6: Quando o Lobo Decide

POV CALEB

Meus deveres como príncipe exigiam minha atenção, e eu tentava, com todas as forças, me convencer de que nada havia mudado.  

Mas era mentira.  

Os salões do castelo fervilhavam com a movimentação costumeira, conselheiros discutindo alianças, soldados marchando pelos corredores de pedra, ecos de ordens e estratégias que deveriam ser minha prioridade. Mas não eram.  

Minha mente estava em outro lugar.  

Com ela.

A lembrança de seu cheiro ainda pairava ao meu redor, insistente como um veneno que não podia ser expelido. O vazio deixado por sua ausência se espalhava dentro de mim como uma ferida aberta. Eu não deveria sentir isso. Eu odiava sentir isso.

— Você está estranho, Caleb. — Samuel quebrou o silêncio ao meu lado, cruzando os braços enquanto me analisava com o olhar atento. — Desaparece por quatro dias, volta cheio de ferimentos e agora age como se estivesse possuído. O que diabos aconteceu?

— Foi um vacilo — murmurei, sem vontade de prolongar o assunto.  

— Vacilo? — Oliver ergueu uma sobrancelha, descrente. — Você nunca vacila.  

Ignorei a provocação e continuei andando, mas sabia que eles não largariam do meu pé tão facilmente.  

— Caçadores — esclareci, seco. — Fui atingido, mas nada grave.  

Oliver soltou uma risada irônica.

— Nada grave? Você parecia um maldito cadáver. E como diabos conseguiu escapar daquele jeito?  

Minha mandíbula se contraiu. Eu sabia que não conseguiria escapar dessa conversa sem dar respostas. Suspirei, vencido.  

— Fui salvo por um ômega.  

O silêncio caiu entre nós como um trovão abafado. Os dois se entreolharam antes de explodirem em risadas.  

— Você? Salvo por um ômega? — Oliver zombou, apoiando-se contra a parede. — Essa eu preciso ouvir.  

Samuel ainda me observava com cautela, sua incredulidade evidente.  

— Você nunca aceitou ajuda de ninguém, muito menos de um ômega. O que mudou?  

Passei a mão pelo rosto, exausto.  

— Eu não tive escolha. Ela me encontrou quando eu estava quase inconsciente e cuidou dos meus ferimentos.  

Samuel inclinou a cabeça, avaliando minhas palavras.  

— Ela? Então é uma ômega.  

— O nome dela é Enrica — admiti, quase contra minha vontade. — Mas não sei muito sobre ela.  

Oliver assobiou baixo.  

— Uma desconhecida que salvou sua vida? Interessante. Aposto que ela já tem um alfa.  

O sangue subiu instantaneamente à minha cabeça. Um rosnado gutural escapou de minha garganta antes que eu pudesse conter.

Oliver me encarou, surpreso, enquanto Samuel ergueu as mãos em rendição.  

— Calma aí — ele disse, ainda pasmo. — Desde quando você se importa se uma ômega tem ou não um alfa?  

Oliver analisou minha expressão com um brilho divertido nos olhos.  

— Você nunca ligou para essas coisas de Luna, de vínculos, de ligação de sangue. Nunca quis se prender a ninguém. Mas agora… — ele estreitou os olhos. — Isso parece te incomodar.  

Minha respiração ficou pesada.  

Eu odiava admitir, mas a ideia de Enrica pertencendo a outro era insuportável.

— Não seja ridículo — murmurei, tentando retomar o controle. — Só estou dizendo que não devemos tirar conclusões precipitadas.

Samuel e Oliver trocaram um olhar carregado de significado. Meus punhos se cerraram quando Oliver abriu um sorriso zombeteiro.

— Pelo jeito, alguém já deixou sua marca naquela cabana — ele provocou. — Aposto que a floresta inteira sabe que você esteve lá.

Samuel arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.  

— Você fez isso, não fez? — seu tom não era acusador, apenas curioso. — Marcou o território.  

Outro rosnado reverberou em meu peito antes que eu pudesse impedir. Oliver riu.  

