ALANA NARRANDO
Tranquei a porta do quarto para dormir. Eu tinha medo, obviamente, vai que o Hanner fica doido e decide fazer algo comigo? É melhor prevenir.
Eu estava tão cansada que apaguei. Na manhã seguinte, acordei de forma tranquila, escovei meus dentes, me troquei e penteei meu cabelo. Era hora de ir para o lado de fora ver o que estava acontecendo. Hanner estava na cozinha, com a mão aonde levou um tiro. Percebi que estava com a boca branca, como se estivesse passando mal. Ele pegou um comprimido no armário e tomou no seco.
— Você tá legal? — Questionei, o olhando. Era óbvio que havia algo errado.
— Tô. — Afirmou. Mas aí, os olhos dele foram se fechando e ele cambaleou até a bancada da cozinha, se apoiando ali. Eu corri até ele e tentei ajudar.
— Vem, vem sentar no sofá. Você não tá legal não, dá pra ver no seu rosto. — Eu tentei o segurar da forma que conseguia, mas ele é muito pesado.
Ele foi caminhando com minha ajuda até o sofá, e se deitou ali. Eu coloquei a mão na testa dele, e parece que coloquei a mão no fogo.
— O que foi? — Ele questionou, talvez pelos meus olhos estarem muito arregalados.
— Você tá fervendo de febre. Eu preciso ver o tiro. — Avisei. Ele negou com a cabeça.
— Relaxa, tá tudo bem. Já tomei remédio. — Afirmou e eu neguei com a cabeça.
— Você deve estar com uma infecção por causa do tiro. Me deixa ver, caramba! — Briguei com ele. Ele girou os olhos e levantou a camisa. Ao redor do curativo já estava vermelho, imagine lá...
Quando tirei o curativo, vi um montão de pus. Era óbvio que estava infeccionado. Uma ferida aberta dessa não é fácil curar, ainda mais sem o tratamento certo.
— Eu já levei tiros assim antes.
— Cara, isso tá completamente infeccionado. A gente precisa de um médico.
— Eu preciso de descanso, só isso. — Ele respirava um pouco pesado.
Seria bem mais fácil se ele morresse. Mas eu pensei que, se ele morresse, talvez eu fosse devolvida e aí, morreria também. Então, melhor ele ficar vivo do que eu ser entregue nas mãos daquelas pessoas horríveis de novo.
Eu comecei a revistar Hanner. Ele segurou minha mão com força, e eu o olhei.
— Nem pense em fazer isso.
— Me dá seu telefone! Eu vou chamar um médico. — Insisti.
— Mas que caralho, mulher! Eu não preciso de um médico! — Resmungou.
— Eu vou chamar, sim! Aonde está seu celular? Eu vou te atormentar até você chamar um médico! — Resmunguei de volta.
— Porra, por que você se importa? Me deixa em paz, se eu tiver que morrer, que seja! — Meu rosto se transformou em uma expressão de surpresa.
— Eu não acredito que você está dizendo isso. Não, senhor! Aonde está a droga do celular, Hanner? — Comecei a mexer nele de novo, e ele me agarrou pelo braço mais uma vez.
— Está na bancada. Pega e me dá que eu ligo. Puta merda. — Ele girou os olhos.
Busquei o celular e o entreguei. Ele discou um número e falou um código, não sei o que significa, mas em questão de vinte minutos um médico bateu na porta e eu atendi. Ele veio até Hanner com uma mala, analisou o ferimento e começou a montar o equipamento médico para cuidar dele.
— Tá muito ruim, doutor? — Questionei.
— Tá péssimo. A bala estava contaminada propositalmente. — Hanner cerrou os dentes enquanto o médico raspava a ferida. — Eu vou colocar um antibiótico forte, você vai precisar de pelo menos três dias disso na veia. Não tem outra opção, Hanner. Se não resolver, vou ter que deixar mais três dias.
— Seis dias de afastamento?
— Provavelmente, mas ou você faz o tratamento, ou morre. Eu vou avisar o chefe. — Disse. — Nós precisamos de você vivo, se é que me entende. — O médico concluiu.
