A porta se abriu quase imediatamente, e sua mãe, com um sorriso largo e olhos marejados, a recebeu com um abraço caloroso.
— Minha filha! Que saudade! — disse ela, apertando Isabele com força. Depois, abaixou-se para encarar Davi, que, tímido, se escondia atrás da mãe. — E você, meu príncipe, ficou ainda mais lindo! Desde que a vovó te viu a última vez, quando estava em Floripa, era apenas um bebezinho, agora está um lindo rapazinho. Davi sorriu timidamente, permitindo que a avó o abraçasse. Isabele observou a cena com um aperto no peito. Apesar de tudo, era bom estar de volta ao lado de sua mãe. Depois de um tempo conversando e desfazendo as malas, sua mãe sugeriu: — Vamos sair para jantar? Quero que conheça meu noivo e o filho dele. Eles estão nos esperando em um restaurante maravilhoso. O restaurante era elegante, com seu ar sofisticado e acolhedor, como se cada detalhe tivesse sido pensado para criar uma experiência inesquecível. Isabele estava sentada ao lado de sua mãe, Angélica, enquanto Davi, seu filho, distraía-se com o cardápio infantil. Era a primeira vez que voltava a São Paulo em anos, e o nervosismo fazia seu estômago revirar. Gabriel, o noivo de sua mãe, estava sentado à frente delas, um homem alto e distinto, com cabelos grisalhos bem cuidados e um sorriso que parecia genuinamente caloroso. Ele era simpático, falava com entusiasmo sobre os planos para o casamento e sobre como estava animado para que Isabele fizesse parte da nova família. Apesar da conversa amável, Isabele não conseguia relaxar. Suas mãos estavam inquietas, e ela tentava ao máximo focar em Davi, ajudando-o a escolher o prato enquanto sua mente insistia em revisitar lembranças que ela preferia esquecer. — Meu filho está chegando — Gabriel anunciou de repente, olhando para o relógio. Seu tom era orgulhoso, quase reverente. — Quero muito que você o conheça, Isabele. Tenho certeza de que vocês vão se dar bem. Ela forçou um sorriso educado, mas algo no comentário a deixou inquieta. Não sabia por quê, mas sentiu uma leve tensão no peito, como se algo estivesse prestes a acontecer. O som da porta do restaurante se abrindo chamou sua atenção. Ela viu Gabriel acenar, um sorriso largo surgindo em seu rosto. — Ah, aí está ele! Isabele, distraída com Davi, inclinou-se para ajudá-lo a pegar o copo d’água. Não prestou atenção aos passos que se aproximavam, apenas ouviu a voz de Gabriel: — Filho, esta é minha noiva, Angélica, e sua filha, Isabele. — É um prazer conhecê-las — a voz masculina respondeu, grave e inconfundivelmente familiar. O mundo de Isabele congelou. Aquela voz... não podia ser. Seu coração começou a bater tão rápido que ela sentiu uma onda de calor subir pelo corpo. Respirou fundo antes de se virar, tentando manter a compostura, mas quando seus olhos finalmente se encontraram com os dele, o choque a atingiu como um golpe. Álvaro. Ele estava parado diante dela, mais imponente e irresistível do que jamais se lembrara. O tempo só havia feito bem a ele. Seus olhos escuros, que um dia a hipnotizaram, agora a encaravam com uma intensidade que parecia atravessá-la. O sorriso em seu rosto desapareceu assim que ele a reconheceu, sua expressão tornando-se um misto de surpresa e incredulidade. Isabele sentiu a garganta secar. Era como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. — Você? — Álvaro finalmente murmurou, as palavras quase inaudíveis. Ela não conseguia falar. Tudo que podia fazer era encará-lo, sentindo uma enxurrada de emoções que não sabia como controlar. Raiva, dor, vergonha... todas elas a golpearam de uma só vez. — Álvaro, querido, sente-se, ou vamos passar a noite toda em pé? É deselegante e, além de tudo, estou exausta, trabalhei muito hoje em minha imobiliária. — Uma voz feminina interrompeu o momento tenso. Isabele desviou os olhos para a mulher ao lado dele. Alta, loira, deslumbrante, ela exalava elegância e autoconfiança. Júlia, a noiva dele, pensou Isabele, e o pensamento veio com um peso esmagador. — Júlia, esta é Isabele, filha da Angélica — Gabriel apresentou com entusiasmo, sem perceber a tensão no ar. — E aquele garotão ali é o netinho que Angélica me falou tanto, o pequeno Davi. Álvaro desviou o olhar para Davi, que agora observava tudo com curiosidade infantil. Por um breve momento, algo mudou em sua expressão. Era como se ele estivesse tentando juntar as peças de um quebra-cabeça, até porque, se observassem com mais atenção, o menino tinha traços que o faziam se lembrar dele naquela mesma faixa etária. — Isabele... — Ele começou, mas foi interrompido por Júlia, que parecia