Álvaro passou a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado, como se buscasse palavras para se fazer entender. Sua voz começou baixa, quase hesitante:
— Eu sempre pensei que havia contado à sua mãe o nome do canalha que fez isso com você. Nesse caso, eu... sabia que não tinha como ela saber isso sem ser através de você, já que eu fiz de tudo para nunca ser apresentado a ela na época, porque, infelizmente, fazia parte do meu plano nunca levar você a sério, e conhecer sua família era algo muito comprometedor. Confessou ele, muito envergonhado e arrependido do que fez. Ele respirou fundo, os olhos carregados de mágoa e indignação enquanto continuava, sua voz agora firme, mas carregada de tensão: — Mas não estou falando sobre ter compartilhado o vídeo com aqueles idiotas daquela época. Sua expressão endureceu por um momento, mas logo deu lugar a algo mais vulnerável. Ele abaixou o olhar, como se as palavras fossem um peso que ele tinha que carregar: — O que admito que fiz foi essa m*****a aposta, Isabele! Porque, mesmo passados tantos anos, volto a repetir: não fui eu que fiz isso. A culpa parecia tomar conta dele, e sua voz tremeu levemente enquanto seus olhos encontravam os dela, desesperados por compreensão: — Quando falo sobre me aproximar de você, refiro-me ao fato de ter aceitado aquela aposta estúpida. Ele deu um passo para trás, como se as palavras lhe custassem mais do que ele estava disposto a admitir. Um suspiro profundo escapou de seus lábios antes de finalizar, a dor clara em sua voz: — Nisso, sim, eu sou culpado... E você não sabe o quanto me arrependo. — Nossa, é inacreditável! Mesmo depois de 6 anos, você não é homem o bastante para admitir que foi você que fez aquela barbaridade comigo, não é? Ela o encarou com os olhos cheios de mágoa e uma dor mal disfarçada. Sua voz, firme, carregava a força de anos de ressentimento acumulado. — Quer saber? Isso, hoje em dia, não faz a menor diferença para mim, porque eu ainda tenho certeza que foi você. Isabele respirou fundo, desviando o olhar para não demonstrar o quanto aquelas lembranças a machucavam. — E eu não quero mais falar sobre isso. Ela hesitou, mas a preocupação com a mãe foi mais forte que sua vontade de encerrar a conversa. — Só espero que não fale nada para o seu pai, que ele não acabe contando para a minha mãe e estrague a felicidade dela. Seu tom tornou-se mais baixo, mas não menos determinado. — Se você não dá valor à felicidade dele, a dela é muito importante para mim. Após um instante de silêncio, ela ergueu o rosto novamente, com o semblante endurecido. — Agora, por favor, saia daqui e me deixe em paz. A última frase foi dita com firmeza, como um ultimato que não aceitava contestação. Álvaro cerrou os punhos ao lado do corpo, tentando controlar a avalanche de emoções que o consumia. Seu olhar fixava Isabele com intensidade, misturando raiva, frustração e uma vulnerabilidade que ele raramente deixava transparecer. A dor de carregar o peso de sua culpa pelo que havia acontecido entre eles e a dúvida que corroía sua alma há anos estavam estampadas em seu rosto. Quando ele falou, sua voz saiu rouca, carregada de um misto de desespero e determinação: — Tudo bem, eu não vou perder meu tempo tentando te convencer da minha inocência, até porque você não acreditou em mim no passado e não vai acreditar agora. Ele deu um passo à frente, como se cada palavra fosse um esforço para atravessar a barreira de mágoa entre os dois. Sua mandíbula travou, mas sua expressão se suavizou ao mencionar o nome do menino que o atormentava em pensamentos: — Mas uma coisa você não pode me negar, e eu quero a verdade, Isabele. Álvaro respirou fundo, tentando acalmar a batida acelerada de seu coração, antes de soltar a pergunta que guardava há tanto tempo: — Aquele garotinho, o Davi, ele é meu filho, não é? Sua voz, agora mais baixa, quase um sussurro, carregava um pedido silencioso por respostas, por um alívio para o tormento que a dúvida lhe causava. Havia dor, mas também uma ponta de esperança. — Não. Ele não é seu filho. Não vou mentir dizendo que não engravidei... Sei que você usou preservativo naquela noite e que deve ter estourado, porque eu engravidei. Mas eu perdi o bebê antes de ir para Florianópolis. Meu pai não aceitou a notícia da minha gravidez muito bem, me agrediu, e eu acabei caindo bruscamente no chão, tendo um aborto instantâneo. Isabele sentia o peso da mentira sufocando sua alma. A dor de negar a verdade sobre Davi a Álvaro era quase insuportável, mas ela acreditava ser necessário. Ela