ALANA NARRANDO
Eu não sei o que pensar em relação a tudo que aconteceu. Quando entrei no quarto que Hanner me mandou, eu pensei muito em tudo, em toda minha vida, em tudo que já fiz e no que deixei de fazer, enquanto colocava a única roupa que eu tinha tirando aquele vestido sensual: Uma calça jeans e uma camiseta branca, que me deram no leilão. Sabe, eu não sou uma péssima pessoa nem mereço nada disso, mas aconteceu e cabe a mim aceitar. Só que o que eu vou fazer com isso? Hanner é um homem muito bonito, sexy, ele tem um caráter horrível e é um assassino. Poucos prós. Pensei que talvez, se eu fosse para a cama com ele, tivesse alguns benefícios. Ele é bem bonitão. Mas... Depois de tanto refletir, eu decidi mudar de caminho e pensar em outra forma de resolver a minha vida.
Eu orei a Deus, mesmo não sendo muito cristã. Orei e pedi assim: Jesus, me ajuda. Eu não sei o que fazer. Me dá um sinal do que fazer, por favor.
Depois que saí do quarto e ouvi tudo que o Hanner disse, fiquei aliviada. Eu não preciso me prostituir para ele, de forma alguma, e além do mais... Ele ainda me deu muitas coisas. Talvez eu consiga até ter uma vida, mas enquanto não tenho, posso estudar um pouco e sei lá.
Enquanto eu comia a pizza e escolhia roupas em um tablet, ouvi Hanner falando no telefone e depois que terminou, ele veio até mim apressado.
— Já terminou? — Questionou.
— Estou acabando, é a última peça. — Eu adicionei rapidamente ao carrinho e ele pegou o tablet. Em alguns segundos, pagou a compra e bloqueou a tela.
— Vou pedir para deixarem na portaria. Eu preciso sair agora, mais tarde eu volto. — Ele saiu de perto de mim, pegou um sobretudo escuro e colocou no corpo. Vestiu luvas pretas, de couro, e eu entendi o que ele faria. Ele iria matar alguém.
Eu estou morando com um assassino. É isso, literalmente.
Olhei para os lados e comecei a perceber a casa. Era uma casa bem impessoal, tudo arrumado demais... Mas havia muita poeira por todo canto. Fui até a mesa e percebi que estava com bastante poeira também, até comecei a espirrar por conta disso. Bom, parece que ele não tem tempo de fazer isso. Talvez eu deva me ocupar arrumando as coisas, talvez isso me faça bem.
Comecei a mexer nos armários da cozinha, até que achei alguns produtos de limpeza. E então, eu comecei a dar uma geral na casa. Uma casa cheirosa sempre faz com que nos sintamos melhor, e é isso que eu quero. Quero me sentir melhor, e talvez, se ele se sentir melhor, continue me tratando... Dessa forma esquisita, mas sem ser rude, me bater e coisa do tipo. É melhor assim.
Enquanto eu limpava a casa, comecei a lembrar de uma professora da escola, que sempre cantava uma música bem bonita nos intervalos da aula. Lembro apenas da melodia, que tocou no filme Titanic. Essa música marcou minha infância, e ela me trouxe uma boa lembrança no momento.
Já estava anoitecendo quando terminei de arrumar a casa. Eu não tinha roupas, então lavei tudo, me enrolei numa toalha e depois joguei na secadora. Enquanto a roupa secava, eu tomei um banho incrível. Ao menos tinha shampoo e sabonete ali. Quando terminei, penteei meus cabelos, que estava na gaveta do banheiro do quarto que eu estava usando, e fui até a lavanderia. Consegui. Coloquei as roupas limpas e secas em mim de volta e suspirei em alívio.
Passei as mãos por meu próprio rosto e andei pela casa, vendo se eu havia deixado algo fora do lugar. Eu não me atrevi a entrar nos cômodos que Hanner pediu que eu não entrasse. Enquanto andava pela casa, ouvi a porta abrindo. Hanner estava com as sacolas com minhas compras e as colocou no chão, enquanto segurava a lateral do quadril.
— Está tudo bem? — Questionei. Ele parecia com dor.
— Está. Tudo ótimo. Pegue suas coisas e leve para o quarto. — Ele retirou o sobretudo e colocou de volta no cabideiro no hall de entrada. Vi que sua camiseta estava ensanguentada, e arregalei os olhos. Ele subiu a camiseta e olhou um machucado na lateral do corpo, que parecia um tiro de raspão. — O que tá olhando, hein?
