03

ALANA NARRANDO

Um vestido florido até o pé. Estou com uma lingerie minúscula por baixo, branca, porque segundo Lexie, eu sou “virgem”. Eu ouvi tanto essa palavra que estou com vontade de enfiar essa garrafa dentro da minha vagina e acabar com isso.

— Lexie, terminei o exame. — O médico disse. Ele assinou o papel, entregou para Lexie, que sorriu. — Virgem e apertadinha. Aliás, você é bem bonita lá embaixo. Se eu não fosse casado... — Ele riu de forma maliciosa. Meu Deus, que nojo.

— Se controla, doutor Hope. — Ela riu de nervoso.

— Agora que está tudo pronto, é só aguardar o horário do leilão. — Uma assistente disse, e eu me sentei na cama. Estava me sentindo ridícula. Tudo bem, o vestido era lindo, me fizeram uma maquiagem linda, a lingerie era linda... Mas minha alma estava destruída. Como vão me vender como um objeto? Que grande merda!

Eu não consigo me imaginar na cama com um homem qualquer que mal conheço, mas duvido que ele não queira tirar minha m*****a virgindade na primeira noite. Duvido. Então, hoje era o dia que aquele momento mágico que meu pai tanto pregou, viraria um grande pesadelo.

— Pronta? — Eu arregalei os olhos. Nem vi o tempo passar, estava perdida em meus pensamentos.

— É claro que não. — Falei. Ela suspirou.

— Você fará como combinamos: Primeiro, sorria e pose como se estivessem tirando fotos de você. Depois, desamarre o laço do vestido e o deixe cair. Quanto mais sexy você for, maior a chance de um bom comprador escolher você.

— Estou com medo. — Afirmei. Ela colocou a mão em meu ombro.

— Eu estou com medo por você. Fiquei sabendo que os compradores dessa noite não são muito legais. Eu sinto muito, querida. — Ela sorriu de forma amarela. Eu fechei meus olhos e neguei com a cabeça.

— Eu vou morrer, não vou? — Ela deu os ombros.

— Se for obediente, não.

— Que merda... — Neguei com a cabeça. Ela segurou meu punho e começou a me levar. — Onde acontece o leilão?

— Em um lugar especial. Venha, precisamos ir.

Entramos em uma limosine, muito bem equipada e com champagne dentro de um balde de gelo. Eu fiquei em silêncio, ansiosa, olhando para aquelas malditas unhas de gel que colocaram em mim. Minha vontade era arrancar tudo no dente.

Quando chegamos em uma linda mansão, tão bonita quanto a anterior, eu vi muitos carros e fui levada para a porta dos fundos por uma entrada num tanto peculiar: Uma porta no meio do nada, como se estivéssemos entrando em um bunker, mas fui mesmo assim. Eu não tinha escolha, afinal.

Estávamos atrás de um palco. Eu ouvia algumas palavras típicas de um leilão. Minhas pernas tremiam.

Duas horas se passaram, todas as meninas foram leiloadas. Eu não conheci ou vi nenhuma delas, todas estavam em lugares longe do meu.

— É sua vez, querida. — Lexie disse. Ela me puxou pelo braço e me levou até uma cortina.

Eu achei que veria os compradores, mas não... Eu estava exposta em uma espécie de sala de interrogatório, enquanto um narrador dizia meus atributos. E poucos segundos depois, os lances começaram. Eu não podia ouvir os valores, apenas o narrador. Tudo era muito incerto e meu medo só crescia.

Eu me exibi como Lexie mandou. Abri o vestido e o deixei cair por minhas pernas. Eu não tinha opção além de me oferecer para, ao menos, conseguir um comprador menos filho da puta.

De repente, eu ouvi “Vendida”. E aquilo me deixou desesperada.

Estava na hora dos homens buscarem seus produtos. Um por um entrou naquele local e buscou seus produtos, meu corpo tremia e eu não conseguia sentir minhas mãos de tanto nervoso. E então... Eu vi Hanner entrar pela porta. Ele estava de terno, muito, muito bonito.

— Hanner? — Arregalei meus olhos e ele esticou a mão em minha direção.

— Sim? — Eu não sabia se estava feliz ou triste.

— Você me comprou? — Ele sorriu de forma maliciosa.

— Você gostaria que eu tivesse te comprado? — Eu engoli seco, mas não respondi. — Não, não te comprei. Eu vim a mando de um homem muito rico, um grande amigo. Escolhi você para ele. Ele pediu o melhor produto da noite.

— Eu não sei se fico puta ou lisonjeada. — Ele segurou minha mão e me guiou até uma sala. — O que vão fazer agora?

— Colocar um rastreador em você. — Eu me assustei.

— O que?

— Acha que vão pagar sessenta milhões por uma mulher e não fazer um seguro? Você vai ter GPS, mocinha.

Antes que eu pudesse protestar, uma mulher veio com um algodão e limpou a parte de trás do meu braço. Ela injetou uma coisa bem pequena ali, mas doeu.

— Porra! — Gritei.

— Sem palavrões. — Hanner pediu. Eu girei os olhos em resposta.

Mais uma vez, estou no carro com Hanner. Abaixei a cabeça, e durante vinte minutos, ficamos em silêncio.

Outra mansão. Dessa vez, muito mais moderna que as outras.

— Chegamos ao meu dono?

— Sim, chegamos. O nome dele é Ryan, ele é um bom homem. Só não sei por que ele quis você, ele não parece se interessar por mulheres... Sinceramente. — Aquilo me fez sorrir.

— Acha que ele me comprou para ser, tipo, uma esposa de fachada? — Ele deu os ombros.

— Seria muito bom pra você. Mas não se iluda, não sei quais são as intenções dele.

