06

ALANA NARRANDO

Tranquei a porta do quarto para dormir. Eu tinha medo, obviamente, vai que o Hanner fica doido e decide fazer algo comigo? É melhor prevenir.

Eu estava tão cansada que apaguei. Na manhã seguinte, acordei de forma tranquila, escovei meus dentes, me troquei e penteei meu cabelo. Era hora de ir para o lado de fora ver o que estava acontecendo. Hanner estava na cozinha, com a mão aonde levou um tiro. Percebi que estava com a boca branca, como se estivesse passando mal. Ele pegou um comprimido no armário e tomou no seco.

— Você tá legal? — Questionei, o olhando. Era óbvio que havia algo errado.

— Tô. — Afirmou. Mas aí, os olhos dele foram se fechando e ele cambaleou até a bancada da cozinha, se apoiando ali. Eu corri até ele e tentei ajudar.

— Vem, vem sentar no sofá. Você não tá legal não, dá pra ver no seu rosto. — Eu tentei o segurar da forma que conseguia, mas ele é muito pesado.

Ele foi caminhando com minha ajuda até o sofá, e se deitou ali. Eu coloquei a mão na testa dele, e parece que coloquei a mão no fogo.

— O que foi? — Ele questionou, talvez pelos meus olhos estarem muito arregalados.

— Você tá fervendo de febre. Eu preciso ver o tiro. — Avisei. Ele negou com a cabeça.

— Relaxa, tá tudo bem. Já tomei remédio. — Afirmou e eu neguei com a cabeça.

— Você deve estar com uma infecção por causa do tiro. Me deixa ver, caramba! — Briguei com ele. Ele girou os olhos e levantou a camisa. Ao redor do curativo já estava vermelho, imagine lá...

Quando tirei o curativo, vi um montão de pus. Era óbvio que estava infeccionado. Uma ferida aberta dessa não é fácil curar, ainda mais sem o tratamento certo.

— Eu já levei tiros assim antes.

— Cara, isso tá completamente infeccionado. A gente precisa de um médico.

— Eu preciso de descanso, só isso. — Ele respirava um pouco pesado.

Seria bem mais fácil se ele morresse. Mas eu pensei que, se ele morresse, talvez eu fosse devolvida e aí, morreria também. Então, melhor ele ficar vivo do que eu ser entregue nas mãos daquelas pessoas horríveis de novo.

Eu comecei a revistar Hanner. Ele segurou minha mão com força, e eu o olhei.

— Nem pense em fazer isso.

— Me dá seu telefone! Eu vou chamar um médico. — Insisti.

— Mas que caralho, mulher! Eu não preciso de um médico! — Resmungou.

— Eu vou chamar, sim! Aonde está seu celular? Eu vou te atormentar até você chamar um médico! — Resmunguei de volta.

— Porra, por que você se importa? Me deixa em paz, se eu tiver que morrer, que seja! — Meu rosto se transformou em uma expressão de surpresa.

— Eu não acredito que você está dizendo isso. Não, senhor! Aonde está a droga do celular, Hanner? — Comecei a mexer nele de novo, e ele me agarrou pelo braço mais uma vez.

— Está na bancada. Pega e me dá que eu ligo. Puta merda. — Ele girou os olhos.

Busquei o celular e o entreguei. Ele discou um número e falou um código, não sei o que significa, mas em questão de vinte minutos um médico bateu na porta e eu atendi. Ele veio até Hanner com uma mala, analisou o ferimento e começou a montar o equipamento médico para cuidar dele.

— Tá muito ruim, doutor? — Questionei.

— Tá péssimo. A bala estava contaminada propositalmente. — Hanner cerrou os dentes enquanto o médico raspava a ferida. — Eu vou colocar um antibiótico forte, você vai precisar de pelo menos três dias disso na veia. Não tem outra opção, Hanner. Se não resolver, vou ter que deixar mais três dias.

— Seis dias de afastamento?

— Provavelmente, mas ou você faz o tratamento, ou morre. Eu vou avisar o chefe. — Disse. — Nós precisamos de você vivo, se é que me entende. — O médico concluiu.

— Tanto faz.

Ele colocou um soro na veia dele. O corpo de Hanner, deitado naquele sofá cinza, com um buraco aberto na lateral da barriga, me deu um aperto no coração. Eu não gosto dele, mas ao mesmo tempo, não o odeio.

Ele acabou adormecendo enquanto o líquido corria por suas veias. Eu me sentei em uma poltrona ao lado dele e observei seu rosto. É um homem bonito, bonito até demais. Poderia ter sido um grande CEO, talvez um boxeador já que tem um equipamento de boxe aqui. Poderia ser um pai de família... Eu não sei. Mas ele não tem cara de assassino. Ele precisa se encontrar, se entender.

Ele tem um nariz bonito. Uma boca bonita... Ele não devia ser tão atraente e eu nem devia estar pensando o que eu estou pensando agora. Acho que estou carente demais, não sei.

Hanner abriu os olhos. Levou um susto ao me ver tão perto.

— O que está fazendo, garota? Quer me matar? — Eu me afastei imediatamente.

— Não! Eu só estava olhando você.

— O que tem de errado comigo que você tanto olhava? — Eu ri comigo mesma. Neguei com a cabeça.

— Não há nada de errado. Você tem um rosto bonito e eu estava olhando, é só isso. — Ele riu com deboche.

— Muito obrigado. — Girou os olhos. — Agora me fala a verdade. — Eu o olhei, incrédula.

— Como assim? É exatamente isso.

— Alana, você me acha bonito? Você é muito esquisita, caralho. Olha, tô pra ver mulher mais esquisita que você. — Ri da forma que ele falou.

— Vou desconsiderar o que você disse porque você tá doente.

— Não, eu sei que sou charmosão, cheiroso e tal... Mas bonito eu não sou não. De qualquer forma, valeu. — Eu dei os ombros.

— De nada. Você está se sentindo melhor? — Ele concordou com a cabeça.

— Estou sim, acho que a febre abaixou um pouco. Onde está o doutor?

— Ele deu uma saída, volta na hora de trocar seu medicamento.

— Ok.

— Eu vou fazer alguma coisa pra você comer. Quer?

— Alana, só tem geleia e pasta de amendoim na minha geladeira. Eu compro tudo pelo aplicativo. Pega meu celular que eu peço alguma coisa. — Eu neguei com a cabeça.

— Vou pedir legumes e fazer uma sopa. Você precisa de nutrientes, qual é. Como você mantém esse monte de músculo com pasta de amendoim e geléia? — Resmunguei.

— Eu como ovos também. E pão. — Ele riu. — Não reclame da minha dieta, sou um homem muito ocupado.

— É, eu tô vendo. Vai, deixa eu escolher as coisas. Vou cozinhar uma comida de verdade pra você, você tá precisando.

— Garota, você é bem chata. Sorte sua que eu tô mal. — Eu entreguei o celular pra ele, e ele abriu o aplicativo. — Escolhe logo o que você quer.

Até que eu estou me dando bem com ele. Não está sendo uma convivência horrível como pensei que seria.

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