5: O Aviso que o Vento Trouxe

POV CALEB

— Você quer que eu me case por obrigação? — minha voz saiu baixa, mas carregada de fúria contida. — Nenhuma fêmea real aceitaria um Alfa como eu.

Amelia estreitou os olhos.

— E por que não aceitaria?

Soltei uma risada amarga.

— Porque metade do reino me teme e a outra metade sussurra que eu sou um predador de ômegas. — Cruzei os braços, sentindo a irritação queimando dentro de mim. — Você sabe disso. Você sabe o que dizem sobre mim.

— Rumores — Amelia rebateu, sua voz carregada de impaciência. — Palavras de covardes que falam demais e sabem de menos.

— Mas que se espalham como veneno. — Passei a mão pelo rosto, exausto. — Você acha que alguma família real me entregaria uma de suas filhas para ser minha Luna, sabendo o que sussurram pelos corredores? Sabendo que eu perdi o controle mais vezes do que deveria?

Minha mãe me estudou em silêncio por um longo momento antes de soltar um suspiro cansado.

— Vá descansar, Caleb. — Sua voz perdeu um pouco da rigidez, embora sua expressão ainda fosse dura. — Você está ferido, instável. Mandarei um médico examiná-lo melhor.

Eu ia protestar, mas o olhar dela me fez desistir. Não valia a pena discutir agora. 

Sem dizer mais nada, virei-me e deixei o salão, meus passos ecoando pelos corredores frios do castelo.

Assim que entrei no meu quarto, fechei a porta e me encostei contra ela, soltando um suspiro pesado. O cheiro ainda estava ali.

O cheiro dela. Enrica.

Aquele aroma adocicado e quente pairava ao meu redor, impregnado em minha pele, nos meus pulmões. 

Eu podia senti-la mesmo onde ela não estava. Como se me assombrasse. Como se fosse parte de mim.

Meus ferimentos haviam sido tratados com habilidade, e eu sabia que não precisava de mais remendos. Quando o médico apareceu minutos depois, dispensei-o sem cerimônias. Eu não queria que ele apagasse o que restava dela em mim.

Mas era esse o problema. A presença dela ainda estava ali, mesmo à distância. Meu lobo sabia. Ele sentia.

Eu caminhei até a lareira acesa, observando as chamas dançarem, tentando ignorar a inquietação crescente dentro de mim. Mas a sensação só piorava. Meu peito se apertava, minha pele formigava.

Meu corpo ansiava por algo. Não. Não algo. Alguém.

A floresta. A cabana.

Minha mandíbula se travou quando percebi o que estava acontecendo. O desejo de voltar para Enrica me consumia, irracional e incontrolável. Eu podia sentir minha besta interior já decidindo por mim.

Minha mãe queria me prender dentro dessas paredes, me forçar a um casamento conveniente, a ignorar o que rugia dentro de mim. 

Mas meu lobo estava acordado agora. E ele não aceitaria ser ignorado.

E se eu não tomasse logo uma decisão racional… Ele tomaria por mim.

***

POV ENRICA

Acordei com uma estranha sensação de vazio, um aperto incômodo no peito que se espalhava antes mesmo que minha mente pudesse processar o motivo. Algo estava errado.  

Permaneci imóvel por um instante, esperando que essa impressão se dissipasse, que fosse apenas um resquício de algum sonho que já havia se esvaído na inconsciência. Mas não passou. Era real.  

Meu corpo sabia antes mesmo que meus olhos se abrissem. O peso ao meu lado, o calor constante que havia preenchido o pequeno espaço da cabana nas últimas horas, havia desaparecido.  

Meu coração perdeu um compasso.  

Virei-me devagar, meus dedos deslizando pelo colchão improvisado até onde ele havia estado na noite anterior. Tudo o que encontrei foi o frio.  

Meus pulmões se encheram, mas o ar pareceu pesado, difícil de ser puxado.  

Eu sabia que isso aconteceria. Ele era um lobo selvagem, pertencente à floresta. Mas, ainda assim, a confirmação de sua ausência me atingiu com mais força do que deveria.  

Sentei-me, levando uma das mãos ao rosto enquanto tentava organizar os pensamentos. Eu não podia ficar assim, inquieta por algo que já era previsível. Ele não era meu hóspede, muito menos meu companheiro. Eu o ajudei porque era a coisa certa a fazer, e ele simplesmente se foi. Como deveria.  

