— Não sei por que, Isabele, mas não acredito em você.
O olhar penetrante de Álvaro parecia despir suas mentiras. A descrença em sua voz carregava uma certeza desconcertante que fez o estômago de Isabele revirar. — A que você se refere? Pode me dizer? — Estou me referindo à história que você acabou de me contar. A mentirosa aqui é você. Porque aquele garotinho me lembra muito de mim quando tinha a mesma idade dele. Ele tem os meus olhos. Aliás, a sua idade "b**e" exatamente com os anos desde aquela noite. Eu acredito que estava tão nervoso, devido ao desejo e à paixão que sentia por você, que acabei colocando o preservativo às pressas e ele estourou. As palavras de Álvaro foram como facas, cortando a fachada de Isabele. Ela sentiu o medo crescer, mas forçou um sorriso frio e continuou a mentir, determinada a manter a verdade escondida. — Eu disse a mais pura verdade. E para que se convença de uma vez, vou ser ainda mais sincera: Sua voz não tremia, mas por dentro, Isabele sentia uma mistura de raiva e angústia. Cada palavra era uma faca cravando mais fundo em si mesma, mas ela se agarrava à fachada de indiferença para não mostrar sua vulnerabilidade. — Eu estava com tanto ódio de você e tão ferida que, assim que cheguei em Florianópolis, na minha primeira noite lá, saí escondida dos meus tios com uma identidade falsa e bebi um bocado para tentar esquecer o que fez comigo e o quanto estava destruída. O nó na garganta quase a impedia de continuar, mas ela disfarçou, sustentando o olhar firme. Queria que ele acreditasse nessa versão, mesmo que cada frase fosse um esforço para mascarar quem ela realmente era e que nunca seria capaz de algo assim. — Acabei indo para a cama com um cara que conheci sem ao menos saber o nome dele. A humilhação que fingia não sentir queimava dentro dela. Isabele sabia que essas palavras a despiriam de qualquer dignidade aos olhos dele, mas era o preço para afastá-lo da verdade. — Depois disso, decidi que ia usar os homens e não ser usada por eles, como você fez comigo. Então, só parei quando engravidei e nem sequer sabia quem era o pai de Davi e, sinceramente, nem fiz questão de saber, sou a mãe e o pai do meu filho, e é isso que importa. Por trás da postura altiva, Isabele sentia-se pequena, perdida e devastada. Cada palavra era como levantar uma muralha para esconder a dor de um passado que ainda a assombrava, enquanto fingia ser alguém que nunca foi. Álvaro a observou em silêncio por um instante, o olhar intenso buscando algo além das palavras frias que ela dizia. Então, com a voz firme, mas carregada de incredulidade, ele disse: — Eu simplesmente não consigo acreditar, Isabele. A menina doce, tímida e pura que eu conheci um dia... Você realmente espera que eu acredite que ela se tornou essa vagabunda que está me dizendo que é? A ponto de ir para a cama com tantos homens que nem sabe quem é o pai do seu filho? Ele balançou a cabeça lentamente, como se tentasse entender a pessoa diante dele, mas sua expressão deixava claro que não conseguia reconciliar o passado com o que ela dizia agora. — Pois acredite, Álvaro. É a mais pura verdade. E quem me tornou essa vagabunda, como você diz, foi você. Quando me mostrou que amar um homem e acreditar em cada palavra dele só serve para destruir o coração de uma mulher. Na época, eu era apenas uma garota de dezoito anos que ainda acreditava em príncipes encantados... Mas, no fim, encontrei o pior dos sapos. A voz de Isabele transbordava rancor, cada palavra carregada de dor e ressentimento. Ela jogava sua mágoa como armas afiadas, esperando que ele sentisse ao menos uma fração do sofrimento que a consumiu durante todos aqueles anos. Álvaro a fitou com um olhar que misturava desdém e ironia, suas palavras saíram cortantes: — Se é mesmo a vagabunda que diz ser, então não vai se importar se eu sugerir que marcássemos uma noite para nos encontrarmos e relembrarmos os velhos tempos. Ele inclinou-se ligeiramente, a voz carregada de malícia enquanto continuava: — Confesso que, desde aquela nossa primeira noite, nunca consegui esquecer o quanto foi gostoso estar dentro de você, Isabele. Álvaro permitiu que sua voz diminuísse, suas palavras escolhidas para atingi-la com precisão e, proferidas para provocá-la, com esse intuito, ele continuou: — Tão apertadinha, quente e molhada. E, para ser honesto, eu não me importo que me use. Enquanto ele dizia essas palavras provocativas e ofensivas, Isabele continuava firme diante dele, pois ela mesma o provocou quando mentiu, fingindo ser quem não era. Isabele sentia que conseguiu o que queria: fazer com que ele acreditasse que não havia a menor possibilidade de ser pai de Davi. Enquanto isso, com um tom casual que contrastava com a força de suas palavras, ele prosseguiu, como quem lança um golpe final: — Tenho certeza de que o fato de eu estar noivo não deve ser um problema para você. As vagabundas que conheci nunca se importaram com isso... Não que eu tenha traído a Júlia, mas, sendo você a vagabunda em questão, talvez eu faça uma exceção. É só me dizer... Aquelas suas últimas palavras fizeram Isabele lembrar do canalha que ele era e, pelo jeito, continua sendo. E, antes que terminasse de falar mais palavras ofensivas, ela lhe acertou com um forte tapa no rosto, que reverberou no banheiro feminino. Álvaro a olhou cheio de fúria e algo mais quando a agarrou, puxando-a ao encontro de seu peito forte, tomando seus lábios com uma mistura de fúria, urgência e desejo há muito tempo guardado. Isabele se debateu, se negou a abrir seus lábios, e quando os abriu para protestar, ele aproveitou para invadir sua boca. Com a língua ousada e exigente, começou a beijá-la até lhe roubar o fôlego. E Isabele, mesmo o odiando, não conseguiu ficar imune à posse dominadora daquele homem por muito tempo. Fazia anos que ela não era beijada assim. Teve alguns namoricos sem importância, mas nada se comparava ao beijo de Álvaro e ao que ele a fazia sentir. E quando ela, com um gemido, mergulhou os dedos em seus cabelos bem cortados e o correspondeu, eles foram interrompidos.— Isabele, você está bem? Está aí, filha? Por que não me responde? — perguntou sua mãe, girando a maçaneta da porta, que estava trancada.
