POV EnricaAlicia caminhou até a outra ponta do cômodo e recolheu algumas ervas e frascos.— Vou começar a reforçar seu colar — falou, observando Oliver afundar nas almofadas. — Ainda me intriga como um lobo comum reagiu tanto ao seu cheiro.— Ele era um lobisomem, Alicia. Na verdade, um shifter… — retruquei, franzindo o cenho. Nem eu mesma acreditava nisso. Shifter não existiam no nosso mundo.O olhar dela se estreitou.— Está me dizendo que ele é um lobisomem que se transforma em lobo? Um lobo comum? — Ela estava exageradamente surpresa.— Lobo Supremo — corrigiu Oliver, olhando para ela com dureza. — E não andem por aí dizendo isso em voz alta se quiserem manter a cabeça.— O quê?! — exclamamos ao mesmo tempo.Ele apenas fechou os olhos de novo, como se estivesse cansado do nosso atraso em entender.— Isso… é realmente possível? — Você viu, não viu? — Oliver respondeu ainda de olhos fechados.— Vi a transformação. Mas não sei quem ele é...— Ainda. O baile servirá para isso, não?—
POV EnricaAlicia subiu correndo as escadas para preparar sua bolsa. No meio do caminho, esbarrou em Oliver.— Ai, preste atenção por onde anda! — ele reclamou, fazendo uma careta de dor.— Você que estava plantado no meio — retrucou Alicia, empurrando-o com o ombro enquanto passava.— O que foi isso? — perguntou ele, arqueando a sobrancelha para mim e voltando seu olhar para o andar de cima.— Ela vai com a gente — respondi.Oliver não pareceu nem um pouco satisfeito com a notícia, mas não disse nada.Os curativos de Oliver foram reforçados e logo estávamos prontos para partir. Mas Alicia surgiu com uma mochila e duas bolsas pesadas. Oliver tentou ignorar, mas acabou tomando delas com um resmungo.Na verdade, Oliver queria deixá-las no chalé, mas ela reclamou tanto e ameaçou deixá-lo sangrar no meio do caminho que ele simplesmente desistiu.— Conheço um caminho mais rápido — disse Alicia, ao ajustarmos o passo. — Mas é mais perigoso. É uma trilha que mercenários e bandidos costumam us
POV EnricaAo chegarmos, empurrei a porta com o ombro e indiquei o interior.— Pode ficar à vontade. Não é grande coisa, mas é segura. Dá pra improvisar uma cama ali perto da lareira, se você quiser.— Já parece mais confortável que qualquer pousada onde fiquei — disse Alicia, sorrindo enquanto se acomodava.Fui até a mesa e abri o pacote que Samuel havia me entregado. Dentro, encontrei uma máscara delicada, branca, com orelhas de coelho levemente alongadas e detalhes prateados bordando o contorno dos olhos. Era linda. Assustadoramente linda.Minha mão tremia levemente ao tocá-la. Um nó apertava minha garganta.— Respira — disse Alicia atrás de mim. — Vai dar tudo certo.Respirei fundo e sorri. Alicia perguntou onde era o banheiro e indiquei a ela, dizendo que iria preparar algo para comermos. A viagem de volta foi cansativa. Precisava recarregar as energias para o baile.O tempo parecia correr mais rápido conforme o sol descia no horizonte. A cada batida do meu coração, o nervosismo c
POV Enrica— Eu sei que tudo isso é demais — Samuel começou, mantendo o tom calmo enquanto me guiava com discrição entre os convidados. — Oliver já me contou o essencial sobre o que aconteceu. Não precisa se assustar.Um arrepio percorreu minha espinha.— Ele contou?— Sim, mas com o cuidado necessário. Ninguém além de nós sabe, e já pensamos em contramedidas caso algo saia do controle — garantiu ele, firme. — Você está segura conosco.Fiquei em silêncio, a tensão ainda presente, mas começando a ceder.— Oliver pode parecer um idiota às vezes — ele continuou, com um pequeno sorriso de lado — mas é absurdamente responsável quando se trata de proteger alguém. Especialmente quando envolve o Caleb.Um calor estranho percorreu meu estômago ao ouvir aquele nome. Samuel prosseguiu:— Depois do baile, pretendo visitá-la. Quero levar alguns livros da biblioteca da minha família. Tenho quase certeza de que há registros sobre linhagens extintas… ou pelo menos, algo próximo. Talvez ajude a entende