impaciente. Isabele mal conseguia respirar. Forçou-se a sorrir, mesmo que seu coração estivesse em pedaços. Enquanto Álvaro se sentava à frente dela, o olhar que ele lançou em sua direção parecia carregar um milhão de perguntas não ditas. Ela sentiu o peso da situação como nunca antes. Ele não sabia de Davi. Não fazia ideia de que o menino sentado ao lado dela era seu filho. E agora, ali estavam eles, forçados a encarar um passado que Isabele fizera de tudo para deixar para trás. Mas o passado, ela percebeu, tinha acabado de encontrá-la de novo. E, por ironia do destino, Álvaro era o futuro enteado da sua mãe. Seus caminhos estavam mais ligados do que nunca, mesmo que ele nunca descubra que há algo muito mais forte que faz com que seus destinos se cruzem. Isabele tentou esconder o tremor em suas mãos enquanto apertava o guardanapo no colo. O jantar mal havia começado, e a tensão entre ela e Álvaro era palpável. Ela podia sentir seu olhar pesado sobre ela, mesmo quando fingia estar completamente focada em Davi. — Pelo modo em que se olharam, posso estar enganada, mas tenho um palpite de que vocês já se conhecem. Acertei? — A voz animada de Angélica cortou o silêncio, fazendo Isabele quase derrubar o copo de água.Ela olhou rapidamente para a mãe, percebendo o sorriso curioso no rosto dela. Gabriel também ergueu uma sobrancelha, interessado. — É verdade? — Gabriel perguntou, olhando de Isabele para Álvaro, que estava sentado do outro lado da mesa. Álvaro abriu a boca para responder, mas Isabele foi mais rápida. — Sim, nos conhecemos... há muito tempo. — Ela tentou soar casual, mas a tensão em sua voz era evidente. Álvaro inclinou a cabeça, surpreso, e antes que pudesse questionar, Isabele continuou: — Foi na minha ida para Florianópolis. Na época, embarcamos no mesmo avião. Ele estava indo para lá, assim como eu. Ela lançou um olhar firme a Álvaro, como se implorasse para que ele confirmasse sua mentira. Houve um momento de silêncio. Álvaro arqueou uma sobrancelha, claramente confuso, mas logo pareceu entender que ela estava tentando evitar algo. — Ah, claro, minha ida para Florianópolis. Foi isso mesmo. Sua voz era baixa e controlada, mas havia uma ponta de curiosidade que ele não con
Álvaro passou a mão pelos cabelos, visivelmente frustrado, como se buscasse palavras para se fazer entender. Sua voz começou baixa, quase hesitante:— Eu sempre pensei que havia contado à sua mãe o nome do canalha que fez isso com você. Nesse caso, eu... sabia que não tinha como ela saber isso sem ser através de você, já que eu fiz de tudo para nunca ser apresentado a ela na época, porque, infelizmente, fazia parte do meu plano nunca levar você a sério, e conhecer sua família era algo muito comprometedor.Confessou ele, muito envergonhado e arrependido do que fez.Ele respirou fundo, os olhos carregados de mágoa e indignação enquanto continuava, sua voz agora firme, mas carregada de tensão:— Mas não estou falando sobre ter compartilhado o vídeo com aqueles idiotas daquela época.Sua expressão endureceu por um momento, mas logo deu lugar a algo mais vulnerável. Ele abaixou o olhar, como se as palavras fossem um peso que ele tinha que carregar:— O que admito que fiz foi essa maldita a
— Não sei por que, Isabele, mas não acredito em você. O olhar penetrante de Álvaro parecia despir suas mentiras. A descrença em sua voz carregava uma certeza desconcertante que fez o estômago de Isabele revirar. — A que você se refere? Pode me dizer? — Estou me referindo à história que você acabou de me contar. A mentirosa aqui é você. Porque aquele garotinho me lembra muito de mim quando tinha a mesma idade dele. Ele tem os meus olhos. Aliás, a sua idade "b**e" exatamente com os anos desde aquela noite. Eu acredito que estava tão nervoso, devido ao desejo e à paixão que sentia por você, que acabei colocando o preservativo às pressas e ele estourou. As palavras de Álvaro foram como facas, cortando a fachada de Isabele. Ela sentiu o medo crescer, mas forçou um sorriso frio e continuou a mentir, determinada a manter a verdade escondida. — Eu disse a mais pura verdade. E para que se convença de uma vez, vou ser ainda mais sincera: Sua voz não tremia, mas por dentro, Isabele sentia
