POV Enrica— Eu sei que tudo isso é demais — Samuel começou, mantendo o tom calmo enquanto me guiava com discrição entre os convidados. — Oliver já me contou o essencial sobre o que aconteceu. Não precisa se assustar.Um arrepio percorreu minha espinha.— Ele contou?— Sim, mas com o cuidado necessário. Ninguém além de nós sabe, e já pensamos em contramedidas caso algo saia do controle — garantiu ele, firme. — Você está segura conosco.Fiquei em silêncio, a tensão ainda presente, mas começando a ceder.— Oliver pode parecer um idiota às vezes — ele continuou, com um pequeno sorriso de lado — mas é absurdamente responsável quando se trata de proteger alguém. Especialmente quando envolve o Caleb.Um calor estranho percorreu meu estômago ao ouvir aquele nome. Samuel prosseguiu:— Depois do baile, pretendo visitá-la. Quero levar alguns livros da biblioteca da minha família. Tenho quase certeza de que há registros sobre linhagens extintas… ou pelo menos, algo próximo. Talvez ajude a entende
POV Enrica— E a outra ômega, a que faz poções… — Oliver começou, tentando soar casual. — Al…— Alicia? — interrompi, franzindo o cenho. — Por que a pergunta?— Nada demais — ele deu de ombros depressa demais. — É que os remédios dela funcionam rápido. Amargos, mas eficazes. Só isso.— Só isso, hein? — Samuel arqueou a sobrancelha, entrando na conversa. — O alfa que dizia que nunca se renderia a ômegas, agora cercado por duas. Deve estar vivendo um pesadelo.— Vai à merda, Samuel — Oliver resmungou, mas sem real agressividade.Não contive a risada. A troca entre os dois era quase cômica, e, por um momento, me ajudou a esquecer a tensão em meu estômago.— E você — Oliver virou-se para mim, me analisando de cima a baixo com aquele ar provocador de sempre. — Solta um pouco esses ombros, ômega. Desse jeito, vai parecer que tá prestes a ser devorada por um bando de lobos famintos.Fingi não ouvir, mas minhas mãos encontraram o colar no pescoço por instinto. Meus dedos deslizaram pelo pingen
POV Caleb— Repita — rosnei.— Eu só… foi uma brincadeira. — Sua confiança escorregava mais rápido do que a dignidade no olhar. — A máscara… o jeito como o você olhava para ela… é óbvio, não?Dei um passo à frente.— Engraçado. Achei que você estivesse interessada em mim. Mas está mais preocupada com ela, é isso?A ômega engoliu em seco, mas manteve o sorriso.— Não me leve a mal, Alteza… — Ela olhou de soslaio para Enrica, com veneno. — É que algumas… se destacam por estarem fora do lugar.— E outras se esforçam tanto para chamar atenção, que acabam expostas demais — rebati, o tom mais baixo, mais cortante. — Como você, se oferecendo como se estivesse à venda, enquanto tenta diminuir outra para se sentir desejável.Ela empalideceu.— Está me chamando de quê?Inclinei-me até que nossas respirações quase se tocassem.— Estou dizendo que sua boca fala mais do que seu sangue sustenta. E que sua inveja fede mais do que seu perfume.Um estalo seco surgiu, senti o tapa. Minha cabeça virou de
POV CalebEla não era minha. Ainda. Mas o instinto não entende de diplomacia. O instinto só entende de reivindicação.— Por que vocês estavam com ela?— O quê?— Você e Oliver. O que estavam fazendo com Enrica, Samuel? Por que estavam com ela? — minha voz crescia, embora ainda baixa. A ameaça real estava no tom. — Desde quando ela anda com vocês?Samuel suspirou, passou a mão no rosto.— Estávamos tentando te proteger. E a ela também.Eu ergui uma sobrancelha, a desconfiança crescendo junto com a raiva. — Você quer que eu diga a verdade? Oliver quase morreu protegendo ela.A raiva ferveu. A imagem de Oliver entre ela e qualquer outro alfa era suficiente pra me fazer querer quebrar algo.— Por quê? — minha voz saiu alta e gutural o suficiente para que outros convidados se viraram e partissem para longe de nós.— Eu vou te explicar tudo depois do baile — disse Samuel, baixo, porém firme. A voz dele carregava aquele tom que sempre usava quando queria me conter.Mas eu não queria esperar
