HANNER NARRANDO
Onde já se viu presentear um amigo com uma mulher? Isso é ridículo. Primeiro porque eu detesto pessoas, se eu pudesse, matava todas elas. Segundo porque não acho que mulheres sejam objetos, eu não compraria uma. Mas por que diabos eu iria querer uma mulher que está comigo obrigada? É muita palhaçada.
Mandei aquela garota para o quarto sobrando, eu não faço ideia do que fazer com ela. Eu poderia sim, soltá-la, mas o preço seria perder um monte de serviços para a máfia. O meu amigo Ryan é um cara extremamente influente, e com esse presente, ele basicamente estava dizendo: Ei, Hanner, venha acompanhado às minhas festas. Agora eu basicamente tenho um cachorro de estimação, só que é uma garota. É, isso é ridículo mesmo.
Massageei as têmporas para aliviar a tensão. Pensa, Hanner, o que fazer agora? Eu vou ter que conversar com ela, fazer combinados, cada um fica na sua, ela não enche meu saco e vivemos como se fôssemos colegas de apartamento. E aí, quando eu precisar ir a alguma festa, ela me acompanha. É, é isso. E comida? Eu preciso alimentar essa menina. Ela é tão pequena, parece que não come há dias, sei lá. Ou talvez eu seja muito grande. Não sei. E o que ela vai ficar fazendo na minha casa? Cara, eu não precisava disso. Talvez seja melhor eu matar o Ryan e soltar a moça, e que se dane o resto. Não, isso é uma péssima ideia.
— Hanner? — A tal da Alana apareceu na sala, enquanto eu pensava sentado no sofá. Eu bufei.
— O que foi, menina? O que você quer?
— Eu tô com fome. Desculpa incomodar. — Eu odeio sentir pena, mas eu tô com pena dela. A cabeça dela deve estar uma bagunça.
— O que você quer comer? Uma pizza? Um lanche? Vou pedir pelo telefone.
— Pode ser uma pizza. Eu gosto de pizza de queijo, se eu puder escolher. — Que droga. Ela acha que é minha escrava agora.
— Garota, senta aqui do meu lado. — Ela me obedeceu prontamente. Sentou-se e me olhou. — Presta bem atenção nas coisas que eu vou falar, eu só vou falar uma vez. — Ela assentiu com a cabeça, me olhando nos olhos. Ela tem olhos esverdeados e muito bonitos, inclusive. — Eu sei que parece que você é tipo meu animal de estimação, mas eu literalmente detesto isso. Até porque, eu detesto pessoas e animais de estimação, entendeu?
— Entendi. E o que eu faço agora?
— É o seguinte, você nunca, jamais vai chamar a polícia. A polícia daqui é corrupta, quem te pegar, vai te matar. Tem metade da corporação sendo paga pela máfia. Então, é melhor você ser boazinha. Outra coisa... Você não é minha escrava, eu não quero isso, eu não quero que você ache que eu sou seu dono. Eu estou sendo literalmente obrigado a ficar com você, assim como você está sendo obrigada a ficar comigo. — Ela olhou para baixo. Parecia pensativa. — Isso é bom pra você, porque eu não quero te usar como qualquer outro cara faria.
— Obrigada por isso.
— Não agradeça. Eu tenho regras. Você não me faz nenhuma pergunta sobre o meu trabalho, e não entra no meu quarto em hipótese nenhuma, entendeu? Nem no meu escritório. Você não vai gostar do que vai ver lá.
— Tudo bem, Hanner. Senhor Hanner. Como você quer que eu te chame? A Lexie disse que eu tenho que te chamar de... — Eu a interrompi.
— A Lexie te ensinou a ser uma escrava, e eu não tô nem aí para o que ela te ensinou. Meu nome é Hanner, e você me chama de Hanner. Eu não tenho sobrenome nem pra você, nem pra ninguém. — Ela parecia levemente assustada. — Outra coisa, você pode usar a televisão... A cozinha... Se precisar comprar alguma coisa, me avise que eu compro. Eu meio que sou obrigado a cuidar de você e manter você viva, afinal, você vale alguns milhões.
— Grande valor. Eu estou me sentindo um lixo. — Pena, de novo. Muita pena.
— Eu sinto muito por isso ter acontecido com você. Você não merece isso. — Passei a mão no meu cabelo. — Que inferno.
