Ela olhou rapidamente para a mãe, percebendo o sorriso curioso no rosto dela. Gabriel também ergueu uma sobrancelha, interessado.
— É verdade? — Gabriel perguntou, olhando de Isabele para Álvaro, que estava sentado do outro lado da mesa. Álvaro abriu a boca para responder, mas Isabele foi mais rápida. — Sim, nos conhecemos... há muito tempo. — Ela tentou soar casual, mas a tensão em sua voz era evidente. Álvaro inclinou a cabeça, surpreso, e antes que pudesse questionar, Isabele continuou: — Foi na minha ida para Florianópolis. Na época, embarcamos no mesmo avião. Ele estava indo para lá, assim como eu. Ela lançou um olhar firme a Álvaro, como se implorasse para que ele confirmasse sua mentira. Houve um momento de silêncio. Álvaro arqueou uma sobrancelha, claramente confuso, mas logo pareceu entender que ela estava tentando evitar algo. — Ah, claro, minha ida para Florianópolis. Foi isso mesmo. Sua voz era baixa e controlada, mas havia uma ponta de curiosidade que ele não conseguiu esconder. Angélica sorriu, satisfeita. — Que coincidência incrível! O destino parece estar mesmo trabalhando a nosso favor, Gabriel, tanto que nossos filhos até já se conheciam, como imaginávamos pelos olhares dos dois. Isabele forçou um sorriso e voltou sua atenção para Davi, que brincava distraído com o aviãozinho de plástico que trouxera escondido. Ela sabia que sua mentira era frágil, mas não podia correr o risco de Álvaro revelar algo do passado. Não agora, com sua mãe tão feliz e Gabriel sendo tão gentil. Ela não queria de jeito nenhum que ela descobrisse que foi ele o canalha que brincou com seus sentimentos, a humilhou expondo daquela forma a intimidade que compartilharam e destruiu todos os seus sonhos românticos. E, mais importante de tudo, era o pai de Davi, porque ela nunca revelou o nome do pai do seu filho e não fazia a menor ideia de que ele estava ali na sua frente e, no dia seguinte, seria oficialmente seu enteado. A conversa à mesa continuou, mas Isabele mal conseguia prestar atenção. Júlia, a noiva de Álvaro, parecia ter uma necessidade incessante de se exibir, mostrando suas habilidades e sucesso como corretora, e Isabele tinha certeza de que estava entediando a todos, mas eram educados demais para interrompê-la. — Como eu estava dizendo, a minha imobiliária e da minha prima têm crescido muito. E, com o meu trabalho como sócia majoritária, estamos fechando contratos milionários. Ela disse, com um sorriso triunfante. Álvaro parecia distante, respondendo apenas com monossílabos às perguntas de Júlia. Seus olhos de um azul cristalino, no entanto, permaneciam fixos em Davi, que brincava animadamente sem prestar atenção em ninguém. Isabele sentiu uma onda de desconforto ao perceber o olhar de Álvaro. Ele observava Davi com uma intensidade que fazia seu coração acelerar. Ela sabia o que ele estava pensando, podia ver a confusão em seus olhos. O garoto, para quem observasse com atenção, tinha muitas coisas muito semelhantes a ele. Principalmente a cor dos cabelos e a cor dos olhos, que eram tão azuis quanto os dele, do mesmo tom lindo e hipnotizante. Quando Davi soltou uma risada ao fingir que o avião pousava no prato vazio, Álvaro pareceu ainda mais perturbado. Ele piscou várias vezes, como se estivesse tentando afastar pensamentos indesejados. — Coma pelo menos um pouco, Davi. — Isabele murmurou, tentando parecer calma, mas sua voz saiu mais firme do que o necessário. — Não quero, mamãe. Tô brincando! — Davi respondeu, sem nem olhar para ela. O olhar de Álvaro continuou preso no menino, mas ele não disse nada. Isabele não aguentava mais a tensão. O ar parecia pesado, e cada segundo ao lado de Álvaro era um lembrete doloroso de tudo o que havia acontecido. — Com licença, eu... vou ao toalete. — Ela disse de repente, levantando-se. — Está tudo bem, querida? — Angélica perguntou, preocupada. — Sim, só preciso de um minuto, vou retocar a maquiagem. Isabele forçou um sorriso antes de se afastar rapidamente. Ela caminhou até o toalete, sentindo o peso do olhar de Álvaro em suas costas. Quando entrou no banheiro, respirou fundo, tentando controlar as emoções que ameaçavam transbordar. Porém, ela mal teve tempo de se recompor quando ouviu a porta se abrir atrás dela. Seu coração disparou. Ela sabia quem era antes mesmo de se virar. Álvaro entrou e fechou a porta atrás de si, encostando-se nela. Seus olhos estavam fixos nela, e havia uma mistura