POV CALEB
— Você quer que eu me case por obrigação? — minha voz saiu baixa, mas carregada de fúria contida. — Nenhuma fêmea real aceitaria um Alfa como eu.
Amelia estreitou os olhos.
— E por que não aceitaria?
Soltei uma risada amarga.
— Porque metade do reino me teme e a outra metade sussurra que eu sou um predador de ômegas. — Cruzei os braços, sentindo a irritação queimando dentro de mim. — Você sabe disso. Você sabe o que dizem sobre mim.
— Rumores — Amelia rebateu, sua voz carregada de impaciência. — Palavras de covardes que falam demais e sabem de menos.
— Mas que se espalham como veneno. — Passei a mão pelo rosto, exausto. — Você acha que alguma família real me entregaria uma de suas filhas para ser minha Luna, sabendo o que sussurram pelos corredores? Sabendo que eu perdi o controle mais vezes do que deveria?
Minha mãe me estudou em silêncio por um longo momento antes de soltar um suspiro cansado.
— Vá descansar, Caleb. — Sua voz perdeu um pouco da rigidez, embora sua expressão ainda fosse dura. — Você está ferido, instável. Mandarei um médico examiná-lo melhor.
Eu ia protestar, mas o olhar dela me fez desistir. Não valia a pena discutir agora.
Sem dizer mais nada, virei-me e deixei o salão, meus passos ecoando pelos corredores frios do castelo.
Assim que entrei no meu quarto, fechei a porta e me encostei contra ela, soltando um suspiro pesado. O cheiro ainda estava ali.
O cheiro dela. Enrica.
Aquele aroma adocicado e quente pairava ao meu redor, impregnado em minha pele, nos meus pulmões.
Eu podia senti-la mesmo onde ela não estava. Como se me assombrasse. Como se fosse parte de mim.
Meus ferimentos haviam sido tratados com habilidade, e eu sabia que não precisava de mais remendos. Quando o médico apareceu minutos depois, dispensei-o sem cerimônias. Eu não queria que ele apagasse o que restava dela em mim.
Mas era esse o problema. A presença dela ainda estava ali, mesmo à distância. Meu lobo sabia. Ele sentia.
Eu caminhei até a lareira acesa, observando as chamas dançarem, tentando ignorar a inquietação crescente dentro de mim. Mas a sensação só piorava. Meu peito se apertava, minha pele formigava.
Meu corpo ansiava por algo. Não. Não algo. Alguém.
A floresta. A cabana.
Minha mandíbula se travou quando percebi o que estava acontecendo. O desejo de voltar para Enrica me consumia, irracional e incontrolável. Eu podia sentir minha besta interior já decidindo por mim.
Minha mãe queria me prender dentro dessas paredes, me forçar a um casamento conveniente, a ignorar o que rugia dentro de mim.
Mas meu lobo estava acordado agora. E ele não aceitaria ser ignorado.
E se eu não tomasse logo uma decisão racional… Ele tomaria por mim.
***
POV ENRICA
Acordei com uma estranha sensação de vazio, um aperto incômodo no peito que se espalhava antes mesmo que minha mente pudesse processar o motivo. Algo estava errado.
Permaneci imóvel por um instante, esperando que essa impressão se dissipasse, que fosse apenas um resquício de algum sonho que já havia se esvaído na inconsciência. Mas não passou. Era real.
Meu corpo sabia antes mesmo que meus olhos se abrissem. O peso ao meu lado, o calor constante que havia preenchido o pequeno espaço da cabana nas últimas horas, havia desaparecido.
Meu coração perdeu um compasso.
Virei-me devagar, meus dedos deslizando pelo colchão improvisado até onde ele havia estado na noite anterior. Tudo o que encontrei foi o frio.
Meus pulmões se encheram, mas o ar pareceu pesado, difícil de ser puxado.
Eu sabia que isso aconteceria. Ele era um lobo selvagem, pertencente à floresta. Mas, ainda assim, a confirmação de sua ausência me atingiu com mais força do que deveria.
Sentei-me, levando uma das mãos ao rosto enquanto tentava organizar os pensamentos. Eu não podia ficar assim, inquieta por algo que já era previsível. Ele não era meu hóspede, muito menos meu companheiro. Eu o ajudei porque era a coisa certa a fazer, e ele simplesmente se foi. Como deveria.