— Acho que não precisamos de resposta. Sua reação já disse tudo.  

Eu os encarei com um olhar afiado, mas eles não pareciam intimidados.  

— Isso não significa nada — retruquei, minha voz saindo mais ríspida do que eu pretendia. — Foi instintivo.  

— Ah, claro — Oliver sorriu ainda mais. — Instintivo.  

O fato de que estavam certos só tornava tudo pior. Eu sabia o que fiz.  

Deixar meu cheiro impregnado na cabana, marcá-la como parte do meu território… eu não deveria ter feito isso.

Mas fiz. E agora eu não conseguia parar de pensar nisso. Ou nela.— Quando você vai voltar? — Samuel perguntou de repente, sua voz casual.  

Meu olhar disparou para ele.  

— Eu não disse que vou voltar.  

Oliver riu de novo.  

— Não precisa dizer. Nós sabemos. Está estampado na sua cara.  

Samuel inclinou-se para frente, sua expressão ficando mais séria.  

— Talvez ela seja a certa para você.  

Meus ombros enrijeceram. A ideia se enroscou em minha mente como um veneno doce, perigoso e viciante.  

— Você sabe que não posso — minha voz saiu baixa, quase um sussurro.  

— Por que não? — Samuel insistiu. — Por que seu lobo é instável? Por que tem medo de que ela o rejeite?

As palavras atingiram algo profundo dentro de mim. Era isso. O medo, a insegurança que eu tentava mascarar com raiva e distância.

Meu lobo não era como os outros. Minha transformação era imprevisível. Meu controle, frágil. Meu controle sempre foi uma ilusão bem sustentada, uma barreira entre quem eu queria ser e o monstro que me espreitava sob a pele.  

E colocar Enrica perto de algo assim…  

— Eu poderia machucá-la — admiti, passando a mão pelo rosto, frustrado.  

— Ou ela poderia aceitá-lo como você é — Oliver rebateu. — Já pensou nisso?  

Minha respiração ficou pesada. Claro que já havia pensado. Mas aceitar essa possibilidade era tão perigoso quanto a negar.

Samuel deu um sorriso de canto, percebendo minha hesitação.  

— O fato de você estar se perguntando isso já diz muito, Caleb.  

Eu não respondi. Porque, no fundo, eu sabia que eles estavam certos. E isso tornava tudo ainda mais complicado. 

Minhas mãos se fecharam em punhos e, antes que eu percebesse, meus pés já me levavam para fora do salão. Eu precisava de espaço, ar, qualquer coisa que apagasse esse desejo irracional. Mas ao alcançar os portões do castelo, um cheiro carregado pelo vento congelou meu corpo.  

Doce. Quente. Inconfundível. Meu coração socou meu peito. Ela.  

Mesmo longe, mesmo sem a ver, ainda estava comigo.  

Meu coração martelou contra o peito, e uma certeza perigosa tomou conta de mim. Mas essa certeza era um problema. Um erro que eu não podia cometer. Eu não pertencia a esse lugar. Não pertencia a ela. Mas por que, então, meu corpo inteiro gritava o contrário?

As palavras de minha mãe voltaram à minha mente como correntes apertando meu peito.

— Você precisa escolher uma Luna de linhagem real. O futuro do reino depende disso.

Um rosnado silencioso cresceu em minha garganta, e algo dentro de mim despedaçou-se e remontou de forma irreversível.

Eu deveria me importar com o que minha mãe exigia, com a política, com a linhagem. Mas tudo isso desaparecia no instante em que o cheiro de Enrica se misturava ao meu sangue, tornando-se parte de mim.  

Desde que a deixei, algo dentro de mim se remexia inquieto, como um animal preso em uma gaiola apertada demais. Um chamado, um instinto, uma necessidade visceral que não dava trégua.

Eu não poderia mais ignorar.

Meus músculos se contraíram quando meu corpo tomou a decisão antes mesmo que minha mente processasse. Não pensei nas consequências. Não pensei no que viria depois. Apenas segui o que meu lobo exigia.

Mas eu não voltaria como príncipe.

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