Os três homens atravessaram a rua para juntar-se ao restante do grupo, que havia entrado no bar. Assim que Davis empurrou a porta de vidro blindado, a música vinda de dentro envolveu Stephen até os ossos.
O interior do bar não era muito iluminado, como seria mesmo de imaginar em um ambiente com música ao vivo, mas era bem amplo, limpo e charmoso. Havia muitas mesinhas espalhadas pelo local, todas ocupadas, e uma pista de dança próxima ao palco baixo, onde uma banda tocava ao fundo, sob pequeninas lâmpadas coloridas de neon. À frente dos músicos, sentada num banco alto, estava a cantora, com um foco de mínima intensidade sobre o microfone diante dela, criando um efeito de luz e sombra que remetia a uma boate antiga de subúrbio, dos anos trinta ou quarenta. Era perfeito para a melodia que estava sendo cantada: Smooth operator.
Havia um pouco de neblina, efeito criado por gelo seco, e só faltava o aroma de cigarro para lançar a todos, por completo, no clima íntimo e ligeiramente transgressor de passado que a canção remetia.
E a voz da cantora... era enfeitiçante. Stephen surpreendeu-se com o tom ainda mais aveludado que o de Sade. Só faltava usar um vestido decotado vermelho para combinar melhor com o estilo fêmea fatal. Forçou um pouco a vista para enxergar melhor a moça sob a pouca iluminação. Tinha cabelos escuros, aparentemente lisos, até os ombros, e usava uma blusa preta muito justa. Mesmo à meia luz podia perceber que tinha seios fartos, bem redondinhos. As mãos batucavam suavemente sobre suas coxas, envolvidas por calças compridas também pretas, que deviam estar coladas a sua pele. Não parecia uma mulher de formas modestas, e o executivo pegou-se ansiando para que ela levantasse e o foco sobre o microfone se expandisse, para que pudesse admirá-la por inteiro.
Ethan bateu em seu ombro:
— E então, o que acha?
— Oh, man... — sussurrou Stephen, sem despregar os olhos da cantora.
Ethan deu uma risada:
— Yes... She’s very, very hot!
Em seguida, continuou, em português:
— Venha sentar, Stephen, temos mesas reservadas.
Stephen sentou-se entre os colegas, satisfeito de que a arrumação do lugar fosse planejada de modo a permitir que as pessoas na pista de dança próxima ao palco não atrapalhassem a visão dos que estavam sentados às mesas em volta.
Quando a cantora terminou, muitos assovios e gritos encheram o recinto. A luz sobre ela aumentou, e Stephen sentiu-se imediatamente agradecido. Ela era jovem, morena, e abriu um sorriso tão largo e bonito para o público, que era óbvio que todos ali só poderiam se sentir lisonjeados. A moça levantou-se e retirou o microfone do tripé.
Stephen constatou que ela devia ter estatura mediana, de formas arredondadas e harmoniosas, que encaixavam-se bem na roupa que expunha uma parte do ventre, permitindo a visão de um umbigo bonito, enfeitado com um piercing reluzente. Nada daquela magreza excessiva que estava na moda, nem a perfeição musculosa esculpida em academia. Aquela espécie em evidência sob as luzes era natural, da cabeça aos pés. Ele gostava de mulheres assim, reais.
O executivo engoliu em seco diante da visão deliciosa da barriguinha exposta. Imaginou-a nua, instantaneamente.
— Serena é gostosa, não acha, chefe?
Stephen sobressaltou-se ao ouvir a voz de Vítor ao seu lado. O rapaz da área de marketing também olhava embevecido a cantora. Então o nome dela era Serena? Sabendo o significado do nome dela em português, achou-o ainda mais bonito do que se ela fosse uma conterrânea sua.
Um garçom trouxe as bebidas e serviu o grupo, enquanto a cantora conversava com o público próximo a ela.
