capítulo 4

Álvaro passou a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado, como se buscasse palavras para se fazer entender. Sua voz começou baixa, quase hesitante:

— Eu sempre pensei que havia contado à sua mãe o nome do canalha que fez isso com você. Nesse caso, eu... sabia que não tinha como ela saber isso sem ser através de você, já que eu fiz de tudo para nunca ser apresentado a ela na época, porque, infelizmente, fazia parte do meu plano nunca levar você a sério, e conhecer sua família era algo muito comprometedor.

Confessou ele, muito envergonhado e arrependido do que fez.

Ele respirou fundo, os olhos carregados de mágoa e indignação enquanto continuava, sua voz agora firme, mas carregada de tensão:

— Mas não estou falando sobre ter compartilhado o vídeo com aqueles idiotas daquela época.

Sua expressão endureceu por um momento, mas logo deu lugar a algo mais vulnerável. Ele abaixou o olhar, como se as palavras fossem um peso que ele tinha que carregar:

— O que admito que fiz foi essa m*****a aposta, Isabele! Porque, mesmo passados tantos anos, volto a repetir: não fui eu que fiz isso.

A culpa parecia tomar conta dele, e sua voz tremeu levemente enquanto seus olhos encontravam os dela, desesperados por compreensão:

— Quando falo sobre me aproximar de você, refiro-me ao fato de ter aceitado aquela aposta estúpida.

Ele deu um passo para trás, como se as palavras lhe custassem mais do que ele estava disposto a admitir. Um suspiro profundo escapou de seus lábios antes de finalizar, a dor clara em sua voz:

— Nisso, sim, eu sou culpado... E você não sabe o quanto me arrependo.

— Nossa, é inacreditável! Mesmo depois de 6 anos, você não é homem o bastante para admitir que foi você que fez aquela barbaridade comigo, não é?

Ela o encarou com os olhos cheios de mágoa e uma dor mal disfarçada. Sua voz, firme, carregava a força de anos de ressentimento acumulado.

— Quer saber? Isso, hoje em dia, não faz a menor diferença para mim, porque eu ainda tenho certeza que foi você.

Isabele respirou fundo, desviando o olhar para não demonstrar o quanto aquelas lembranças a machucavam.

— E eu não quero mais falar sobre isso.

Ela hesitou, mas a preocupação com a mãe foi mais forte que sua vontade de encerrar a conversa.

— Só espero que não fale nada para o seu pai, que ele não acabe contando para a minha mãe e estrague a felicidade dela.

Seu tom tornou-se mais baixo, mas não menos determinado.

— Se você não dá valor à felicidade dele, a dela é muito importante para mim.

Após um instante de silêncio, ela ergueu o rosto novamente, com o semblante endurecido.

— Agora, por favor, saia daqui e me deixe em paz.

A última frase foi dita com firmeza, como um ultimato que não aceitava contestação.

Álvaro cerrou os punhos ao lado do corpo, tentando controlar a avalanche de emoções que o consumia. Seu olhar fixava Isabele com intensidade, misturando raiva, frustração e uma vulnerabilidade que ele raramente deixava transparecer.

A dor de carregar o peso de sua culpa pelo que havia acontecido entre eles e a dúvida que corroía sua alma há anos estavam estampadas em seu rosto. Quando ele falou, sua voz saiu rouca, carregada de um misto de desespero e determinação:

— Tudo bem, eu não vou perder meu tempo tentando te convencer da minha inocência, até porque você não acreditou em mim no passado e não vai acreditar agora.

Ele deu um passo à frente, como se cada palavra fosse um esforço para atravessar a barreira de mágoa entre os dois. Sua mandíbula travou, mas sua expressão se suavizou ao mencionar o nome do menino que o atormentava em pensamentos:

— Mas uma coisa você não pode me negar, e eu quero a verdade, Isabele.

Álvaro respirou fundo, tentando acalmar a batida acelerada de seu coração, antes de soltar a pergunta que guardava há tanto tempo:

— Aquele garotinho, o Davi, ele é meu filho, não é?

Sua voz, agora mais baixa, quase um sussurro, carregava um pedido silencioso por respostas, por um alívio para o tormento que a dúvida lhe causava. Havia dor, mas também uma ponta de esperança.

— Não. Ele não é seu filho. Não vou mentir dizendo que não engravidei... Sei que você usou preservativo naquela noite e que deve ter estourado, porque eu engravidei. Mas eu perdi o bebê antes de ir para Florianópolis. Meu pai não aceitou a notícia da minha gravidez muito bem, me agrediu, e eu acabei caindo bruscamente no chão, tendo um aborto instantâneo.

Isabele sentia o peso da mentira sufocando sua alma. A dor de negar a verdade sobre Davi a Álvaro era quase insuportável, mas ela acreditava ser necessário. Ela não podia deixar que um homem tão mau caráter como ele se aproximasse do seu filho e, de alguma forma, lhe fizesse mal com sua falta de caráter, como fez com ela.

Podia, no começo, bancar o bom pai, mas depois que Davi deixasse de ser novidade, com certeza ia desaparecer da vida dele e magoar os sentimentos do seu filho, e isso ela nunca iria permitir.

A lembrança de seu pai lhe agredindo voltou como um golpe, mas ela manteve o semblante firme, sem demonstrar sua angústia.

Lembrou que sua mãe fez tudo para defendê-la, também sendo agredida por ele, e que ela teve muita sorte, e claro, uma ajuda dos céus, de não ter perdido seu bem mais precioso, o seu Davi.

Álvaro sentia uma mistura de indignação e dor enquanto falava. A ideia de Isabele ter sofrido violência, ainda mais enquanto carregava o que ele acreditava ser seu filho perdido, fazia o sangue ferver em suas veias. A raiva contra o pai dela era evidente, mas havia também um tom de arrependimento e tristeza em sua voz. Ele se culpava por não estar presente, por não saber o que estava acontecendo e, no fundo, sentia que poderia ter evitado tudo se ela tivesse confiado nele.

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