— Desculpa. — Peguei minhas coisas e levei para o quarto, com pressa.
Enquanto eu arrumava minhas coisas no quarto, pensava na vida. Tudo mudou em dois dias. Antes, eu era só a princesinha do papai. Agora, eu sou uma mercadoria, por mais que Hanner não me trate como uma.
Quando finalmente terminei de arrumar meu quarto com as coisas que comprei, coloquei chinelos nos pés e saí pela porta. Hanner estava tomando uísque sentado em frente ao balcão da cozinha, parecia cansado. Fechou os olhos e suspirou de forma pesada.
— Quer conversar? — Perguntei.
— Não.
— Tá... — Respondi e fui buscar água na pia da cozinha.
— Você limpou a casa. Muito obrigado. Estou sem tempo de limpar esses dias. — Eu sorri para ele, enquanto ele me olhava.
— De nada. Posso fazer isso sempre se quiser. — Ele concordou com a cabeça.
— Seria uma grande ajuda. Mas faça apenas quando quiser, eu não ligo de limpar minha própria casa. — Eu suspirei.
— Pelo que sei... Pelo que me contaram sobre... Os donos de mulheres como eu, sabe? Pelo que me falaram, você é o completo oposto. Então, eu fico feliz em ajudar você, já que tem sido bom para mim. — Ele passou a mão no próprio rosto.
— Eu não sou seu dono. Pelo amor de Deus, Alana... Eu tô me sentindo tão mal com isso.
Um assassino se sentindo mal por manter uma mulher em cativeiro? Isso é esquisito.
— Você tá falando sério? — Concordou com a cabeça.
— Eu sou um assassino. Posso até parecer um monstro, mas eu não sou. Eu mato pessoas que merecem, é como em uma guerra. Alguém tem que fazer o trabalho sujo e quem faz aqui sou eu. — Ergui as sobrancelhas.
— Uau.
— Eu preciso dar um jeito em você. Isso tá me tirando tanto a paz que levei um tiro hoje, por não me concentrar direito. — Eu arregalei os olhos.
— Você vai me matar? — Ele riu da minha colocação.
— Não, bonitinha. Eu não vou te matar. Eu preciso dar um jeito de você não ter um dono. Pensei em te devolver, mas... — Eu o interrompi e fui até ele. Me joguei aos pés dele, ajoelhada.
— Por favor, não me devolve. Por favor, eu te imploro, eu faço tudo que você quiser... Não faz isso comigo. Por favor! — Ele me segurou pelos braços e me colocou em pé.
— Pára com isso. Não vou te devolver.
— Eu gosto da sua casa. Eu vou ficar quietinha aqui, você não tem que se sentir mal. Eu poderia estar nas mãos de um monstro, estuprador, espancador, mas eu tô aqui. O meu destino era o pior possível, mas você tá cuidando de mim, não está? Por favor, não se sinta mal. — Eu falei o que ele precisava ouvir, até porque, se ele viajar muito na maionese, pode ou me matar ou me devolver, que acarretaria na mesma coisa: Minha morte.
— Tá, menina. Tá. Se você está se sentindo bem aqui, me sinto melhor. — Eu sorri de forma forçada, mas tentando parecer feliz de verdade.
— Posso ver? — Eu queria ver o tiro. Ele ergueu a camiseta e mostrou um curativo.
— Já está tampado. Tomei banho e limpei. Foi de raspão, e o outro está morto e queimado. — Riu de forma maliciosa.
— Sente prazer em matar pessoas? — Ele deu os ombros.
— Eu só não me importo mais. Na primeira vez, eu vomitei, sabia? Mas a gente se acostuma com isso.
Ele não parece uma pessoa ruim. Ele parece uma pessoa perdida.
