Vendida a um Assassino
Vendida a um Assassino
Por: Bruna Calil
01

Alana estava sentada em sua poltrona no quarto, olhando a janela. Seus olhos estavam cheios de lágrimas pela falta que seu ex-namorado fazia. Os dois terminaram por uma exigência de seu pai, porque Harry era pobre demais para a sua “princesa”, segundo ele. Ela limpou os olhos e respirou fundo, levantando da poltrona e descendo as escadas de sua casa de classe média em Berlim. Seu pai estava usando o celular na frente da televisão, ela o olha e balança a cabeça de forma negativa.

— Por que você fez isso comigo, pai? Você não se importa com meus sentimentos? — Disse, chorosa. Ela cruzou os braços como se estivesse com frio. — Eu achei que era sua princesa, mas pelo visto, sou sua refém.

— Me poupe, Alana. Me poupe. — Reclamou e girou os olhos. — Você saiu duas vezes com esse rapaz e já acha que é o amor da sua vida? Ele só estava interessado em entrar no meio das suas pernas, e você sabe disso.

— Por que é tão difícil acreditar que alguém gosta de mim, pai?

A moça triste subiu as escadas de novo, se trancou no quarto e olhou o grande espelho preso na parede. Ela passou as mãos em seus longos cabelos castanhos e observou os olhos esverdeados, tocou no próprio rosto branco e balançou a cabeça. Pensou que talvez o pai tivesse razão ao achar que Harry só estava interessado em levá-la para a cama, por ser chata, ou mimada. E então, sentou no chão, abraçou as pernas e chorou. Era o que lhe restava. Em seus dezoito anos de vida, sempre foi presa em casa pelo pai, podendo apenas ir à escola.

Do outro lado de Berlim, Hanner está tentando tirar informações de um homem, que seu chefe solicitou. No final das contas, o homem não entregou nada.

— Se ele não entregou a informação, ele não sabe. — Hanner afirmou. E tem razão em dizer isso, pois é o melhor em fazer com que falem.

— Teremos que pegar o outro, então. — Sebastian disse e Hanner concordou com a cabeça.

Os dois saíram do galpão, deixando o homem morto para trás.

Hanner dirigiu até a casa de seu chefe, uma mansão imensa, e entrou sem aviso prévio. Ele era tão conhecido nessa casa que era considerado morador.

— Boa noite, Alexander. — Hanner ergueu a sobrancelha. O homem lhe ofereceu a mão e os dois se cumprimentaram.

— Boa noite, Hanner. Conseguiu o que pedi? — Ele negou com a cabeça.

— Ele não tinha as informações. Você sabe o que tive que fazer. — O outro homem cruzou os dedos das mãos.

— Tudo bem. Você sabe de quem ir atrás para conseguir a informação, não sabe? — Hanner concordou. — Mas antes, eu tenho um trabalho pra você.

— Pode falar.

— Preciso que cobre uma dívida de trinta milhões de dólares. — Hanner não esboçou reação. Pouca coisa o surpreende.

— Me passe o endereço. — Pediu. O homem tirou um papel do bolso e entregou a Hanner.

— Olha, nós temos uma informação privilegiada sobre a família deste homem. Podemos conseguir um acordo de casamento com um bom dote, sabia? — Hanner riu.

— Ah, quanto? Uns trinta milhões em dote? Parece interessante. — O sorriso malicioso de Alexander deu a deixa. — Se ele não pagar...

— Aquele cretino do Seth faria um acordo de casamento para sanar a dívida, com certeza. Ele não ama a filha, e pelo que sei, é uma filha bastarda.

— Bom, farei o que ele achar melhor. — Hanner concluiu e Alexander assentiu. — Se quiser um contrato de casamento com a máfia, é melhor pra gente.

— Eu concordo.

Os dois terminaram a conversa e Hanner saiu com o endereço na mão. Restava a ele encontrar a casa e cobrar a dívida.

