capítulo 2

A porta se abriu quase imediatamente, e sua mãe, com um sorriso largo e olhos marejados, a recebeu com um abraço caloroso.

— Minha filha! Que saudade! — disse ela, apertando Isabele com força. Depois, abaixou-se para encarar Davi, que, tímido, se escondia atrás da mãe.

— E você, meu príncipe, ficou ainda mais lindo! Desde que a vovó te viu a última vez, quando estava em Floripa, era apenas um bebezinho, agora está um lindo rapazinho.

Davi sorriu timidamente, permitindo que a avó o abraçasse. Isabele observou a cena com um aperto no peito. Apesar de tudo, era bom estar de volta ao lado de sua mãe.

Depois de um tempo conversando e desfazendo as malas, sua mãe sugeriu:

— Vamos sair para jantar? Quero que conheça meu noivo e o filho dele. Eles estão nos esperando em um restaurante maravilhoso.

O restaurante era elegante, com seu ar sofisticado e acolhedor, como se cada detalhe tivesse sido pensado para criar uma experiência inesquecível. Isabele estava sentada ao lado de sua mãe, Angélica, enquanto Davi, seu filho, distraía-se com o cardápio infantil. Era a primeira vez que voltava a São Paulo em anos, e o nervosismo fazia seu estômago revirar.

Gabriel, o noivo de sua mãe, estava sentado à frente delas, um homem alto e distinto, com cabelos grisalhos bem cuidados e um sorriso que parecia genuinamente caloroso. Ele era simpático, falava com entusiasmo sobre os planos para o casamento e sobre como estava animado para que Isabele fizesse parte da nova família.

Apesar da conversa amável, Isabele não conseguia relaxar. Suas mãos estavam inquietas, e ela tentava ao máximo focar em Davi, ajudando-o a escolher o prato enquanto sua mente insistia em revisitar lembranças que ela preferia esquecer.

— Meu filho está chegando — Gabriel anunciou de repente, olhando para o relógio. Seu tom era orgulhoso, quase reverente.

— Quero muito que você o conheça, Isabele. Tenho certeza de que vocês vão se dar bem.

Ela forçou um sorriso educado, mas algo no comentário a deixou inquieta. Não sabia por quê, mas sentiu uma leve tensão no peito, como se algo estivesse prestes a acontecer.

O som da porta do restaurante se abrindo chamou sua atenção. Ela viu Gabriel acenar, um sorriso largo surgindo em seu rosto.

— Ah, aí está ele!

Isabele, distraída com Davi, inclinou-se para ajudá-lo a pegar o copo d’água. Não prestou atenção aos passos que se aproximavam, apenas ouviu a voz de Gabriel:

— Filho, esta é minha noiva, Angélica, e sua filha, Isabele.

— É um prazer conhecê-las — a voz masculina respondeu, grave e inconfundivelmente familiar.

O mundo de Isabele congelou. Aquela voz... não podia ser.

Seu coração começou a bater tão rápido que ela sentiu uma onda de calor subir pelo corpo. Respirou fundo antes de se virar, tentando manter a compostura, mas quando seus olhos finalmente se encontraram com os dele, o choque a atingiu como um golpe.

Álvaro.

Ele estava parado diante dela, mais imponente e irresistível do que jamais se lembrara. O tempo só havia feito bem a ele. Seus olhos escuros, que um dia a hipnotizaram, agora a encaravam com uma intensidade que parecia atravessá-la. O sorriso em seu rosto desapareceu assim que ele a reconheceu, sua expressão tornando-se um misto de surpresa e incredulidade.

Isabele sentiu a garganta secar. Era como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés.

— Você? — Álvaro finalmente murmurou, as palavras quase inaudíveis.

Ela não conseguia falar. Tudo que podia fazer era encará-lo, sentindo uma enxurrada de emoções que não sabia como controlar. Raiva, dor, vergonha... todas elas a golpearam de uma só vez.

— Álvaro, querido, sente-se, ou vamos passar a noite toda em pé? É deselegante e, além de tudo, estou exausta, trabalhei muito hoje em minha imobiliária. — Uma voz feminina interrompeu o momento tenso.

Isabele desviou os olhos para a mulher ao lado dele. Alta, loira, deslumbrante, ela exalava elegância e autoconfiança. Júlia, a noiva dele, pensou Isabele, e o pensamento veio com um peso esmagador.

— Júlia, esta é Isabele, filha da Angélica — Gabriel apresentou com entusiasmo, sem perceber a tensão no ar.

— E aquele garotão ali é o netinho que Angélica me falou tanto, o pequeno Davi.

Álvaro desviou o olhar para Davi, que agora observava tudo com curiosidade infantil. Por um breve momento, algo mudou em sua expressão. Era como se ele estivesse tentando juntar as peças de um quebra-cabeça, até porque, se observassem com mais atenção, o menino tinha traços que o faziam se lembrar dele naquela mesma faixa etária.

— Isabele... — Ele começou, mas foi interrompido por Júlia, que parecia impaciente.

Isabele mal conseguia respirar. Forçou-se a sorrir, mesmo que seu coração estivesse em pedaços. Enquanto Álvaro se sentava à frente dela, o olhar que ele lançou em sua direção parecia carregar um milhão de perguntas não ditas.

Ela sentiu o peso da situação como nunca antes. Ele não sabia de Davi. Não fazia ideia de que o menino sentado ao lado dela era seu filho. E agora, ali estavam eles, forçados a encarar um passado que Isabele fizera de tudo para deixar para trás.

Mas o passado, ela percebeu, tinha acabado de encontrá-la de novo.

E, por ironia do destino, Álvaro era o futuro enteado da sua mãe. Seus caminhos estavam mais ligados do que nunca, mesmo que ele nunca descubra que há algo muito mais forte que faz com que seus destinos se cruzem.

Isabele tentou esconder o tremor em suas mãos enquanto apertava o guardanapo no colo. O jantar mal havia começado, e a tensão entre ela e Álvaro era palpável.

Ela podia sentir seu olhar pesado sobre ela, mesmo quando fingia estar completamente focada em Davi.

— Pelo modo em que se olharam, posso estar enganada, mas tenho um palpite de que vocês já se conhecem. Acertei? — A voz animada de Angélica cortou o silêncio, fazendo Isabele quase derrubar o copo de água.

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