— Tanto faz.
Ele colocou um soro na veia dele. O corpo de Hanner, deitado naquele sofá cinza, com um buraco aberto na lateral da barriga, me deu um aperto no coração. Eu não gosto dele, mas ao mesmo tempo, não o odeio.
Ele acabou adormecendo enquanto o líquido corria por suas veias. Eu me sentei em uma poltrona ao lado dele e observei seu rosto. É um homem bonito, bonito até demais. Poderia ter sido um grande CEO, talvez um boxeador já que tem um equipamento de boxe aqui. Poderia ser um pai de família... Eu não sei. Mas ele não tem cara de assassino. Ele precisa se encontrar, se entender.
Ele tem um nariz bonito. Uma boca bonita... Ele não devia ser tão atraente e eu nem devia estar pensando o que eu estou pensando agora. Acho que estou carente demais, não sei.
Hanner abriu os olhos. Levou um susto ao me ver tão perto.
— O que está fazendo, garota? Quer me matar? — Eu me afastei imediatamente.
— Não! Eu só estava olhando você.
— O que tem de errado comigo que você tanto olhava? — Eu ri comigo mesma. Neguei com a cabeça.
— Não há nada de errado. Você tem um rosto bonito e eu estava olhando, é só isso. — Ele riu com deboche.
— Muito obrigado. — Girou os olhos. — Agora me fala a verdade. — Eu o olhei, incrédula.
— Como assim? É exatamente isso.
— Alana, você me acha bonito? Você é muito esquisita, caralho. Olha, tô pra ver mulher mais esquisita que você. — Ri da forma que ele falou.
— Vou desconsiderar o que você disse porque você tá doente.
— Não, eu sei que sou charmosão, cheiroso e tal... Mas bonito eu não sou não. De qualquer forma, valeu. — Eu dei os ombros.
— De nada. Você está se sentindo melhor? — Ele concordou com a cabeça.
— Estou sim, acho que a febre abaixou um pouco. Onde está o doutor?
— Ele deu uma saída, volta na hora de trocar seu medicamento.
— Ok.
— Eu vou fazer alguma coisa pra você comer. Quer?
— Alana, só tem geleia e pasta de amendoim na minha geladeira. Eu compro tudo pelo aplicativo. Pega meu celular que eu peço alguma coisa. — Eu neguei com a cabeça.
— Vou pedir legumes e fazer uma sopa. Você precisa de nutrientes, qual é. Como você mantém esse monte de músculo com pasta de amendoim e geléia? — Resmunguei.
— Eu como ovos também. E pão. — Ele riu. — Não reclame da minha dieta, sou um homem muito ocupado.
— É, eu tô vendo. Vai, deixa eu escolher as coisas. Vou cozinhar uma comida de verdade pra você, você tá precisando.
— Garota, você é bem chata. Sorte sua que eu tô mal. — Eu entreguei o celular pra ele, e ele abriu o aplicativo. — Escolhe logo o que você quer.
Até que eu estou me dando bem com ele. Não está sendo uma convivência horrível como pensei que seria.
