Álvaro ergueu uma sobrancelha, os lábios se curvando em um sorriso sutil, aquele mesmo sorriso que fazia o coração dela vacilar. — Não duvido disso, Isa. Mas ele está dormindo tão tranquilo... deixa que eu o levo. Ela sabia que discutir seria inútil e seria inútil também lhe pedir para que não a chamasse de Isa, um apelido que ele lhe dera quando namoravam. Ela achou que eles eram um casal de namorados apaixonados, mas, na verdade, a única verdadeiramente apaixonada era ela. Álvaro sempre teve esse jeito teimoso, e naquele momento, a exaustão da viagem e o peso emocional da noite a impediram de insistir. Apenas assentiu e caminhou à frente, destrancando a porta e conduzindo-o até seu antigo quarto. Álvaro entrou com passos cuidadosos, deitando Davi na pequena cama e ajeitando os cobertores sobre ele com um gesto surpreendentemente gentil. Isabele ficou parada na porta, observando em silêncio. Era quase surreal vê-lo ali, naquele espaço tão familiar para ela, mas tão distante da
— Você é tão linda... — murmurou ele contra a pele macia dela, explorando cada centímetro com uma reverência quase devota. Isabele gemeu baixinho, a respiração descompassada, os dedos trêmulos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Mas então, como um alarme soando em sua mente, a realidade atingiu-a com força. Ela abriu os olhos, ofegante, e o viu ali, sobre ela, os olhos ardentes e cheios de desejo. A lembrança do passado voltou como um golpe, e a raiva tomou o lugar do prazer. Com uma força que ele não esperava, Isabele o empurrou com toda a sua energia, fazendo Álvaro cair de costas no tapete com um baque surpreso. — Eu não vou cair nos seus truques de novo, Álvaro! — disse ela, sua voz trêmula de emoção, apressando-se para fechar o vestido com dedos desajeitados e nervosos. Ele permaneceu sentado no chão por um momento, passando a língua pelos lábios inchados pelo beijo, um sorriso torto surgindo em seu rosto incrivelmente lindo. — Então é assim? Me d
Isabele fechou os olhos com força, tentando acalmar o turbilhão dentro dela. Quando os reabriu, encontrou Álvaro ainda ali, tão perto que podia sentir o cheiro amadeirado dele, intoxicante e familiar demais. Ela respirou fundo, buscando forças que pareciam escapar de seu controle. — Vai embora, Álvaro — disse, sua voz carregada de algo que ela se recusava a chamar de arrependimento. — Eu posso até admitir que... que meu corpo te deseja, mas é só isso. Só desejo. Eu nunca vou te perdoar pelo que me fez... nunca. E vou continuar te odiando por cada mentira, cada promessa vazia. Os olhos dele se estreitaram, analisando-a com aquele jeito intenso que sempre a deixava desconcertada. Então, para sua surpresa, Álvaro sorriu de canto, um sorriso cínico e conhecedor. — Pelo menos você continua a mesma garota corajosa e transparente de sempre — murmurou, segurando o braço dela com suavidade, puxando-a para mais perto. — Sempre disposta a confessar seus sentimentos, mesmo que isso lhe c
A noite foi um tormento. Isabele rolou de um lado para o outro na cama, incapaz de encontrar uma posição que acalmasse sua mente inquieta. Cada vez que fechava os olhos, Álvaro invadia seus sonhos, sua pele queimava ao lembrar do toque dele, dos beijos famintos, da maneira como a olhava como se pudesse enxergar dentro de sua alma. Mas não eram apenas as memórias recentes que a atormentavam. Os pesadelos vinham misturados a lembranças que ela lutava para enterrar há anos, o dia em que sua vida desmoronou, quando o vídeo íntimo foi exposto para toda a escola, quando os olhares de julgamento e zombaria a perseguiram por meses, quando Álvaro, o único homem que ela amou de verdade, a traiu da forma mais cruel possível. Ela acordou exausta, com os olhos pesados e um gosto amargo de mágoa e arrependimento na boca. Encostando-se ao espelho do banheiro, respirou fundo, encarando a própria imagem abatida. “Você não vai estragar o dia do casamento da sua mãe ” disse a si mesma em voz alta, ante