Alana olhava ao redor, como se procurasse algo. Olhava minha estante de livros.
— Eu posso ler? — Questionou.
— Pode, fique a vontade. Olha, eu quase não paro em casa, então, por favor, fique quietinha aqui e qualquer coisa você vai apertar o único botão do interfone e falar que precisa falar com o Hanner. Entendeu?
— Entendi. Mais alguma coisa, Hanner? — Eu neguei com a cabeça.
— Não que eu me lembre agora. Só... Por favor, não fica com essa cara de medo. Eu não vou tocar em você, eu nem queria você aqui, cara. — Bufei. — O Ryan tem cada ideia. Que porra.
Eu peguei meu telefone e liguei para a pizzaria, para que me entregassem uma pizza de queijo. Depois, liguei para o meu chefe, para perguntar se havia algo a ser feito no dia de hoje, e ele disse que não. Eu ficaria em casa, com aquela garota.
Alana estava olhando minha biblioteca particular, vendo os livros como se quisesse escolher algum. Ela parou o dedo em uma bíblia antiga e a tirou da prateleira.
— Você é cristão? — Perguntou, confusa. Eu ri com deboche.
— Você acha que um assassino como eu seria cristão? Por favor, né. Eu ganhei essa bíblia de uma pessoa especial, por isso está aí. Nunca nem abri. — Respondi.
A garota abriu a bíblia e a folheou.
— É, você nunca abriu mesmo. — Ela tirou um pequeno envelope dali de dentro, o abriu e tirou um pequeno cartão. — Espero que esse livro mude sua vida. Com amor, tia Mary. — Leu em voz alta.
— Que graça. — Falei com deboche.
— Sua tia de verdade?
— Minha tia, morta, porque achou que Deus a curaria de um câncer e ele não a curou. — Girei meus olhos e ela suspirou.
— Sabe, depois que me prenderam... Eu comecei a pensar mais em Deus. Sei lá. Tem coisas que acontecem na nossa vida que a gente não entende, mas no final, a gente vai entender. Uma hora Deus explica pra gente.
— Você é crente, garota? Era só o que me faltava. Além de me dar uma pessoa viva, ainda me deu uma pessoa viva e crente! É pra foder, mesmo. — Ela acabou rindo, como se tivesse achado graça na minha frase.
— Eu não sou crente, não muito. Mas... Eu quero ler isso aqui. Posso? Eu tô passando por um momento difícil e gostaria muito de ter algum conforto. Lembro que meu pai... Antes de ser um idiota... Dizia sobre como Deus confortava as pessoas. — Ela levantou um pouquinho a bíblia e eu assenti.
— Fique a vontade, contanto que você não me encha o saco.
— Prometo que não vou encher. Você nem vai reparar que eu estou aqui. — Eu sorri.
— Isso. Bom, eu vou dar uma saída, você precisa que eu compre algo? — Ela concordou com a cabeça.
— Eu não tenho uma peça de roupa sequer além dessa que estou usando. E... Eu queria um caderno e algumas canetas, se você puder. É que eu queria estudar essa coisa aqui, já que não vou ter muito que fazer. Talvez faça bem pra minha cabeça. Esperança é bom.
— É, é o que dizem. Mas eu acho que esperança é uma grande mentira. Enfim, me fala qual seu número de sapato... e o número de roupa. Porra, isso vai ser muito constrangedor. Eu não quero comprar calcinhas e sutiãs pra você. — Massageei as têmporas mais uma vez. — Olha, menina, depois que você comer a pizza, eu vou te dar meu celular e você vai escolher tudo no aplicativo de compras.
— Ah, isso me anima. — Sorriu pela primeira vez desde que chegou na minha casa. Quando a conheci, era uma praga. Agora, parece destruída. Por que eu sinto tanta pena dela?