Então, por que meu peito se sentia tão apertado?

Meu olhar percorreu a cabana, uma parte de mim esperando encontrá-lo em algum canto, ainda fraco demais para ter ido longe. Mas não havia sinal dele. Apenas um detalhe chamou minha atenção.  

O cobertor que eu havia usado para cobri-lo estava dobrado sobre minha cama.  

Meu estômago se revirou com essa constatação. Ele não havia partido às pressas ou em um instinto de sobrevivência. Ele teve tempo para se levantar, se afastar e ainda deixar aquilo ali.  

Me levantei em um impulso, os pés tocando o chão frio de madeira enquanto minha respiração acelerava em uma inquietação crescente. Com passos rápidos, alcancei a porta e a abri, permitindo que o ar cortante da manhã me envolvesse.  

O mundo lá fora estava silencioso demais. A floresta parecia contida, como se segurasse a respiração. Minhas mãos se apertaram contra a borda da porta quando meus olhos encontraram as pegadas na neve.  Elas levavam para a mata densa.  

Saí da cabana, meus pés afundando levemente no chão gelado enquanto meus olhos seguiam o rastro. As marcas eram fundas, nítidas. Ele ainda não deveria estar completamente recuperado, e isso significava que não podia ter ido muito longe.  

Mas então, elas simplesmente desapareceram. Apenas neve intocada diante de mim.  

Meu coração deu um salto desconfortável. Isso não era normal.  

Meus olhos varreram os arredores, buscando alguma resposta para aquilo. Nenhuma trilha secundária, nenhum sinal de um salto, nenhum vestígio de que ele tivesse mudado de direção. Ele estava ali… e então não estava mais.  

Minha garganta secou, e um nó se formou em meu peito. Algo não estava certo.  

E então, de forma sutil, eu senti. O ar ao meu redor carregava um cheiro diferente. Forte, denso.  Minha respiração falhou no mesmo instante.  

Meu corpo reagiu antes da minha mente processar o que acontecia. Meus pulmões se encheram involuntariamente, minha pele formigou com um calor desconhecido, como se algo invisível me envolvesse e tomasse conta de cada parte de mim.  

Minha mente tentou resistir, mas meus instintos gritavam uma verdade que eu não queria admitir.  

Aquele cheiro não estava ali antes.  

Era marcante, intenso, possessivo.  

Minhas mãos se fecharam ao lado do corpo enquanto tentava raciocinar, mas meu lobo se agitou sob minha pele, inquieto, em alerta. Era um cheiro de Alfa.  

Engoli em seco. 

Eu não tinha certeza se pertencia ao lobo que eu havia resgatado. Poderia ser de qualquer um, poderia ter vindo com o vento. Mas, se fosse dele, por que eu só estava sentindo agora?  

Meus olhos se voltaram para a cabana. O cheiro estava lá dentro também. Na madeira, nas paredes. Como se tivesse sido deixado ali intencionalmente.  

Minhas entranhas se retorceram com essa ideia. Eu conhecia muito bem a intenção por trás disso. Era um aviso silencioso.  Alfas não deixavam seus cheiros ao acaso. Era um sinal de posse.  

Meu peito subia e descia de forma irregular, a respiração presa entre a incredulidade e a inquietação. Eu não podia simplesmente aceitar essa ideia sem provas concretas.  

Mas então, a sensação de estar sendo observada tomou conta de mim.  

Meus instintos ficaram em alerta máximo, cada músculo do meu corpo enrijecendo. Me virei rapidamente, os olhos analisando cada sombra entre as árvores. Nada.  

Nenhum movimento, nenhum som. Mas meu lobo sabia. Alguém estava ali.  

A floresta permanecia imóvel, como se esperasse que eu fizesse algo.  Um frio percorreu minha espinha.  

Eu deveria voltar para dentro, ignorar essa sensação, deixar essa história para trás e seguir minha vida como se nada tivesse acontecido.  

Mas, por mais que tentasse, algo dentro de mim se recusava a acreditar que aquilo terminaria ali.  

Com um último olhar desconfiado para a mata silenciosa, me virei e entrei na cabana, fechando a porta atrás de mim com um peso que não estava ali antes.  

Apoiei-me contra a madeira, soltando um suspiro trêmulo, enquanto tentava acalmar meu coração acelerado.  Eu precisava tirar essas ideias da cabeça.

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