não podia deixar que um homem tão mau caráter como ele se aproximasse do seu filho e, de alguma forma, lhe fizesse mal com sua falta de caráter, como fez com ela. Podia, no começo, bancar o bom pai, mas depois que Davi deixasse de ser novidade, com certeza ia desaparecer da vida dele e magoar os sentimentos do seu filho, e isso ela nunca iria permitir. A lembrança de seu pai lhe agredindo voltou como um golpe, mas ela manteve o semblante firme, sem demonstrar sua angústia. Lembrou que sua mãe fez tudo para defendê-la, também sendo agredida por ele, e que ela teve muita sorte, e claro, uma ajuda dos céus, de não ter perdido seu bem mais precioso, o seu Davi. Álvaro sentia uma mistura de indignação e dor enquanto falava. A ideia de Isabele ter sofrido violência, ainda mais enquanto carregava o que ele acreditava ser seu filho perdido, fazia o sangue ferver em suas veias. A raiva contra o pai dela era evidente, mas havia também um tom de arrependimento e tristeza em sua voz. Ele se culpava por não estar presente, por não saber o que estava acontecendo e, no fundo, sentia que poderia ter evitado tudo se ela tivesse confiado nele.— Não sei por que, Isabele, mas não acredito em você. O olhar penetrante de Álvaro parecia despir suas mentiras. A descrença em sua voz carregava uma certeza desconcertante que fez o estômago de Isabele revirar. — A que você se refere? Pode me dizer? — Estou me referindo à história que você acabou de me contar. A mentirosa aqui é você. Porque aquele garotinho me lembra muito de mim quando tinha a mesma idade dele. Ele tem os meus olhos. Aliás, a sua idade "b**e" exatamente com os anos desde aquela noite. Eu acredito que estava tão nervoso, devido ao desejo e à paixão que sentia por você, que acabei colocando o preservativo às pressas e ele estourou. As palavras de Álvaro foram como facas, cortando a fachada de Isabele. Ela sentiu o medo crescer, mas forçou um sorriso frio e continuou a mentir, determinada a manter a verdade escondida. — Eu disse a mais pura verdade. E para que se convença de uma vez, vou ser ainda mais sincera: Sua voz não tremia, mas por dentro, Isabele sentia
Ela fechou os olhos por um instante, tentando controlar as emoções que a consumiam. Respirou fundo e abriu a porta, encontrando o olhar preocupado da mãe. — Está tudo bem, mãe. Já estou saindo — disse ela, tentando manter a voz firme, apesar da confusão de sentimentos que sentia. — Tudo bem, querida. Vou voltar para junto do Gabriel e da Júlia, que, pelo jeito, também está preocupada com o sumiço do Álvaro. Não se demore. Estamos aguardando você. — disse sua mãe, saindo em seguida, sem desconfiar de nada do que estava acontecendo naquele banheiro. sabele esperou até que os passos da mãe desaparecessem pelo corredor antes de se virar para encarar Álvaro. Ele estava parado, os olhos cravados nela com uma intensidade sufocante, como se pudesse enxergar até os recônditos mais profundos de sua alma. — Isso nunca mais vai acontecer, Álvaro — declarou ela com firmeza, mesmo que, por dentro, tremesse. — Você pode acreditar no que quiser, mas, para mim, você é um erro do passado que e
Isabele voltou para a mesa com passos firmes, tentando conter a tempestade de emoções que Álvaro despertara nela. Seu coração ainda pulsava descompassado, e seus lábios, apesar de sua resistência, ainda sentiam o gosto do beijo roubado. Ela inspirou profundamente, ergueu o queixo e forçou um sorriso ao se sentar novamente. Davi, seu filho de quatro anos, esfregava os olhinhos sonolentos, encostando a cabeça em seu braço. Ela aproveitou aquela oportunidade para se recompor, deslizando os dedos pelos cabelos dele com carinho. — Mamãe... tô com sono... — murmurou o menino, a voz arrastada. Isabele sorriu, aliviada por ter uma desculpa perfeita para sair dali. Ela olhou para a mãe, Angélica, que conversava animadamente com o pai de Álvaro. — Mãe, acho melhor eu ir embora. Davi está exausto — disse, mantendo a voz calma, embora sua mente ainda estivesse um caos. Angélica olhou para o neto com ternura e assentiu. — Claro, querida. Mas você não vai pegar um táxi sozinha essa hora,
