviada e, ao mesmo tempo, prestes a desabar.— Graças aos deuse
POV EnricaA floresta ao redor parecia estranhamente silenciosa. Como se os pássaros tivessem prendido o fôlego. Um silêncio espesso, fora do normal. Algo estava fora do lugar.E então… uma batida na porta.Meu coração disparou. O som seco ecoou como um trovão na minha mente. Por um instante, pensei que fosse ele. Caleb. Que havia ignorado o próprio recado e vindo mesmo assim.Uma expectativa me tomou de assalto. Então lembrei: ele disse que não se aproximaria sem minha permissão.A mão que tocou a maçaneta era firme. Quando abri a porta… Não era Caleb.O homem diante de mim era alto, elegante, vestia-se com perfeição. Mas o que me atingiu não foi a aparência — foi a aura. Uma presença opressora, sutilmente ameaçadora.— Senhorita Enrica Vellmond — ele disse, com um leve sorriso nos lábios. Vellmond? — Venho em nome do Príncipe Raphael de Liene. Podemos conversar?Minha respiração vacilou.— O príncipe lamenta profundamente os… excessos da noite passada — continuou ele, em tom cortês
POV ENRICA— Enrica… — Alicia se virou para mim, a voz firme. — O que está acontecendo? Ele te conhece de alguma forma? Ele também me conhece? Você precisa me contar tudo.— Já estou cansada disso — murmurei, tentando escapar da conversa, mas ela avançou um passo, não me deixando fugir.— Cansada de quê? De confiar em mim? De me deixar ajudar? Sou tudo que você tem, Enrica!— É mesmo? — rebati, a voz subindo. — Porque às vezes parece que você confia mais nesses alfas do que em mim!Alicia arregalou os olhos, surpresa, como se tivesse levado um tapa.— O que você está dizendo? — a voz dela veio mais baixa, ferida, mas firme.— Quero dizer que você parece bem confortável com o Oliver! — cuspi. — Me diz, desde quando você confia assim em alfas? Desde quando acha que eles estão aqui pra nos proteger e não pra nos destruir?A expressão de Alicia mudou. Ela ficou rígida.— Acha que tô do lado deles? — Alicia deu um passo à frente, a mão tremendo ao soltar o frasco que ainda segurava. — Você
POV ENRICA— Ele não podia… — murmurei, o sangue fervendo. — Ele não podia dizer isso. Ele não podia me usar desse jeito!Meu peito arfava. Andei em círculos curtos dentro da cabana, as mãos tremendo. A raiva e a confusão queimavam sob minha pele como brasas vivas.— Eu nunca pedi isso. Ele mentiu, me usou… — continuei, entre dentes. — E ainda assim… ele me jogou no centro disso tudo como se fosse um jogo político. Como se eu fosse uma peça. Uma desculpa!Alicia se aproximou, séria. Os olhos ainda marejados, mas agora firmes.— Então o que você vai fazer? Fugir de novo? — ela perguntou. — Porque se for isso, me avisa logo. Preparo as coisas. A gente desaparece de vez. Some do mapa. Vai viver do outro lado do continente, se quiser.Minha garganta fechou. Olhei para ela, depois para Samuel, que aguardava em silêncio, respeitando a explosão. Ele não dizia nada, mas seus olhos me observavam, esperando.— Ou você vai enfrentar isso — Alicia continuou. — Vai até ele. Vai perguntar com a próp
POV CALEB— E sobre a movimentação das tropas de retaguarda? — perguntei, finalmente quebrando o silêncio. — Se vamos dividir o exército, quero saber se as reservas conseguem cobrir Marvat caso haja uma emboscada.Magnus assentiu lentamente, ajustando marcadores sobre o mapa.— As reservas estão em Ravarien. Podemos mover metade delas para o norte. Mas isso deixaria a fronteira sul vulnerável.— Então movam apenas um terço. Quero velocidade e cautela. E mantenham patrulhas duplas no limite do Bosque Velkar. Se Raphael tentar contornar pela floresta, não vai passar despercebido — ordenei.Um dos conselheiros, mais velho, bufou.— Isso se essa guerra realmente acontecer. Ainda podemos enviar uma nova carta de mediação.— Já passamos dessa fase — rosnei. — Raphael quer guerra. Vai tê-la.Outro general, de expressão rígida, se adiantou.— Alteza, peço licença, mas ainda é imprudente expor o senhor no campo de batalha. Como futuro rei, sua presença é um risco.Antes que eu respondesse, Ame