Não demorou muito até conseguir chegar ao endereço. Ele se olhou no retrovisor, viu seu próprio rosto no espelho. Hanner é um homem bonito, forte, e o único local sem tatuagens é seu rosto. Seus olhos demonstram a raiva reprimida por seu passado triste. Com um pouco mais de um e oitenta e cinco, ele aparenta ser bem maior por causa dos músculos. Ele precisa ser forte. Hanner não carrega nem ao menos sobrenome, ele é um homem invisível. Tem milhares de documentos falsos, vezes sendo Hanner Smith, outras sendo Hanner O’Connel, entre outros nomes que o fizeram esquecer até mesmo seu nome de batismo. Colocou suas luvas pretas de couro, pois sabia que se tudo saísse do controle, teria que matar.

Ele pulou o muro da casa, o que não foi difícil. A casa azul tem muro baixo como se o dono não tivesse medo do que está do lado de fora. Hanner foi até a porta dos fundos e fez com que o alarme parasse de funcionar, e ele entrou de forma fácil por aquela porta.

Seth estava sentado à mesa, na sala de jantar, comendo um sanduíche de forma tranquila. Hanner caminhou vagarosamente até o homem e parou de modo que o homem pudesse vê-lo. Os dois se olharam e Hanner percebeu a jugular de Seth saltada, sabia que ele causava medo no outro homem.

— Boa noite, senhor Beckett. — Disse, com a seriedade de sempre, que fez Seth tremer.

— Boa noite... Enviado da máfia? — Perguntou, com a voz trêmula.

— Que bom que sabe. Vamos encerrar isso logo para que eu possa dormir cedo, estou meio cansado, sabe? — Ele sorriu de forma irônica.

— Eu não tenho os trinta milhões. — Hanner girou os olhos ao ouvir. O homem engoliu seco.

— Não vou sair daqui sem o pagamento. Mas acho que você já sabe disso.

— Estou morto, então? — Questionou. Ele se levantou e caminhou vagarosamente até Hanner.

— Oi? — Hanner soltou uma gargalhada exagerada, maligna e muito irônica. — Você acha que isso quitaria os trinta milhões que você deve? — Hanner negou com a cabeça. — Você não vale nada nem vivo e nem morto pra máfia. Nós queremos o pagamento.

— Eu não tenho como pagar! Eu não sei o que fazer! Eu usei o dinheiro, eu investi, mas vocês sabem, o Alexander sabe que eu levei vários golpes e o dinheiro se foi! — Disse, em tom quase choroso, como se pudesse causar piedade em Hanner. Doce engano.

— Quer um papel em alguma novela com essas lágrimas de crocodilo? Não estou aqui para essa perda de tempo. Pelo que vejo... — Hanner olhava ao redor, com uma expressão de nojo. — Essa casa não vale nem metade do valor do meu relógio de pulso. Mas pelo que sei, sua filha é uma linda moça, pura, que seria uma esposa perfeita para um acordo de casamento.

— Não, minha filha não.

— Nós sabemos do seu amor doente por ela. Mas você tem uma dívida enorme para ser sanada, Seth. A máfia a aceita fazer um acordo de casamento, contanto que o dote fique para a máfia. — Ele arregalou os olhos.

— Eu não posso... — Agora, seus olhos estavam com lágrimas reais. — Minha filha se casaria com um homem que nem ao menos conhece? Acordos de casamento são ultrapassados, ela irá ficar com muita raiva de mim.

— Deveria ter pensado nisso antes de fazer uma dívida desse tamanho. Você tem uma escolha, agora: Assino o contrato ou morra. Ou... Não assine, eu te mato e vou leva-la para que ela mesma assine o contrato. A escolha é sua. — O sorriso irônico de Hanner fez o homem ponderar a ideia.

O pai mudaria a história de Alana Beckett, a entregando-a para fazer um acordo com a máfia.

— Ela está no quarto. Mas por favor... Não deixe que a machuquem.

Hanner ficou em silêncio e foi caminhando até o quarto da moça, que dormia enrolada nos cobertores. Ele acendeu a luz, o que a fez acordar em um pulo.

— O que... O que é isso? Meu Deus, quem é você? — Ela se encolheu na cama, cobrindo o corpo com a coberta.