Ela fechou os olhos por um instante, tentando controlar as emoções que a consumiam. Respirou fundo e abriu a porta, encontrando o olhar preocupado da mãe. — Está tudo bem, mãe. Já estou saindo — disse ela, tentando manter a voz firme, apesar da confusão de sentimentos que sentia. — Tudo bem, querida. Vou voltar para junto do Gabriel e da Júlia, que, pelo jeito, também está preocupada com o sumiço do Álvaro. Não se demore. Estamos aguardando você. — disse sua mãe, saindo em seguida, sem desconfiar de nada do que estava acontecendo naquele banheiro. sabele esperou até que os passos da mãe desaparecessem pelo corredor antes de se virar para encarar Álvaro. Ele estava parado, os olhos cravados nela com uma intensidade sufocante, como se pudesse enxergar até os recônditos mais profundos de sua alma. — Isso nunca mais vai acontecer, Álvaro — declarou ela com firmeza, mesmo que, por dentro, tremesse. — Você pode acreditar no que quiser, mas, para mim, você é um erro do passado que e
Isabele voltou para a mesa com passos firmes, tentando conter a tempestade de emoções que Álvaro despertara nela. Seu coração ainda pulsava descompassado, e seus lábios, apesar de sua resistência, ainda sentiam o gosto do beijo roubado. Ela inspirou profundamente, ergueu o queixo e forçou um sorriso ao se sentar novamente. Davi, seu filho de quatro anos, esfregava os olhinhos sonolentos, encostando a cabeça em seu braço. Ela aproveitou aquela oportunidade para se recompor, deslizando os dedos pelos cabelos dele com carinho. — Mamãe... tô com sono... — murmurou o menino, a voz arrastada. Isabele sorriu, aliviada por ter uma desculpa perfeita para sair dali. Ela olhou para a mãe, Angélica, que conversava animadamente com o pai de Álvaro. — Mãe, acho melhor eu ir embora. Davi está exausto — disse, mantendo a voz calma, embora sua mente ainda estivesse um caos. Angélica olhou para o neto com ternura e assentiu. — Claro, querida. Mas você não vai pegar um táxi sozinha essa hora,
Júlia respirou fundo, irritada, mas forçou um sorriso ao se despedir, lançando um olhar afiado para Isabele antes de sair. Isabele observou tudo em silêncio, tentando manter o coração firme. Enquanto caminhavam até o carro, ela manteve a distância de Álvaro, mas não conseguiu evitar que sua mente se enchesse de lembranças do passado. Lembranças que ela queria esquecer... mas que ele insistia em trazer à tona. Dentro do carro, o silêncio entre eles era pesado, quase sufocante. O único som era a respiração suave de Davi, adormecido no banco de trás. Isabele mantinha o olhar fixo na janela, observando as luzes da cidade passarem como borrões diante de seus olhos. Ainda sentia o cheiro de Álvaro, tão próximo, preenchendo o espaço apertado do carro. A presença dele era uma tortura silenciosa, despertando lembranças que ela se forçara a enterrar. Álvaro, com uma mão firme no volante, a observava pelo canto do olho. Havia uma tensão latente em seu corpo, um misto de frustração e desejo c
Álvaro ergueu uma sobrancelha, os lábios se curvando em um sorriso sutil, aquele mesmo sorriso que fazia o coração dela vacilar. — Não duvido disso, Isa. Mas ele está dormindo tão tranquilo... deixa que eu o levo. Ela sabia que discutir seria inútil e seria inútil também lhe pedir para que não a chamasse de Isa, um apelido que ele lhe dera quando namoravam. Ela achou que eles eram um casal de namorados apaixonados, mas, na verdade, a única verdadeiramente apaixonada era ela. Álvaro sempre teve esse jeito teimoso, e naquele momento, a exaustão da viagem e o peso emocional da noite a impediram de insistir. Apenas assentiu e caminhou à frente, destrancando a porta e conduzindo-o até seu antigo quarto. Álvaro entrou com passos cuidadosos, deitando Davi na pequena cama e ajeitando os cobertores sobre ele com um gesto surpreendentemente gentil. Isabele ficou parada na porta, observando em silêncio. Era quase surreal vê-lo ali, naquele espaço tão familiar para ela, mas tão distante da
— Você é tão linda... — murmurou ele contra a pele macia dela, explorando cada centímetro com uma reverência quase devota. Isabele gemeu baixinho, a respiração descompassada, os dedos trêmulos deslizando pelos cabelos dele, puxando-o para mais perto. Mas então, como um alarme soando em sua mente, a realidade atingiu-a com força. Ela abriu os olhos, ofegante, e o viu ali, sobre ela, os olhos ardentes e cheios de desejo. A lembrança do passado voltou como um golpe, e a raiva tomou o lugar do prazer. Com uma força que ele não esperava, Isabele o empurrou com toda a sua energia, fazendo Álvaro cair de costas no tapete com um baque surpreso. — Eu não vou cair nos seus truques de novo, Álvaro! — disse ela, sua voz trêmula de emoção, apressando-se para fechar o vestido com dedos desajeitados e nervosos. Ele permaneceu sentado no chão por um momento, passando a língua pelos lábios inchados pelo beijo, um sorriso torto surgindo em seu rosto incrivelmente lindo. — Então é assim? Me d