Ela fechou os olhos por um instante, tentando controlar as emoções que a consumiam. Respirou fundo e abriu a porta, encontrando o olhar preocupado da mãe. — Está tudo bem, mãe. Já estou saindo — disse ela, tentando manter a voz firme, apesar da confusão de sentimentos que sentia. — Tudo bem, querida. Vou voltar para junto do Gabriel e da Júlia, que, pelo jeito, também está preocupada com o sumiço do Álvaro. Não se demore. Estamos aguardando você. — disse sua mãe, saindo em seguida, sem desconfiar de nada do que estava acontecendo naquele banheiro. sabele esperou até que os passos da mãe desaparecessem pelo corredor antes de se virar para encarar Álvaro. Ele estava parado, os olhos cravados nela com uma intensidade sufocante, como se pudesse enxergar até os recônditos mais profundos de sua alma. — Isso nunca mais vai acontecer, Álvaro — declarou ela com firmeza, mesmo que, por dentro, tremesse. — Você pode acreditar no que quiser, mas, para mim, você é um erro do passado que e
Isabele voltou para a mesa com passos firmes, tentando conter a tempestade de emoções que Álvaro despertara nela. Seu coração ainda pulsava descompassado, e seus lábios, apesar de sua resistência, ainda sentiam o gosto do beijo roubado. Ela inspirou profundamente, ergueu o queixo e forçou um sorriso ao se sentar novamente. Davi, seu filho de quatro anos, esfregava os olhinhos sonolentos, encostando a cabeça em seu braço. Ela aproveitou aquela oportunidade para se recompor, deslizando os dedos pelos cabelos dele com carinho. — Mamãe... tô com sono... — murmurou o menino, a voz arrastada. Isabele sorriu, aliviada por ter uma desculpa perfeita para sair dali. Ela olhou para a mãe, Angélica, que conversava animadamente com o pai de Álvaro. — Mãe, acho melhor eu ir embora. Davi está exausto — disse, mantendo a voz calma, embora sua mente ainda estivesse um caos. Angélica olhou para o neto com ternura e assentiu. — Claro, querida. Mas você não vai pegar um táxi sozinha essa hora,
Júlia respirou fundo, irritada, mas forçou um sorriso ao se despedir, lançando um olhar afiado para Isabele antes de sair. Isabele observou tudo em silêncio, tentando manter o coração firme. Enquanto caminhavam até o carro, ela manteve a distância de Álvaro, mas não conseguiu evitar que sua mente se enchesse de lembranças do passado. Lembranças que ela queria esquecer... mas que ele insistia em trazer à tona. Dentro do carro, o silêncio entre eles era pesado, quase sufocante. O único som era a respiração suave de Davi, adormecido no banco de trás. Isabele mantinha o olhar fixo na janela, observando as luzes da cidade passarem como borrões diante de seus olhos. Ainda sentia o cheiro de Álvaro, tão próximo, preenchendo o espaço apertado do carro. A presença dele era uma tortura silenciosa, despertando lembranças que ela se forçara a enterrar. Álvaro, com uma mão firme no volante, a observava pelo canto do olho. Havia uma tensão latente em seu corpo, um misto de frustração e desejo c
Álvaro ergueu uma sobrancelha, os lábios se curvando em um sorriso sutil, aquele mesmo sorriso que fazia o coração dela vacilar. — Não duvido disso, Isa. Mas ele está dormindo tão tranquilo... deixa que eu o levo. Ela sabia que discutir seria inútil e seria inútil também lhe pedir para que não a chamasse de Isa, um apelido que ele lhe dera quando namoravam. Ela achou que eles eram um casal de namorados apaixonados, mas, na verdade, a única verdadeiramente apaixonada era ela. Álvaro sempre teve esse jeito teimoso, e naquele momento, a exaustão da viagem e o peso emocional da noite a impediram de insistir. Apenas assentiu e caminhou à frente, destrancando a porta e conduzindo-o até seu antigo quarto. Álvaro entrou com passos cuidadosos, deitando Davi na pequena cama e ajeitando os cobertores sobre ele com um gesto surpreendentemente gentil. Isabele ficou parada na porta, observando em silêncio. Era quase surreal vê-lo ali, naquele espaço tão familiar para ela, mas tão distante da