POV CalebO silêncio que se seguiu foi mais forte do que qualquer discussão. Vi o exato momento em que o olhar da Rainha Amelia vacilou, como se, por um segundo, não soubesse o que dizer.Mas foi quando Raphael — aquele maldito bastardo de Liene — estendeu a mão e Enrica a aceitou, que o controle se partiu por dentro de mim.Eles estavam indo para a pista de dança. Ela estava indo dançar com outro alfa.Com Raphael. À vista de todos. E ela aceitou.O mundo se estreitou. Cada músculo do meu corpo enrijeceu, como se estivesse prestes a despedaçar a própria pele. O som ao redor desapareceu. Tudo que eu ouvia era o rosnado surdo do meu lobo, exigindo sangue.Minha mãe seguiu meu olhar e seu semblante se fechou.— É ela? — sua voz veio em um sussurro. — A mesma com quem você se encontrava às escondidas?Não havia mais o porquê fingir. O instinto já havia me denunciado.— Caleb, você precisa se controlar. Isso não pode acontecer agora.— Ele está tocando nela! — rosnei, o olhar preso nas mão
POV CalebSamuel respirou fundo e finalmente falou:— O cheiro dela é diferente, Caleb. É raro e afeta os alfas. A maioria não consegue resistir. Se tornam agressivos, territoriais, perigosos.Samuel olhou para Oliver, que desviou o olhar de mim.— Você fez algo contra ela? — rosnei.— Claro que não! Mas vi o que acontece quando um alfa sente o cheiro dela. E não é algo bonito.Estreitei os olhos sem entender.— Lembra daquela história do massacre da Vila Harari? — começou Samuel. — Enrica era de lá.Meu coração parou de bater por um segundo. Quando o nome da vila foi pronunciado, o tempo pareceu congelar.— O que você acabou de dizer? — murmurei, a voz baixa, mas carregada de tensão.Samuel me encarou com seriedade. Oliver, ao lado, mantinha os braços cruzados, a mandíbula travada.— Aquilo foi um surto de draxa. Os moradores usavam e traficavam, pois existia um laboratório clandestino operando perto da vila.— Foi o que nos fizeram acreditar — respondeu Samuel. — Mas só depois que Ol
POV CalebCada segundo daquela maldita dança era uma tortura.Meus olhos estavam fixos nos dois. Raphael sorria com a falsa polidez de sempre, uma mão estendida na direção de Enrica, e o outro braço a guiava com elegância calculada pelo salão.Minhas garras latejavam sob a pele. O lobo se agitava, implorando para avançar. Para tomá-la dali. Mas eu me segurei. Só porque Samuel estava ao meu lado — e porque, por mais que doesse admitir, ele tinha razão.— Ela ainda não sabe quem você é — disse Samuel, observando o casal com expressão tensa. — E mesmo assim, ela está dançando com outro. Porque é o que uma estrategista faria. Ela aceita para manter o disfarce.Respirei fundo, sentindo o gosto de sangue na garganta.— Isso está demorando demais — murmurei. — Essa música já devia ter acabado.— É a dança de abertura oficial — explicou ele. — Raphael a convidou de forma pública, e com todos olhando. É tradição. Ninguém pode questionar.Meus punhos se cerraram com força. Eu não me importava co
POV CalebA mão dela estava na minha. Leve, hesitante… mas ali. E era tudo o que eu precisava.A música preencheu o salão em ondas suaves. Conduzi Enrica para o centro da pista, o calor da palma dela queimando na minha pele como uma promessa antiga que finalmente se cumpria.De início, dançamos em silêncio. O som dos passos ritmados no mármore, o arrastar sutil de tecidos, o murmúrio distante das conversas — tudo se tornava ruído diante da presença dela.Eu sentia sua respiração. Sentia o toque da pele. E sentia meu lobo… faminto.O cheiro dela era intoxicante. Minha boca salivava com a lembrança de seu gosto, do sangue… Era como se o mundo inteiro desaparecesse e só restasse o instinto: puxá-la para mais perto, colar meu corpo ao dela e cravar meus dentes naquela pele quente, onde todos pudessem ver.Gritar ao salão inteiro que ela era minha. Que já tinha dono. Que nenhum outro alfa ousasse sequer respirar perto. Ela sempre foi minha. Desde a primeira vez que meu lobo sentiu seu chei