ALANA NARRANDOEu não sei o que pensar em relação a tudo que aconteceu. Quando entrei no quarto que Hanner me mandou, eu pensei muito em tudo, em toda minha vida, em tudo que já fiz e no que deixei de fazer, enquanto colocava a única roupa que eu tinha tirando aquele vestido sensual: Uma calça jeans e uma camiseta branca, que me deram no leilão. Sabe, eu não sou uma péssima pessoa nem mereço nada disso, mas aconteceu e cabe a mim aceitar. Só que o que eu vou fazer com isso? Hanner é um homem muito bonito, sexy, ele tem um caráter horrível e é um assassino. Poucos prós. Pensei que talvez, se eu fosse para a cama com ele, tivesse alguns benefícios. Ele é bem bonitão. Mas... Depois de tanto refletir, eu decidi mudar de caminho e pensar em outra forma de resolver a minha vida.Eu orei a Deus, mesmo não sendo muito cristã. Orei e pedi assim: Jesus, me ajuda. Eu não sei o que fazer. Me dá um sinal do que fazer, por favor.Depois que saí do quarto e ouvi tudo que o Hanner disse, fiquei alivi
ALANA NARRANDOTranquei a porta do quarto para dormir. Eu tinha medo, obviamente, vai que o Hanner fica doido e decide fazer algo comigo? É melhor prevenir.Eu estava tão cansada que apaguei. Na manhã seguinte, acordei de forma tranquila, escovei meus dentes, me troquei e penteei meu cabelo. Era hora de ir para o lado de fora ver o que estava acontecendo. Hanner estava na cozinha, com a mão aonde levou um tiro. Percebi que estava com a boca branca, como se estivesse passando mal. Ele pegou um comprimido no armário e tomou no seco.— Você tá legal? — Questionei, o olhando. Era óbvio que havia algo errado.— Tô. — Afirmou. Mas aí, os olhos dele foram se fechando e ele cambaleou até a bancada da cozinha, se apoiando ali. Eu corri até ele e tentei ajudar.— Vem, vem sentar no sofá. Você não tá legal não, dá pra ver no seu rosto. — Eu tentei o segurar da forma que conseguia, mas ele é muito pesado.Ele foi caminhando com minha ajuda até o sofá, e se deitou ali. Eu coloquei a mão na testa d
ALANA NARRANDOEu recebi os legumes e frutas, a carne e coloquei tudo em cima da bancada. Fiz uma sopa bem reforçada para Hanner, eu devia odiá-lo, mas eu senti que devia cuidar dele. Quando a sopa estava pronta, servi em uma tigela e levei até ele.— Está aqui. Espero que goste. — Ele se sentou, respirando fundo, e colocou a tigela por cima de uma almofada que colocou no colo.— Obrigado, menina. Não precisava disso.— Eu sei. Mas tecnicamente você está cuidando de mim, então eu posso ser útil a você. — Ele pegou a colher e não respondeu nada ao que eu disse.Ele começou a comer a sopa. Fechou os olhos e sentiu o sabor, como se estivesse apreciando. Não sei há quanto tempo ele não come comida de verdade ou comida feita especialmente para ele, mas ele pareceu gostar muito.— Está delicioso. Parabéns. — Elogiou. Isso me fez sorrir.— Fiz bastante. Pode comer o quanto quiser. — Ele concordou com a cabeça e continuou comendo.Três dias depois, Hanner parecia estar novo. Estava tomando os
HANNER NARRANDOPasso as duas mãos por meus próprios cabelos, depois coço minha nuca e respiro fundo. Acabei de tomar banho no outro banheiro, fora do quarto, porque Alana estava tomando no meu. Eu troquei os lençóis, para que ela não ficasse envergonhada, e os coloquei para lavar. Eu acabei de tirar a virgindade de uma menina de dezoito anos, que não merecia ir para a cama com um assassino. Ela é uma boa menina, e eu tenho pena. Não deveria estar comigo, não mesmo. O motivo dela estar nessa situação eu não sei...Me sentei no meu quarto, em uma cadeira no canto, e me servi um copo de uísque. Eu a esperava tomar banho e sair do banheiro. Logo que saiu, enrolada na toalha, sorriu de leve.— Vou para o meu quarto. — Balancei a cabeça positivamente e ela saiu. Que droga.Eu decidi que era melhor sair de casa, fazer alguma coisa, não sei. E foi o que eu fiz. Antes que ela pudesse ver, eu saí. Só queria beber um pouco, e fui até o bar sozinho. Me sentei em frente ao balcão de madeira e esp