Então, por que meu peito se sentia tão apertado?
Meu olhar percorreu a cabana, uma parte de mim esperando encontrá-lo em algum canto, ainda fraco demais para ter ido longe. Mas não havia sinal dele. Apenas um detalhe chamou minha atenção.
O cobertor que eu havia usado para cobri-lo estava dobrado sobre minha cama.
Meu estômago se revirou com essa constatação. Ele não havia partido às pressas ou em um instinto de sobrevivência. Ele teve tempo para se levantar, se afastar e ainda deixar aquilo ali.
Me levantei em um impulso, os pés tocando o chão frio de madeira enquanto minha respiração acelerava em uma inquietação crescente. Com passos rápidos, alcancei a porta e a abri, permitindo que o ar cortante da manhã me envolvesse.
O mundo lá fora estava silencioso demais. A floresta parecia contida, como se segurasse a respiração. Minhas mãos se apertaram contra a borda da porta quando meus olhos encontraram as pegadas na neve. Elas levavam para a mata densa.
Saí da cabana, meus pés afundando levemente no chão gelado enquanto meus olhos seguiam o rastro. As marcas eram fundas, nítidas. Ele ainda não deveria estar completamente recuperado, e isso significava que não podia ter ido muito longe.
Mas então, elas simplesmente desapareceram. Apenas neve intocada diante de mim.
Meu coração deu um salto desconfortável. Isso não era normal.
Meus olhos varreram os arredores, buscando alguma resposta para aquilo. Nenhuma trilha secundária, nenhum sinal de um salto, nenhum vestígio de que ele tivesse mudado de direção. Ele estava ali… e então não estava mais.
Minha garganta secou, e um nó se formou em meu peito. Algo não estava certo.
E então, de forma sutil, eu senti. O ar ao meu redor carregava um cheiro diferente. Forte, denso. Minha respiração falhou no mesmo instante.
Meu corpo reagiu antes da minha mente processar o que acontecia. Meus pulmões se encheram involuntariamente, minha pele formigou com um calor desconhecido, como se algo invisível me envolvesse e tomasse conta de cada parte de mim.
Minha mente tentou resistir, mas meus instintos gritavam uma verdade que eu não queria admitir.
Aquele cheiro não estava ali antes.
Era marcante, intenso, possessivo.
Minhas mãos se fecharam ao lado do corpo enquanto tentava raciocinar, mas meu lobo se agitou sob minha pele, inquieto, em alerta. Era um cheiro de Alfa.
Engoli em seco.
Eu não tinha certeza se pertencia ao lobo que eu havia resgatado. Poderia ser de qualquer um, poderia ter vindo com o vento. Mas, se fosse dele, por que eu só estava sentindo agora?
Meus olhos se voltaram para a cabana. O cheiro estava lá dentro também. Na madeira, nas paredes. Como se tivesse sido deixado ali intencionalmente.
Minhas entranhas se retorceram com essa ideia. Eu conhecia muito bem a intenção por trás disso. Era um aviso silencioso. Alfas não deixavam seus cheiros ao acaso. Era um sinal de posse.
Meu peito subia e descia de forma irregular, a respiração presa entre a incredulidade e a inquietação. Eu não podia simplesmente aceitar essa ideia sem provas concretas.
Mas então, a sensação de estar sendo observada tomou conta de mim.
Meus instintos ficaram em alerta máximo, cada músculo do meu corpo enrijecendo. Me virei rapidamente, os olhos analisando cada sombra entre as árvores. Nada.
Nenhum movimento, nenhum som. Mas meu lobo sabia. Alguém estava ali.
A floresta permanecia imóvel, como se esperasse que eu fizesse algo. Um frio percorreu minha espinha.
Eu deveria voltar para dentro, ignorar essa sensação, deixar essa história para trás e seguir minha vida como se nada tivesse acontecido.
Mas, por mais que tentasse, algo dentro de mim se recusava a acreditar que aquilo terminaria ali.
Com um último olhar desconfiado para a mata silenciosa, me virei e entrei na cabana, fechando a porta atrás de mim com um peso que não estava ali antes.
Apoiei-me contra a madeira, soltando um suspiro trêmulo, enquanto tentava acalmar meu coração acelerado. Eu precisava tirar essas ideias da cabeça.