Entramos na grande casa. Eu estou me comportando, entendi que não tenho escolha, então vou fazer o que mandam até pensar em um plano para sair dessa. Hanner me guiou até a sala da grande mansão, e eu percebi que existem pessoas podres de rica, sinceramente. Havia um Van Gogh original na parede dele. Esse cara provavelmente limpa a bunda com o valor que pagou em mim.

— Hanner, meu grande amigo! — Ele abriu os braços. Ryan é loiro, magro, alto, e realmente... Não parece gostar de mulheres. Abraçou Hanner com entusiasmo e deu um beijo em seu rosto. — E essa é...? — Ele disse, sorrindo.

— Nome de batismo, Alana. Espero que goste. — Ele estendeu a mão para mim. Fui até Ryan e por incrível que pareça, eu fui com a cara dele.

— Seja bem-vinda à minha família, querida. — Ele me fez dar uma voltinha. — Que beleza estupenda. Virgem, querida? — Questionou.

— Sim. — A porra da virgindade. Que grande saco.

— Excelente. Bom, obrigado por me trazer meu produto... — Ele tirou um lacinho do bolso, um lacinho de embrulho de presente, colou na minha testa e me empurrou em direção ao Hanner. — Feliz aniversário, bonitão.

Hanner arregalou os olhos.

— O que? — Ele parecia assustado.

— Ah, qual é, você realmente achou que eu ia comprar uma mulher pra mim? Por favor, Hanner. É seu presente de aniversário! — Ele riu. Parecia ter feito a melhor escolha do mundo, na cabeça dele.

— Meu Deus... Onde eu vou enfiar essa mulher com a vida que eu levo, Ryan?

Uma funcionária da casa entrou com taças de champagne. Ryan pegou uma, tomou um gole e se sentou no sofá, cruzando as pernas.

— Pense em se aposentar. Faça um filho, saia dessa vida de assassinatos. — Hanner estava constrangido.

— Eu não posso ficar com uma mulher que te custou sessenta milhões. — Ryan sorriu de forma maliciosa.

— Então devolva.

— Não! — Pedi. — Não, não, você sabe o que eles fazem quando nos devolvem, pelo amor de Deus! — Eu fui até Hanner e agarrei seu terno. — Por favor, eu prometo que vou me comportar! Eu prometo, Hanner!

Ryan fez um biquinho.

— Olha, que bonitinha... Pega seu presente e aproveita! — Eu acabei de pegar ranço de Ryan.

— Meu Deus, eu... Eu nem sei o que dizer. — Hanner falou e sorriu de forma amarela. — Obrigado.

— De nada. E considere o que eu disse, sobre a aposentadoria. Que bom que escolheu uma boa mulher, olha só, você ganhou um excelente presente. E você, bonitinha... Parabéns, você foi vendida para um assassino. — Ele soltou uma gargalhada. Parecia se divertir com isso.

O homem nos convidou para o jantar, e Hanner aceitou. Os dois pareciam bem amigos. Eu comia por obrigação, mesmo.

— Então, a novidade é que estou noivo... De um homem. — Hanner deu os ombros.

— Está feliz? — Questionou. Ryan concordou com a cabeça. — Então fico feliz por você.

— Estou muito feliz, Hanner. É o homem da minha vida. Você obviamente será nosso padrinho com a mocinha ali. Em breve te mando o convite. — Ele sorriu de forma sincera.

Depois que terminamos de comer, Hanner e Ryan se despediram e ele veio me dar um abraço. Eu o abracei, mas fiquei em silêncio.

Pela terceira vez, estou no carro com Hanner. Cruzei meus braços e ele olhou para mim. Girou os olhos, puxou o cinto e o colocou em mim.

— Você precisa aprender a colocar o cinto sozinha. — Permaneci em silêncio.

Hanner dirigiu durante duas horas, e chegamos na cidade. Ele mora em um apartamento, em uma cobertura muito bonita. Dezesseis andares, pra ser exata. Eu olhava tudo com atenção.

A casa dele é bem decorada, mas não há nada pessoal ali. Tem uma estante com livros, enfeites genéricos e quadros tão genéricos quanto.

— Uau. — Foi a única coisa que disse.

— Olha, tem um quarto no final do corredor e... Bom, vai dormir lá. Eu não sei o que fazer com você. Ryan tem cada ideia, puta que pariu... — Ele girou os olhos.

— Não gostou do presente? — Falei de forma debochada. — Me solta, você pode dizer que eu fugi.

— Eu não posso jogar sessenta milhões fora. Você vai ficar quietinha na minha casa até eu resolver o que vou fazer com você, entendeu? — Eu me sentei no sofá e cruzei os braços, como fiz no carro.

— Vocês todos são ridículos. — Ele veio até mim e eu me levantei, ao ver que ele parecia nervoso. Segurou meu rosto com força, mas sem me machucar, me fazendo olhar para ele.

— Escuta aqui, bonitinha. Eu não sou um cara muito paciente. Então... É melhor você se comportar comigo.

— Ou o que? Vai me matar ou arrancar a minha virgindade a força? — Eu sorri de forma irônica. Ele me soltou.

— Você vai continuar aqui. Vai fazer o que eu mandar, quieta, sem me encher o saco, até eu decidir o que fazer. E se você quer saber, eu não tomo nenhuma mulher a força... Eu acho muito mais fácil você implorar pra que eu tire sua virgindade. — Ele sorriu de forma maliciosa e se afastou. — Vai para o quarto que te falei e me deixe em paz.

Meu coração foi parar na boca. “Implorar para que eu tire sua virgindade”? Por que caralhos eu achei essa frase tão... Excitante?

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