HANNER NARRANDONa manhã seguinte, eu estava preparando meu café da manhã e Alana apareceu, com um sorriso no rosto. Estava trocada, com uma camiseta azul e calça jeans. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, e veio se sentar em frente ao balcão.— Bom dia. — Disse e depois suspirou.— Bom dia. Quer bacon? — Perguntei.— Não, obrigada. Não consigo comer de manhã. — Fiquei em silêncio.Servi meu café da manhã, que era uma tonelada de bacon, um pão e um suco de laranja de caixinha servido em um copo. Peguei a caixa do suco e empurrei em direção a ela, e ela se levantou para buscar um copo. Sentou novamente em seu lugar, serviu o suco e tomou.— Hanner... Eu queria te pedir uma coisa. — Eu a olhei, enquanto mordia o pão.— Fala.— É que eu queria ir a uma igreja que dá pra ver da janela. Ela tem uma placa bonita, é pintada de preto. Sei que você não quer que eu saia, mas... Você poderia ir junto, não sei. — Soltei uma gargalhada.— Você realmente tá me convidando para ir em uma igreja, A
ALANA NARRANDOEu perdi minha virgindade com o Hanner. Por Deus, o que eu fiz? Primeiro, ele é um criminoso. Ele é lindo, mas ainda assim, é um criminoso. Ele é gentil comigo... Até considero ele um cavalheiro, mas me questiono os motivos dele. Ele sente pena de mim? Eu não sei, ele me confunde. Ao mesmo tempo que quero beijá-lo, tenho medo do que pode fazer comigo. Quando ele me carregou nos braços... Eu fiquei surpresa. Não esperava que faria isso, não esperava que me beijaria de volta hoje. Mas ele beijou. E isso me confundiu mais ainda.Já era noite, Eu me arrumei um pouco melhor. Coloquei uma camiseta preta, uma calça jeans escura e o tênis mais bonito que eu tinha. Passei um pouco de maquiagem e sorri para o espelho. Eu me senti bonita até, sabe? Fazia tempo que não me sentia bonita assim.Quando saí do quarto, Hanner estava de moletom preto, dos pés a cabeça, cabelo bem penteado, me esperando sentado no sofá.— Está bonita. — Disse.— Obrigada. — Sorri de forma sincera.— Você
HANNER NARRANDOAcordei desse maldito sonho com meu passado. Eu odeio sonhar com meu passado, odeio. Odeio me lembrar de tudo que houve comigo, me faz mal. Levantei mais uma vez para trabalhar e assim fui, apressado, era o jeito.Trabalhar já não me deixa feliz, na verdade, me incomoda. Eu tinha uma missão a cumprir, tinha que eliminar alguém, e eu não queria fazer isso, mas... Fiz o que tinha que fazer. Coloquei a mensagem que Alexander pediu e quando ia sair, ouvi um barulho. Eu andei pela casa procurando o barulho. Ouvi que vinha do armário embaixo da escada e quando eu abri, era só um gato idiota.Fui embora sem olhar para trás. A parte mais difícil foi entrar em casa de novo, eu arranquei o sobretudo, as luvas, a máscara eu já havia tirado no carro. Comecei a socar a parede com ódio. Eu soquei tanto, tanto, mas tanto, que abriu um buraco ali e também um buraco na minha mão. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos, tentando me controlar.— Hanner... — Ouvi a voz suave de Ala
ALANA NARRANDOHanner parece triste e desanimado hoje. Eu nunca o vi tão nervoso. Ele quebrou um pedaço da parede, parecia muito bravo. Eu havia o deixado sozinho por um tempo, e quando voltei, vi que ele estava na sacada do apartamento, olhando para o lado de fora. Eu fui até ele e me encostei no parapeito, com os cotovelos ali, como ele fazia. A noite estava bem bonita.— Oi. Quer conversar? — Questionei.— Não sei o que falar. Só estou tendo um dia difícil. — Ele fechou os olhos e suspirou. — Vou sair pra beber um pouco.— Fica comigo, vai. — Pedi. Eu me enfiei entre ele e o parapeito, e o olhei nos olhos. Ele encostou as mãos no parapeito, uma de cada lado do meu corpo.— O que quer, Alana? — Levei as duas mãos até o peitoral dele e o acariciei. Eu me inclinei o suficiente para alcançar os lábios dele, e os selei. Ele me retribuiu e empurrou o rosto para me beijar, do jeito bruto dele. Eu gosto, de qualquer forma.— Quero que fique comigo. — Sussurrei contra os lábios dele.— Não