Júlia respirou fundo, irritada, mas forçou um sorriso ao se despedir, lançando um olhar afiado para Isabele antes de sair. Isabele observou tudo em silêncio, tentando manter o coração firme. Enquanto caminhavam até o carro, ela manteve a distância de Álvaro, mas não conseguiu evitar que sua mente se enchesse de lembranças do passado. Lembranças que ela queria esquecer... mas que ele insistia em trazer à tona. Dentro do carro, o silêncio entre eles era pesado, quase sufocante. O único som era a respiração suave de Davi, adormecido no banco de trás. Isabele mantinha o olhar fixo na janela, observando as luzes da cidade passarem como borrões diante de seus olhos. Ainda sentia o cheiro de Álvaro, tão próximo, preenchendo o espaço apertado do carro. A presença dele era uma tortura silenciosa, despertando lembranças que ela se forçara a enterrar. Álvaro, com uma mão firme no volante, a observava pelo canto do olho. Havia uma tensão latente em seu corpo, um misto de frustração e desejo c
Álvaro ergueu uma sobrancelha, os lábios se curvando em um sorriso sutil, aquele mesmo sorriso que fazia o coração dela vacilar. — Não duvido disso, Isa. Mas ele está dormindo tão tranquilo... deixa que eu o levo. Ela sabia que discutir seria inútil e seria inútil também lhe pedir para que não a chamasse de Isa, um apelido que ele lhe dera quando namoravam. Ela achou que eles eram um casal de namorados apaixonados, mas, na verdade, a única verdadeiramente apaixonada era ela. Álvaro sempre teve esse jeito teimoso, e naquele momento, a exaustão da viagem e o peso emocional da noite a impediram de insistir. Apenas assentiu e caminhou à frente, destrancando a porta e conduzindo-o até seu antigo quarto. Álvaro entrou com passos cuidadosos, deitando Davi na pequena cama e ajeitando os cobertores sobre ele com um gesto surpreendentemente gentil. Isabele ficou parada na porta, observando em silêncio. Era quase surreal vê-lo ali, naquele espaço tão familiar para ela, mas tão distante da
— Você é tão linda... — murmurou ele contra a pele macia dela, explorando cada centímetro com uma reverência quase devota. Isabele gemeu baixinho, a respiração descompassada, os dedos trêmulos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Mas então, como um alarme soando em sua mente, a realidade atingiu-a com força. Ela abriu os olhos, ofegante, e o viu ali, sobre ela, os olhos ardentes e cheios de desejo. A lembrança do passado voltou como um golpe, e a raiva tomou o lugar do prazer. Com uma força que ele não esperava, Isabele o empurrou com toda a sua energia, fazendo Álvaro cair de costas no tapete com um baque surpreso. — Eu não vou cair nos seus truques de novo, Álvaro! — disse ela, sua voz trêmula de emoção, apressando-se para fechar o vestido com dedos desajeitados e nervosos. Ele permaneceu sentado no chão por um momento, passando a língua pelos lábios inchados pelo beijo, um sorriso torto surgindo em seu rosto incrivelmente lindo. — Então é assim? Me d
Isabele fechou os olhos com força, tentando acalmar o turbilhão dentro dela. Quando os reabriu, encontrou Álvaro ainda ali, tão perto que podia sentir o cheiro amadeirado dele, intoxicante e familiar demais. Ela respirou fundo, buscando forças que pareciam escapar de seu controle. — Vai embora, Álvaro — disse, sua voz carregada de algo que ela se recusava a chamar de arrependimento. — Eu posso até admitir que... que meu corpo te deseja, mas é só isso. Só desejo. Eu nunca vou te perdoar pelo que me fez... nunca. E vou continuar te odiando por cada mentira, cada promessa vazia. Os olhos dele se estreitaram, analisando-a com aquele jeito intenso que sempre a deixava desconcertada. Então, para sua surpresa, Álvaro sorriu de canto, um sorriso cínico e conhecedor. — Pelo menos você continua a mesma garota corajosa e transparente de sempre — murmurou, segurando o braço dela com suavidade, puxando-a para mais perto. — Sempre disposta a confessar seus sentimentos, mesmo que isso lhe c
A noite foi um tormento. Isabele rolou de um lado para o outro na cama, incapaz de encontrar uma posição que acalmasse sua mente inquieta. Cada vez que fechava os olhos, Álvaro invadia seus sonhos, sua pele queimava ao lembrar do toque dele, dos beijos famintos, da maneira como a olhava como se pudesse enxergar dentro de sua alma. Mas não eram apenas as memórias recentes que a atormentavam. Os pesadelos vinham misturados a lembranças que ela lutava para enterrar há anos, o dia em que sua vida desmoronou, quando o vídeo íntimo foi exposto para toda a escola, quando os olhares de julgamento e zombaria a perseguiram por meses, quando Álvaro, o único homem que ela amou de verdade, a traiu da forma mais cruel possível. Ela acordou exausta, com os olhos pesados e um gosto amargo de mágoa e arrependimento na boca. Encostando-se ao espelho do banheiro, respirou fundo, encarando a própria imagem abatida. “Você não vai estragar o dia do casamento da sua mãe ” disse a si mesma em voz alta, ante