Capítulo 2

Os três homens atravessaram a rua para juntar-se ao restante do grupo, que havia entrado no bar. Assim que Davis empurrou a porta de vidro blindado, a música vinda de dentro envolveu Stephen até os ossos.

O interior do bar não era muito iluminado, como seria mesmo de imaginar em um ambiente com música ao vivo, mas era bem amplo, limpo e charmoso. Havia muitas mesinhas espalhadas pelo local, todas ocupadas, e uma pista de dança próxima ao palco baixo, onde uma banda tocava ao fundo, sob pequeninas lâmpadas coloridas de neon. À frente dos músicos, sentada num banco alto, estava a cantora, com um foco de mínima intensidade sobre o microfone diante dela, criando um efeito de luz e sombra que remetia a uma boate antiga de subúrbio, dos anos trinta ou quarenta. Era perfeito para a melodia que estava sendo cantada: Smooth operator.

Havia um pouco de neblina, efeito criado por gelo seco, e só faltava o aroma de cigarro para lançar a todos, por completo, no clima íntimo e ligeiramente transgressor de passado que a canção remetia.  

E a voz da cantora... era enfeitiçante. Stephen surpreendeu-se com o tom ainda mais aveludado que o de Sade. Só faltava usar um vestido decotado vermelho para combinar melhor com o estilo fêmea fatal. Forçou um pouco a vista para enxergar melhor a moça sob a pouca iluminação. Tinha cabelos escuros, aparentemente lisos, até os ombros, e usava uma blusa preta muito justa. Mesmo à meia luz podia perceber que tinha seios fartos, bem redondinhos. As mãos batucavam suavemente sobre suas coxas, envolvidas por calças compridas também pretas, que deviam estar coladas a sua pele. Não parecia uma mulher de formas modestas, e o executivo pegou-se ansiando para que ela levantasse e o foco sobre o microfone se expandisse, para que pudesse admirá-la por inteiro.

Ethan bateu em seu ombro:

— E então, o que acha?

— Oh, man... — sussurrou Stephen, sem despregar os olhos da cantora.

Ethan deu uma risada:

— Yes... She’s very, very hot!

Em seguida, continuou, em português:

— Venha sentar, Stephen, temos mesas reservadas.

Stephen sentou-se entre os colegas, satisfeito de que a arrumação do lugar fosse planejada de modo a permitir que as pessoas na pista de dança próxima ao palco não atrapalhassem a visão dos que estavam sentados às mesas em volta.

Quando a cantora terminou, muitos assovios e gritos encheram o recinto. A luz sobre ela aumentou, e Stephen sentiu-se imediatamente agradecido. Ela era jovem, morena, e abriu um sorriso tão largo e bonito para o público, que era óbvio que todos ali só poderiam se sentir lisonjeados. A moça levantou-se e retirou o microfone do tripé.

Stephen constatou que ela devia ter estatura mediana, de formas arredondadas e harmoniosas, que encaixavam-se bem na roupa que expunha uma parte do ventre, permitindo a visão de um umbigo bonito, enfeitado com um piercing reluzente. Nada daquela magreza excessiva que estava na moda, nem a perfeição musculosa esculpida em academia. Aquela espécie em evidência sob as luzes era natural, da cabeça aos pés. Ele gostava de mulheres assim, reais.                                                                                                                                                                    

O executivo engoliu em seco diante da visão deliciosa da barriguinha exposta. Imaginou-a nua, instantaneamente.

— Serena é gostosa, não acha, chefe?

Stephen sobressaltou-se ao ouvir a voz de Vítor ao seu lado. O rapaz da área de marketing também olhava embevecido a cantora. Então o nome dela era Serena? Sabendo o significado do nome dela em português, achou-o ainda mais bonito do que se ela fosse uma conterrânea sua.

Um garçom trouxe as bebidas e serviu o grupo, enquanto a cantora conversava com o público próximo a ela.

                                                                                                                                                             

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