ALANA NARRANDOTranquei a porta do quarto para dormir. Eu tinha medo, obviamente, vai que o Hanner fica doido e decide fazer algo comigo? É melhor prevenir.Eu estava tão cansada que apaguei. Na manhã seguinte, acordei de forma tranquila, escovei meus dentes, me troquei e penteei meu cabelo. Era hora de ir para o lado de fora ver o que estava acontecendo. Hanner estava na cozinha, com a mão aonde levou um tiro. Percebi que estava com a boca branca, como se estivesse passando mal. Ele pegou um comprimido no armário e tomou no seco.— Você tá legal? — Questionei, o olhando. Era óbvio que havia algo errado.— Tô. — Afirmou. Mas aí, os olhos dele foram se fechando e ele cambaleou até a bancada da cozinha, se apoiando ali. Eu corri até ele e tentei ajudar.— Vem, vem sentar no sofá. Você não tá legal não, dá pra ver no seu rosto. — Eu tentei o segurar da forma que conseguia, mas ele é muito pesado.Ele foi caminhando com minha ajuda até o sofá, e se deitou ali. Eu coloquei a mão na testa d
ALANA NARRANDOEu recebi os legumes e frutas, a carne e coloquei tudo em cima da bancada. Fiz uma sopa bem reforçada para Hanner, eu devia odiá-lo, mas eu senti que devia cuidar dele. Quando a sopa estava pronta, servi em uma tigela e levei até ele.— Está aqui. Espero que goste. — Ele se sentou, respirando fundo, e colocou a tigela por cima de uma almofada que colocou no colo.— Obrigado, menina. Não precisava disso.— Eu sei. Mas tecnicamente você está cuidando de mim, então eu posso ser útil a você. — Ele pegou a colher e não respondeu nada ao que eu disse.Ele começou a comer a sopa. Fechou os olhos e sentiu o sabor, como se estivesse apreciando. Não sei há quanto tempo ele não come comida de verdade ou comida feita especialmente para ele, mas ele pareceu gostar muito.— Está delicioso. Parabéns. — Elogiou. Isso me fez sorrir.— Fiz bastante. Pode comer o quanto quiser. — Ele concordou com a cabeça e continuou comendo.Três dias depois, Hanner parecia estar novo. Estava tomando os
HANNER NARRANDOPasso as duas mãos por meus próprios cabelos, depois coço minha nuca e respiro fundo. Acabei de tomar banho no outro banheiro, fora do quarto, porque Alana estava tomando no meu. Eu troquei os lençóis, para que ela não ficasse envergonhada, e os coloquei para lavar. Eu acabei de tirar a virgindade de uma menina de dezoito anos, que não merecia ir para a cama com um assassino. Ela é uma boa menina, e eu tenho pena. Não deveria estar comigo, não mesmo. O motivo dela estar nessa situação eu não sei...Me sentei no meu quarto, em uma cadeira no canto, e me servi um copo de uísque. Eu a esperava tomar banho e sair do banheiro. Logo que saiu, enrolada na toalha, sorriu de leve.— Vou para o meu quarto. — Balancei a cabeça positivamente e ela saiu. Que droga.Eu decidi que era melhor sair de casa, fazer alguma coisa, não sei. E foi o que eu fiz. Antes que ela pudesse ver, eu saí. Só queria beber um pouco, e fui até o bar sozinho. Me sentei em frente ao balcão de madeira e esp
HANNER NARRANDONa manhã seguinte, eu estava preparando meu café da manhã e Alana apareceu, com um sorriso no rosto. Estava trocada, com uma camiseta azul e calça jeans. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, e veio se sentar em frente ao balcão.— Bom dia. — Disse e depois suspirou.— Bom dia. Quer bacon? — Perguntei.— Não, obrigada. Não consigo comer de manhã. — Fiquei em silêncio.Servi meu café da manhã, que era uma tonelada de bacon, um pão e um suco de laranja de caixinha servido em um copo. Peguei a caixa do suco e empurrei em direção a ela, e ela se levantou para buscar um copo. Sentou novamente em seu lugar, serviu o suco e tomou.— Hanner... Eu queria te pedir uma coisa. — Eu a olhei, enquanto mordia o pão.— Fala.— É que eu queria ir a uma igreja que dá pra ver da janela. Ela tem uma placa bonita, é pintada de preto. Sei que você não quer que eu saia, mas... Você poderia ir junto, não sei. — Soltei uma gargalhada.— Você realmente tá me convidando para ir em uma igreja, A