— O que vocês querem ouvir agora? — ela indagou, simpática, com sua voz encantadora ressoando através do salão graças ao microfone.— Toxic! Toxic!Os gritos vinham, em sua maioria, das mesas ocupadas pelo grupo White Corp, e Stephen Beckinsale espantou-se ao descobrir que um dos que mais gritava o nome da música era Ethan. Sério que seu amigo gostava de Britney Spears? Teve que rir. Em poucos segundos todo o bar estava gritando a mesma coisa, e Serena havia apontado o microfone na direção dos clientes, divertindo-se com a algazarra, a mão livre descansando na cintura. Quando os gritos diminuíram, ela voltou a falar: — Ah! Toda semana vai ser isso? — Ela fingiu aborrecimento: — Vocês não enjoam de sempre escutarem a mesma música?— Não!!! — gritaram em resposta.Serena deu uma risada, e o som baixo e rouco que saiu da garganta da moça fez muitos homens no recinto estremecerem. O diretor executivo da White foi um deles.— Seja feita a vossa vontade! — ela respondeu.— Oh, boy! Steph
Brincar com os meninos mais ainda? Stephen indagou-se, assustado. Mais um pouco desse tipo de brincadeira e a rapaziada ia sair do local com as calças vergonhosamente úmidas e pegajosas!Mas Serena realmente queria dizer “brincar”, e então começou a cantar “Single ladies”, ao mesmo tempo em que fazia subir ao palco duas jovens, de improviso, para imitar a coreografia de Beyoncé, principalmente no momento em que repetia o refrão“ Then you should have put a ring on it “(Então deveria ter colocado um anel nisso), indicando o dedo que deveria ter recebido uma aliança. As moças dançavam jogando os cabelos de um lado para o outro, cheias de energia, e os músicos da banda faziam um coro bem humorado.Stephen riu e relaxou, voltando a sentar-se para beber sua cerveja. Juliana, a telefonista, pôs um copo na frente de Stephen:— Chefe, toma conta pra mim? — pediu e saiu correndo para perto do palco, querendo participar da brincadeira dançante.Davis riu da expressão surpresa de Stephen.— Fui p
Stephen havia se remexido, irrequieto, quando viu Serena debruçar-se sobre o teclado do seu companheiro de trabalho, favorecendo aos espectadores atentos com uma boa parcela de seus atributos posteriores, arredondados e convidativos, mas quando ela se sentou e começou a cantarolar A-ha com tanta suavidade, aí sim sentiu sua imaginação de fato voar. Fantasiou fazer amor com aquela sereia à beira mar, quando o entardecer e as gaivotas enfeitavam o céu, e o calor era suficiente para deixá-los ainda mais dispostos para um sexo criativo e desinibido.O olhar dela subitamente vindo pairar sobre ele foi um prêmio à parte. Teve vontade de levantar e ir ao seu encontro, tirar-lhe do palco e levá-la imediatamente ao seu apartamento para se amarem a noite inteira. Que mulher tentadora! My God!Pelo que conhecia de cantores de boate — e aquele bar parecia uma — Serena estava desacelerando o público para fazer uma pausa ou encerrar seu trabalho por hoje, então ele manteve-se mais atento ainda aos
Serena saiu do banheiro de senhoras já sentindo-se melhor, após lavar o rosto, molhar os pulsos e prender os cabelos. Caramba, sentia-se quente, muito quente. E não era por causa da dança, e nem porque o local estava abafado e cheio, nada disso. Ela sabia muito bem qual a razão de estar afogueada, e era aquele deus louro sentado a um canto do bar. Mas não se deixaria abalar por isso, beberia alguma coisa e voltaria ao palco para finalizar sua apresentação. Mal alcançou o corredor e foi abordada por Francisco. Deu um pulo para trás, de susto.— Chico! Quase me mata do coração!— Desculpe. Queria falar com você, gata. Você está me evitando a semana toda!Serena apressou o passo para sair logo do corredor apertado, sendo seguida de perto pelo colega de trabalho. Tudo o que ela menos queria agora era lidar com Francisco, ou Chico — como todos costumavam chamá-lo — um dos segurança-faz-tudo do bar, com quem mantivera um relacionamento amizade-caso. Ficaram juntos algumas vezes, numa época