— Seu pai acabou de entregar você para um contrato de casamento com a máfia, moça. Você é nossa.

Hanner se aproximou da moça, a pegou pelo braço e puxou, fazendo com que a coberta caísse de seu corpo.

— Me solta! — Gritou.

— Não.

Ele a pegou no colo, colocando seu corpo por cima de seu ombro e ela se debatia, dando socos em suas costas e chutando seu peitoral. Nada do que ela fazia parecia atingir o homem. Alana é pequena, com um pouco mais de um metro e cinquenta, pesa talvez cinquenta quilos bem distribuídos, é uma moça muito bonita.

Hanner não falou uma palavra sequer. O pai de Alana também não, e enquanto ela era carregada até o carro, o pai a olhava com pesar.

— Me desculpa. — Sussurrou o pai.

— Você morreu pra mim! — Alana afirmou. — Um contrato de casamento, pai? Isso é ridículo!

Hanner a colocou dentro do carro, e fechou a porta. Ela cruzou os braços, mas já sabia que era melhor ficar quieta. Sabia que o pai era um ladrão, e que uma hora suas dívidas seriam cobradas, mas não esperava que isso recairia sobre ela. Quando Hanner entrou, ela, que estava no banco de trás, o atacou tentando apertar seus olhos. Hanner se desvencilhou rápido quanto o ataque, tirando as mãos da moça dali.

— Você não entendeu ainda, pequena? Você precisa se casar. Foi um acordo. Seu pai foi inteligente em aceitar, e você... É melhor parar com a rebeldia. — Ela ouviu aquilo e ficou estarrecida.

— Eu não sou um objeto para ser entregue a vocês! Eu não quero esse acordo! — Hanner, apesar de concordar, negou com a cabeça.

— Boa sorte, eu não posso fazer nada por você.

— Não... Não! — Ela apareceu na janela. Socou a janela enquanto Hanner partia com o carro. — Você me paga! — Gritou, se referindo ao pai.

Hanner, apesar de sempre frio, ficou com pena. Isso porque Alana é uma mulher inocente pagando a dívida do pai.

Depois de duas horas dirigindo pela estrada vazia, finalmente Hanner quebrou o silêncio.

— Eu sinto muito, menina. — Foi a única coisa que falou.

— Sente muito? — Alana pulou para o banco da frente. — Você é outro cretino!

Ela começou a estapeá-lo. Ele parou o carro no acostamento e desceu, foi até o outro lado e a tirou do carro.

— Presta atenção, mocinha. — Com uma mão, ele segurava seu braço. Com a outra, segurava seu rosto bem próximo ao dele. A olhava nos olhos, e ela não desviava o olhar. — A culpa não é minha se você tem um pai caloteiro e te entregou para esse contrato de casamento com a máfia, eu só cumpro ordens. Quer estapear alguém? Estapei seu próprio pai. O acordo foi com ele.

— Você quem está me levando!— Hanner girou os olhos.

— Só cumpro ordens. — Ele a soltou e foi andando para o outro lado do carro.

Alana saiu correndo para frente, como se tentasse fugir pela estrada, e Hanner acabou rindo consigo mesmo. A seguiu com o carro e nem precisou acelerar muito, abriu o vidro do banco do passageiro e olhou para fora.

— Vai embora! — Ela gritou.

— Bonequinha, é melhor você entrar no carro. Não tem uma alma nessa rodovia, você acha que vai conseguir andar oitenta quilômetros até a cidade vizinha?

Ela fez uma cara de choro ao ouvir. Levantou os olhos e viu exatamente o que ele dizia: Uma placa com o nome da próxima cidade, e o aviso de que estava a oitenta quilômetros de distância.

Alana se deu por vencida e entrou no carro, cruzando os braços com raiva. Hanner alcançou o cinto do passageiro e colocou nela, a fazendo girar os olhos.

— Ah, agora ele se importa com minha segurança.

— Não, eu me importo com os possíveis policiais que podem passar por nós. Não quero ser parado.

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