— Você é tão linda... — murmurou ele contra a pele macia dela, explorando cada centímetro com uma reverência quase devota. Isabele gemeu baixinho, a respiração descompassada, os dedos trêmulos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Mas então, como um alarme soando em sua mente, a realidade atingiu-a com força. Ela abriu os olhos, ofegante, e o viu ali, sobre ela, os olhos ardentes e cheios de desejo. A lembrança do passado voltou como um golpe, e a raiva tomou o lugar do prazer. Com uma força que ele não esperava, Isabele o empurrou com toda a sua energia, fazendo Álvaro cair de costas no tapete com um baque surpreso. — Eu não vou cair nos seus truques de novo, Álvaro! — disse ela, sua voz trêmula de emoção, apressando-se para fechar o vestido com dedos desajeitados e nervosos. Ele permaneceu sentado no chão por um momento, passando a língua pelos lábios inchados pelo beijo, um sorriso torto surgindo em seu rosto incrivelmente lindo. — Então é assim? Me d
Isabele fechou os olhos com força, tentando acalmar o turbilhão dentro dela. Quando os reabriu, encontrou Álvaro ainda ali, tão perto que podia sentir o cheiro amadeirado dele, intoxicante e familiar demais. Ela respirou fundo, buscando forças que pareciam escapar de seu controle. — Vai embora, Álvaro — disse, sua voz carregada de algo que ela se recusava a chamar de arrependimento. — Eu posso até admitir que... que meu corpo te deseja, mas é só isso. Só desejo. Eu nunca vou te perdoar pelo que me fez... nunca. E vou continuar te odiando por cada mentira, cada promessa vazia. Os olhos dele se estreitaram, analisando-a com aquele jeito intenso que sempre a deixava desconcertada. Então, para sua surpresa, Álvaro sorriu de canto, um sorriso cínico e conhecedor. — Pelo menos você continua a mesma garota corajosa e transparente de sempre — murmurou, segurando o braço dela com suavidade, puxando-a para mais perto. — Sempre disposta a confessar seus sentimentos, mesmo que isso lhe c
A noite foi um tormento. Isabele rolou de um lado para o outro na cama, incapaz de encontrar uma posição que acalmasse sua mente inquieta. Cada vez que fechava os olhos, Álvaro invadia seus sonhos, sua pele queimava ao lembrar do toque dele, dos beijos famintos, da maneira como a olhava como se pudesse enxergar dentro de sua alma. Mas não eram apenas as memórias recentes que a atormentavam. Os pesadelos vinham misturados a lembranças que ela lutava para enterrar há anos, o dia em que sua vida desmoronou, quando o vídeo íntimo foi exposto para toda a escola, quando os olhares de julgamento e zombaria a perseguiram por meses, quando Álvaro, o único homem que ela amou de verdade, a traiu da forma mais cruel possível. Ela acordou exausta, com os olhos pesados e um gosto amargo de mágoa e arrependimento na boca. Encostando-se ao espelho do banheiro, respirou fundo, encarando a própria imagem abatida. “Você não vai estragar o dia do casamento da sua mãe ” disse a si mesma em voz alta, ante
Ele relaxou os ombros, aliviado com a compreensão dela. — Podemos dançar? Prometo que não toco mais nesse assunto. Ela hesitou, seu olhar vasculhando o ambiente antes de assentir devagar. — Desde que falemos sobre qualquer outra coisa, tudo bem. A pista de dança estava muito arejada e conforme se moviam, Isabele tentou ignorar a tensão que pesava no ar. No entanto, não precisava olhar para saber que Álvaro a observava. Sentia seu olhar como uma chama ardente em sua pele. Ele estava parado ao fundo, um copo de uísque na mão, a expressão dura, a mandíbula cerrada em um misto de raiva e... ciúme. — Álvaro... — A voz sedutora de Julia cortou o silêncio ao lado dele, analisando-o com olhos astutos. — Sei que nosso relacionamento é só negócios e prazer, mas o que está rolando entre você e a enteada do seu pai? Ele não desviou os olhos de Isabele, a tensão em seu rosto evidente. — Nada. Mal a conheço. — mentiu, a voz grave, quase convincente. Julia soltou uma risada baixa,