ALANA NARRANDOEu recebi os legumes e frutas, a carne e coloquei tudo em cima da bancada. Fiz uma sopa bem reforçada para Hanner, eu devia odiá-lo, mas eu senti que devia cuidar dele. Quando a sopa estava pronta, servi em uma tigela e levei até ele.— Está aqui. Espero que goste. — Ele se sentou, respirando fundo, e colocou a tigela por cima de uma almofada que colocou no colo.— Obrigado, menina. Não precisava disso.— Eu sei. Mas tecnicamente você está cuidando de mim, então eu posso ser útil a você. — Ele pegou a colher e não respondeu nada ao que eu disse.Ele começou a comer a sopa. Fechou os olhos e sentiu o sabor, como se estivesse apreciando. Não sei há quanto tempo ele não come comida de verdade ou comida feita especialmente para ele, mas ele pareceu gostar muito.— Está delicioso. Parabéns. — Elogiou. Isso me fez sorrir.— Fiz bastante. Pode comer o quanto quiser. — Ele concordou com a cabeça e continuou comendo.Três dias depois, Hanner parecia estar novo. Estava tomando os
HANNER NARRANDOPasso as duas mãos por meus próprios cabelos, depois coço minha nuca e respiro fundo. Acabei de tomar banho no outro banheiro, fora do quarto, porque Alana estava tomando no meu. Eu troquei os lençóis, para que ela não ficasse envergonhada, e os coloquei para lavar. Eu acabei de tirar a virgindade de uma menina de dezoito anos, que não merecia ir para a cama com um assassino. Ela é uma boa menina, e eu tenho pena. Não deveria estar comigo, não mesmo. O motivo dela estar nessa situação eu não sei...Me sentei no meu quarto, em uma cadeira no canto, e me servi um copo de uísque. Eu a esperava tomar banho e sair do banheiro. Logo que saiu, enrolada na toalha, sorriu de leve.— Vou para o meu quarto. — Balancei a cabeça positivamente e ela saiu. Que droga.Eu decidi que era melhor sair de casa, fazer alguma coisa, não sei. E foi o que eu fiz. Antes que ela pudesse ver, eu saí. Só queria beber um pouco, e fui até o bar sozinho. Me sentei em frente ao balcão de madeira e esp
HANNER NARRANDONa manhã seguinte, eu estava preparando meu café da manhã e Alana apareceu, com um sorriso no rosto. Estava trocada, com uma camiseta azul e calça jeans. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, e veio se sentar em frente ao balcão.— Bom dia. — Disse e depois suspirou.— Bom dia. Quer bacon? — Perguntei.— Não, obrigada. Não consigo comer de manhã. — Fiquei em silêncio.Servi meu café da manhã, que era uma tonelada de bacon, um pão e um suco de laranja de caixinha servido em um copo. Peguei a caixa do suco e empurrei em direção a ela, e ela se levantou para buscar um copo. Sentou novamente em seu lugar, serviu o suco e tomou.— Hanner... Eu queria te pedir uma coisa. — Eu a olhei, enquanto mordia o pão.— Fala.— É que eu queria ir a uma igreja que dá pra ver da janela. Ela tem uma placa bonita, é pintada de preto. Sei que você não quer que eu saia, mas... Você poderia ir junto, não sei. — Soltei uma gargalhada.— Você realmente tá me convidando para ir em uma igreja, A
ALANA NARRANDOEu perdi minha virgindade com o Hanner. Por Deus, o que eu fiz? Primeiro, ele é um criminoso. Ele é lindo, mas ainda assim, é um criminoso. Ele é gentil comigo... Até considero ele um cavalheiro, mas me questiono os motivos dele. Ele sente pena de mim? Eu não sei, ele me confunde. Ao mesmo tempo que quero beijá-lo, tenho medo do que pode fazer comigo. Quando ele me carregou nos braços... Eu fiquei surpresa. Não esperava que faria isso, não esperava que me beijaria de volta hoje. Mas ele beijou. E isso me confundiu mais ainda.Já era noite, Eu me arrumei um pouco melhor. Coloquei uma camiseta preta, uma calça jeans escura e o tênis mais bonito que eu tinha. Passei um pouco de maquiagem e sorri para o espelho. Eu me senti bonita até, sabe? Fazia tempo que não me sentia bonita assim.Quando saí do quarto, Hanner estava de moletom preto, dos pés a cabeça, cabelo bem penteado, me esperando sentado no sofá.— Está bonita. — Disse.— Obrigada. — Sorri de forma sincera.— Você