Ele relaxou os ombros, aliviado com a compreensão dela. — Podemos dançar? Prometo que não toco mais nesse assunto. Ela hesitou, seu olhar vasculhando o ambiente antes de assentir devagar. — Desde que falemos sobre qualquer outra coisa, tudo bem. A pista de dança estava muito arejada e conforme se moviam, Isabele tentou ignorar a tensão que pesava no ar. No entanto, não precisava olhar para saber que Álvaro a observava. Sentia seu olhar como uma chama ardente em sua pele. Ele estava parado ao fundo, um copo de uísque na mão, a expressão dura, a mandíbula cerrada em um misto de raiva e... ciúme. — Álvaro... — A voz sedutora de Julia cortou o silêncio ao lado dele, analisando-o com olhos astutos. — Sei que nosso relacionamento é só negócios e prazer, mas o que está rolando entre você e a enteada do seu pai? Ele não desviou os olhos de Isabele, a tensão em seu rosto evidente. — Nada. Mal a conheço. — mentiu, a voz grave, quase convincente. Julia soltou uma risada baixa,
Isabele foi relaxando, pouco a pouco, nos braços de Álvaro ao som da balada romântica que ecoava pelo salão. As lembranças a atingiram como uma onda inevitável, transportando-a para um passado que ainda ardia sob sua pele. Era impossível esquecer as inúmeras vezes em que haviam dançado juntos, o calor do corpo dele pressionando o seu, a sensação de segurança inquietante que ele sempre lhe proporcionara. Álvaro parecia igualmente mergulhado no turbilhão de recordações. Ele a estreitou ainda mais em seus braços, inalando o perfume suave de seus cabelos e deslizando as mãos em um toque sutil pelas costas dela. Cada movimento era uma provocação silenciosa, um lembrete do que haviam compartilhado — e do que ainda pairava entre eles, não dito, mas sempre presente. — Por que não acredita em mim, Isa? — A voz dele veio baixa, rouca, carregada de algo que a fez estremecer. — Por que é tão difícil aceitar que eu realmente me apaixonei por você? Eu nunca teria coragem de fazer o que me acu
— Por favor, filha, venha morar conosco. Fiquei tanto tempo longe de você e do meu neto. Eu prometo que não vou interferir em nada na sua vida, e quanto à sua carreira, você pode montar seu escritório aqui. O Gabriel tem vários amigos que precisam de uma designer de interiores talentosa, como você, para decorar suas casas. Gabriel, que estava ouvindo, complementa: — Isso mesmo! Inclusive, tenho um casal de amigos que comprou uma cobertura em São Paulo e está precisando de alguém competente, como sei que você é, para decorá-la. Isabele sorri, mas nega suavemente: — Agradeço muito o convite, mas sinto que em ter que recusar. Eu já estou decidida, e, além disso, vamos deixar esse assunto para outro momento. Não quero que estraguem a noite de casamento de vocês com questões fora de hora. A mãe, visivelmente triste, tenta entender: — Tudo bem, filha, mas não consigo entender o motivo da sua recusa. Achei que você gostaria de viver mais perto de mim, principalmente agora que esto
— Até quando vai me tratar como se eu fosse um idiota irresponsável? — perguntou com a voz baixa, mas cheia de tensão. — Você me humilhou na frente dos nossos pais, sabele. Ela tentou puxar o braço, mas ele a manteve firme. — Álvaro, me solta. Você já está ultrapassando limites demais. — Não até você me ouvir — ele sussurrou, puxando-a para dentro de um dos quartos. Com a porta fechada, ele a encurralou contra a parede, os olhos fixos nos dela. — Eu nunca teria pego seu filho no colo se não tivesse condições para isso. Eu posso ter bebido mais do que costumo beber mas não ponto de fazer algo estupido como colocar o bem está de uma criança em risco. Isabele manteve o olhar firme, mesmo sentindo seu coração acelerar. — Eu só quis proteger meu filho, Álvaro. Se isso te ofende, problema seu ,não posso fazer nada. Ele soltou uma risada amarga, se aproximando mais. — Isso é uma forma de se vingar de mim? Porque eu sei que você com certeza ainda guarda rancor pelo que acont