capítulo 3

Ela olhou rapidamente para a mãe, percebendo o sorriso curioso no rosto dela. Gabriel também ergueu uma sobrancelha, interessado.

— É verdade? — Gabriel perguntou, olhando de Isabele para Álvaro, que estava sentado do outro lado da mesa.

Álvaro abriu a boca para responder, mas Isabele foi mais rápida.

— Sim, nos conhecemos... há muito tempo. — Ela tentou soar casual, mas a tensão em sua voz era evidente.

Álvaro inclinou a cabeça, surpreso, e antes que pudesse questionar, Isabele continuou:

— Foi na minha ida para Florianópolis. Na época, embarcamos no mesmo avião. Ele estava indo para lá, assim como eu.

Ela lançou um olhar firme a Álvaro, como se implorasse para que ele confirmasse sua mentira.

Houve um momento de silêncio. Álvaro arqueou uma sobrancelha, claramente confuso, mas logo pareceu entender que ela estava tentando evitar algo.

— Ah, claro, minha ida para Florianópolis. Foi isso mesmo.

Sua voz era baixa e controlada, mas havia uma ponta de curiosidade que ele não conseguiu esconder.

Angélica sorriu, satisfeita.

— Que coincidência incrível! O destino parece estar mesmo trabalhando a nosso favor, Gabriel, tanto que nossos filhos até já se conheciam, como imaginávamos pelos olhares dos dois.

Isabele forçou um sorriso e voltou sua atenção para Davi, que brincava distraído com o aviãozinho de plástico que trouxera escondido. Ela sabia que sua mentira era frágil, mas não podia correr o risco de Álvaro revelar algo do passado. Não agora, com sua mãe tão feliz e Gabriel sendo tão gentil.

Ela não queria de jeito nenhum que ela descobrisse que foi ele o canalha que brincou com seus sentimentos, a humilhou expondo daquela forma a intimidade que compartilharam e destruiu todos os seus sonhos românticos. E, mais importante de tudo, era o pai de Davi, porque ela nunca revelou o nome do pai do seu filho e não fazia a menor ideia de que ele estava ali na sua frente e, no dia seguinte, seria oficialmente seu enteado.

A conversa à mesa continuou, mas Isabele mal conseguia prestar atenção. Júlia, a noiva de Álvaro, parecia ter uma necessidade incessante de se exibir, mostrando suas habilidades e sucesso como corretora, e Isabele tinha certeza de que estava entediando a todos, mas eram educados demais para interrompê-la.

— Como eu estava dizendo, a minha imobiliária e da minha prima têm crescido muito. E, com o meu trabalho como sócia majoritária, estamos fechando contratos milionários.

Ela disse, com um sorriso triunfante.

Álvaro parecia distante, respondendo apenas com monossílabos às perguntas de Júlia. Seus olhos de um azul cristalino, no entanto, permaneciam fixos em Davi, que brincava animadamente sem prestar atenção em ninguém.

Isabele sentiu uma onda de desconforto ao perceber o olhar de Álvaro.

Ele observava Davi com uma intensidade que fazia seu coração acelerar.

Ela sabia o que ele estava pensando, podia ver a confusão em seus olhos.

O garoto, para quem observasse com atenção, tinha muitas coisas muito semelhantes a ele.

Principalmente a cor dos cabelos e a cor dos olhos, que eram tão azuis quanto os dele, do mesmo tom lindo e hipnotizante.

Quando Davi soltou uma risada ao fingir que o avião pousava no prato vazio, Álvaro pareceu ainda mais perturbado. Ele piscou várias vezes, como se estivesse tentando afastar pensamentos indesejados.

— Coma pelo menos um pouco, Davi. — Isabele murmurou, tentando parecer calma, mas sua voz saiu mais firme do que o necessário.

— Não quero, mamãe. Tô brincando! — Davi respondeu, sem nem olhar para ela.

O olhar de Álvaro continuou preso no menino, mas ele não disse nada.

Isabele não aguentava mais a tensão. O ar parecia pesado, e cada segundo ao lado de Álvaro era um lembrete doloroso de tudo o que havia acontecido.

— Com licença, eu... vou ao toalete. — Ela disse de repente, levantando-se.

— Está tudo bem, querida? — Angélica perguntou, preocupada.

— Sim, só preciso de um minuto, vou retocar a maquiagem.

Isabele forçou um sorriso antes de se afastar rapidamente.

Ela caminhou até o toalete, sentindo o peso do olhar de Álvaro em suas costas. Quando entrou no banheiro, respirou fundo, tentando controlar as emoções que ameaçavam transbordar.

Porém, ela mal teve tempo de se recompor quando ouviu a porta se abrir atrás dela. Seu coração disparou. Ela sabia quem era antes mesmo de se virar.

Álvaro entrou e fechou a porta atrás de si, encostando-se nela. Seus olhos estavam fixos nela, e havia uma mistura de confusão e raiva em sua expressão.

— Quer me explicar o que foi aquilo? Florianópolis? Por que ocultou de nossos pais que nos conhecemos desde os tempos da escola? — Ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de tensão.

— O que você queria que eu dissesse? A verdade?

— E destruir a felicidade dos nossos pais?

Isabele o encarou, os olhos brilhando de mágoa e indignação. Sua voz tremia, mas não de fraqueza, e sim de uma raiva contida por anos.

— Contar que você é o canalha que fingiu estar apaixonado por mim só para me levar para a cama?

Isabele engoliu em seco, sentindo o gosto amargo da lembrança, mas prosseguiu sem hesitar:

— E depois expor a nossa intimidade para a escola toda por uma aposta nojenta que fez com seus amiguinhos há 6 anos atrás?

Sua voz ficou mais alta no final, carregada de uma mistura de dor e revolta que ela não conseguia mais esconder.

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