ALANA NARRANDOEu perdi minha virgindade com o Hanner. Por Deus, o que eu fiz? Primeiro, ele é um criminoso. Ele é lindo, mas ainda assim, é um criminoso. Ele é gentil comigo... Até considero ele um cavalheiro, mas me questiono os motivos dele. Ele sente pena de mim? Eu não sei, ele me confunde. Ao mesmo tempo que quero beijá-lo, tenho medo do que pode fazer comigo. Quando ele me carregou nos braços... Eu fiquei surpresa. Não esperava que faria isso, não esperava que me beijaria de volta hoje. Mas ele beijou. E isso me confundiu mais ainda.Já era noite, Eu me arrumei um pouco melhor. Coloquei uma camiseta preta, uma calça jeans escura e o tênis mais bonito que eu tinha. Passei um pouco de maquiagem e sorri para o espelho. Eu me senti bonita até, sabe? Fazia tempo que não me sentia bonita assim.Quando saí do quarto, Hanner estava de moletom preto, dos pés a cabeça, cabelo bem penteado, me esperando sentado no sofá.— Está bonita. — Disse.— Obrigada. — Sorri de forma sincera.— Você
HANNER NARRANDOAcordei desse maldito sonho com meu passado. Eu odeio sonhar com meu passado, odeio. Odeio me lembrar de tudo que houve comigo, me faz mal. Levantei mais uma vez para trabalhar e assim fui, apressado, era o jeito.Trabalhar já não me deixa feliz, na verdade, me incomoda. Eu tinha uma missão a cumprir, tinha que eliminar alguém, e eu não queria fazer isso, mas... Fiz o que tinha que fazer. Coloquei a mensagem que Alexander pediu e quando ia sair, ouvi um barulho. Eu andei pela casa procurando o barulho. Ouvi que vinha do armário embaixo da escada e quando eu abri, era só um gato idiota.Fui embora sem olhar para trás. A parte mais difícil foi entrar em casa de novo, eu arranquei o sobretudo, as luvas, a máscara eu já havia tirado no carro. Comecei a socar a parede com ódio. Eu soquei tanto, tanto, mas tanto, que abriu um buraco ali e também um buraco na minha mão. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos, tentando me controlar.— Hanner... — Ouvi a voz suave de Ala
ALANA NARRANDOHanner parece triste e desanimado hoje. Eu nunca o vi tão nervoso. Ele quebrou um pedaço da parede, parecia muito bravo. Eu havia o deixado sozinho por um tempo, e quando voltei, vi que ele estava na sacada do apartamento, olhando para o lado de fora. Eu fui até ele e me encostei no parapeito, com os cotovelos ali, como ele fazia. A noite estava bem bonita.— Oi. Quer conversar? — Questionei.— Não sei o que falar. Só estou tendo um dia difícil. — Ele fechou os olhos e suspirou. — Vou sair pra beber um pouco.— Fica comigo, vai. — Pedi. Eu me enfiei entre ele e o parapeito, e o olhei nos olhos. Ele encostou as mãos no parapeito, uma de cada lado do meu corpo.— O que quer, Alana? — Levei as duas mãos até o peitoral dele e o acariciei. Eu me inclinei o suficiente para alcançar os lábios dele, e os selei. Ele me retribuiu e empurrou o rosto para me beijar, do jeito bruto dele. Eu gosto, de qualquer forma.— Quero que fique comigo. — Sussurrei contra os lábios dele.— Não
HANNER NARRANDOAlana adormeceu nos meus braços. Eu não acredito que permiti que ela fizesse isso. Bom, para um homem que queria desistir da vida algumas horas atrás, isso é... Inacreditável. Enquanto ela dormia, me permiti olhá-la. Acariciei seu cabelo, o cheirei, beijei sua testa de leve... Segurei sua mão em meu peitoral. Ela é tão bonita, tão doce. Não deveria estar em meus braços, não mesmo.Eu fechei meus olhos e encostei o nariz no cabelo dela mais uma vez, mas dessa vez, iria tentar dormir. Eu segurava sua mão em meu peitoral, já estava cansado.Quando acordei com meu celular despertando, percebi que ela não estava mais ali. Eu me levantei, me vesti e fui pegar minhas coisas. Quando olhei para a mesinha, vi que a chave de casa não estava. Aquilo me deixou nervoso. Eu abri minha carteira e uns vinte euros haviam sumido, e então, eu passei a mão no meu próprio cabelo.Puta que pariu, a Alana fugiu.Saí do quarto e realmente, ela não estava. A porta estava destrancada, e eu estav