POV CALEBMeus deveres como príncipe exigiam minha atenção, e eu tentava, com todas as forças, me convencer de que nada havia mudado. Mas era mentira. Os salões do castelo fervilhavam com a movimentação costumeira, conselheiros discutindo alianças, soldados marchando pelos corredores de pedra, ecos de ordens e estratégias que deveriam ser minha prioridade. Mas não eram. Minha mente estava em outro lugar. Com ela.A lembrança de seu cheiro ainda pairava ao meu redor, insistente como um veneno que não podia ser expelido. O vazio deixado por sua ausência se espalhava dentro de mim como uma ferida aberta. Eu não deveria sentir isso. Eu odiava sentir isso.— Você está estranho, Caleb. — Samuel quebrou o silêncio ao meu lado, cruzando os braços enquanto me analisava com o olhar atento. — Desaparece por quatro dias, volta cheio de ferimentos e agora age como se estivesse possuído. O que diabos aconteceu?— Foi um vacilo — murmurei, sem vontade de prolongar o assunto. — Vacilo? — Oli
POV CALEBQuando alcancei a floresta, me afastei o suficiente para que ninguém me visse e deixei minha forma real tomar o controle. A dor veio primeiro — ossos estalando, músculos se expandindo, pele ardendo no processo brutal de transição, o pelo negro de minha forma lupina. O mundo se tornou mais instintivo, mais afiado. Cada som e cheiro se intensificaram, e entre todos eles, um me puxava para frente. O dela.Corri pela neve, cortando a escuridão da noite com velocidade brutal. Meu corpo se movia sozinho, guiado por algo que eu não compreendia, mas não ousava desafiar.E então, a cabana apareceu diante de mim. O cheiro dela ainda estava ali, mas algo estava errado.Minha respiração desacelerou, captando o gosto da angústia impregnado no ar. Um rosnado baixo escapou da minha garganta, minha pele formigando com uma fúria surda. Ela estava sofrendo. E eu não sabia por quê.Aproximei-me com cautela, ocultando-me entre as sombras das árvores. Meus olhos captaram a luz fraca tremeluzindo
POV CALEBA respiração dela estava baixa, ritmada, como se o peso de suas próprias palavras ainda estivesse se acomodando dentro dela. Enrica não percebeu o impacto do que dissera, mas eu senti cada sílaba reverberando no fundo do meu peito.Ela estava sozinha. E isso me incomodava mais do que eu queria admitir.Seus dedos ainda estavam sobre minha pelagem, quentes, hesitantes, mas sem recuar. Seu cheiro oscilava entre incerteza e um alívio que me aquecia de uma forma inexplicável. Mas havia algo mais ali, escondido sob as camadas de controle que ela tentava manter. Um vazio.— Às vezes, acho que me acostumei com isso — ela continuou, sua voz um sussurro para si mesma. — Mas noites como essa me lembram que não.A forma como seu corpo se curvava levemente, como se estivesse acostumada a se manter pequena, invisível, me fez rosnar baixo. O som reverberou no fundo da minha garganta. Não era uma ameaça, mas carregava algo primitivo, algo que nem eu conseguia nomear.Ela estava tão acostuma
POV CALEBAvancei um pouco, mantendo meus movimentos lentos, cuidadosos. Eu queria que ela entendesse que eu não era uma ameaça. Que nunca seria. Meus olhos se fixaram nos dela, minha respiração quente escapando em baforadas suaves na pouca distância que nos separava.Ela estendeu a mão, hesitante, seus lábios se entreabrindo como se quisesse dizer algo, mas se conteve. Suas pupilas dilataram, o coração acelerado bombeando sua essência pelo ar. Meu lobo rugiu em satisfação silenciosa. Ela sentia a conexão, mesmo sem entender o que era.E então, seus dedos tocaram algo inesperado. Meu pingente.Passou o polegar devagar sobre os símbolos cravados na joia. Meus músculos tensionaram no mesmo instante. O olhar dela se fixou na peça de metal, e sua expressão mudou. Curiosidade, surpresa… suspeita.— O que é isso? — murmurou, passando o polegar lentamente sobre o brasão de Vartheos gravado na joia. — Você pertence ao castelo?O simples som daquela pergunta fez algo em mim se incendiar. Meu pe