POV Enrica— E a outra ômega, a que faz poções… — Oliver começou, tentando soar casual. — Al…— Alicia? — interrompi, franzindo o cenho. — Por que a pergunta?— Nada demais — ele deu de ombros depressa demais. — É que os remédios dela funcionam rápido. Amargos, mas eficazes. Só isso.— Só isso, hein? — Samuel arqueou a sobrancelha, entrando na conversa. — O alfa que dizia que nunca se renderia a ômegas, agora cercado por duas. Deve estar vivendo um pesadelo.— Vai à merda, Samuel — Oliver resmungou, mas sem real agressividade.Não contive a risada. A troca entre os dois era quase cômica, e, por um momento, me ajudou a esquecer a tensão em meu estômago.— E você — Oliver virou-se para mim, me analisando de cima a baixo com aquele ar provocador de sempre. — Solta um pouco esses ombros, ômega. Desse jeito, vai parecer que tá prestes a ser devorada por um bando de lobos famintos.Fingi não ouvir, mas minhas mãos encontraram o colar no pescoço por instinto. Meus dedos deslizaram pelo pingen
POV Caleb— Repita — rosnei.— Eu só… foi uma brincadeira. — Sua confiança escorregava mais rápido do que a dignidade no olhar. — A máscara… o jeito como o você olhava para ela… é óbvio, não?Dei um passo à frente.— Engraçado. Achei que você estivesse interessada em mim. Mas está mais preocupada com ela, é isso?A ômega engoliu em seco, mas manteve o sorriso.— Não me leve a mal, Alteza… — Ela olhou de soslaio para Enrica, com veneno. — É que algumas… se destacam por estarem fora do lugar.— E outras se esforçam tanto para chamar atenção, que acabam expostas demais — rebati, o tom mais baixo, mais cortante. — Como você, se oferecendo como se estivesse à venda, enquanto tenta diminuir outra para se sentir desejável.Ela empalideceu.— Está me chamando de quê?Inclinei-me até que nossas respirações quase se tocassem.— Estou dizendo que sua boca fala mais do que seu sangue sustenta. E que sua inveja fede mais do que seu perfume.Um estalo seco surgiu, senti o tapa. Minha cabeça virou de
POV CalebEla não era minha. Ainda. Mas o instinto não entende de diplomacia. O instinto só entende de reivindicação.— Por que vocês estavam com ela?— O quê?— Você e Oliver. O que estavam fazendo com Enrica, Samuel? Por que estavam com ela? — minha voz crescia, embora ainda baixa. A ameaça real estava no tom. — Desde quando ela anda com vocês?Samuel suspirou, passou a mão no rosto.— Estávamos tentando te proteger. E a ela também.Eu ergui uma sobrancelha, a desconfiança crescendo junto com a raiva. — Você quer que eu diga a verdade? Oliver quase morreu protegendo ela.A raiva ferveu. A imagem de Oliver entre ela e qualquer outro alfa era suficiente pra me fazer querer quebrar algo.— Por quê? — minha voz saiu alta e gutural o suficiente para que outros convidados se viraram e partissem para longe de nós.— Eu vou te explicar tudo depois do baile — disse Samuel, baixo, porém firme. A voz dele carregava aquele tom que sempre usava quando queria me conter.Mas eu não queria esperar
POV CalebO silêncio que se seguiu foi mais forte do que qualquer discussão. Vi o exato momento em que o olhar da Rainha Amelia vacilou, como se, por um segundo, não soubesse o que dizer.Mas foi quando Raphael — aquele maldito bastardo de Liene — estendeu a mão e Enrica a aceitou, que o controle se partiu por dentro de mim.Eles estavam indo para a pista de dança. Ela estava indo dançar com outro alfa.Com Raphael. À vista de todos. E ela aceitou.O mundo se estreitou. Cada músculo do meu corpo enrijeceu, como se estivesse prestes a despedaçar a própria pele. O som ao redor desapareceu. Tudo que eu ouvia era o rosnado surdo do meu lobo, exigindo sangue.Minha mãe seguiu meu olhar e seu semblante se fechou.— É ela? — sua voz veio em um sussurro. — A mesma com quem você se encontrava às escondidas?Não havia mais o porquê fingir. O instinto já havia me denunciado.— Caleb, você precisa se controlar. Isso não pode acontecer agora.— Ele está tocando nela! — rosnei, o olhar preso nas mão