Stephen apressou-se em pedir o mesmo.—Tem tempo para sentar-se um pouco? — Stephen empurrou um banquinho na direção dela e sentou-se ao seu lado. Estava encantado de vê-la tão de perto, olhando para ele diretamente. Era mesmo gata! Qual era a expressão de baixo calão que os office-boys da filial São Paulo haviam lhe ensinado, assim que ele aportou no Brasil, para designar mulher bonita ou o que elas faziam os homens sentirem? Pensou um pouco. “Tesão”, era isso, “tesão”. Nada elegante, sabia, mas era uma expressão perfeita para o momento! Aquela mulher era um tesão. O que ele sentia agora? Também tesão. Serena sentou-se, sem ter muita escolha, enquanto bebericava seu vinho, apertando firme o seu copo. Legal, se safara de Chico e já estava numa situação da qual também queria escapar o mais breve possível. Haveria outro salvador no recinto?— Não me apresentei diretamente a você, mas certamente ouviu meu nome. Stephen.— E o meu você já sabe, senhor herói, é Serena.— Seu herói não que
— Não me importa a sua cara de anjo simpático. Se fizer besteira, eu, os seguranças e os caras da banda, faremos picadinho de você. E vamos começar nas partes baixas, para doer mais, então comporte-se!Stephen pensou em rir, mas o tom de voz da moça não era nada brincalhão. ****As pessoas adoravam um Revival, e Serena adorava dar isso a elas. Mesclava músicas do anos 80, 90 e 2000, e o público vibrava!Serena cochichou com seus amigos da banda, trocando algumas ideias, e logo em seguida tomou assento em seu banquinho mais uma vez. Começou cantando “Trouble” (encrenca), da cantora Pink, sorrindo e se balançando sobre o assento. Encontrou o olhar de Stephen e fez um movimento divertido com as sobrancelhas e os olhos, cantando diretamente para ele, com um sorriso ainda mais peralta do que antes, ao brincar sobre compromisso na canção anterior. Os colegas em volta de Stephen logo captaram a comunicação entre a cantora e
Quando chegou a vez da última canção, “Kiss”, Stephen sentiu-se tremer, e logo o corpo começou a ficar tenso. A música era muito sexy, e o baixista de longos cabelos negros e traços angulosos, que havia emprestado o chapéu anteriormente a Serena se aproximou para fazer uma coreografia sensual com ela, abandonando seu instrumento. O americano nunca sentiu tanta apreensão ao ouvir a melodia de Prince como naquele momento.— Ela vai beijar o Diogo, aquele ali com cara de índio, mas não fique aborrecido. Ele é só um amigo. Nós aqui somos todos muito “amigos”.Stephen voltou-se imediatamente para encarar o homem que estava falando com ele num tom de clara provocação. Era o tal Chico, e o executivo não se surpreendeu. Não sabia exatamente o que acontecia entre o segurança e Serena, e o que de fato interrompera, mas podia detectar uma moça em apuros a quilômetros de distância, e isso era bem óbvio pela expressão corporal dela e seu olhar ansioso. Ela pedia ajuda, e Stephen a atendeu prontame
— Você só canta em inglês?— Não. Atendo a demanda dos clientes. Seu pessoal, por exemplo, ama o repertório em inglês, o que era de se esperar, tendo em vista a maioria ter nascido nos Estados Unidos, então gostam de vir às sextas, quando sua música é a mais tocada. Amanhã percorro os ritmos latinos, canto de Santana a Buena Vista Social Club. Domingo é dia de música romântica, de qualquer nacionalidade, e uma amiga nos acompanha com seu sax.Stephen a olhou intensamente, enquanto ela estava distraída, pondo mais refrigerante no copo. Imaginou-se ouvindo as canções românticas na voz de Serena. Mais do que isso, imaginou-se dançando com ela, inclinando-a num tapete felpudo com baladas famosas tocando ao fundo, enquanto faziam amor e ela gemia em seus braços.— Às segundas eu e os meninos descansamos, graças a Deus, sendo substituídos por um pessoal bem legal do samba, e nos outros dias, prevalece a MPB. Mas geralmente dou uma canja para o público, e atendo a pedidos. — ela cortou mais