de confusão e raiva em sua expressão. — Quer me explicar o que foi aquilo? Florianópolis? Por que ocultou de nossos pais que nos conhecemos desde os tempos da escola? — Ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de tensão. — O que você queria que eu dissesse? A verdade? — E destruir a felicidade dos nossos pais? Isabele o encarou, os olhos brilhando de mágoa e indignação. Sua voz tremia, mas não de fraqueza, e sim de uma raiva contida por anos. — Contar que você é o canalha que fingiu estar apaixonado por mim só para me levar para a cama? Isabele engoliu em seco, sentindo o gosto amargo da lembrança, mas prosseguiu sem hesitar: — E depois expor a nossa intimidade para a escola toda por uma aposta nojenta que fez com seus amiguinhos há 6 anos atrás? Sua voz ficou mais alta no final, carregada de uma mistura de dor e revolta que ela não conseguia mais esconder.Álvaro passou a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado, como se buscasse palavras para se fazer entender. Sua voz começou baixa, quase hesitante:— Eu sempre pensei que havia contado à sua mãe o nome do canalha que fez isso com você. Nesse caso, eu... sabia que não tinha como ela saber isso sem ser através de você, já que eu fiz de tudo para nunca ser apresentado a ela na época, porque, infelizmente, fazia parte do meu plano nunca levar você a sério, e conhecer sua família era algo muito comprometedor.Confessou ele, muito envergonhado e arrependido do que fez.Ele respirou fundo, os olhos carregados de mágoa e indignação enquanto continuava, sua voz agora firme, mas carregada de tensão:— Mas não estou falando sobre ter compartilhado o vídeo com aqueles idiotas daquela época.Sua expressão endureceu por um momento, mas logo deu lugar a algo mais vulnerável. Ele abaixou o olhar, como se as palavras fossem um peso que ele tinha que carregar:— O que admito que fiz foi essa maldita a
— Não sei por que, Isabele, mas não acredito em você. O olhar penetrante de Álvaro parecia despir suas mentiras. A descrença em sua voz carregava uma certeza desconcertante que fez o estômago de Isabele revirar. — A que você se refere? Pode me dizer? — Estou me referindo à história que você acabou de me contar. A mentirosa aqui é você. Porque aquele garotinho me lembra muito de mim quando tinha a mesma idade dele. Ele tem os meus olhos. Aliás, a sua idade "b**e" exatamente com os anos desde aquela noite. Eu acredito que estava tão nervoso, devido ao desejo e à paixão que sentia por você, que acabei colocando o preservativo às pressas e ele estourou. As palavras de Álvaro foram como facas, cortando a fachada de Isabele. Ela sentiu o medo crescer, mas forçou um sorriso frio e continuou a mentir, determinada a manter a verdade escondida. — Eu disse a mais pura verdade. E para que se convença de uma vez, vou ser ainda mais sincera: Sua voz não tremia, mas por dentro, Isabele sentia
Ela fechou os olhos por um instante, tentando controlar as emoções que a consumiam. Respirou fundo e abriu a porta, encontrando o olhar preocupado da mãe. — Está tudo bem, mãe. Já estou saindo — disse ela, tentando manter a voz firme, apesar da confusão de sentimentos que sentia. — Tudo bem, querida. Vou voltar para junto do Gabriel e da Júlia, que, pelo jeito, também está preocupada com o sumiço do Álvaro. Não se demore. Estamos aguardando você. — disse sua mãe, saindo em seguida, sem desconfiar de nada do que estava acontecendo naquele banheiro. sabele esperou até que os passos da mãe desaparecessem pelo corredor antes de se virar para encarar Álvaro. Ele estava parado, os olhos cravados nela com uma intensidade sufocante, como se pudesse enxergar até os recônditos mais profundos de sua alma. — Isso nunca mais vai acontecer, Álvaro — declarou ela com firmeza, mesmo que, por dentro, tremesse. — Você pode acreditar no que quiser, mas, para mim, você é um erro do passado que e
Isabele voltou para a mesa com passos firmes, tentando conter a tempestade de emoções que Álvaro despertara nela. Seu coração ainda pulsava descompassado, e seus lábios, apesar de sua resistência, ainda sentiam o gosto do beijo roubado. Ela inspirou profundamente, ergueu o queixo e forçou um sorriso ao se sentar novamente. Davi, seu filho de quatro anos, esfregava os olhinhos sonolentos, encostando a cabeça em seu braço. Ela aproveitou aquela oportunidade para se recompor, deslizando os dedos pelos cabelos dele com carinho. — Mamãe... tô com sono... — murmurou o menino, a voz arrastada. Isabele sorriu, aliviada por ter uma desculpa perfeita para sair dali. Ela olhou para a mãe, Angélica, que conversava animadamente com o pai de Álvaro. — Mãe, acho melhor eu ir embora. Davi está exausto — disse, mantendo a voz calma, embora sua mente ainda estivesse um caos. Angélica olhou para o neto com ternura e assentiu. — Claro, querida. Mas você não vai pegar um táxi sozinha essa hora,