HANNER NARRANDOAcordei desse maldito sonho com meu passado. Eu odeio sonhar com meu passado, odeio. Odeio me lembrar de tudo que houve comigo, me faz mal. Levantei mais uma vez para trabalhar e assim fui, apressado, era o jeito.Trabalhar já não me deixa feliz, na verdade, me incomoda. Eu tinha uma missão a cumprir, tinha que eliminar alguém, e eu não queria fazer isso, mas... Fiz o que tinha que fazer. Coloquei a mensagem que Alexander pediu e quando ia sair, ouvi um barulho. Eu andei pela casa procurando o barulho. Ouvi que vinha do armário embaixo da escada e quando eu abri, era só um gato idiota.Fui embora sem olhar para trás. A parte mais difícil foi entrar em casa de novo, eu arranquei o sobretudo, as luvas, a máscara eu já havia tirado no carro. Comecei a socar a parede com ódio. Eu soquei tanto, tanto, mas tanto, que abriu um buraco ali e também um buraco na minha mão. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos, tentando me controlar.— Hanner... — Ouvi a voz suave de Ala
ALANA NARRANDOHanner parece triste e desanimado hoje. Eu nunca o vi tão nervoso. Ele quebrou um pedaço da parede, parecia muito bravo. Eu havia o deixado sozinho por um tempo, e quando voltei, vi que ele estava na sacada do apartamento, olhando para o lado de fora. Eu fui até ele e me encostei no parapeito, com os cotovelos ali, como ele fazia. A noite estava bem bonita.— Oi. Quer conversar? — Questionei.— Não sei o que falar. Só estou tendo um dia difícil. — Ele fechou os olhos e suspirou. — Vou sair pra beber um pouco.— Fica comigo, vai. — Pedi. Eu me enfiei entre ele e o parapeito, e o olhei nos olhos. Ele encostou as mãos no parapeito, uma de cada lado do meu corpo.— O que quer, Alana? — Levei as duas mãos até o peitoral dele e o acariciei. Eu me inclinei o suficiente para alcançar os lábios dele, e os selei. Ele me retribuiu e empurrou o rosto para me beijar, do jeito bruto dele. Eu gosto, de qualquer forma.— Quero que fique comigo. — Sussurrei contra os lábios dele.— Não
HANNER NARRANDOAlana adormeceu nos meus braços. Eu não acredito que permiti que ela fizesse isso. Bom, para um homem que queria desistir da vida algumas horas atrás, isso é... Inacreditável. Enquanto ela dormia, me permiti olhá-la. Acariciei seu cabelo, o cheirei, beijei sua testa de leve... Segurei sua mão em meu peitoral. Ela é tão bonita, tão doce. Não deveria estar em meus braços, não mesmo.Eu fechei meus olhos e encostei o nariz no cabelo dela mais uma vez, mas dessa vez, iria tentar dormir. Eu segurava sua mão em meu peitoral, já estava cansado.Quando acordei com meu celular despertando, percebi que ela não estava mais ali. Eu me levantei, me vesti e fui pegar minhas coisas. Quando olhei para a mesinha, vi que a chave de casa não estava. Aquilo me deixou nervoso. Eu abri minha carteira e uns vinte euros haviam sumido, e então, eu passei a mão no meu próprio cabelo.Puta que pariu, a Alana fugiu.Saí do quarto e realmente, ela não estava. A porta estava destrancada, e eu estav
HANNER NARRANDO— Hanner! — Alana entrou no meu apartamento, sorridente, depois de ter voltado de mais um passeio. — Eu tentei te ligar mas você não atendeu, então eu vim aqui. — Ela veio até mim. Eu estava sentado no sofá e ela segurou minhas duas mãos. — Hanner, vamos comigo na pizzaria? Os amigos da Sarah... Bom, todos vão, e eles parecem ser legais pelo que ela disse. É um pessoalzinho da igreja que eu fui aquele dia, não os conheço, mas a Sarah vai e... Eu queria que você fosse comigo.— Sério, Alana? Você vai me levar no meio de um monte de crente? Eles vão olhar pra mim e pensar que eu sou o que? — Ela deu risada.— Que você é meu noivo que não é crente. — Eu a olhei surpreso.— Noivo? — Ela concordou.— Noivo. Não sabia o que falar, afinal, eu moro com você... Eu acabei dizendo que você é meu noivo e que vamos nos casar em breve. — Eu ri e neguei com a cabeça.— Alana, você é doida. Mas... É importante pra você, ir nesse negócio aí? — Eu me levantei do sofá e ela continuava se