POV ENRICA— Ah! — soltei um riso surpreso, olhando para ele. — Então era isso? Você só queria brincar? O grande lobo negro ficou sobre mim, as patas firmes ao lado do meu corpo, o olhar fixo no meu. O peito dele subia e descia devagar, e por um momento, achei que ele ficaria assim, apenas me analisando. E então uma língua quente deslizou pela minha bochecha, longa e molhada, me fazendo soltar outro riso. — Ei! — protestei entre gargalhadas, tentando me afastar, mas ele não parou. O lobo continuou, lambendo meu pescoço, depois meu ombro, roçando o focinho contra minha pele exposta. Seu calor era intenso, e cada toque da língua dele enviava cócegas por todo o meu corpo. — Você realmente gosta de fazer isso, hein? — brinquei, entre risos, tentando revidar ao passar a mão pelo pelo espesso dele. Meus dedos se afundaram na pelagem negra, e o senti se contrair levemente antes de relaxar contra mim. Mas então, como se um estalo passasse por ele, o lobo parou. Seus músculos fica
POV ENRICAEu ri sem humor, desviando o olhar.— Estou bem, Marco — respondi com leveza, pegando uma maçã da barraca ao lado. — Só… tem sido um inverno difícil. Ele suspirou, cruzando os braços. — Você devia sair daquela cabana, sabia? Viver sozinha no meio da floresta não é seguro. Apertei os lábios, sentindo o mesmo aperto de sempre quando esse assunto surgia.— Eu já te disse. Não posso. É o último lugar que ainda me liga aos meus pais. Marco me observou por um instante, sua expressão suavizando. — Eu entendo, Rica. Mas isso não significa que você precisa se isolar. Desviei o olhar, focando na maçã em minhas mãos. Antes que ele pudesse continuar com seu sermão, algo chamou minha atenção.O jornal dobrado embaixo do braço dele.— O que é isso?Marco seguiu meu olhar e bufou. — Ah, só mais um artigo sobre a realeza. Ele desdobrou o jornal e mostrou a página principal. Meu olhar foi direto para a imagem de um homem de aparência imponente. Príncipe Caleb de Vartheos. Ha
POV ENRICAEntrei na cabana e soltei um suspiro longo. O lobo negro continuava ali, parado na entrada como uma sombra imponente, os olhos vermelhos me acompanhando em silêncio. — Você realmente ficou aqui o tempo todo, não é? — sorri, fechando a porta atrás de mim. — Bom menino. Ele não reagiu, mas algo na forma como me observava fez meu estômago se apertar. Ignorando a estranha sensação, pendurei o casaco e caminhei até a pequena cozinha. Meus dedos estavam gelados pelo frio, e eu mal sentia minhas pernas depois da caminhada. Tudo o que eu queria era uma refeição quente. Peguei a sacola com as compras e comecei a tirar os itens, separando o que precisava para preparar meu jantar. Peguei um pedaço de carne crua e ergui na direção do lobo. — Trouxe algo pra você também. — balancei o pedaço diante dele. — Espero que goste. Ele sequer piscou. Minha sobrancelha arqueou. — Ah, então você é exigente, é isso? — provoquei, girando a carne na minha mão. — Prefere que eu asse prime
POV CALEBO cheiro dela me atingiu como um raio. Quente. Suave. Perfeito.Toda a tensão que dominava meu corpo se desfez no mesmo instante. Meu lobo, que antes rugia de frustração e desejo reprimido, agora estava… em paz. Era ela. Ela era a resposta.Passei tanto tempo lutando contra impulsos incontroláveis, contra o instinto primitivo que exigia destruição, que essa nova sensação me pegou desprevenido. Por que apenas ela me acalmava? Por que nenhuma outra fêmea jamais teve esse efeito?Meus olhos estavam cravados nela, cada pequeno gesto me puxando para mais perto. — Hm… parece que você gostou mais de mim agora, não é, grandão? — Enrica brincou, rindo baixinho enquanto mexia nos cabelos. Minha atenção se intensificou. Ela não fazia ideia do que havia acabado de fazer comigo. Do que significava para mim. Ela suspirou e voltou para suas tarefas, sem perceber que eu estava absorvendo cada pequeno detalhe dela. Enquanto costurava, suas sobrancelhas se franziram, e um pequeno biquin