Júlia respirou fundo, irritada, mas forçou um sorriso ao se despedir, lançando um olhar afiado para Isabele antes de sair. Isabele observou tudo em silêncio, tentando manter o coração firme. Enquanto caminhavam até o carro, ela manteve a distância de Álvaro, mas não conseguiu evitar que sua mente se enchesse de lembranças do passado. Lembranças que ela queria esquecer... mas que ele insistia em trazer à tona. Dentro do carro, o silêncio entre eles era pesado, quase sufocante. O único som era a respiração suave de Davi, adormecido no banco de trás. Isabele mantinha o olhar fixo na janela, observando as luzes da cidade passarem como borrões diante de seus olhos. Ainda sentia o cheiro de Álvaro, tão próximo, preenchendo o espaço apertado do carro. A presença dele era uma tortura silenciosa, despertando lembranças que ela se forçara a enterrar. Álvaro, com uma mão firme no volante, a observava pelo canto do olho. Havia uma tensão latente em seu corpo, um misto de frustração e desejo c
Álvaro ergueu uma sobrancelha, os lábios se curvando em um sorriso sutil, aquele mesmo sorriso que fazia o coração dela vacilar. — Não duvido disso, Isa. Mas ele está dormindo tão tranquilo... deixa que eu o levo. Ela sabia que discutir seria inútil e seria inútil também lhe pedir para que não a chamasse de Isa, um apelido que ele lhe dera quando namoravam. Ela achou que eles eram um casal de namorados apaixonados, mas, na verdade, a única verdadeiramente apaixonada era ela. Álvaro sempre teve esse jeito teimoso, e naquele momento, a exaustão da viagem e o peso emocional da noite a impediram de insistir. Apenas assentiu e caminhou à frente, destrancando a porta e conduzindo-o até seu antigo quarto. Álvaro entrou com passos cuidadosos, deitando Davi na pequena cama e ajeitando os cobertores sobre ele com um gesto surpreendentemente gentil. Isabele ficou parada na porta, observando em silêncio. Era quase surreal vê-lo ali, naquele espaço tão familiar para ela, mas tão distante da
— Você é tão linda... — murmurou ele contra a pele macia dela, explorando cada centímetro com uma reverência quase devota. Isabele gemeu baixinho, a respiração descompassada, os dedos trêmulos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Mas então, como um alarme soando em sua mente, a realidade atingiu-a com força. Ela abriu os olhos, ofegante, e o viu ali, sobre ela, os olhos ardentes e cheios de desejo. A lembrança do passado voltou como um golpe, e a raiva tomou o lugar do prazer. Com uma força que ele não esperava, Isabele o empurrou com toda a sua energia, fazendo Álvaro cair de costas no tapete com um baque surpreso. — Eu não vou cair nos seus truques de novo, Álvaro! — disse ela, sua voz trêmula de emoção, apressando-se para fechar o vestido com dedos desajeitados e nervosos. Ele permaneceu sentado no chão por um momento, passando a língua pelos lábios inchados pelo beijo, um sorriso torto surgindo em seu rosto incrivelmente lindo. — Então é assim? Me d
Isabele fechou os olhos com força, tentando acalmar o turbilhão dentro dela. Quando os reabriu, encontrou Álvaro ainda ali, tão perto que podia sentir o cheiro amadeirado dele, intoxicante e familiar demais. Ela respirou fundo, buscando forças que pareciam escapar de seu controle. — Vai embora, Álvaro — disse, sua voz carregada de algo que ela se recusava a chamar de arrependimento. — Eu posso até admitir que... que meu corpo te deseja, mas é só isso. Só desejo. Eu nunca vou te perdoar pelo que me fez... nunca. E vou continuar te odiando por cada mentira, cada promessa vazia. Os olhos dele se estreitaram, analisando-a com aquele jeito intenso que sempre a deixava desconcertada. Então, para sua surpresa, Álvaro sorriu de canto, um sorriso cínico e conhecedor. — Pelo menos você continua a mesma garota corajosa e transparente de sempre — murmurou, segurando o braço dela com suavidade, puxando-a para mais perto. — Sempre disposta a confessar seus sentimentos, mesmo que isso lhe c